sábado, 11 de dezembro de 2010

Liberdade

Muitos anos atrás tive um professor de inglês que era Marxista. Além de ser Marxista, ele era Adventista, o que na época me parecia um inexplicável paradoxo. Isto me fascinava e me atraía a gastar horas conversando com ele sobre suas idéias completamente bizarras que iam desde as razões porque a União Soviética era o melhor país do mundo para se viver (!?), até porque Deus na verdade não deu ao ser humano autêntico livre arbítrio. A questão do livre arbítio em particular causou-me uma profunda impressão e estendeu significativamente os meus horizontes sobre o complexo tema da soberania e onisciência de Deus e sua intervenção na vida humana. Professor Luis argumentava que de acordo com Gênesis, havia uma terceira via para o primeiro casal: viver eternamente em pecado. Mas como o acesso a árvore da vida fora bloqueado, Adão e Eva não tiveram o direito de escolher esta opção. Ainda não resolví o mérito do argumento, mas desde então seguiram-se outros encontros marcantes com o tema.

Um deles ocorreu numa pregação do Dr. Orlando Ritter na qual ele deu uma boa explicação para a aparente demora do breve retorno de Jesus. Segundo ele, o problema do pecado é complexo pois envolve a liberdade de escolha. Como Deus está sujeito aos limites da liberdade dos seres humanos, a solução definitiva exige um progresso lento. Certamente podemos identificar a cosmovisão adventista no raciocínio do Dr. Ritter, que estabelece o livre arbítrio como a raiz e a solução do pecado.

Anos atrás li um conto de ficção científica escrito por Robert A. Heinlein entitulado "By His Bootsraps". O excelente conto trata de um personagem que faz sucessivas viagens no tempo e ao reencontrar o seu antigo eu tenta persuadi-lo a mudar uma decisão chave que interromperia uma indesejável cadeia de eventos. Para a sua surpresa a tentativa de interferir no evento é o que em última instância causa a fatídica decisão. Fatalismo ou livre arbítrio?

Em certo sentido arrependo-me de ter assistido o filme O Advogado do Diabo pela atmosfera pesada e degradante. Porém não posso esconder minha surpresa com o desfecho quando o Diabo em pessoa falha em persuadir o seu "filho", um refinado e ambicioso advogado, a perpetuar a diabólica espécie. O thriller encerra-se quando inesperadamente o jovem decide fazer uso do seu livre direito de escolha. A famosa trilogia de George Lucas tem um desfecho similar.

Na mesma semana que este blog nasceu, este artigo sobre livre arbítrio publicado no New York Times me chamou a atenção. Nele o articulista expõe o corrente questionamento no meio científico sobre se a capacidade de escolha e decisão não se tratar meramente de uma ilusão da mente consciente. Evidências apontam para o fato de que o que chamamos de vontade é na verdade um reflexo da consciência sobre um processo que já está em andamento. Em outras palavras, a "escolha" foi tomada no subconsciente. Sendo assim, seriam nossas escolhas, em um nível primitivo, frutos do acaso, determinísticas, ou genuino exercício da vontade?

Mais recentemente a leitura de Philip Yancey expandiu minhas reflexões sobre o assunto da liberdade de escolha. No capítulo sobre a tentação de Jesus em seu livro, The Jesus I Never New, Yancey argumenta que, no deserto, Jesus e Satanás encenaram uma batalha sobre que estratégia usar para ganhar o coração do homem. Nesta ocasião o inimigo ofereceu a Jesus a oportunidade de um atalho, que envolvia uma majestosa demonstração de milagre, mistério e poder que fosse suficiente para causar o temor e admiração dos potenciais seguidores. Poderia Jesus ser verdadeiramente humano? Seria Ele mesmo Deus conosco? Porém, nesta ocasião a divindade manifestada na arquejante humanidade escolheu tomar o caminho mais longo com um único propósito de "permitir que os seres humanos pudessem escolher livremente o que fazer com ele." Em uma passagem memorável, Yancey escreve:
"A terrivel insistência de Deus na liberdade humana é tão absoluta que ele nos outorgou o poder de viver como se ele não existisse, cuspir em sua face e crucificá-lo. Tudo isso Jesus devia saber quando ele enfrentou o tentador no deserto, focalizando seu magnífico poder na energia de se reprimir."
Após ler o capítulo meditei nas implicações do deserto. Lá Deus restringiu sua liberdade de ser Deus, para dar-nos a liberdade de O escolhermos como Deus. Yancey ainda reflete que Jesus mostrou um incrível respeito pela liberdade humana oferecendo o convite menos manipulador jamais enviado: toma a tua cruz e segue-me. Aqui os métodos de Deus completamente se contrastam com os nossos. É por isso que muitas vezes ele insiste no silêncio quando nossos pedidos por intervenções miraculosas ecoam as palavras do deserto. É também nesta demonstração de "divina timidez" que a verdadeira natureza da faculdade de escolha humana se revela. Não faria sentido sua estratégia de resistência se não fôssemos livres para escolher amá-lo.

