sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Como entrar no Reino em dois dias"

Um fato que o leitor da Bíblia logo descobre é que ela é impiedosa na hora de dizer quem ele é. Não precisa chegar lá em Romanos e ler que “todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus” (3:23), logo nos primeiros capítulos de Gênesis fica bem claro o tipo de sujeitos que nós, como pertencentes da raça humana, somos. Mas o leitor da Bíblia consegue continuar a leitura e então descobre um outro fato: a Bíblia também carrega nas tintas na hora de descrever o tipo de pessoas que nós podemos ser. Vencedores, impolutos, justos, amorosos, benignos, fiéis, corajosos, compassivos, misericordiosos, cheios de paz e serenidade e movidos a esperança.

Em suma, o leitor da Bíblia logo descobre que há algo que ele é e algo radicalmente diferente no que ele deve se tornar. Há um abismo aparentemente intransponível entre um momento e outro. A distância é grande demais! Muitos desanimam e deixam pra lá, se conformando com alguns ajustezinhos exteriores (estilo de vida, vestuário, etc). Mas há alguns outros que querem realmente saber como sair do momento A para o momento B, aquele no qual ele se torna o que Deus sonhou para ele.

Bem, a idéia tradicionalmente pregada por aí a respeito do programa “como se tornar um cidadão do reino de Deus” envolve, basicamente, começar a freqüentar uma igreja, aonde, com alguma sorte, ele vai ser encorajado a ler alguns versos da Bíblia por dia, a orar antes das refeições e/ou antes de dormir e a prestar atenção no que um líder espiritual vai falar durante trinta ou quarenta minutos uma vez por semana. Isso, mais a participação em alguns sacramentos (que variam de igreja para igreja), seria o programa completo.

Seria esse o caminho? Bem, voltemos a nossa condição de leitores da Bíblia e aí vamos ser forçados a identificar nas biografias de praticamente todos os grandes homens ali mencionados um período em que o contato com Deus foi intenso – e não de apenas uns curtos momentos diários. Moisés passou 40 anos no deserto, Paulo passou 3 anos na Arábia, Jonas passou 3 dias no ventre de um peixe, José teve seu período decisivo enquanto era levado como escravo até o Egito. O próprio Jesus passou 40 dias no deserto e Seus discípulos, 50 dias reunidos “e perseveravam unânimes em oração” (Atos 1:14). Isso evidencia que o tempo varia de um para outro, mas o padrão é repetido vezes demais para ser negligenciado. Em suma, a conclusão é: precisamos de um período de intenso contato com Deus. Precisamos de um tempo de “deserto”.

Dallas Willard usa uma ilustração do fato que vale a pena repetir: postar-se abaixo de um chuveiro que deixa cair um pingo a cada 5 minutos, ainda que durante horas ou dias inteiros, não vai fazer você tomar banho.

Faça seus planos. Projete seu tempo de deserto. Um final de semana, um feriado. Um lugar sem televisão, sem muita gente, de preferência sem ninguém que você conhece. Tenha por companhia uma Bíblia, um hinário, talvez um bom livro. Mas o vital é não ter um programa cheio. Você precisa de tempo, muito tempo livre. E o mais importante: você precisa de sede e fome de conhecer a Deus.

Ou então, contente-se com as gotas esparsas que você tem permitido caírem sobre você.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Em retrospecto, uma palavra de gratidão.

Um dia a jornada vai chegar ao fim. Se alcançarmos a vitória poderemos olhar para trás e ver que a batalha foi travada e ganha pelo nosso amigo Jesus. Veremos quantas vezes caímos distraídos, cansados ou enganados. Veremos sua serena e constante paciência tomando-nos pela mão, atando as feridas e oferecendo-nos encorajamento. Veremos como vencemos pequenas lutas diárias apenas invocando o Seu poderoso Nome. Veremos quantas vezes legiões de anjos ofereceram um escudo impenetrável contra o ódio do inimigo e suas tentativas assassinas contra a nossa vida. Veremos como titubeamos, mas prosseguimos sendo relembrados a manter nossos olhos concentrados em nosso amado salvador. Veremos com que cuidado e carinho ele nos levou nos braços enquanto atravessamos delirantes de dor, tristeza, revolta e medo o monstruoso vale da morte. Veremos como ele se alegrou, cantou, sorriu e dançou conosco quando celebramos os nossos sucessos. O nosso coração não vai se conter de gratidão! A eternidade será curta demais para expressarmos a genuína e profunda gratidão pelo nosso amorável amigo, salvador e redentor. Nossas palavras serão tacanhas. Nossas tentativas serão vãns para dizer o quanto amamos a Jesus e o quanto somos agradecidos a Ele por nossa vitória. Mas ele sabe tudo. Ele sabe até que não temos palavras! O nosso cântico e o nosso olhar vai traduzir tudo! O abraço apertado de boas vindas nos fará esquecer o passado, e nos fará lembrar do futuro brilhante que teremos pela frente.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sua opinião sobre a proposição num. 8

As eleições na Califórnia neste ano incluíram não só os candidatos a presidência, mas também uma controvertida proposição número 8, ondes os Californianos votaram numa emenda constitucional no estado para incluir a declaração de que "somente o casamento entre um homem e uma mulher é válido ou reconhecido na Califórnia." A passagem da emenda invalidou os até então válidos casamentos de casais homosexuais na Califórnia.

Um grupo de adventistas auto-denominados Adventists Against Proposition 8 se posicionou contra a proposição 8, e ativamente procuraram persuadir irmãs e irmãos da mesma fé (e outras fés também) a votarem contra. O movimento foi uma reação ao apoio público do Seventh-day Adventist Church State Council, que é o departamento de liberdade religiosa da União do Pacífico, em favor da proposição 8.

Pergunto: qual é a sua opinião sobre esta proposição, e sobre o ativismo dos crentes adventistas californianos?


Quem tiver interesse em ler a cronologia do ativismo estará mais informado para publicar sua opinião. ("disclaimer": o autor da cronologia tomou partido em um dos lados do ativismo)

Antes que novembro acabe...

... E com ele o mundo, que desde o meu último post, de 13 maio, já mudou bastante, deixem-me dizer algumas palavras.

Novembro não acabou ainda, mas o mundo como existia em maio sim. De lá para cá o barril do petróleo, e consigo o preço da gasolina no Estados Unidos, foi simultaneamente na extratosfera e no abismo. A economia, e seus índices, tiveram uma das mais dramáticas e espetaculares quedas já testemunhadas. Não que ninguém tivesse previsto o rompimento da bolha, mas que ninguém de fato previu a escala global do problema e a incapacidade dos especialistas em concordar sobre uma solução, que dirá engendrar uma solução. A mais longa e mais cara campanha eleitoral já testemunhada no EUA chegou ao fim, com incríveis incidentes e contornos, e um final inegavelmente histórico.

Com mudanças tão dramáticas e imprevisíveis acontecendo em espaço de tempo tão curto, como podemos sequer manter a sanidade e o senso de continuidade? Talvez nossos sentidos já estejam entorpecidos pela velocidade natural do mundo pós-moderno saturado de blackberries, instant messengers, celulares, comunicação global, internet, etc, que nem nos admiramos mais do passo em que as mudanças ocorrem. Talvez nos falte mesmo tempo para refletir no meio do frenezi ou simplesmente uma referência a um mundo lento, evoluindo em eras geológicas. Que conversa então seria essa de insanidade ou preocupação com continuidade, poderia alguém perguntar.

Mas antes que novembro acabe, e chegue o mês das festas e o clima de fim de ano, de tempo de retrospectiva, de receber o ano novo com novas resoluções e planos, antes que novembro acabe, reflito nas palavras pertencentes ao inconsciente coletivo adventista: os últimos acontecimentos serão rápidos.

Seriam estes os últimos acontecimentos? Com certeza serão, antes das celebrações do primeiro advento no ano que em breve termina. Mas bem que poderíam ser últimos antes das celebrações do segundo advento em um mundo que em breve termina, não acham?

domingo, 2 de novembro de 2008

Marketing

A máxima refrescância. Prazer em dobro. Surpreenda os seus sentidos. Experimenta! Uma aventura de tirar o fôlego. Adrenalina total. Você merece. Sofisticação ao seu alcance. Para poucos. Você merece. Você merece. Você precisa.

As mensagens que nos embalam (no sentido de embalagem mesmo) dizem que precisamos experimentar sensações-limites, devemos viver intensamente, devemos ter êxtases sensoriais cada vez maiores, sob pena de não estarmos "vivendo". O que ontem nos surpreendeu, hoje é corriqueiro, precisamos de uma dose maior.

É estranho que fiquemos assustados quando os adolescentes submetidos a esse discurso desde bebês se lancem nas drogas. Eles "precisam" viver, "precisam" sentir emoções fortes, "precisam" tirar os pés do mundo ordinário! Caso contrário, terão apenas existido, e a vida é pra ser vivida...

Mas não "precisamos" apenas experimentar, sentir, viver; "precisamos" ostentar. Um carro não serve mais apenas para nos deslocar por aí. O comercial mostra o sujeito orgulhoso de sua nova aquisição deixando a garagem entreaberta ou cortando a cerca viva de sua casa para que quem passa por fora possa ver aonde ele chegou, possa ver que, a julgar pelo objeto de luxo que ele adquiriu, "ele chegou lá". Ele não é qualquer um, ele não é condicionado pelo mundo ordinário. Um celular faz tempo que não serve mais apenas para comunicação e uma televisão para assistir programas de péssima qualidade. Eles "precisam" ter o máximo de funções agregadas, porque são objetos de exposição e porque "precisamos" do máximo conforto, da máxima conveniência.

O mundo gira graças ao combustível desse monte de necessidades artificiais. É para consumir que nos esfalfamos, porque o consumo nos permite viver as sensações que nós acreditamos que precisamos viver para continuar existindo e porque ele nos permite alcançar aceitação em uma coletividade ou destaque dentro dela. E, se o consumo não
basta, nós nos consumimos a nós mesmos, e o caso das drogas citado aí acima é só um exemplo. Sexo, pornografia, poder, sucesso, manipulação, trabalho excessivo, são todas formas de auto-consumo, tentativa vã de entregar à vida algum sentido ou propósito.

Como se fosse antevendo esse estado de coisas que Paulo suplicou: "não vos conformeis a este mundo, mas transformai- vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis [isso sim vale a pena "experimentar" ] qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2). Não conformar-se, amigo, significa não consentir em entrar na mesma fôrma. Viver é muito mais do que dizem por aí.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Marketing

A máxima refrescância. Prazer em dobro. Surpreenda os seus sentidos. Experimenta! Uma aventura de tirar o fôlego. Adrenalina total. Você merece. Sofisticação ao seu alcance. Para poucos. Você merece. Você merece. Você precisa.

As mensagens que nos embalam (no sentido de embalagem mesmo) dizem que precisamos experimentar sensações-limites, devemos viver intensamente, devemos ter êxtases sensoriais cada vez maiores, sob pena de não estarmos "vivendo". O que ontem nos surpreendeu, hoje é corriqueiro, precisamos de uma dose maior.

É estranho que fiquemos assustados quando os adolescentes submetidos a esse discurso desde bebês se lancem nas drogas. Eles "precisam" viver, "precisam" sentir emoções fortes, "precisam" tirar os pés do mundo ordinário! Caso contrário, terão apenas existido, e a vida é pra ser vivida...

Mas não "precisamos" apenas experimentar, sentir, viver; "precisamos" ostentar. Um carro não serve mais apenas para nos deslocar por aí. O comercial mostra o sujeito orgulhoso de sua nova aquisição deixando a garagem entreaberta ou cortando a cerca viva de sua casa para que quem passa por fora possa ver aonde ele chegou, possa ver que, a julgar pelo objeto de luxo que ele adquiriu, "ele chegou lá". Ele não é
qualquer um, ele não é condicionado pelo mundo ordinário. Um celular faz tempo que não serve mais apenas para comunicação e uma televisão para assistir programas de péssima qualidade. Eles "precisam" ter o máximo de funções agregadas, porque são objetos de exposição e porque "precisamos" do máximo conforto, da máxima conveniência.

