sábado, 11 de dezembro de 2010

Liberdade

Muitos anos atrás tive um professor de inglês que era Marxista. Além de ser Marxista, ele era Adventista, o que na época me parecia um inexplicável paradoxo. Isto me fascinava e me atraía a gastar horas conversando com ele sobre suas idéias completamente bizarras que iam desde as razões porque a União Soviética era o melhor país do mundo para se viver (!?), até porque Deus na verdade não deu ao ser humano autêntico livre arbítrio. A questão do livre arbítio em particular causou-me uma profunda impressão e estendeu significativamente os meus horizontes sobre o complexo tema da soberania e onisciência de Deus e sua intervenção na vida humana. Professor Luis argumentava que de acordo com Gênesis, havia uma terceira via para o primeiro casal: viver eternamente em pecado. Mas como o acesso a árvore da vida fora bloqueado, Adão e Eva não tiveram o direito de escolher esta opção. Ainda não resolví o mérito do argumento, mas desde então seguiram-se outros encontros marcantes com o tema.

Um deles ocorreu numa pregação do Dr. Orlando Ritter na qual ele deu uma boa explicação para a aparente demora do breve retorno de Jesus. Segundo ele, o problema do pecado é complexo pois envolve a liberdade de escolha. Como Deus está sujeito aos limites da liberdade dos seres humanos, a solução definitiva exige um progresso lento. Certamente podemos identificar a cosmovisão adventista no raciocínio do Dr. Ritter, que estabelece o livre arbítrio como a raiz e a solução do pecado.

Anos atrás li um conto de ficção científica escrito por Robert A. Heinlein entitulado "By His Bootsraps". O excelente conto trata de um personagem que faz sucessivas viagens no tempo e ao reencontrar o seu antigo eu tenta persuadi-lo a mudar uma decisão chave que interromperia uma indesejável cadeia de eventos. Para a sua surpresa a tentativa de interferir no evento é o que em última instância causa a fatídica decisão. Fatalismo ou livre arbítrio?

Em certo sentido arrependo-me de ter assistido o filme O Advogado do Diabo pela atmosfera pesada e degradante. Porém não posso esconder minha surpresa com o desfecho quando o Diabo em pessoa falha em persuadir o seu "filho", um refinado e ambicioso advogado, a perpetuar a diabólica espécie. O thriller encerra-se quando inesperadamente o jovem decide fazer uso do seu livre direito de escolha. A famosa trilogia de George Lucas tem um desfecho similar.

Na mesma semana que este blog nasceu, este artigo sobre livre arbítrio publicado no New York Times me chamou a atenção. Nele o articulista expõe o corrente questionamento no meio científico sobre se a capacidade de escolha e decisão não se tratar meramente de uma ilusão da mente consciente. Evidências apontam para o fato de que o que chamamos de vontade é na verdade um reflexo da consciência sobre um processo que já está em andamento. Em outras palavras, a "escolha" foi tomada no subconsciente. Sendo assim, seriam nossas escolhas, em um nível primitivo, frutos do acaso, determinísticas, ou genuino exercício da vontade?

Mais recentemente a leitura de Philip Yancey expandiu minhas reflexões sobre o assunto da liberdade de escolha. No capítulo sobre a tentação de Jesus em seu livro, The Jesus I Never New, Yancey argumenta que, no deserto, Jesus e Satanás encenaram uma batalha sobre que estratégia usar para ganhar o coração do homem. Nesta ocasião o inimigo ofereceu a Jesus a oportunidade de um atalho, que envolvia uma majestosa demonstração de milagre, mistério e poder que fosse suficiente para causar o temor e admiração dos potenciais seguidores. Poderia Jesus ser verdadeiramente humano? Seria Ele mesmo Deus conosco? Porém, nesta ocasião a divindade manifestada na arquejante humanidade escolheu tomar o caminho mais longo com um único propósito de "permitir que os seres humanos pudessem escolher livremente o que fazer com ele." Em uma passagem memorável, Yancey escreve:
"A terrivel insistência de Deus na liberdade humana é tão absoluta que ele nos outorgou o poder de viver como se ele não existisse, cuspir em sua face e crucificá-lo. Tudo isso Jesus devia saber quando ele enfrentou o tentador no deserto, focalizando seu magnífico poder na energia de se reprimir."
Após ler o capítulo meditei nas implicações do deserto. Lá Deus restringiu sua liberdade de ser Deus, para dar-nos a liberdade de O escolhermos como Deus. Yancey ainda reflete que Jesus mostrou um incrível respeito pela liberdade humana oferecendo o convite menos manipulador jamais enviado: toma a tua cruz e segue-me. Aqui os métodos de Deus completamente se contrastam com os nossos. É por isso que muitas vezes ele insiste no silêncio quando nossos pedidos por intervenções miraculosas ecoam as palavras do deserto. É também nesta demonstração de "divina timidez" que a verdadeira natureza da faculdade de escolha humana se revela. Não faria sentido sua estratégia de resistência se não fôssemos livres para escolher amá-lo.

Eu gostaria muito de encontrar-me com o professor Luis e conversar sobre todas estas novas nuances sobre o livre arbítrio. A escolha divina de se ocultar e nos deixar viver como se Ele não existisse tornou-se para mim uma das mais sublimes revelações do método de Deus. Nesta semana fui tomado de um profundo senso dos métodos divinos quando senti o suave e quase imperceptível convite de Deus para voltar a passar mais tempo com Ele. E tive a sensação de que Ele não estava irritado com minha recente falta de tempo para Ele, apenas saudoso, como é do seu feitio.

Deus é assim. Sua soberania e onipotência não suplantam a vastidão de sua sabedoria e gentileza. Por isso ele está à porta. E bate. Sempre será minha a escolha de abrir.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Teste de Fé

Olá Moçada, td bem?

Resolvi colocar aqui algo que vem me incomodando há um tempo e acho que aqui podemos falar e conversar sobre isso.
O conceito de fé é interessante... A certeza daquilo que não vemos, que abrange desde os tempos anteriores à Criação, inclusive do universo até o infinito futuro, de como as coisas serão.
Mas me surgiu uma dúvida sobre o conceito de teste de fé.
Acho que muitos já ouviram isso, quando alguém passa um perrengue qualquer e a galera fala: -Meu irmão... fortaleça sua fé, Deus está lhe testando a sua fé.
Algumas perguntas que me faço então:

1) Fé precisa ser testada?

2) Fé precisa aumentar? - Eu sempre imaginei que a fé era na base do tudo ou nada, tem, não tem, senão como a fézinha iria passar adiante a montanha?

3) Deus faz reuniões diárias no final do expediente para ficar sabendo como estão as fés das pessoas e então determina no dia seguinte quem vai passar o perrengue para melhorar a fé, e assim, melhorar a contabilidade celestial?

4) E se é assim, o que acontece se a pessoa que passa o aperto resolve chutar o pau da barraca e e começa a achar que Deus nem existe mais? Prejuízo certo e reto para Deus? Ou Deus aí passou da conta?

5) O que ganha a pessoa que aumenta em fé?

6) Uma pessoa pode sair de uma situações ruim com menos fé, mas sem perdê-la totalmente?

7) Como Deus aumenta a fé?


Que tal essas perguntas para um bom início de dezembro onde as pessoas tem a fé que no ano que vem as coisas serão diferentes?

Abraços a todos,

Osmar