Eu gostaria muito de encontrar-me com o professor Luis e conversar sobre todas estas novas nuances sobre o livre arbítrio. A escolha divina de se ocultar e nos deixar viver como se Ele não existisse tornou-se para mim uma das mais sublimes revelações do método de Deus. Nesta semana fui tomado de um profundo senso dos métodos divinos quando senti o suave e quase imperceptível convite de Deus para voltar a passar mais tempo com Ele. E tive a sensação de que Ele não estava irritado com minha recente falta de tempo para Ele, apenas saudoso, como é do seu feitio.

Deus é assim. Sua soberania e onipotência não suplantam a vastidão de sua sabedoria e gentileza. Por isso ele está à porta. E bate. Sempre será minha a escolha de abrir.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Teste de Fé

Olá Moçada, td bem?

Resolvi colocar aqui algo que vem me incomodando há um tempo e acho que aqui podemos falar e conversar sobre isso.
O conceito de fé é interessante... A certeza daquilo que não vemos, que abrange desde os tempos anteriores à Criação, inclusive do universo até o infinito futuro, de como as coisas serão.
Mas me surgiu uma dúvida sobre o conceito de teste de fé.
Acho que muitos já ouviram isso, quando alguém passa um perrengue qualquer e a galera fala: -Meu irmão... fortaleça sua fé, Deus está lhe testando a sua fé.
Algumas perguntas que me faço então:

1) Fé precisa ser testada?

2) Fé precisa aumentar? - Eu sempre imaginei que a fé era na base do tudo ou nada, tem, não tem, senão como a fézinha iria passar adiante a montanha?

3) Deus faz reuniões diárias no final do expediente para ficar sabendo como estão as fés das pessoas e então determina no dia seguinte quem vai passar o perrengue para melhorar a fé, e assim, melhorar a contabilidade celestial?

4) E se é assim, o que acontece se a pessoa que passa o aperto resolve chutar o pau da barraca e e começa a achar que Deus nem existe mais? Prejuízo certo e reto para Deus? Ou Deus aí passou da conta?

5) O que ganha a pessoa que aumenta em fé?

6) Uma pessoa pode sair de uma situações ruim com menos fé, mas sem perdê-la totalmente?

7) Como Deus aumenta a fé?


Que tal essas perguntas para um bom início de dezembro onde as pessoas tem a fé que no ano que vem as coisas serão diferentes?

Abraços a todos,

Osmar


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Antigas ideias, palavras modernas...

Se Lucas tivesse escrito 2000 anos depois, talvez saisse assim:

"Aquele que almeja meu estilo de vida deve abandonar a fascinação do carro novo, casa grande, viagens caras e dinheiro, sentar-se diariamente na cadeira elétrica e seguir-me no twitter."

Encorajo o exercício.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pra espantar essa poeira

O blog está empoeirado. Tomei um antialérgico e resolvi espanar a poeira. O subterfúgio foi esse texto, postado outro dia pelo Yancey em seu site (confiram!):
http://www.philipyancey.com/archives/1841

(Desisti de ativar o hiperlink. Sorry. Copiem a URL e tasquem no browser, please!)

sábado, 21 de agosto de 2010

O Homem de Sucesso: superando dificuldades

Imagine que surgiu na minha vida um problema bem complicado. Os que se identificarem, talvez nem precisem imaginar. Como cristão, minha estratégia para resolver o problema será radicalmente diferente de um não-cristão, certo? E qual seria essa estratégia? Em ordem de importância: (1) apresento a situação a Deus, (2) aguardo as impressões do Seu Espírito sobre o que fazer e (3) sigo em paz confiando que no tempo dEle tudo vai se resolver, e quando falo paz aqui quero dizer que sigo sem nenhum tipo de ansiedade quanto ao presente ou ao futuro. Seria bom que isso fosse sempre verdade, mas a realidade é que a menos que o problema seja absolutamente catastrófico e completamente além do meu controle minha tendência é deixar o Onipotente de espectador. Alguém se identifica?