O mundo gira graças ao combustível desse monte de necessidades artificiais. É para consumir que nos esfalfamos, porque o consumo nos permite viver as sensações que nós acreditamos que precisamos viver para continuar existindo e porque ele nos permite alcançar aceitação em uma coletividade ou destaque dentro dela. E, se o consumo não
basta, nós nos consumimos a nós mesmos, e o caso das drogas citado aí acima é só um exemplo. Sexo, pornografia, poder, sucesso, manipulação, trabalho excessivo, são todas formas de auto-consumo, tentativa vã de entregar à vida algum sentido ou propósito.

Como se fosse antevendo esse estado de coisas que Paulo suplicou: "não vos conformeis a este mundo, mas transformai- vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis [isso sim vale a pena "experimentar" ] qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2). Não conformar-se, amigo, significa não consentir em entrar na mesma fôrma. Viver é muito mais do que dizem por aí.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

The XXX Church

Foi lendo uma Rolling Stone que descobri a existência da "Igreja Cristã Pornô". Também comecei a ler com os cabelos em pé. Que raio de coisa é essa?

Veja lá. Aparentemente é uma igreja cristã tradicional, só que seus membros usam camisetas com os dizeres "Jesus loves porn stars", de visual modernoso. A iniciativa visa manter um diálogo com profissionais do sexo e pessoas com problemas nessa área, sem julgamentos nem condenações, só isso. Só o que Jesus faria.

Já existe uma espécie de "filial brasileira". a Sexxxchurch visita a rua Augusta na madrugada de sexta pra sábado, faz mobilizações na Praça da Sé pela conscientização contra a pornografia infantil, mantém grupos de apoio a viciados em pornografia e coisas do gênero.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Isso era um comentário mas ficou muito grande... rs

Gente, vocês não imaginam o quanto essas discussões têm me ajudado!

Não estou conseguindo elaborar tão bem o que penso ainda, porque as coisas ainda estão bem confusas na minha cabeça, mas ao mesmo tempo eu sinto uma convicção muito grande que estamos caminhando em direção à essência - e que na verdade essa caminhada vai perdurar por toda a vida...

1 - Sobre vocês e o blog
Vocês e mais alguns poucos amigos têm sido a minha melhor referência de igreja atualmente, e isso é maravilhoso, considerando as distâncias e os diferentes "graus de amizade" que temos! Sim, isso é igreja!

2 - Os efeitos
Refletir dessa forma sobre o que creio, por que creio, a existência de Deus, o papel da igreja e as formas de religião, no mínimo me faz viver toda e qualquer experiência religiosa, individual ou coletiva - seja na igreja, no meu quarto, num restaurante com amigos ou na casa deles, no trabalho ou num parque com desconhecidos - de forma mais honesta, pura, sincera e verdadeira. Estou me despindo cada vez mais dos preconceitos (e são tantooooossss!!), me colocando mais ao lado das pessoas, respeitando suas diferentes experiências, falando das minhas próprias experiências muito mais despretensiosamente.

Porque tenho a impressão de que a única coisa que inegavelmente temos em comum é a busca. A forma como buscamos e como lidamos com o que encontramos é totalmente individual e intransferível! Porque depende de como cada um pensa, percebe e interpreta. De quanto cada um se entrega à experiência. De quanto cada um é honesto consigo mesmo (o que me parece um pré-requisito para ser honesto com as outras pessoas e com Deus).

Evangelizar pra mim é um verbo que mudou de significado! Não consigo mais acreditar em evangelismo como me foi ensinado. Ninguém evangeliza ninguém! A gente busca a Deus, aprende a viver como Jesus e a conviver com as pessoas tendo a postura que Ele tinha e só! Qualquer coisa que acontece com quem estiver por perto de nós será uma experiência da pessoa com Deus! A gente só se torna alguém ou um grupo de pessoas com quem é gostoso partilhar sem ser julgado e sem julgar, todos conscientes de que ninguém tem todas as respostas - e dessa forma aptos a sermos usados por Deus como bênçãos a outros!

3 - O que me incomoda
Recentemente, andei me incomodando um bocado com o fato de que as minhas maiores convicções são empíricas. Porque eu percebo a atuação de Deus na minha vida, claramente. Eu percebo Ele se preocupando com as minhas dúvidas, respondendo pontualmente cada uma delas (ainda que seja me dando mais informação para processar e me deixando mais confusa, mas não fugindo do assunto). Eu percebo que Ele atua na minha mente e no meu coração. Me vejo agindo em algumas situações, naturalmente, de forma totalmente diferente do que tem sido natural para mim desde que me conheço por gente. Estou sendo transformada na essência. Sei que não é minha própria capacidade, é Ele. Percebo Sua atuação na comunidade apesar de todos (e são muitos) os problemas que enfrentamos como organização. Como pode isso acontecer? Pessoas se encontrando, sendo transformadas. É totalmente empírico, mas é incontestável!

>> E por falar em comunidade, igreja, que é o grande tema do qual estamos tratando aqui, estou tendendo ao que o Osmar levantou: paradoxalmente, a questão é muito mais individual do que coletiva. A idéia é ser um conjunto de indivíduos em busca e constante transformação - e por isso mesmo capazes de ouvir sem julgamento, dispostos a compreenderem e suprirem as necessidades mútuas.

Mas voltando ao tema, comecei a perceber que as experiências de todos, até dos melhores argumentadores entre meus amigos, no fim das contas também são empíricas. Algumas das suas "razões" para não crer, é porque estão "testando" algo, testando não crer. E não negam que percebem a existência de algo que nos transcende e buscam respostas (voltando à estaca zero).

4 - O que atrapalha
Essa semana, estava conversando com uma amiga sobre como as pessoas criam sua própria religião, seu conjunto de crenças e tentam vender e até impor a outros. Porque adquirimos um pouquinho de conhecimento e entendemos que precisamos disseminá-lo, nos tornamos pessoas desrespeitosas e inconvenientes, sob a bandeira de "bem-intencionadas". E quando nos é conveniente, nos contradizemos fazendo concessões. Racionalizamos "desculpas esfarrapadas" com "embasamento bíblico" e ficamos "equilibrando pratinhos" para justificar-nos. Com isso, tornamo-nos completamente incoerentes e péssimos representantes de Cristo! Imagino Jesus se contorcendo ao ver pessoas tentando pregar sobre Ele mas agindo dessa forma completamente oposta ao Seu caráter!

5 - Aqui vai realmente o comentário
E aqui chego à questão que o Osmar comentou sobre suprir as necessidades das pessoas. O que falta é interessar-nos mesmo por fazer a obra que Jesus fazia, ser como Ele. "Ir" pode ser simplesmente ficar quando alguém é abandonado por todos por causa de suas idéias e questionamentos. Pode ser abrir mão de algumas horas de sono para ouvir alguém que precisa desabafar. Pode ser dividir comida, casa, oportunidade de trabalho. Pode ser apenas passar tempo ao lado de um parente doente, um idoso, uma criança sem lar. Pode ser perdoar e continuar tolerando aquela pessoa que te irrita sempre da mesma forma pela "trocentésima" vez, e continuar agindo com respeito e amor com ela... e fazer isso entendendo que é exatamente isso que todos precisamos - e é o que Deus faz conosco!

sábado, 6 de setembro de 2008

IDE = Vá até as pessoas ou Venham à mim?

Olá Pessoal,

Estou observando a discussão interessante aí que está rolando...

Tenho sensações estranhas sobre os grilhões que parecem nos prender a pre-conceitos. Parece claro que buscamos novas formas de agregações religiosas, ou mesmo que seja, redescobrir a roda.

Realmente passei um sábado muito agradável com o Gabriel e outros amigos, mas também me pareceu que não estamos muito prontos para não estar em um ambiente com paredes e um cara estranho falando lá da frente, dizendo-nos o que fazer o que não fazer, sendo que ele nem nos conhece.

Coloquei esse título do post porque essa idéia me parece também meio contraditória, ou uma história incompleta. Confesso que esse insight também não está claro na minha mente, mas vou tentar expor o que tenho pensado sobre. Vai que alguém dá uma luz aí.

Quando Jesus ordena o IDE, Ele realmente nos mandava ir? Nem sempre Ele foi. Várias vezes vieram a Ele. Ahhh, outra coisa, Jesus utilizou todas as ferramentas possíveis de evangelismo? Não há mais nenhuma forma que possa ser diferente?

Por que pergunto tudo isso? Lendo as coisas do blog, parece que vejo a gente tentando misturar tudo ao mesmo tempo, não que esteja errado, mas parece que queremos padronizar soluções. Queremos montar nossa vida pessoal, profissional, religiosa, financeira tudo no mesmo saco. Vocês acham que é por aí? Bom, mas aí vão falar, você não pode separar essas coisas, você tem de ter religião na sua vida pessoal, sua vida profissional é recheada da sua vida pessoal e mais a sua ética que vem atrelada à sua religião. E é claro, tudo acaba sendo misturado.

O que acabo vendo disso tudo é que buscamos, a partir de ambientes diferentes, situações diferentes, culturas e padrões diferentes tentar achar algo comum para nossas reuniões religiosas e aplicações do famoso IDE.

É claro que esse modelo que está aí da nossa religião (instituição) já não nos atende mais, mas será que não seria o caso de cada um de nós ver que a solução é ainda mais personalizada que imaginamos? Ou seja, a forma que penso para mim num interior e sem filhos pode não ser a mesma para o Gabriel, cosmopolita, com filhos, e nem para o Klébert estrangeiro. Pode ser que para um de nós, o IDE signifique vá, e procure pessoas, faça o marketing que Jesus algumas vezes se utilizou mandando os curados contarem o que tinha ocorrido a eles. Para outros de nós, pode ser que o IDE signifique seja uma âncora segura para quem procurar você.

Eu estou aprendendo essas personalizações de acordo com as necessidades pessoais das pessoas que tenho contato. Sempre tivemos a pretensão de massificar as pessoas que procuram Jesus. Então a igreja faz séries de conferência e dá um caderninho básico com as crenças que a massa tem de ter. Mas sempre acontece que não é isso que as pessoas procuram. As pessoas procuram outras pessoas. As pessoas procuram Jesus, por diferentes formas. Hoje, procuro entender as necessidades e aí eu estudo para poder suprir essas necessidades. Claro eu gosto muito de estudar sobre o santuário, e por isso, eu sempre achei que essa era a maior necessidade de conhecimento das pessoas. E não é. Santuário e coisas afins são a minha necessidade.

Acho que atender essas pessoas nas suas necessidades é que fará nossa igreja. Isso será nossa igreja. Como o Klébert citou e estamos carecas de saber é que a Dona Branca já dizia que um cara do Reino já nasce missionário. Penso que sempre tivemos a concepção errada sobre isso. Estou atualmente entendendo que esse ser missionário envolve o atendimento às necessidades das pessoas. Assim como Jesus atendia às necessidades reais.

Por isso, nessa semana comecei a pensar que cada um de nós vai descobrir a melhor forma de ser a sua igreja. De agregar a essa igreja seus mais próximos e estimular que cada um também faça isso, mas como serão pessoas diferentes, serão formas diferentes, atendendo a necessidades de pessoas diferentes, e creio que Deus as atenderá a cada um, conforme a necessidade de cada um.

Como seria interessante um encontro dessas pessoas. Todos contando como Deus operou nelas de formas diferentes, em tempos diferentes, e acho que isso faria melhorar inclusive nossa própria compreensão do evangelho.

Isso seria uma igreja "Contemporânea pós-moderna"?

Isso renegaria o princípio da unidade em Cristo?


Bom pessoal, é isso aí. Vamos discutir isso.

sábado, 23 de agosto de 2008

Buscando um novo começo...

