sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quem ama sua vida... - Parte II

Há algumas semanas estive em São Paulo a trabalho, visitando clientes e prospectando outros. Claro que também não pude perder a oportunidade de visitar alguns amigos, que sempre me acolhem quando viajo. Um destes amigos é um senhor francês, que de vez em quando vem ao Brasil, e sempre que podemos nos encontramos, pois fizemos alguns negócios juntos os quais nos permitiram desenvolver fortes laços de confiança.
Em uma lanchonete na Av. Paulista, ele foi me contando como estava sua vida, de uns percalços e outros. Depois de alguns minutos, sua companheira veio ao nosso encontro, como quem já esperasse que a conversa estivesse por terminar. Bem, na verdade ele também, mas eu me atrasei ao encontro e claro que tivemos que atrasar o assunto. Quando ela chegou, nos apresentamos e eu estava por perguntar o que eles estavam fazendo de novo, então ele deixou que ela me contasse.
Ela fotografa gente marginalizada da sociedade, gente a quem muitas vezes não queremos dar atenção, em seus habitats originais, nas ruas, nos barracos. O hobby dele desde que o conheci foi fotografar arte de rua pelo mundo (http://urbanhearts.typepad.com), grafitti ou outras técnicas, que por serem efêmeras, fotografando-as ele as eterniza em seus arquivos e eventualmente em livros de fotografia. Este hobby tem lhe dado a oportunidade de conhecer muitos, muitos artistas que há alguns anos têm mandado a ele peças em papel pelo correio para que ele as cole em paredes nas cidades pelos países que visita: Bélgica, Coréia, China, Japão, Alemanha, Brasil entre outros, e ele tem devolvido o favor com suas fotos aos artistas.
Juntos, agora porém, eles tem levado "bolhas de felicidade" aos que jamais teriam a oportunidade de apreciar arte (http://theartfabric.com), dentros de suas "casas", nas paredes da rua onde moram, nas latas de lixo ao lado de onde dormem.
Esta experiência os fez pensar até que se decidiram por uma vida bem diferente do que eles tinham levado até então, abrindo mão de confortos e conveniências pessoais para buscar mudar a vida de algumas pessoas pelo mundo, conforme foram me contando. Eu não pude deixar de me emocionar e dizer a eles: "Eu tenho inveja de vocês! Vocês perceberam e abraçaram uma missão por amor que, para eu entendê-la, levou anos e muito sofrimento, e vocês a alcançaram de um modo tão singelo...". "Eu tenho um péssima notícia pra vocês..." eu lhes disse, "vocês são mais cristãos do que imaginam!".
Eu não mencionei mas ambos são ateus, e ver lágrimas nos seus olhos ao me contarem as suas sensações ao passarem horas com pessoas em necessidade, colecionando suas histórias e buscando nos poucos recursos disponíveis como trazer pequenas bolhas de felicidade a estes seres tão humanos quanto qualquer um de nós, fez-me pensar o quanto temos falhado como cristãos, olhando para nós mesmos, buscando defender nosso "prêmio", nosso próprio interesse.

Quem ama a sua vida, perdê-la-á... (João 12:25)

A conversa com estes amigos ditos ateus - não porque sejam contra Deus mas simplesmente porque não O conhecem e porque o que ouviram falar dEle até aqui não fez o menor sentido para a vida deles - trouxe-me uma perspectiva da minha própria experiência com Deus que me envergonhou. É como se eu estivesse procurando uma resposta mas fazendo as perguntas erradas.
O que Deus quer comigo? Soa bonito perguntar isso. Eu diria que resposta é mais básica do que possamos pensar: simplesmente viver junto, pertinho, não só comigo mas com todos nós! Pode parecer ingênuo mas Ex. 25:8 e Ap. 21:3 não deixam dúvidas! A questão agora é: e eu? Quero viver junto dEle? De verdade? Ou é na promessa de vida mansa que está meu real interesse?
Por fim, nossa conversa terminou três horas depois, depois de várias histórias inusitadas de doação e senso de missão, de cristianismo e fé, de lágrimas e esperança, numa descoberta mútua do que realmente importa, do que é e sente Deus por nós, e espera de nós.
Precisamos abrir os olhos e perceber que, parafraseando Brian McLaren, talvez eles estejam mais preparados do que imaginamos, talvez mais do que nós mesmos, ditos cristãos.