quinta-feira, 25 de junho de 2009

Necessidade presente

Numa segunda-feira recente estive participando de uma reunião do GEA, sentado ao sereno de uma fria noite paulistana, na Praça do Relógio na Cidade Universitária da USP. Estávamos ali umas 12 pessoas, em roda no chão, conversando sobre um assunto exposto por 2 dos geanos presentes. Confesso que revivi um passado que me dá muita saudade...

No fim deste papo, surgiu um assunto cuja motivação já vem há algum tempo cutucando os geanos atuais: criar a igreja do GEA. Há muitos anos eu ouço falar nisto, mas esta foi a primeira vez onde eu vi (talvez tenha acontecido antes, com outros grupos, e eu não estive presente) este assunto sendo levantado seriamente.
Interessante foi perceber que a motivação para uma igreja geana, apesar de parecer óbvia, não estava muito clara ou coesa no grupo. Alguns diziam que faltava uma igreja na região da Cidade Universitária, outros que precisavam evangelizar os universitários da USP, outros queriam um lugar mais fixo ou confortável para se reunirem (tava frio pra caramba nessa noite) ...
Uma das grandes questões apresentadas nesta discussão foi: como é que se forma uma igreja? O Francisco (pai de um dos geanos presente) nos contou como, em 2 experiências anteriores vividas por ele, foi o processo de organizar o grupo fundador, encontrar um local, levantar fundos para construção, enfrentar situações complicadas com a comunidade local, etc., até que enfim a igreja estava construída e as pessoas freqüentando. Foi interessante perceber que estas experiências estavam fortemente focadas em atender às necessidades das comunidades locais. Uma luta muito difícil, sem dúvida.

Então fiquei me perguntando:
"Para que queremos, como geanos, estabelecer uma igreja?"
Até o próprio conceito "igreja" estava meio confuso na cabeça da moçada: igreja prédio, igreja comunidade, igreja organização... e por aí vai. Tinha de tudo na discussão, e claro que, como estes conceitos não são naturalmente explícitos, estava difícil chegar num consenso que conduzisse a uma convergência nos interesses e ações propostas.

Isso me lembrou uma sessão de Discipulado V que tivemos na Nova Semente há pouco mais de um ano atrás. Estávamos discutindo comunidade e igreja com um grupo de umas 20 pessoas, e eu pedi a todos que respondessem uma pergunta, que escreverei a seguir, porém que guardassem a primeira resposta que viesse a cabeça, sem muitos esclarecimentos, sem pensar muito, mas só a primeira resposta, para no fim discutirmos a respeito. Eis a pergunta:
"Preciso ser membro de uma igreja para ser salvo?"
Depois da pergunta, cada um guardou para si a sua resposta intuitiva, e continuamos com a discussão planejada para aquela manhã. No fim da discussão eu retomei a questão, perguntando quais foram as respostas obtidas daquela questão no início da nossa sessão de Discipulado V. O interessante desta questão não é a resposta em si, mas as premissas intuitivamente assumidas para chegar a uma ou a outra resposta. Me explico: obviamente - e provavelmente semelhante à sua resposta, meu leitor - a grande maioria optou pela resposta negativa, e foi apresentada uma série de razões para isso:
  • "Minha salvação não depende de um livro de membros de uma igreja."
  • "Quem concede a salvação é Deus, e não uma religião."
  • "Esta é uma questão que só depende de Deus e de mim, e não de uma instituição humana."
  • ... entre outras tantas...
Para minha surpresa, e dos demais presentes, um amigo que há poucos meses havia se decidido por Deus publicamente, e já servia com amor exemplar à comunidade, disse em alto e bom tom:
"A minha resposta é SIM!"
Sem demora, todos quase que gritando ficaram perguntando que como isso era possível, e como ele poderia dizer tal coisa, e por aí vai... claro que pediram a ele que se explicasse para que pudéssemos, por mais louco que parecesse, entender as razões dele para tal afirmação. Foi nesse momento que ouvi a lição para a qual eu não estava preparado, para a qual eu não tinha mais nada a dizer... Ele disse:
"Claro que é sim... Turma, se não fosse por vocês, eu não estaria aqui!!"
Foi aí que caiu a ficha, e que todos tivemos a oportunidade de perceber que o nosso conceito intuitivo de igreja estava mais do que torcido... que o seu conceito original já não mais estava vivo entre nós, presente como uma chama viva que aquece só em lembrar dela. Para este amigo, a resposta era diferente somente porque seu conceito de igreja era diferente, e claro que ele não estaria ali conosco se não o tivéssemos acolhido, abraçado, amado antes de qualquer coisa. Será que conseguiremos resgatar esta visão de igreja?

Voltando à nossa reunião na Praça do Relógio, após contar sobre este evento do Discipulado, ficamos discutindo sobre este assunto, de como "criar uma igreja" não tem nada a ver com prédio, lugar para se reunir, estilo de adoração, doutrina ou mesmo com quem apresentará as mensagens. Igreja, meus queridos, tem a ver com gente, pessoas, almas... tem a ver com o que há de mais precioso para o coração de Deus, pois Ele entregou o próprio Filho para isso. E nós, muitas vezes, colocamos nossas forças e intelecto em tantas outras coisas, e ficamos chamando isso de igreja...

Bem, claro que esta discussão no GEA ainda tem pra dar muito pano pra manga, mas estou feliz em saber que este sentimento, esta necessidade por uma experiência mais relevante com Deus está se tornando mais real e presente, a ponto de levantar iniciativas como esta. Que Deus os abençoe, e muito.