Há algumas semanas tive uma conversa muito franca com um dos nossos amigos que nos acompanham neste blog, e foi impressionante ver como, apesar de nossa busca ansiosa por uma experiência mais relevante sobre igreja, este assunto é sensível e mexe com nossas bases.
Começamos a conversar, além das amenidades iniciais costumeiras, sobre o que fazer a respeito destas ansiedades sobre as quais temos conversado neste blog.

O que mais me chamou a atenção é a dificuldade que temos, ou pelo menos eu tenho, de imaginar o que seria uma nova comunidade pra experimentarmos, um novo modelo daquilo que chamamos de igreja. Não me refiro somente ao fato de não saber exatamente o que seria um novo modelo (talvez façamos uma idéia...), mas sim ao fato de que fazer algo diferente, ou um tanto quanto "independente", parece estar traindo certas raízes sobre as quais desenvolvemos nossas primeiras experiências religiosas. É como se fosse algo proibido ou, no mínimo, errado.
Outro aspecto que preocupa é a questão das crianças. O que fazer para dar a atenção e preparação adequada para as crianças? Como oferecer-lhes uma herança religiosa que os conduza no caminho de Deus em um modelo que nunca antes experimentamos? Como ter certeza que isto também funcionará com eles assim como funcionou conosco?

Bem, há duas semanas fizemos uma reunião em casa, no sábado à tarde. Uma tentativa não explícita do que poderia ser um sábado diferente. Foi mais uma reunião na qual buscamos ter um sábado à tarde agradável com amigos... mas confesso que eu ansiava por algo mais. Porém, mais uma vez, o receio de ser julgado não me permitiu abrir esta questão publicamente. Eu não tinha certeza de que todos os que estavam presentes estariam na mesma busca que eu... De qualquer forma, foi uma excelente tarde de sábado! Apreciamos muito os momentos que passamos juntos.

Sábado passado tivemos um momento bastante especial... fizemos um experimento de sábado diferente. Aproveitando a viagem de nossos amigos Adriana e Osmar a São Paulo, reunimos mais um casal e formos ao Jardim Botânico para ali fazermos a nossa igreja naquele dia.
Claro que planejamos nos encontrarmos cedo, porém a "noitada de papo" da sexta madrugada a dentro não deixou que a gente levantasse cedo no dia seguinte. Mas tudo bem... aproveitamos o dia frio e nublado, e fomos. Chegando lá, não tinha quase ninguém (por motivo óbvio: o clima), e fomos conversando e caminhando até um gramado próximo, já no meio das árvores e do ambiente. Fizemos ali uma oração e seguimos caminhando pelos caminhos jardim. Muita foto (câmera fotográfica era o que não faltava) e paisagens de mata atlântica... até que nos sentamos no meio do parque, numa escadaria pequena que dá acesso a umas trilhas na mata, e começamos a conversar.
Claro que, num ambiente como este, o grupo estava bem à vontade, e pudemos trazer a questão de o que seria organizar uma nova comunidade à tona. A coisa rolou meio assim como rolava no GEA, ainda que um pouco acanhado (após algum tempo nos reunindo, eu me lembro que não custava nada para termos uma conversa frutífera e empolgante, mas no princípio não foi assim...), mesmo assim foi muito bom. O interessante foi ver que para alguns não foi fácil conceber a idéia de um grupo ou comunidade informal e desvinculada, mas ainda assim o conceito teve fortes atrativos, mesmo porque estes são de uma geração que tem sentido de perto os problemas de uma igreja institucionalizada. (Osmar, me ajuda aí a lembrar de mais detalhes, dos questionamentos, etc ...)
Bem, após uma boa conversa continuamos caminhando, e pra nossa sorte encontramos alguns tucanos e um bando de macacos, todos livres, se alimentando entre os galhos das árvores no meio do parque. Bem, isto já era o fim da tarde, e nada foi melhor que voltar pra casa e almoçarmos, quero dizer, jantarmos todos aconchegados no quentinho de casa.
Realmente eu curti o sábado como há tempo não curtia...

Claro que ficou faltando a presença de outros que aqui estejam visualizando estas palavras, e tenham a certeza de que vocês fizeram falta...

Quero muito repetir isso, não de vez em quando, mas rotineiramente, talvez em diferentes lugares, também com gente nova e curiosa em participar, e assim termos a chance de desenvolver um ambiente diferente, despretensioso, franco e saudável, onde possamos deixar nossas impressões pessoais sem medo de sermos julgados ou medidos... mas motivados pelo fato de sentirmos prazer em estarmos uns com os outros, ora sendo objeto, ora sendo instrumentos do amor de Deus.
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Então pessoal, que tal começarmos a contribuir em como fazer isto acontecer de verdade?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Uma proposta nada convencional...

Neste último sábado, eu estava com minhas crianças na locadora de vídeo escolhendo o que assistiríamos naquela noite e no dia seguinte, tentando regulamentar o que seria nossa diversão noturna televisiva. Como é natural de toda criança, meu filho estava voando em pensamentos, distraído com as tantas opções que as prateleiras ofereciam, enquanto ele passava na frente de outro cliente da loja, que tentava visualizar as opções que a figura do meu pequeno lhe cobria da vista. Assim que percebi, o chamei de imediato, e pedi desculpas ao pai de família que ali estava tentando se decidir por um filme. Para amenizar a situação, fiz um comentário qualquer com aquele senhor e estabelecemos uma pequena conversa. Ele já havia morado no Chile por 2 anos, transferido pela empresa, entre outras coisas em comum sobre as quais conversamos. No fim, ele me deu seu cartão de visitas da multinacional onde trabalha, e ficamos de nos contatar em outra oportunidade.

Não é a primeira vez, aliás para mim tem sido relativamente freqüente, que tenho esta experiência, onde pessoas completamente desconhecidas, por alguma razão inexplicável, dão espaço e demonstram interesse em estabelecer contatos, ainda que superficiais a princípio, como quem procura fazer amigos. Agora mesmo me lembrei que isso aconteceu novamente 2 semanas atrás, quando estive em Curitiba... claro que a pessoa não era curitibana, era carioca... hehehehe
Tenho procurado, na medida do possível, dar continuidade a estas experiências, no sentido de tentar estreitar o contato, ainda que somente pela curiosidade de saber até onde estes relacionamentos podem se desenvolver.

Claro que, numa cidade como São Paulo, muitos de nós quase que imediatamente pensamos quais seriam os perigos possíveis em situações como esta. Procuramos nos preservar, não revelando detalhes pessoais, ou mesmo não abrindo maiores informações além daquelas que já consideramos públicas e que não trariam risco a nossa privacidade ou segurança pessoal.
É impressionante!! Como estas questões nos levam a ficarmos isolados uns dos outros! E ainda que tentemos estabelecer um certo contato, ficamos medindo tudo: as perguntas, as respostas, as possíveis pistas sobre os prováveis interesses do outro em estabelecer ou dar continuidade àquela conversação. Quanto stress só pra uma conversa de corredor de locadora!!!

Confesso que, apesar de minhas tentativas em dar continuidade a estes contatos, eu raramente tenho tido sucesso em mantê-las. Não porque não queira, mas imagine: o que você diria - ou numa situação mais fácil - escreveria num e-mail para um completo desconhecido que com quem você por acaso, sem maiores razões aparentes, estabeleceu um contato? Isso sem parecer interesseiro, intrometido, carente, entre outras tantas suspeitas mútuas que uma situação como esta motiva. É algo completamente awkward, estranho...

Ok. Então vamos experimentar um caminho mais fácil... que tal tentar estreitar relacionamentos com pessoas que já conhecemos? Não falo de pessoas próximas, mas daquelas que de vez em quando você encontra, vocês se reconhecem mutuamente, mas nunca houve nenhum motivo suficientemente forte que os aproximasse por um tempo mais significativo além daqueles 45 segundos de encontro casual, onde cumprimentos impessoais são trocados, demonstrando a boa educação que as respectivas mães lhes deram quando criança. Ainda assim, se você tentar prolongar, ainda que seja por mais 1 minuto somente, um contato como este, eu duvido que as mesmas questões citadas no fim do parágrafo anterior não venham à tona novamente. Então, como vencer este isolamento que nos afasta uns dos outros?... ou talvez a pergunta seja:
"Por que precisamos nos aproximar de outros? Eu estou tão bem comigo mesmo!"
O livro "The Search to Belong", de Joseph R. Mayers, descreve um conceito chamado de "espaços de relacionamentos", o qual define 4 categorias - público, social, pessoal e íntimo - de como as pessoas se sentem ligadas a determinados grupos ou situações, conforme seu interesse, tempo, sentimento, experiências anteriores, etc.
Este modelo parece explicar muitos dos comportamentos que vemos nos mesmos indivíduos em diferentes grupos associativos, desde igrejas, festas, jogos de futebol, até clubes sociais. Ainda assim, em maior ou menor grau, a pergunta anterior continua persistindo...

Há alguns anos atrás, devido a uma indicação que eu até hoje não consegui identificar, um senhor francês me contatou por e-mail na empresa onde então eu trabalhava, para nos oferecer um sistema que ele representava. Interessado pelo produto, eu dei continuidade às conversações que se estabeleceram, porém nunca ocorreu um negócio concreto entre as empresas. Ainda assim, toda vez que ele vinha ao Brasil nos encontrávamos pra conversar, falar das novidades locais, das conquistas pessoais, dos hobbies, da família, entre outras amenidades de interesse mútuo, situação que ainda se repete pelo menos uma vez ao ano nos últimos 7 anos.
Há 3 anos atrás, ele me contatou indignado: ele tinha planejado passar uma férias em diversas cidades do nordeste do Brasil com a esposa e o filho, porém ele não conseguia comprar passagens aéreas locais aos preços divulgados pelos sites das companhias porque ele não tinha uma coisa chamada CPF, e por telefone queriam cobrar mais do dobro do valor anunciado. Foi então que decidi dar um passo além: ofereci a ele comprar todas as passagens que ele precisasse no meu cartão de crédito (não preciso dizer que arrebentei meu limite) e quando ele chegasse, ele me pagaria. Graças a Deus deu tudo certo: comprei as passagens, ele viajou feliz com a família, e depois ainda me levou pra jantar no Figueiras - um restaurante bacana nos Jardins de São Paulo - sem deixar de quitar a dívida...
Desde então, posso dizer que nos tornamos amigos, talvez não tão chegados quanto outros (como ser amigo de um francês? Deve haver um livro pra isso...), mas o suficientemente próximos para estabelecermos fortes bases de confiança, inclusive para os negócios que temos recentemente feito juntos aqui no Brasil.
Com certeza, vejo que um fator decisivo para que este contato, com origem meramente comercial, se desenvolvesse em uma amizade foi o de ambos termos dado um passo além daqueles que mantivemos durante os primeiros anos de contato. E hoje, ele tem me ajudado inclusive quando passei por dificuldades financeiras...

Então eu retorno à pergunta:
"Por que precisamos nos aproximar uns dos outros?"
Há 2 semanas atrás, nosso amigo Osmar esteve por estas bandas, e conseguiu me fazer uma visita (coisa rara!!). Ambos tivemos a oportunidade de reencontrar alguns velhos amigos que não víamos há anos, e como foi importante poder reviver aqueles momentos que, em outros tempos, eram tão comuns e corriqueiros, e hoje parecem tão escassos e ao mesmo tempo tão valiosos...
Em um determinado momento, após colocarmos pra fora diversos assuntos que estavam pendentes, o Osmar me perguntou algo como:
"Gabriel, para onde você pretende levar toda esta leitura, discussão e busca que você está fazendo a respeito de comunidade e igreja?"
Confesso que eu ainda não tinha parado pra pensar no assunto tão explicitamente quanto a resposta requerida pela pergunta exigia, e ainda não cheguei a uma conclusão completa a respeito da mesma, porém acho que me arrisco a dizer:
Estou tentando encontrar um grupo de pessoas que esteja em uma busca semelhante, a de estabelecer o Reino de Deus aqui e agora entre nós, de modo a recriarmos aquilo que chamamos de igreja em um modelo não baseado em estruturas organizacionais, mas no interesse mútuo de estarmos preocupados com o objeto do amor de Deus: pessoas, gente... pelo simples prazer de perceber que nos fizemos, sem querer, discípulos dEle...
Hey!!... HEY!!!

