sexta-feira, 25 de abril de 2008

Acordando do coma...

Este seria um título jóia para uma reflexão esperançosa sobre a igreja de Laodicéia, não acham? Mas ando indo um pouco além do tradicional esses dias. Hoje por exemplo, andei me atualizando num dos meus blogs preferidos escrito pelo Julius Nam, Progressive Adventism. Li esse post aqui que me inspirou a imaginação em direções divertidas.

Primeira: imagine que Tiago White tivesse entrado em coma e por algum milagre acordasse do coma nos dias de hoje. Como seriam suas impressões sobre a igreja adventista que ele ajudou a fundar? Se você ler os exemplos de mudança doutrinária listados pelo Julius talvez tenha uma idéia de quão perplexo ele ficaria ao avaliar o pensamento corrente adventista.

Segunda: e se você, que é adventista de carteirinha, entrasse em um coma profundo e acordasse daqui uns 10 ou 20 anos e começasse a ler os blogs adventistas e conversasse com membros de sua igreja e ouvisse os sermões dos mais novos pastores, quão perplexo você ficaria com as mudanças? O Julius faz suas previsões em questões que vão desde a origem da vida até o homossexualismo.

Moral da história: o adventismo nasceu como um movimento. Melhor seria não abandonar a caracteristica e continuar em movimento. Porém, estamos prontos como movimento para continuar absorvendo mudanças sem temer que elas estejam nos levando para o abandono dos alicerces fundamentais que tanto cultivamos e nos apegamos?

sábado, 19 de abril de 2008

Meu irmão e minha irmã...

Para refletir.

Gene Robinson, primeiro Bispo abertamente gay ordenado na igreja anglicana, recentemente concedeu uma entrevista para um programa muito ouvido nos EUA chamado Fresh Air. Na entrevista lhe foi perguntado como ele se sente sendo o centro da controvérsia em torno da aceitação do homossexualismo que esta causando um racha na igreja anglicana. Sua resposta foi mais ou menos na seguinte linha:

Nós não temos a chance de escolher nossa família. Nós temos irmãos e irmãs a quem adoramos e alguns com quem não nos damos bem; você não tem a chance de escolher quem são os seus irmãos e irmãs. Pela virtude do batismo, todos nós somos incluídos na mesma família. [Por esta razão] me parece que não podemos excluir uns aos outros, não importa quão grande sejam nossas divergências.


Há mais algumas pérolas. Aos menos preconceituosos, recomendo ouvir a entrevista. (ou deveria estar recomendando aos mais preconceituosos...?)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O que é igreja afinal?

Andamos por um bom tempo falando sobre "Para que serve igreja", "Para que serve pastor da igreja", "Porque eu ainda gosto tanto de igreja", etc. Quem sabe chegou a hora de discutirmos o que é igreja afinal?

Que tal começar pelo que não é igreja?

Igreja não é o edifício, apesar de costumeiramente levantarmos sábado (ou domingo) de manhã para ir à igreja.

Igreja também não é a instituição, ou corporação, apesar de termos, quase todos, nossos nomes no rol de membros da igreja adventista etc, etc, igreja cristã etc, etc, igreja católica etc, etc, igreja de Jesus Cristo etc, etc, etc.

Melhor é que a igreja não seja também uma denominação, uma palavra chata que pode ser usada para indicar espécie monetária, uma associação talvez adequada considerando a oferta de denominações religiosas na praça. (Alguém pode achar uma denominação perfeitamente ajustada para o seu gosto, concordam?).

Lendo Paulo, o apóstolo, vejo que ele tem uma fixação. Ele insiste em chamar a igreja de o corpo de Cristo. Esta analogia é usada por ele com tanta frequência, que começou a me chamar a atenção. (Não sei quanto a vocês, mas as vezes lendo a Biblia passo pelos mesmos versos tão familiares e surrados que nem reparo no que está sendo dito de fato). A insistência de Paulo na analogia do corpo, me cativou porque ele a usa muitas vezes para muitos propósitos: defesa da igualdade entre irmãos, unidade no convívio e propósito do grupo de crentes, submissão à direção de Cristo, etc.

Mais recentemente fiquei intrigado com o que ele escreveu aos crentes em Éfeso:

"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstãncia. "

Note, a igreja, ou seja, o corpo, é aqui chamado por Paulo de "o complemento", ou a "plenitude" de Cristo. Sem a existência da igreja, Cristo está aleijado na presença de todos; sua presença não é plena. Até arriscaria dizer que sua própria existência não é plena ou completa na realidade deste mundo. Essa comunidade de crentes que é chamada de igreja, que desejamos (ou não) fazer parte, deve ser isso ai: a extensão de Cristo, quase que literalmente, neste planeta.

Essa visão parece verdadeiramente ausente na arena religiosa de hoje. Apesar do discurso no palanque, dificilmente os olhos crentes ou ateus miram um grupo de cristãos esperando ver os braços do Cristo, ou seus ouvidos, ou lábios. Ainda bem, pois quase certamente veriam um Cristo anêmico, epilético, e aleijado.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Não conformismo com base em que autoridade?

Pois bem, depois de um longo e tenebroso inverno aqui estou eu de volta com uma nova questão que me veio à mente. Trombei hoje com uma declaração de Paulo familiar para muitos que diz na tradução atualizada de Almeida:
"Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo."
Paulo escreveu isso para o crentes da Galácia em perplexidade e apreênsão da rapidez com a qual os crentes abandonaram os fundamentos do estilo de vida que ele lhes ensinara. Na sequência Paulo narra seu confrontamento com o status quo em defesa do princípio fundamental de seus ensinos, que ele declara ter recebido de Jesus diretamente, sem interferência humana.

O ponto é o não conformismo. A dúvida é, baseada em que autoridade? Eu gosto do não conformismo de Paulo, do ir contra a corrente, desafiando a autoridade, defendendo o princípio, a mudança de paradigma. O que eu não gosto [como bom pós-moderno que sou] é sua argumentação que recebeu a instrução diretamente de Jesus. Vale acrescentar que esta revelação não foi pessoal como no caso dos outros discípulos.

Ok, Paulo é Paulo, mas quem sou eu tentando andar na contra mão? O argumento de que recebí uma revelação direta do Senhor não cola bem, o que vocês acham? Na realidade, uma boa parte das mudanças que temos discutido e que eu gostaria de ver ocorrendo na igreja, minha comunidade de crentes ou na minha própria atitude em relação à religião é fortemente argumentada na linha do senso comum ou bom senso.

Resultado: na sociedade pós-moderna que vivo e desejo aplicar e partilhar os mesmos princípios do estilo de vida de Paulo, a autoridade é o bom senso, raramente uma fonte inspirada de revelação. Na comunidade de crentes entalada no anacronismo, a autoridade é sempre a revelação, muitas vezes ao custo do bom senso. Como conciliar?