Onde está o problema?

Se você se lembra bem da história de Daniel na cova dos leões, o rei desejava fazer de Daniel o chefe dos presidentes pela sua competência e caráter, o que atraiu a inveja não só dos outros 2 presidentes mas também da centena de sátrapas (eles eram uma praga no reino). O fato é que a única arapuca que poderiam armar contra Daniel envolvia a restrição da liberdade religiosa. Como a punição envolvia uma temporada no Simba Safari Spa and Resort, este problema facilmente se classificaria na minha lista de catastrófico. Mas mesmo assim me pergunto até que ponto implementaria a estratégia delineada no parágrafo acima incluindo o passo número 3?

É fácil entender porque as coisas acontecem conosco da forma que acontecem depois que tudo terminou, mas imagine você fazendo de tudo para tentar resolver o problema incluido contando com a ajuda do rei e seus advogados e no final seguir para o inevitável com a agustiosa convicção de que Deus não lhe ouve. Acho que falhamos miseravelmente como professos segidores de Deus no aspecto de que pedimos a Deus para nos ajudar a controlar a situação quando deveríamos pedir para ele tomar conta da situação enquanto descansamos no seu esconderijo. Nossa irremediável tendência para a auto-ajuda é que nos leva a obtermos exatamente o resultado oposto da pessoa de sucesso aos olhos de Deus. Além disso quando pedimos a ajuda dEle normalmente lhe oferecemos algumas sugestões de como resolver o problema. E, claro, ficamos angustiados quando Ele não escolhe algumas da opções que lhe oferecemos.

Lendo a história de Daniel me convenci de que minha vida de sucesso requer uma internalização das palavras do Salmo 91:

"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio."

Ele me livrará ao Seu tempo e ao Seu modo, enquanto eu descanso na sua sombra.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Salmo preferido...

Na minha primeira série, a professora nos ensinou e encorajou a decorar o que deve ser de longe o Salmo mais conhecido, o Salmo do Pastor. Desde então jamais fugiram-me da memória as conhecidas palavras
"O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará. Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome..."
Foi com uma certa surpresa e desconforto que trombei estes dias com a as palavras de Oséias 4:16 na Nova Versao Internacional :
"Os israelitas são rebeldes como bezerra indomável. Como pode o Senhor apascentá-los como cordeiros na campina?"
E matutei: Como posso declamar as palavras do Salmo do Pastor se não permito ser guiado pelo Pastor? Como ele poderá me levar a pastos verdejantes (sua Palavra) se decido eu mesmo o meu mundano sustento diário? Como posso beber nas águas tranquilas, se insisto em saciar minha sede nas águas turbulentas e barrentas do meu consumo diário na mídia? Como pode Ele refrigerar uma alma que insiste em manter controle da situação, presume ter sabedoria suficiente para tomar decisões e se angustia quando tudo dá errado? Finalmente como posso ser guiado na vereda da justiça se não tenho um mínimo apego ao Seu Nome e muito menos o amor e admiração necessários para se deixar guiar?

E como permitir que a docilidade e submissão da ovelha suplante os traços de rebeldia e teimosia que impedem que o Salmo preferido seja também vivido? Este é assunto para um próximo post.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Keep walking

Em menos de um mês completo 37 aninhos. Analisando o fato desapaixonadamente e considerando a expectativa média de vida em meu país, isso indicaria que eu já passei da metade de meu percurso nessa Terra ou estou bem perto dela. Como quer que seja, fato é que eu já sou grandinho, mas “ser grandinho” é radicalmente diferente da forma como eu imaginava que seria quando eu ainda não era.