Ainda tem alguém por aí?... por aí?... por aí?... por aí?...

terça-feira, 1 de julho de 2008

A Igreja ao Gosto do Freguês

Lindões, o texto abaixo me chegou através da boa e velha mailinglist do GEA (Grupo de Estudantes Adventistas). Trata-se de um artigo publicado na revista evangélica Chamada da Meia-Noite, que aborda profecias bíblicas sob um ponto de vista dispensacionalista, de março de 2005. O link para a matéria é
http://www.chamada. com.br/mensagens /igreja_ao_ gosto.html

Reproduzo a matéria aqui na esperança de que ele possa fomentar alguma discussão. O que acham??


A Igreja ao Gosto do Fregues

O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing. Tipicamente, ele começa pesquisando os não-crentes (que um dos seus líderes chama de "desigrejados" ou "João e Maria desigrejados" ). A pesquisa questiona os que não freqüentam
quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os "desigrejados" , mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas. Praticamente falando, dá certo!

Duas igrejas são consideradas modelos desse movimento: Willow Creek Community Church (perto de Chicago), pastoreada por Bill Hybels, e Saddleback Valley Church (ao sul de Los Angeles) pastoreada por Rick Warren. Sua influência é inacreditável. Willow Creek formou sua própria associação de igrejas, com 9.500 igrejas-membros. Em 2003, 100.000 líderes de igrejas assistiram no mínimo a uma conferência para líderes realizada por Willow Creek. Acima de 250.000 pastores e líderes de mais de 125 países participaram do seminário de Rick Warren ("Uma Igreja com Propósitos"). Mais de 60 mil pastores recebem seu boletim semanal.

Visitamos Willow Creek há algum tempo. Pareceu-nos que essa igreja não poupa despesas em sua missão de atrair as massas. Depois de passar por cisnes deslizando sobre um lago cristalino, vê-se o que poderia ser confundido com a sede de uma corporação ou um shopping center de alto
padrão. Ao lado do templo existe uma grande livraria e uma enorme área de alimentação completa, que oferece cinco cardápios diferentes. Uma tela panorâmica permite aos que não conseguiram lugar no santuário ou que estão na praça de alimentação assistirem aos cultos. O templo é espaçoso e moderno, equipado com três grandes telões e os mais modernos sistemas de som e iluminação para a apresentação de peças de teatro e musicais.

Sem dúvida, Willow Creek é imponente, mas não é a única megaigreja que tem como alvo alcançar os perdidos através dos mais variados métodos. Megaigrejas através dos EUA adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, espaços para guardar equipamentos, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds, tudo para o progresso do Evangelho. Pelo menos é o que dizem. Ainda que algumas igrejas estejam lotadas, sua freqüência não é o único elemento que avaliamos ao analisar essa última moda de "fazer igreja".

O alvo declarado dessas igrejas é alcançar os perdidos, o que é bíblico e digno de louvor. Mas o mesmo não pode ser dito quanto aos métodos usados para alcançar esse alvo. Vamos começar pelo marketing como uma tática para alcançar os perdidos. Fundamentalmente, marketing traça o perfil dos consumidores, descobre suas necessidades e projeta o produto (ou imagem a ser vendida) de tal forma que venha ao encontro dos desejos do consumidor. O resultado esperado é que o consumidor compre o produto. George Barna, a quem a revista Christianity Today
(Cristianismo Hoje) chama de "o guru do crescimento da igreja", diz que tais métodos são essenciais para a igreja de nossa sociedade consumista. Líderes evangélicos do movimento de crescimento da igreja reforçam a idéia de que o método de marketing pode ser aplicado - e
eles o têm aplicado - sem comprometer o Evangelho. Será?

Em primeiro lugar o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância. A Escritura nos diz claramente que a mensagem da cruz é "loucura para os que se perdem" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha de ofensa" (1 Co 1.18 e 1 Pe 2.8).

Megaigrejas adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds.

Algumas igrejas voltadas ao consumidor procuram evitar esse aspecto negativo do Evangelho de Cristo enfatizando os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do consumidor como seu principal ponto de interesse. Mesmo que essa abordagem apele para a nossa geração
acostumada à gratificação imediata, ela não é o Evangelho verdadeiro nem o alvo de vida do crente em Cristo.

Em segundo lugar, se você quiser atrair os perdidos oferecendo o que possa interessá-los, na maior parte do tempo estará apelando para seu lado carnal. Querendo ou não, esse parece ser o modus operandi dessas igrejas. Elas copiam o que é popular em nossa cultura - músicas das
paradas de sucesso, produções teatrais, apresentações estimulantes de multimídia e mensagens positivas que não ultrapassam os trinta minutos. Essas mensagens freqüentemente são tópicas, terapêuticas, com ênfase na realização pessoal, salientando o que o Senhor pode oferecer, o que a
pessoa necessita - e ajudando-a na solução de seus problemas.

Essas questões podem não importar a um número cada vez maior de pastores evangélicos, mas, ironicamente, estão se tornando evidentes para alguns observadores seculares. Em seu livro The Little Church Went to Market (A Igrejinha foi ao Mercado), o pastor Gary Gilley observa
que o periódico de marketing American Demographics reconhece que as pessoas estão: ...procurando espiritualidade, não a religião. Por trás dessa mudança está a procura por uma fé experimental, uma religião do coração, não da cabeça. É uma expressão de religiosidade que não dá valor à doutrina, ao dogma, e faz experiências diretamente com a divindade, seja esta
chamada "Espírito Santo" ou "Consciência Cósmica" ou o "Verdadeiro Eu". É pragmática e individual, mais centrada em redução de stress do que em salvação, mais terapêutica do que teológica. Fala sobre sentir-se bem, não sobre ser bom. É centrada no corpo e na alma e não no espírito. Alguns gurus do marketing começaram a chamar esse movimento de "indústria da experiência" (pp. 20-21).

Existe outro item que muitos pastores parecem estar deixando de considerar em seu entusiasmo de promover o crescimento da igreja atraindo os não-salvos. Mesmo que os números pareçam falar mais alto nessas "igrejas ao gosto do freguês" (um número surpreendente de igrejas nos EUA (841) alcançaram a categoria de megaigreja, com 2.000 a 25.000 pessoas presentes nos finais de semana), poucos perceberam que o aumento no número de membros não se deve a um grande número de "desigrejados" juntando-se à igreja.

Durante os últimos 70 anos, a percentagem da população dos EUA que vai à igreja tem sido relativamente constante (mais ou menos 43%). Houve um crescimento, chegando a 49% em 1991 (no tempo do surgimento dessa nova modalidade de igreja), mas tal crescimento diminuiu gradualmente, retornando a 42% em 2002 (www.barna.org) . De onde, então, essas megaigrejas, que têm se esforçado para acomodar pessoas que nunca se interessaram pelo Evangelho, conseguem seus membros? Na maior parte, de igrejas menores que não estão interessadas ou não têm condições financeiras de propiciar tais atrações mundanas. O que dizer das
multidões de "desigrejados" que supostamente se chegaram a essas igrejas? Essas pessoas constituem uma parcela muito pequena das congregações. G.A. Pritchard estudou Willow Creek por um ano e escreveu um livro intitulado Willow Creek Seeker Services (Baker Book House,
1996). Nesse livro ele estima que os "desigrejados" , que seriam o público-alvo, constituem somente 10 ou 15% dos 16.000 membros que freqüentam os cultos de Willow Creek.

O Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos.

Se essa percentagem é típica entre igrejas "ao gosto do freguês", o que provavelmente é o caso, então a situação é bastante perturbadora. Milhares de igrejas nos EUA e em outros países se reestruturaram completamente, transformando- se em centros de atração para "desigrejados" . Isso, aliás, não é bíblico. A igreja é para a maturidade e crescimento dos santos, que saem pelo mundo para alcançar os perdidos. Contudo, essas igrejas voltaram-se para o entretenimento e
a conveniência na tentativa de atrair "João e Maria", fazendo-os sentirem-se confortáveis no ambiente da igreja. Para que eles continuem freqüentando a "igreja ao gosto do freguês", evita-se o ensino profundo das Escrituras em favor de mensagens positivas, destinadas a fazer as
pessoas sentirem-se bem consigo mesmas. À medida que "João e Maria" continuarem freqüentando a igreja, irão assimilar apenas uma vaga alusão ao ensino bíblico que poderá trazer convicção de pecado e verdadeiro arrependimento. O que é ainda pior, os novos membros recebem uma visão psicologizada de si mesmos que deprecia essas verdades. Contudo, por pior que seja a situação, o problema não termina por aí.

A maior parte dos que freqüentam as "igrejas ao gosto do freguês" professam ser cristãos. No entanto, eles foram atraídos a essas igrejas pelas mesmas coisas que atraíram os não-crentes, e continuam sendo alimentados pela mesma dieta biblicamente anêmica, inicialmente
elaborada para não-cristãos. Na melhor das hipóteses, eles recebem leite aguado; na pior das hipóteses, "alimento" contaminado com "falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam" (2 Tm 6.20). Certamente uma igreja pode crescer numericamente seguindo esses moldes, mas não espiritualmente.

Além do mais, não há oportunidades para os crentes crescerem na fé e tornarem-se maduros em tal ambiente. Tentando defender a "igreja ao gosto do freguês", alguns têm argumentado que os cultos durante a semana são separados para discipulado e para o estudo profundo das Escrituras. Se esse é o caso, trata-se de uma rara exceção e não da regra!

Como já notamos, a maioria dessas igrejas, no uso do seu tempo, energia e finanças tem como alvo acomodar os "desigrejados" . Conseqüentemente, semana após semana, o total da congregação recebe uma mensagem diluída e requentada. Então, na quarta-feira, quando a congregação usualmente se reduz a um quarto ou a um terço do tamanho normal, será que esse
pequeno grupo recebe alimentação sólida da Palavra de Deus, ensino expositivo e uma ênfase na sã doutrina? Dificilmente. Nunca encontramos uma "igreja ao gosto do freguês" onde isso acontecesse. As "refeições espirituais" oferecidas nos cultos durante a semana geralmente são
reuniões de grupos e aulas visando o discernimento dos dons espirituais, ou o estudo de um "best-seller" psico-cristão, ao invés do estudo da Bíblia.

Talvez o aspecto mais negativo dessas igrejas seja sua tentativa de impressionar os "desigrejados" ao mencionar especialistas considerados autoridades em resolver todos os problemas mentais, emocionais e comportamentais das pessoas: psicólogos e psicanalistas. Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão. Seus milhares de conceitos e centenas de metodologias não-comprovados são contraditórios e não científicos, totalmente não-bíblicos, como já documentamos em nossos livros e artigos anteriores. Pritchard observa: ...em Willow Creek, Hybels não somente ensina princípios psicológicos, mas freqüentemente usa esses mesmos princípios como guias interpretativos para sua exegese das Escrituras - o rei Davi teve uma crise de identidade, o apóstolo Paulo encorajou Timóteo a fazer análise e Pedro teve problemas em estabelecer seus limites. O ponto crítico é que princípios psicológicos são constantemente adicionados ao ensino de Hybels" (p. 156).

Durante minha visita a Willow Creek, o pastor Hybels trouxe uma mensagem que começou com as Escrituras e se referia aos problemas que surgem quando as pessoas mentem. Contudo, ele se apoiou no psiquiatra M. Scott Peck, o autor de The Road Less Travelled (Simon & Schuster, 1978) quanto às conseqüências desastrosas da mentira. Nesse livro, M. Scott Peck declara (pp. 269-70): "Deus quer que nos tornemos como Ele mesmo (ou Ela mesma)"!

Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão.

A Saddleback Community Church está igualmente envolvida com a psicoterapia. Apesar de se dizer cristocêntrica e não centrada na psicologia, essa igreja tem um dos maiores números de centros dos Alcoólicos Anônimos e patrocina mais de uma dúzia de grupos de ajuda
como "Filho s Adultos Co-Dependentes de Viciados em Drogas", "Mulheres Co-Viciadas Casadas com Homens Compulsivos Sexuais ou com Desordens de Alimentação" e daí por diante. Cada grupo é normalmente liderado por alguém "em recuperação" e os autores dos livros usados incluem psicólogos e psiquiatras (www.celebraterecov ery.com). Apesar de negar o uso de psicologia popular, muito dela permeia o trabalho de Rick Warren, incluindo seu best-seller The Purpose Driven Life (A Vida Com Propósito), que já rendeu sete milhões de dólares. Em sua maior parte, o livro fala de satisfação pessoal, promove a celebração da recuperação e está cheio de psicoreferências tais como "Sansão era dependente".

A mensagem principal vinda das igrejas psicologicamente motivadas de Willow Creek e Saddleback é a de que a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo são insuficientes para livrar uma pessoa de um pecado habitual e para transformá-la em alguém cuja vida seja cheia de fruto e agradável a Deus. Entretanto, o que essas igrejas dizem e fazem tem sido exportado para centenas de milhares de igrejas ao redor do mundo.

Grande parte da igreja evangélica desenvolveu uma mentalidade de viagem de recreio em um cruzeiro cheio de atrações, mas isso vai resultar num "Titanic espiritual". Os pastores de "igrejas ao gosto do freguês" (e aqueles que estão desejando viajar ao lado deles) precisam cair de
joelhos e ler as palavras de Jesus aos membros da igreja de Laodicéia (Ap 3.14-21). Eles eram "ricos e abastados" e, no entanto, deixaram de reconhecer que aos olhos de Deus eram "infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus". Jesus, fora da porta dessas igrejas, onde O colocaram
desapercebidamente, oferece Seu conselho, a verdade da Sua Palavra, o único meio que pode fazer com que suas vidas sejam vividas conforme Sua vontade. Não pode existir nada melhor aqui na terra e na Eternidade!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A igreja ideal


Ola' amigos, bom dia. Faz tempo que quero escrever mas... (sempre tem um "mas")

1) Me sinto absolutamente evergonhada com o meu portugues. Faz tempo que nao falo, escrevo, ou ouco a nossa lingua, aproximadamente 7 anos. Ja' peco desculpas a quaisquer erros que vcs encontrem nos meus futuros posts.

2) Estou ocupadissima tentando terminar minha tese, a Lilian ja' obteu a vitoria, mas a minha ainda esta' a caminho. Mais umas 3 semanas? our 4? ou 5? Nao sei mesmo.

Entao, com esses pensamentos vou deixar um video curtinho.
A versao "youtubica" nao esta' funcionando hoje, mas e':
Traduzi esse video para o ingles ontem. Acho que pra discutir a igreja ideal... e' so' olhar.
Na igreja ideal o amor pela pregacao do evangelho abunda, o trabalho e' natural, inocente, voluntario... foi Jesus que disse, devemos ser como criancas.

Um abraco!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um pouco de sonho...

O comentário do meu amigo Marcão, por semanas, me fez pensar se seria um escapismo esta busca por algo muito diferente do que tradicionalmente temos chamado de igreja. Então, tentando responder à pergunta do Klebert em alguns posts atrás, vou apresentar uma visão particular do sonho que ando sonhando (perdão aos lingüistas) motivado por estas discussões.

Comunidade
Este vocábulo do nosso vernáculo (será que eu agüento até o fim do post?) tem um conceito ainda tão ambíguo (favela, igreja, clube, membros de blogs, grupo de programadores de sistemas open source, etc.) quanto "igreja" tinha para Martinho Lutero na sua tradução da Bíblia ao alemão, a ponto de ele substituí-la por "congregação" - para evitar confusões, segundo Emil Brunner.
Sonhei com um grupo de pessoas, unidas pelo interesse mútuo... mais do que comum, mútuo. Algo como uma grande reunião anual familiar, com comida, música... onde todos os parentes (agora fiquei na dúvida se esta analogia vai ser eficaz...) se encontravam em um lugar aprazível para que, ao menos uma vez ao ano, tivessem a oportunidade de se verem, reforçarem seus laços de relacionamento, saberem uns dos outros, compartilharem experiências, apreciarem seus filhos brincando juntos, celebrarem as conquistas, dividirem as cargas, trocarem idéias e colocarem alguns planos pra andar. Provavelmente alguns de nós já tivemos e ainda tenhamos a oportunidade de participar de algo parecido de vez em quando. Agora sonhemos juntos... e se pudéssemos ter isso toda a semana?

Evangelismo
Eis outra palavrinha cujo sentido já foi tão torcido em nosso entendimento, que a mesma assumiu o sentido de proselitismo e ainda achamos que isso é a coisa mais natural do mundo, como se nossa errônea atitude fosse corroborada por Deus por estarmos fazendo Sua obra: evangelismo.
Sonhei que nessa grande reunião de família convidávamos amigos, que se sentavam junto à mesa assim como nós e foram apresentados a outros membros da família, e também puderam compartilhar das mesmas experiências citadas acima. E, após algumas visitas, estes amigos se sentiram tão bem em nosso meio, e nós com eles, a ponto de todos já os considerarem parte da família... ao ponto de eles também se sentirem parte da família! Não interessavam suas crenças ou origens religiosas, o que interessava era que eles estivessem junto, contribuindo para este ambiente. Às vezes o interesse deles se manifestava, impressionados pela forma de como um ambiente assim se desenvolveu, cresceu e se multiplicou. Para outros, não aparecia interesse nenhum, e tudo continuava tão bem quanto antes, pois como dissemos: o que importava era que eles estivessem junto!

Estrutura organizacional
Qual é o benefício provido por uma estrutura formal organizada para uma comunidade? A resposta parece óbvia no ponto de vista sociológico, mas para um grupo essencialmente relacional, muitos de nós a estivemos combatendo com unhas e dentes desde que nos conhecemos, quando iniciamos o GEA, pois percebemos que uma estrutura formal fatalmente nos desviaria de nossos propósitos originais.

Sonhei que os planos que alguns membros desta família eventualmente desenvolveram no tempo, foram se estruturando, tomando forma, até que se tornaram ações reais pela atitude destes e de outros membros que abraçaram as iniciativas apresentadas em pról de propósitos adotados para o bem comum. Claro que estes projetos foram se multiplicando, e diversas idéias se tornaram realidade para esta família e para aqueles que a ela se juntaram, todos motivados pelo interesse mútuo. E a estrutura? Bem, não havia a necessidade de uma estrutura formal para auxiliá-los nos seus propósitos, pois as lideranças surgiam naturalmente motivadas pelo senso de serviço.

Infelizmente, olhando um pouco para experiências recentes que tive nestes dois últimos anos, começo entender um pouco mais do que o Marcão quis dizer em seu comentário, e começo também a crer que o maior inimigo deste sonho somos nós mesmos. Parafraseando Belchior, na saudosa interpretação de Elis Regina:
"...
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
..."
Bem, quero acreditar que existem diversas possíveis soluções para esta questão, porém já estou o suficientemente cansado neste instante para continuar discorrendo sobre o assunto... desculpa turma, fica pra um próximo post.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Também quero partilhar

Às vezes tenho vontade de pegar um bloquinho de notas e andar com meu filho de 5 anos um dia inteiro, anotando quantas vezes ele diz aquele “ah!” engolindo o ar, típico de quem está profundamente surpreso. Pode ser um comercial de televisão, uma coisa que o caçula de 1 ano fez, um grafite que viu na rua, um bicho que viu em algum lugar, tudo parece ser razão para ele expressar sua surpresa com essa interjeição escandalosa. A minha predileta é quando ouço seu “ah!” assim que abro a porta de casa, no final do dia.


Embora o fato me chamasse muito a atenção e me divertisse muito também, eu ainda não o havia enxergado como uma virtude invejável do Dudu. Foi a leitura deste parágrafo de Brennan Manning que me fez notar: “tornar-se uma criancinha novamente (conforme Jesus ordenou que deveria acontecer) é recuperar um sentimento de surpresa, deslumbramento e vasto deleite com toda a realidade” (in Convite à loucura, p. 26).


Claro que Jesus apontou às crianças como modelos tendo mais do que esse fato específico em mente (inocência, credulidade, dependência, capacidade de perdoar, humildade e outras características também vêm no pacote), mas essa predisposição ao espanto era uma que me havia escapado. E é curioso que eu o haja percebido exatamente na semana em que atendi ao convite do Fred para visitar sua reunião do GEA na Usp.

Bem, a reunião foi ótima, ao menos para mim. Estávamos em 11 pessoas, sentadas no saguão do prédio da Faculdade de Educação. No começo, achei estranho se reunir assim, num lugar aberto e público, onde o movimento pode ocasionar alguma dispersão. Acabei gostando muito do modelo. O Fred disse que já houve ocasiões em que curiosos pararam e ouviram durante algum tempo. E não, não houve dispersão nenhuma. Me enxerguei no olhar daqueles caras, respirei um pouco daquele velho e bom ar, que me fez muito bem. E, contando pra eles minha experiência com o GEA, me dei conta de que ela aconteceu há já 15 anos.

Eu não saberia citar ipsis literis de cabeça o que Morris Venden disse, mas vou tentar: “Conquanto não possamos determinar o dia exato ou o momento em que isso aconteceu, todos podemos dizer se experimentamos a conversão ou não”. Bem, eu posso não saber o dia e a hora, mas sei que foi naquele ano de 1993. E o que acontece a alguém que se entrega sem reservas nas mãos de Cristo e experimenta essa metamorfose radical que se chama conversão, quinze anos depois?

Bem, a chama da fé continua bem acesa, mas é possível notar rugas e alguns efeitos colaterais indesejáveis, dentre os quais o triste espaçamento entre meus “ah!s” de deslumbramento. Se antes eles brotavam em qualquer sermão, em qualquer meio versículo da Bíblia, em qualquer céu azul lavado de chuva, agora eles são mais raros.

Mas Deus continua falando pelos sermões, pelos céus azuis e pela Sua palavra. E eu gostaria de recuperar a capacidade de dar um enorme e escandaloso "Ah!" mesmo ouvindo algo batido e clichê como "Jesus salva”.

Penso que igreja não é só aquele prédio lá, aonde vamos aos sábados, mas tudo o que orbita ao redor dela. O GEA, por exemplo. Que, associado a uma leitura meio sacolejante durante minhas viagens no trem metropolitano, me fez lembrar que eu continuo precisando me tornar como uma criança.

domingo, 18 de maio de 2008

Um pouco de partilha...