Dizem que há uma crise na aproximação dos 40. É o período em que geralmente os cabelos brancos se multiplicam, a calvície se impõe sobre qualquer forma de penteado que você tente, você já está exercendo sua profissão há algum tempo e já está casado com a mesma mulher também há algum tempo. Possivelmente por isso seja normal eu me espantar em me ver, aos 37, de forma tão diversa da que eu imaginava há quinze anos. É que eu imaginava que a essa altura do campeonato eu teria alcançado a glória profissional, estaria completamente estável e viveria num tranquilo navegar, sem grandes dúvidas, sem grandes encruzilhadas.

Há quinze anos ou mais eu ainda tinha que escolher que profissão exercer e com quem casar, e me angustiava com as muitas opções perguntando a Deus por que razão Ele não me revelava logo como seria meu futuro para eu poder me preparar adequadamente para ele e para não ter que escolher às cegas, como parecia que eu estava fazendo. Eu olhava, então, para os quase quarenta como uma fase da vida sem esse monte de dúvidas e angústias, eu olhava com inveja para os anos que agora vivo.

Mas a realidade é que continuo cheio de dúvidas. Não existe um só santo dia em que eu não me questione se estou empregando meus esforços e meu tempo em algo que realmente seja digno disso. A possibilidade de mudar radicalmente de profissão ainda existe. Meu irmão mais velho, por exemplo, num salto de fé e coragem que eu admiro, acaba de reduzir seus atendimentos no consultório odontológico para estudar medicina. Enfim, a vida ainda me reserva encruzilhadas, decisões a tomar, o tempo todo.

Quando mais jovem e petulante, eu desconfiava seriamente dos que diziam que há certas coisas que só aprendemos com a idade. Bem, a humildade é outra dádiva dos meus quase quarenta. Só agora eu reconheço que Jesus não está preocupado com essas decisões “para a vida toda”. Ele não nos aponta um caminho quilométrico, apenas diz: “vem, segue-me”. Ou seja, Ele apenas aponta o lugar onde devemos colocar o pé no próximo passo. Não existe um momento em que podemos colocar nosso carro no ponto morto e dormir. “Levantai-vos, e ide-vos, pois este não é lugar de descanso” (Miqueias 2:10). Ainda não chegamos no lugar onde podemos simplesmente relaxar. Teremos decisões a tomar a cada dia, a cada hora.

Angustiante? Não, não, longe disso. Ser confrontado com tantas decisões não me angustia mais. Primeiro, porque tenho um caminhão de gratidão pela forma como Ele até aqui me guiou. Em segundo, porque não há angústia quando temos um Guia confiável a Quem seguir. Tudo o que temos a fazer é não perdê-lO de vista. Aos quarenta, como aos 10 ou aos 20 ou aos 80, tudo o que precisamos fazer é aprender a confiar. E continuar andando.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A noite escura da alma

Abriram uma igreja nova na cidade. Ela tem liturgia e formato diferentes. As pessoas se vestem diferente, as pregações têm recursos audiovisuais, a música é mais moderna e o ambiente não se parece com uma igreja. Mais que tudo, o conteúdo das mensagens é profundo e fala das ansiedades típicas da classe média dos grandes centros urbanos do século XXI. Uma multidão deixou as igrejas tradicionais para começar a congregar na nova igreja, embora a ideia primordial dela fosse alcançar pessoas que ainda não eram cristãs.

Mas a primeira onda passou e muitos dos que acorreram à nova igreja acabaram se desencantando por alguma razão. Com o tempo o pastor passou a apresentar defeitos, houve cotoveladas, problemas de relacionamento... Aparentemente, a igreja nova que abriu na cidade não era a solução para o seu problema, como a princípio haviam acreditado.

Bem, e que problema seria esse? Não há uma resposta única, claro. Entre eles havia os que estavam atrás de um lugar mais descolado, sem tanta formalidade; havia também os que tinham padrões morais mais relaxados e que achavam que lá poderiam ter os aspectos positivos da igreja sem precisar arcar com os negativos: o julgamento, a ênfase nos aspectos mais sacrificados da religião como a lei de Deus, etc. ; havia também os que só queriam ver gente bonita e bem vestida para armar uma boa balada na sequência, claro, mas eu estou me referindo àquele grupo específico de pessoas que estava desanimado nas suas igrejas tradicionais, sem ver mais sentido em uma porção de rituais, sem achar graça nos sermões e demais conteúdos. Estou me referindo a um grupo de cristãos sinceros, que continuava buscando a Deus mas para quem parecia que sua vida espiritual entrara em um marasmo irreversível. Parecia natural para eles mudar de igreja atrás de um pastor que lhes acendesse a chama outra vez. Bem, depois de tudo, a decepção que experimentaram poderia ser fatal em sua fé (e de fato foi e tem sido na vida de alguns, porque não estou falando metaforicamente, essas coisas realmente tem acontecido).