Estou lendo um livro o qual me foi recomendado por alguns amigos que aqui nos acompanham, cuja resenha na internet me motivou a comprar 3 exemplares: "Pagan Christianity?" de Frank Viola e George Barna, caso mais alguém por aqui se interesse (o Fred foi um deles).
Até onde tenho lido (basicamente a primeira parte dele), o mesmo tem apresentado uma visão histórica interessante da origem de algumas práticas que temos nas igrejas cristãs em geral, seja no formato dos programas, na estrutura organizacional, nos costumes, ou mesmo na arquitetura de seus edifícios. Nesta parte do livro há um especial destaque à influência de Constantino, imperador romano no início do século IV, e à cultura Greco-romana da época.
Comentando sobre este livro com alguns mais chegados, recebi um questionamento que me fez pensar:
"O que você está buscando ao ler este tipo de livro? Não estará trazendo mais sarna pra se coçar?"
 ... a pertinência desta pergunta me fez refletir sobre a minha motivação ao buscar este tipo de informação, e questionar alguns paradigmas que naturalmente vim assimilando durante a minha vida religiosa.
Recentemente tenho observado (e até sido parte de) alguns problemas de relacionamento pessoal dentro da comunidade que freqüento. Incrível, mas sabidamente isto é coisa comum dentro de comunidades, e acredito que - sem razões muito claras - ainda mais na denominação a que pertenço. Fiquei me perguntando o porquê desta triste realidade... eu poderia até elencar algumas razões para isto, sem acreditar que todas estejam certas... mas acho que não vale a pena entrarmos nesta seara... mas ainda assim: o que poderíamos fazer em nossas comunidades para mudarmos esta realidade? O que deixamos de aprender ou a que nunca demos a devida atenção e conseqüentemente tem nos feito cair em situações tão reprováveis? Alguns poderiam dizer:
"Isto é a nossa preparação para o céu! Suportai-vos uns aos outros!"
Confesso que tenho dificuldade de acreditar nisso, pois esta afirmação parece implicar em que nada podemos fazer a respeito destas questões relacionais, e que somos obrigados a conviver passivamente com elas, como se elas "viessem no pacote".

Fiquei me perguntando quando em minha vida tive uma experiência que nos permitiu trabalhar para Deus, e conseguimos conviver minimamente com este tipo de situação... uma das poucas para mim, e talvez a única consistente, tenha sido a que vários de vocês também compartilharam conosco nos dias de universidade... mas então, qual é a diferença ou as diferenças em relação às comunidades que freqüentamos hoje? Nossa vida menos responsável da época? Nossa imaturidade coletiva no desenvolvimento do trabalho para Deus? Uma expectativa descompromissada?
Relembrando estes tempos, acredito que perdemos uma grande oportunidade em não termos criado nossa própria comunidade durante aqueles anos... claro que a nossa então imaturidade não nos permitiu desenvolvermos mais essa idéia, que já vinha sendo acalentada por alguns de uma geração anterior. Mas quais teriam sido os resultados? Será que fatalmente cairíamos nos mesmos erros e teríamos os mesmos problemas relacionais com os quais atualmente convivemos tão naturalmente em nossas comunidades? Talvez outras experiências semelhantes a esta imaginada poderiam nos mostrar que existe a possibilidade de uma realidade diferente para nossa experiência religiosa (Klebert e Lilian, vocês não gostariam de compartilhar um pouco disto conosco?).

Voltando ao nosso ponto inicial, qual é a motivação para olharmos na história e entendermos o que aconteceu conosco cristãos? Talvez seja a esperança de encontrarmos alguns fatores que nos permitam modificar nossa atual realidade e transformar nossa experiência religiosa coletiva em algo mais próximo do que Deus espera de seus discípulos (Jo 13:35). É incrível como negligenciamos o Grande Mandamento (Mar 12:30-31; e não me refiro à parte a qual Deus está envolvido diretamente) em prol da segurança de nossos sentimentos, de evitarmos enfrentar nossos medos e de até protegermos nossos interesses pessoais. Isto me lembra uma citação de C. S. Lewis (sim, o mesmo autor de "Mere Christianity" e "Contos de Nárnia"):
“To love at all is to be vulnerable. Love anything, and your heart will certainly be wrung and possibly be broken. If you want to make sure of keeping it intact, you must give your heart to no one, not even to an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements; lock it up safe in the casket of coffin of your selfishness. But in that casket – safe, dark, motionless, airless – it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable… The only place outside Heaven where you can be perfectly safe from all the dangers… of love is Hell.”
Por isso, eu penso que se tivéssemos a chance de fazermos diferente as coisas em nossa experiência religiosa (e isto requer o Grande Mandamento como um todo!!), não seria mais fácil a Deus "ir acrescentando, dia a dia, os que iam sendo salvos"(At. 2:47)?
Sou capaz de dizer que eu estaria disposto a me arriscar e tentar tudo novamente, e sem alardes, tentar fazer diferente: algo menor, menos pretensioso, mais discreto... e buscar criar condições onde um ambiente mais orgânico (veja autores como Joseph Myers, Frank Viola e Brian McLaren para definições mais abrangentes) possa se desenvolver e pessoas (e eu me inclúo) possam conviver, compartilhar, trabalhar e crescer espiritualmente, muito além do que temos conseguido alcançar até hoje.

Será que estou sonhando demais? Por favor, me digam com toda a franqueza!
Bem, mas se existirem mais sonhadores por aí... que Deus nos abençoe a todos...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Partilhando a vida

Estava lendo ainda a pouco a primeira carta que Paulo escreveu aos crentes de Tessalônica, e pude ter um pequeno vislumbre do que ocupava a mente dele ao viajar ensinando as pessoas a viverem uma vida diferente daquela que elas estavam acostumadas a viver. O aspecto fundamental da carta de Paulo é certamente a expressão do profundo carinho de Paulo, Silas e Timóteo pelos novos amigos que eles fizeram em Tessalônica, a quem ensinaram a viver uma vida quieta e serena cheia de alegria, amor fraternal e paz, ganhando o respeito e a confiança de todos ao viverem imitando a Jesus em seu novo estilo de vida. A saudade de Paulo, Silas e Timóteo revela-se tão intensa que Timóteo foi enviado para visitá-los e trazer notícias de como estavam os crentes (Paulo teria gostado de nossa comunicação global instantãnea via internete, não acham?). Ao saber que estava tudo bem com os Tessalonicenses a despeito da oposição que estavam sofrendo, Paulo escreve transbordando de alegria: "como podemos agradeçer a Deus o suficiente por tanta alegria que vocês nos proporcionam?"*

É evidente que Paulo tem uma relação muitíssimo mais estreita com os seus irmãos em Cristo do que nós temos com a maioria dos nossos irmãos em Cristo. Vejam só o que ele diz na carta: "Nós os amamos tanto que foi uma delícia partilhar com vocês não só as boas novas, mas também nossa própria vida, uma vez que vocês se tornaram tão queridos para nós!" Ah, quantas vezes somos encorajados a partilhar somente o evangelho e desencorajados de partilhar a vida?! Lamentavelmente isto acontece mais frequentemente do que deveria acontecer...

Será que não é para isso que serve igreja? Partilhar não somente as boas novas, mas também e principalmente a nossa própria vida? Este é também um dos objetivos deste blog. Portanto amiguinhos, não se acanhem. Partilhem conosco suas vidas :-)


* Tomei a liberdade de parafrasear o texto biblico para lhe dar uma roupagem menos formal e propositadamente omiti a referência exata para encorajar a leitura completa do texto. A carta não é longa e vale a pena ser lida.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Acordando do coma...

Este seria um título jóia para uma reflexão esperançosa sobre a igreja de Laodicéia, não acham? Mas ando indo um pouco além do tradicional esses dias. Hoje por exemplo, andei me atualizando num dos meus blogs preferidos escrito pelo Julius Nam, Progressive Adventism. Li esse post aqui que me inspirou a imaginação em direções divertidas.

Primeira: imagine que Tiago White tivesse entrado em coma e por algum milagre acordasse do coma nos dias de hoje. Como seriam suas impressões sobre a igreja adventista que ele ajudou a fundar? Se você ler os exemplos de mudança doutrinária listados pelo Julius talvez tenha uma idéia de quão perplexo ele ficaria ao avaliar o pensamento corrente adventista.

Segunda: e se você, que é adventista de carteirinha, entrasse em um coma profundo e acordasse daqui uns 10 ou 20 anos e começasse a ler os blogs adventistas e conversasse com membros de sua igreja e ouvisse os sermões dos mais novos pastores, quão perplexo você ficaria com as mudanças? O Julius faz suas previsões em questões que vão desde a origem da vida até o homossexualismo.

Moral da história: o adventismo nasceu como um movimento. Melhor seria não abandonar a caracteristica e continuar em movimento. Porém, estamos prontos como movimento para continuar absorvendo mudanças sem temer que elas estejam nos levando para o abandono dos alicerces fundamentais que tanto cultivamos e nos apegamos?

sábado, 19 de abril de 2008

Meu irmão e minha irmã...

Para refletir.

Gene Robinson, primeiro Bispo abertamente gay ordenado na igreja anglicana, recentemente concedeu uma entrevista para um programa muito ouvido nos EUA chamado Fresh Air. Na entrevista lhe foi perguntado como ele se sente sendo o centro da controvérsia em torno da aceitação do homossexualismo que esta causando um racha na igreja anglicana. Sua resposta foi mais ou menos na seguinte linha:

Nós não temos a chance de escolher nossa família. Nós temos irmãos e irmãs a quem adoramos e alguns com quem não nos damos bem; você não tem a chance de escolher quem são os seus irmãos e irmãs. Pela virtude do batismo, todos nós somos incluídos na mesma família. [Por esta razão] me parece que não podemos excluir uns aos outros, não importa quão grande sejam nossas divergências.


Há mais algumas pérolas. Aos menos preconceituosos, recomendo ouvir a entrevista. (ou deveria estar recomendando aos mais preconceituosos...?)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O que é igreja afinal?

Andamos por um bom tempo falando sobre "Para que serve igreja", "Para que serve pastor da igreja", "Porque eu ainda gosto tanto de igreja", etc. Quem sabe chegou a hora de discutirmos o que é igreja afinal?

Que tal começar pelo que não é igreja?

Igreja não é o edifício, apesar de costumeiramente levantarmos sábado (ou domingo) de manhã para ir à igreja.

Igreja também não é a instituição, ou corporação, apesar de termos, quase todos, nossos nomes no rol de membros da igreja adventista etc, etc, igreja cristã etc, etc, igreja católica etc, etc, igreja de Jesus Cristo etc, etc, etc.

Melhor é que a igreja não seja também uma denominação, uma palavra chata que pode ser usada para indicar espécie monetária, uma associação talvez adequada considerando a oferta de denominações religiosas na praça. (Alguém pode achar uma denominação perfeitamente ajustada para o seu gosto, concordam?).

Lendo Paulo, o apóstolo, vejo que ele tem uma fixação. Ele insiste em chamar a igreja de o corpo de Cristo. Esta analogia é usada por ele com tanta frequência, que começou a me chamar a atenção. (Não sei quanto a vocês, mas as vezes lendo a Biblia passo pelos mesmos versos tão familiares e surrados que nem reparo no que está sendo dito de fato). A insistência de Paulo na analogia do corpo, me cativou porque ele a usa muitas vezes para muitos propósitos: defesa da igualdade entre irmãos, unidade no convívio e propósito do grupo de crentes, submissão à direção de Cristo, etc.

Mais recentemente fiquei intrigado com o que ele escreveu aos crentes em Éfeso:

"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstãncia. "

Note, a igreja, ou seja, o corpo, é aqui chamado por Paulo de "o complemento", ou a "plenitude" de Cristo. Sem a existência da igreja, Cristo está aleijado na presença de todos; sua presença não é plena. Até arriscaria dizer que sua própria existência não é plena ou completa na realidade deste mundo. Essa comunidade de crentes que é chamada de igreja, que desejamos (ou não) fazer parte, deve ser isso ai: a extensão de Cristo, quase que literalmente, neste planeta.

Essa visão parece verdadeiramente ausente na arena religiosa de hoje. Apesar do discurso no palanque, dificilmente os olhos crentes ou ateus miram um grupo de cristãos esperando ver os braços do Cristo, ou seus ouvidos, ou lábios. Ainda bem, pois quase certamente veriam um Cristo anêmico, epilético, e aleijado.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Não conformismo com base em que autoridade?