Essas pessoas estão atravessando o que o frade carmelita São João da Cruz (que viveu no século XIV) chamou de “a noite escura da alma”. Apesar do nome sombrio, essa noite escura não deveria ser algo da qual fugir, mas algo que deveríamos ansiar. Esse estado em que, nas palavras de Richard Foster (em tradução livre), “o pregador é um chato. O hino que estão cantando é tão fraco. O serviço de cânticos é monótono”. Você se sente solitário, perdido, seco. Parece que você entrou num estado de torpor, de anestesia. Anestesia sim, porque está a ponto de passar por uma cirurgia.

A primeira coisa que você precisa saber é que é possível temer a Deus, obedecê-lO, procurá-lO e ainda assim estar em trevas. Aconteceu com muita gente boa antes de você. Isaías 50:10 o endossa: “Quem há entre vós que tema ao Senhor? ouça ele a voz do seu servo. Aquele que anda em trevas, e não tem luz, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus.”

A segunda coisa que você precisa saber é que Deus quer, de tempos em tempos, chacoalhar seus valores, tirar você da zona de conforto, subverter seu orgulho espiritual. Ao chegar a noite escura, é hora de confiar em Deus, firmar-se nEle, deixar que Ele opere em você e esperar para ver no que Ele está por transformá-lo. É hora de procurar tempos de solidão e silêncio, de esvaziar a mente e de buscar não novos e mais empolgantes estímulos, mas estímulo nenhum, porque essa é a avenida pela qual Deus caminha para efetuar a sutil revolução que Ele quer efetuar em você.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Parábola da Mulher Ciumenta

Há algumas semanas atrás comecei a indagar o porquê de tantas dificuldades que eu, assim como outros diversos amigos neste exato instante, temos passado. Muitas vezes a sensação que fica é a de questionar a Deus:
O que estou fazendo de errado?
E quando parece que as dificuldades vão passar, aparece outra acompanhada de mais duas logo em seguida... "perdi" muitas horas de sono nestas últimas semanas, não porque não conseguia dormir, mas simplesmente porque de repente, lá pelas 4:30 da matina, eu simplesmente acordava e já não conseguia mais voltar à Terra do Nunca. No princípio foi frustrante, viajando a trabalho, longe da família, tentando de todos os modos encontrar saídas para os problemas da empresa, além dos meus próprios.
Então, decidido a aproveitar mais esse tempo, resgatei um livro que comprei por simples impulso (vocês vão entender o porquê) quando passava pelos corredores de um Sam's Club em Campinas, depois de uma tarde de reuniões e visitas a clientes. E durante a leitura, algumas reflexões foram sendo motivadas e que me levaram a escrever este post.
Uma das coisas mais frustrantes que sempre achei na vida cristã é identificar as respostas divinas. Parece que sempre estamos esperando por algum sinal, alguma luz que desça do céu por entre as nuvens e venha iluminar a minha cabeça ou outra coisa que me indique o que fazer. Em tempos de bonança, isto parece irrelevante, mas quando a situação é de desespero, a ansiedade tende a ser forte demais para ignorá-la. Obviamente, esta situação trouxe à tona minhas próprias questões sobre fé. Afinal, sobre o que baseio aquilo que chamo de fé? A dificuldade aqui é diferenciar fé de presunção, como se pelo meu simples positivismo, eu pudesse manipular a Deus a fazer aquilo que eu quero que Ele faça. Aliás, falando em manipulação, nada mais comum que barganhar com Deus (nas ofertas, nas atividades da igreja, etc.) na expectativa de que Ele responda àquela oração com a resposta desejada... realmente, com Deus não funciona assim.
Durante essa leitura nas madrugadas, encontrei-me com uma parábola contemporânea:
"A Parábola da Mulher Ciumenta" - na versão gabrielana.
Imagine o marido saíndo naturalmente tarde do trabalho, como de costume, mas a infelicidade naquele triste dia lhe bateu à porta quando estava no meio do caminho para casa, sob aquele trânsito infernal, ao perceber que dois dos seus pneus haviam furado. Obviamente esta situação demandaria mais do que somente um macaco e um estepe, portanto decidiu ligar para casa para avisar a esposa que estaria aguardando por ele, quando se apercebeu que o celular estava sem bateria. Sem mais o que fazer de imediato, foi tomar as providências necessárias para voltar a rodar com o carro , o que levou-o a chegar mais de duas horas atrasado do horário de costume, sem falar no suor que lhe corria o rosto pelo cansaço que o estorvo lhe exigira.
Quando chegou em casa, o marido, na expectativa de encontrar um pouco de conforto e compreensão, somente encontrou uma cara feia e uma série de questões tais como onde ele esteve, por que chegou tão tarde, por que não avisou, com quem estava, etc. e etc. Como se percebe, as explicações não foram capazes de suscitar a compreensão, compaixão e a confiança por este pobre cidadão, casado com uma mulher ciumenta.