Pois bem, depois de um longo e tenebroso inverno aqui estou eu de volta com uma nova questão que me veio à mente. Trombei hoje com uma declaração de Paulo familiar para muitos que diz na tradução atualizada de Almeida:
"Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo."
Paulo escreveu isso para o crentes da Galácia em perplexidade e apreênsão da rapidez com a qual os crentes abandonaram os fundamentos do estilo de vida que ele lhes ensinara. Na sequência Paulo narra seu confrontamento com o status quo em defesa do princípio fundamental de seus ensinos, que ele declara ter recebido de Jesus diretamente, sem interferência humana.

O ponto é o não conformismo. A dúvida é, baseada em que autoridade? Eu gosto do não conformismo de Paulo, do ir contra a corrente, desafiando a autoridade, defendendo o princípio, a mudança de paradigma. O que eu não gosto [como bom pós-moderno que sou] é sua argumentação que recebeu a instrução diretamente de Jesus. Vale acrescentar que esta revelação não foi pessoal como no caso dos outros discípulos.

Ok, Paulo é Paulo, mas quem sou eu tentando andar na contra mão? O argumento de que recebí uma revelação direta do Senhor não cola bem, o que vocês acham? Na realidade, uma boa parte das mudanças que temos discutido e que eu gostaria de ver ocorrendo na igreja, minha comunidade de crentes ou na minha própria atitude em relação à religião é fortemente argumentada na linha do senso comum ou bom senso.

Resultado: na sociedade pós-moderna que vivo e desejo aplicar e partilhar os mesmos princípios do estilo de vida de Paulo, a autoridade é o bom senso, raramente uma fonte inspirada de revelação. Na comunidade de crentes entalada no anacronismo, a autoridade é sempre a revelação, muitas vezes ao custo do bom senso. Como conciliar?

domingo, 23 de março de 2008

Porque eu ainda gosto tanto de igreja?

Para mim essa questão é mais forte do que o "pra que serve" que vem sendo discutido aqui.


Porque eu sempre estive envolvida numa comunidade religiosa: já passei por várias igrejas adventistas e vários grupos de estudos: uns mais "paz e amor", outros mais "racionais" como esse (o melhor de todos os tempos, aliás! rsrsrs).


Encontrei acolhida carinhosa, crítica, trabalho a fazer (o que eu gosto muito e sempre me empolgo com 1000 coisas), apoio pras horas difíceis, administração duvidosa... Todos tiveram seu encanto, e todos, por um motivo ou outro, "passaram".

Há cerca de 2 anos venho experimentando uma nova experiência (ok, ficou redundante, mas é assim que eu queria dizer mesmo). Comecei a fazer parte de uma comunidade da qual, na verdade, eu não me sentia parte por uns tantos meses. Ainda que houvesse pessoas conhecidas, das comunidades que eu frequentei anteriormente (o Gabi é um!), havia também umas tantas que pensavam, agiam, se vestiam e tinham gosto musical muito diferente do meu. Mas não sei exatamente porque (e eis aqui o ponto) eu resolvi insistir. Uma amiga que ia comigo (e compartilha desses mesmos questionamentos) desistiu, mas eu fiquei. [Aliás, quero convidá-la para participar aqui, posso? Lily, me ajuda a fazer isso?] Eu sempre digo a ela que eu não tenho jeito, sou igrejeira incurável, e por isso continuo. Uma sexta ela foi dormir em casa e disse que no sábado não queria ir de manhã comigo. Eu tive a capacidade de acordar e dizer: ah, desculpe, acho que se eu não for terei uma "crise de abstinência", vc não quer mesmo ir? Fica chateada se eu for e nos encontramos depois? Ela disse que não (e temos intimidade suficiente pra ela dizer o contrário, se fosse o caso) e eu fui (!).

Lá eu já vivi reencontros, novas amizades, namoro, término de namoro, e me envolvi, para trabalhar, com 3 (ops, 5!!) grupos distintos:

- O primeiro (coordenação da manhã), fui convidada logo no ínício quando não tinha mesmo muito mais gente pra ajudar. Fazia algo que eu sei fazer bem, mas me estressava um bocado. E saí em poucos meses. Fiquei à disposição, tanto que já substituí a líder numa ocasião em que ela adoeceu.

- O segundo (drama), de antigos amigos que eu considero demais, admiro a inteligência visivelmente acima da média, em que eu sou útil fazendo seja lá o que for, tenho liberdade para dar pitaco em quase tudo, dar e receber críticas sem mágoas e ainda me divertir um bocado.

- O terceiro (louvor), o mais "profissional", fui convidada a participar como uma das líderes e sem ser amiga de ninguém. Deus me ajudou a realizar um bom trabalho, mas depois de 1 ano estava desanimada com a falta de comprometimento de alguns membros "inconquistáveis" da minha equipe e quase desisti, mas consegui permanecer com uma sugestão da líder máxima para diminuir - mas não extinguir - o meu grau de responsabilidade. Esse é o grupo mais interessante: continuo não sendo amiga íntima de ninguém, mas me sinto equipe e desenvolvi um carinho enorme por eles.

- O quarto (coordenação da tarde), fui convidada por uma grande amiga para realizar um trabalho semelhante ao que eu fazia no primeiro. Apesar de ter a mesma natureza estressante a freqüência é menor e a maneira que ela lidera é mais "light". Por fim está se tornando muito mais interessante agora, pois incluiu a pesquisa de conteúdo para as programações.

- O quinto (comunicação) [quando comecei, achei que essa lista era menor!] , eu me ofereci para ajudar, pois é algo que eu a-do-ro fazer! Eu tinha uma idéia do que era o trabalho, mas a liderança era um pouco ausente e o pastor, que sempre foi meu interlocutor mais próximo, tinha uma visão diferente do que devia ser feito. Até assumi algumas das coisas que ele gostaria que eu fizesse, contei com a ajuda de uma amiga que eu fiz lá, e por fim ainda anda bem indefinido, mas uma coisa é fato: estou cada vez mais próxima de fazer somente o que eu realmente quero e gosto.

Acontece que ultimamente tenho me questionado muito sobre porque eu quero tanto continuar fazendo parte dessa comunidade.


Atualmente tenho fortes motivos para mudar:

- estou mais amiga da minha única "família" aqui por perto, minha irmã, que mora longe e freqüenta outra comunidade;
- meu namorado também mora longe, ainda que não esteja comprometido com nenhuma outra comunidade, mas tem bastante proximidade com a comunidade que minha irmã freqüenta; (e aliás, tem questionamentos como esses também)
- continuar insistindo em frequentar essa comunidade e ter tantas responsabilidades ali parece demonstrar que ela é mais importante que a família atual e a que eu (tanto) quero formar futuramente
- os amigos que me acolheram no início estão se afastando ou continuam lá, mas tão ocupados que não temos mais a convivência que gostaríamos;
- a comunidade cresceu e não exatamente dentro dos objetivos desejados e há momentos em que é tanta gente que perde totalmente o sentido de comunidade e vira muvuca;
- há problemas de liderança e de relacionamento (guerra de vaidades) que me estressam às vezes



Daí eu fico pensando no que me faz querer tanto ficar:
- há novos amigos, que eu me sinto útil em poder ajudar pessoalmente (estou tendo oportunidade de acolher e não só de ser acolhida, como aconteceu nos últimos anos)
- há espaço para discussões como essa
- a liderança demonstra que está em busca de estabelecer uma igreja fundamentada em pequenos grupos, baseada no sentido mais "puro" - e bíblico - do que a igreja deve ser
- foi ali que eu vivi enquanto reconstruía a auto-estima, e hoje me sinto novamente integrada a um grupo, útil e algumas vezes até reconhecida pelo trabalho que realizo e que me dá um certo prazer e orgulho. (Isso tá virando terapia... rs)
- sempre saio alimentada (coisa que acontece em freqüência muuuito menor quando visito outras comunidades)
- O principal: foi ali que eu aprofundei meu relacionamento com Deus como nunca antes e tenho experimentado alguns "resultados práticos" de entrega e de discipulado na minha vida...


Estava me sentindo egoísta e pirando com esse assunto há poucos dias (tanto que nem quis publicar o post - além da falta de tempo, claro). Mas fizemos um programa de páscoa que parecia tão impossível de sair e que atingiu tanto as pessoas, e sai tão miraculosamente melhor do que eu imaginava, que eu calei a boquinha por mais um tempo... e vou continuar lá simplesmente porque é uma grande oportunidade de aprender a viver - da maneira mais intensa que eu conheço até agora - o cristianismo!

sábado, 22 de março de 2008

"Se formos cometer erros, cometamos erros novos"

Esta frase genial é de Frank Viola. Meu estimado amigo Ricardo me deu de presente esses dias um livro do tal do Frank chamado Pagan Christianity, que certamente deve ter servido como referência em seu recente post. O livro ficou empoeirando duas semanas, até que hoje, aproveitando minha solitude, peguei o dito para dar uma olhadela. Nem passei do prefácio e o autor já me aprisionou introduzindo o seu tema como se tivesse lendo o nosso Blog. Na nota de rodapé da página xx do prefácio fui levado para este site em busca da resposta para a pergunta: "What is an organic church?" Como é comum na leitura de fontes no mundo virtual, fui clicando, clicando e clicando e descobri que Frank Viola é um revolucionário da mesma estirpe de um velho conhecido meu, Brian McLaren, a quem fui apresentado anos atrás e com quem aprendi as primeiras lições de como ser um cristão na era pós-moderna. Para minha grata surpresa o Frank descreveu-se como co-conspirador com o Brian, comprometido a reler, resgatar e restaurar a prática religiosa do cristianismo primitivo. Enquanto o Brian se concentra na apologética, o Frank concentra-se na eclesiologia, uma área que tenho andado a procura de respostas por um bom tempo. Em uma entrevista ele dá um breve vislumbre de como deve ser uma igreja contemporãnea inspirada nos moldes da igreja primitiva. A radicalidade da descrição me fez lembrar do pastor que nos inspirou a fundar a igreja universitária que organizamos aqui nos EUA. Naquela época este querido pastor nos deixou horrorizado com o seu ideal de igreja. Mal sabíamos no que estávamos nos metendo, mas a despeito da insegurança o resultado foi ótimo. Mal posso esperar para retomar a leitura e descobrir quais os erros que poderemos cometer doravante.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Igreja boa funciona sem Pastor

Pensando na relação entre igrejas e pastores.
Prá mim, igreja boa é aquela que os membros já fazem o que deve ser feito, e já sabem o que devem fazer. Nessas igrejas, o pastor pode se dedicar apenas a auxiliar, orientar e atrapalhar o menos possível os membros da igreja. É nessas igrejas que os pastores não fazem falta e se estão ou não, as coisas continuam como sempre. É preciso ser maduro prá ser pastor numa igreja assim.
Nas igrejas que os membros são trabalhosos, muito do esforço do pastor se dá para resolver problemas, e aí, ele fica sem energia e sem condições de realizar o serviço mínimo pastoral adequado.
Nos últimos posts nós falamos sobre os pastores, mas por outro lado, os membros tb tem uma parcela imensa de responsabilidade sobre as coisas que acontecem na igreja.
É uma relação dupla, onde um reflete o outro. A massa reflete o pastor e vice-versa.
Como membros, acho que temos de trabalhar prá sermos independentes. Acho que não devo esperar muito que o pastor seja bom pregador, talvez a gente tenha de ser um, talvez não deva esperar que o pastor seja um bom reconciliador, e sim, trabalhar para que nós sejamos os melhores reconciliadores... e penso que isso deve valer prá todas as qualidades e talentos e dons... Pq penso que os pastores não são os detentores dos dons e sim os membros. Os pastores devem organizar esses dons para que haja unidade de pensamento e trabalho.
Acho que deu prá entender o que estou pensando por aqui hoje...
Boa pascuinha prá vcs todos...

sábado, 15 de março de 2008

Continuando com a história da existência do Pastor

Ainda sobre o modelo pastoral, queria continuar na linha do Nicotra, acrescentando mais alguns dados.
A igreja católica deturpou muito o conceito de um líder de igreja e nós sofremos ainda com essa influência. Os pastores ou líderes antigos passavam desapercebidos pela multidão. Roupas comuns, ofícios comuns, e dentro da igreja sentavam em lugares comuns. À hora de fazerem uma admoestação ou um sermão é que se dirigiam à frente para pregarem. Ao terminarem, voltavam ao lugar comum. Isso é muito interessante, pq a mensagem deles apontava a Cristo, e as pessoas não tinham pq quererem imitá-los, pq eles eram como o povo. O que restava? o exemplo de Cristo.
O sistema clerical católico, em flagrante cópia do sistema pagão, exaltou os pregadores, dando a eles um púlpito, roupas coloridas e especiais, e o mais importante, roupas exclusivas. Assim, só os que tinham aquela roupa poderiam pregar, só eles poderiam dar conselhos religiosos, eram reconhecidos na rua, e por td isso, começaram a ter privilégios, e mais, as pessoas começaram a imitá-los, fazendo-os seus exemplos (afinal, eram mais visíveis que um Jesus invisível). Ainda mais, criaram hierarquias, onde há um tablado, e os nobres assistem ao sermão de cima do tablado, afastado das pessoas comuns.
Sendo assim, o pastor ou pregador se tornou a última voz sobre verdades a serem discutidas e normalmente não serem abertos a idéias que não vieram deles (claro que aqui entra toda a carga de trabalho imposta a eles, que chega tb a ser algo desumano).
Eu vejo que td isso só afastou a mensagem de Cristo das pessoas, criando disputa de poderes para serem os mais poderosos os mais próximos do pastor.
Td isso, juntando ao que o Nicotra escreveu, acho que dá mais uma vez o cenário das formas que as igrejas adotam hoje (Fora o lance de um país tropical como o nosso e as pessoas serem ridiculamente obrigadas a usarem ternos e gravatas para adorarem, senão não vale).
Acho que essas ações todas tem divergido do que nós pensamos e do pq não somos muito de chamar pastores para as reuniões de pequenos grupos, uma vez que tentamos não hierarquizar muito esses grupos de estudo e adoração.

terça-feira, 11 de março de 2008

O Cargo de Pastor em Questão.

Creio que a raiz da insatisfação com o modelo de igreja atual reside no seguinte fato: O modelo de igreja cristã estabelecido por Cristo e praticado por seus apóstolos e discípulos no primeiro século foi deturpado ao longo da história do cristianismo. Os reformadores conseguiram recuperar parte do que foi destruído, mas deixaram muito por fazer. O modelo eclesiástico adotado pelas igrejas protestantes hoje não é o modelo que foi estabelecido por Cristo.

Das inúmeras “deturpações” católicas não reformada pelos protestantes quero continuar comentando sobre a figura do pastor remunerado. (Discussão iniciada nos posts anteriores)

O modelo de comunidade cristã estabelecido no primeiro século era orgânico e não organizacional, hierárquico e clerical. Isso significa que cada membro tinha ativa participação em ministérios relacionados com os seus dons e vocação. Embora os apóstolos que viajavam fundando igrejas pudessem vez ou outra receber alguma contribuição financeira, não havia o cargo de pastor local remunerado. Os crentes trabalhavam de forma voluntária.

Os pastores protestantes são uma reminiscência da divisão clero/leigo estabelecida na igreja católica. Embora os reformadores tenham restaurado o conceito de “sacerdócio universal de todos os crentes” dentro de um aspecto soteriológico (um crente não necessita mais de intercessão de um sacerdote humano para ser salvo), os reformadores falharam em estabelecer este conceito num aspecto eclesiológico (a figura de um pastor local remunerado caracterizando o clero continua vigente no modelo eclesiástico dos protestantes).

Pagar um homem para ser o pastor da igreja acaba tendo consequências danosas não só para a igreja como para o pastor e sua família. Manter um pastor remunerado implica quase sempre num aumento da expectativa dos membros em relação a sua performance. Espera-se que o pastor seja proficiente no exercício de todos os ministérios (ensino, pregação, visitação, assistência social, aconselhamento familiar, estabelecimento de novas comunidades em locais não alcançados, etc...). Não há tal homem com tantos dons: Alguns tem dom de pregar, outros de estabelecer novas igrejas, outros de dar aconselhamento. Quando os membros percebem que o seu pastor não tem todos estes dons acabam vendo suas expectativas frustradas. O pastor percebe esta frustração e tenta absorver as críticas de maneira a proteger seu emocional, sua família e seu emprego.

Esse não era o projeto original de Deus. Ele idealizou a igreja como uma entidade orgânica composta por vários membros no mesmo nível hierárquico e colocou Cristo como o cabeça da Igreja.

Melhor seria se o modelo eclesiástico do Novo Testamento fosse novamente adotado. Cada membro poderia exercitar melhor os seus dons, reconhecer sua responsabilidade no corpo eclesiástico e se estribar apenas na liderança de Jesus Cristo. Isso evitaria toda esta insatisfação com a casta pastoral que temos observado atualmente.

sábado, 8 de março de 2008

Prá que serve o Pastor da igreja?

Estive pensando durante essa semana sobre as coisas que falamos nos últimos dias e acho que precisamos conversar sobre um aspecto que não tocamos no assunto e que penso que é completamente atrelado ao assunto igreja, que são os Pastores de igreja.
Não quero entrar naquela discussão clássica que todos falam mal dos pastores ou são puxa-saco deles. Tb não gostaria de falar que tenho a sensação que os pastores bons eram os de antigamente, pq na realidade, o "antigamente"significa que eu era mais simplista e não entendia as pressões sobre os pastores e que tb nosso cérebro costuma relevar as más coisas e apenas relembrar as coisas boas (falta de memória coletiva).
A idéia é assim: se a igreja hoje tem problemas e todos nós percebemos que tem, e toda igreja é dirigida por alguém, a quem normalmente chamamos de pastor, provavelmente ocorrem 4 coisas: ou esses pastores ajudaram a causar os problemas, ou não se apercebem deles, ou se apercebem mas não tentam mudar ou sabem e tentam mudar, apesar de não terem sucesso (na maioria dos casos). Assim, se eu disse que não ando sentindo falta da igreja, constituída como está, é sinal tb que não estou sentindo falta dos pastores, ou do trabalho deles.
Além disso, tenho outra dúvida cruel que é assim: há como os pastores ideais fazerem um bom trabalho se suas companheiras não forem tb pastoras ideais?
Por conta disso td e mais algumas coisinhas, gostaria de propor uma idéia que não fosse de criticar os pastores de forma negativa:
Precisamos de pastores?
Vamos construir uma lista de qualidades interessantes que gostaríamos que os pastores ideais tivessem?
Vamos pensar tb para essa lista as qualidades que um pastor que estivesse cuidando de um campo onde só houvessem pequenos grupos como os que defendemos nos dias passados deveria ter?
Qualidades que imaginamos de um Pastor ideal:
  1. ....................
  2. ....................
  3. ....................
  4. ....................
  5. ....................
  6. .
  7. .
  8. .
Quem se habilita a dar o primeiro palpite?

segunda-feira, 3 de março de 2008

Quando doar-se demais torna-se destrutivo...

Nota: este é o começo da minha contribuição à discussão sobre igreja que está rolando aqui no blog já há várias semanas. Não quis usar a palavra "igreja" no título porque, francamente, esta palavra tem tido um conceito tão negativo para mim nos últimos doze anos que mal suporto escrevê-la. Mas vou ter que usá-la no post, fazer o quê ;-)

No meu "post inaugural" (nossa, que pomposo!), eu dei uma breve introdução ao contexto que me leva a escrever estas linhas e uma das coisas que eu disse, sem usar a palavra acima foi que na nossa mudança para os Estados Unidos 11,5 anos atrás:
Nenhuma área da minha vida sofreu um choque tão grande, tão devastador, quanto o aspecto religioso.
(e eu deveria dizer "nossa vida", pois com o Klebert não foi diferente).

Os amigos que tem encontrado conosco durante este perído nas nossas periódicas idas ao Brasil já sabem sobre isto, alguns deles, como por exemplo o Gabriel e a Deise, puderam experimentar um pouquinho da nossa realidade aqui nos idos de 1999, se não me engano.

Pois bem, sem dar muito detalhes e sem citar nomes de congregações específicas, a nossa experiência com igrejas aqui nos EUA tem sido excessivamente desanimadora e temos analisado o assunto a fundo conforme os anos vão passando. Por um lado existem as igrejas americanas, "mortas" (com uma maioria de velhos e poucas pessoas com quem podemos nos identificar) e por outro as chamadas "igrejas étnicas" que vão desde igrejas predominantemente Afro-americanas, às hispanas e também incluindo as brasileiras. Estas todas tendem à crescer muito, mas, com exceção das igrejas (e associações -- SIM, neste país aparentemente a nossa denominação é a única que possui segregação racial ainda em vigor, mais por motivos políticos da minoria que tem muito mais poder, $, membresia força política que a maioria 'morta' e que prefere manter o isolamento) Afro-americanas, as igrejas de imigrantes são complicadíssimas, pois a maioria dos membros e por vezes o próprio pastor (nos estágios de formação das igrejas) não está aqui legalmente. Além disso, a igreja torna-se o centro da vida destas pessoas que estão fora do seu país e que precisam de suas funções na igreja para sentirem-se valorizadas e aparecerem úteis.

Pois bem... no primeiro ano fomos forçados pela cirscunstâncias a ajudarmos numa igreja imigrante que começava. Daí nos mudamos e tivemos um ano "interessante" numa igreja americana típica um tanto não convencional pois tinha alguns alunos da universidade e um professor universitário que, juntamente com sua família, trazia os alunos. Mas este professor desistiu de continuar lutando contra a denominação, caiu fora, e acabamos nos vendo os principais reponsáveis para "tocar" a igreja por três anos... tentando trazer os alunos da universidades, exercendo as principais funções de liderança meio que forçados novamamente. Dando, dando, dando, e NADA recebendo, como o Osmar colocou.

Isto provou-se tão destrutivo para nós que acabou tendo um resultado inesperado... o surgimento da primeira verdadeira "igreja do GEA" -- uma congregação de jovens universitários que já há cinco anos e meio vem se reunindo semanalmente no campus da universidade para adorarem a Deus juntos. Mas esta história vai ser contada em outra ocasião, talvez pelo Klebert.

No momento nos encontramos em outra igreja imigrante, e estamos tentando encontrar um equilíbrio entre doar-se em excesso e receber, mas o receber está difícil -- daí a necessidade fremente deste blog.

Aliás, eu não comentei nada no seu post inspirado pelo CD do Leo, Marco, mas vou aproveitar o meu próprio post para dizer que este CD tem feito um bem imenso ao meu coração que está sedento, faminto, árido de receber mensagens que me toquem e me ajudem a continuar minha difícil e complexa jornada espiritual. Atualmente é meu álbum musical favorito. Um dia desses estávamos ouvindo o CD no carro vindo da igreja... e eu comentei com o Klebert "Sabe, a gente nem precisa de igreja com este CD, cada música é um sermão." E fato elas me alimentam e me ajudam a continuar...

Bom, acho que vou terminando por aqui, e a idéia principal que tentei abordar é a seguinte: respondendo aos comentários do Marco e do Osmar (vcs sabiam q dá para pegar links que levam a comentários individuais?) ao segundo post do Osmar, eu partilhei uma história pessoal que ilustra a nossa experiência com o "doar, doar, doar" e ficar "sem nada na mão."

E também já adiantei uma possível solução: a "igreja do GEA" -- grupo informal que conseguimos fundar lá na Universidade do Massachusetts Amherst e que parece ser a abordagem adotada informalmente também pelo Osmar. Existem várias possíveis soluções sim, e talvez pudéssemos começar a trocar idéias sobre quais são/ seriam algumas maneiras alternativas de tocar a coisa a despeito da existência da instituição e seus problemas (os quais, francamente, não tenho a menor vontade de discutir, já basta o que tenho vivido).