Nestas situações, eu me pergunto: casou pra quê? Não ao marido, mas à mulher, pois se a sua insegurança e desconfiança é tão grande a ponto de fazer esse papelão, como é que ela consegue ter prazer em viver uma relação nestas bases?
Bem, é igualmente impressionante pra mim o fato de como tenho feito este mesmo papel na minha relação com Deus, o da mulher ciumenta. Vocês percebem? Se Deus não me atende ou não me responde em tempo, ou do modo que eu espero, fico cobrando insistentemente uma atitude ou resposta divina, sem me aperceber de que todo este questionamento e insistência é fruto da falta de confiança em Deus, ou em outras palavras, falta de fé.


"Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos." - Phillip Yancey
Por que é tão difícil conseguirmos interiorizar e aceitar estas palavras como uma realidade plena e não somente intelectual? Talvez porque crescemos e convivemos com diversos sistemas de recompensa em nosso cotidiano, no trabalho, escola, em casa, e somos induzidos a levarmos este mesmo comportamento para nossa relação com Deus... mas de novo, com Deus não funciona assim.
Na verdade, o que estou tentando experimentar é essa sensação de que não importa o que eu faça, certo ou errado pois mais uma vez não estamos falando de um sistema de recompensa, Deus vai continuar me amando do mesmo jeito, apesar de mim mesmo. Sabe aquela liberdade que se sente num relacionamento baseado em confiança? Se você ama, você tem liberdade para fazer tudo o que quiser, pois nada do que você quiser fazer vai machucar ou abalar essa relação. É dessa liberdade de que estou falando, da sensação de que o que eu faço não vai mudar em nada essa realidade, então para quê ficar correndo atrás do vento, como se isso fosse fazer com que Deus me desse mais atenção, fosse olhar para mim... como se já não estivesse olhando... me cuidando... Paizinho, eu preciso parar de perguntar por que, e experimentar a liberdade que Você me preparou... com Deus funciona assim. Não acham?

E as encrencas de que falei? Bem... essa é outra história... outra parábola...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Boas Novas e a Pessoa X

"...o evangelho são boas notícias, especialmente para aqueles que não acreditam nele.

Imagine uma rua comum numa cidade comum num país comum, se é que há um lugar assim. Vamos imaginar que a Pessoa X mora numa casa dessa rua. Na casa ao lado há um hindu, e do outro lado há um muçulmano. Do outro lado da rua há um ateu, ao lado dele mora um agnóstico e na porta do outro lado, alguém de Ohio.

Imagine que a Pessoa X se torne uma cristã. Talvez ela tenha lido algo ou teve amigos que a inspiraram a aprender mais, ou talvez ela teve um vício e através da recuperação ela rendeu sua vida a Deus. De qualquer forma, ela se tornou uma seguidora de Jesus. Digamos que ela comece a viver segundo os ensinamentos de Jesus, de fato levando-o tão a sério que ela se torne uma convincente força para o bem no mundo. Ela está se tornando mais generosa, mais compassiva, mais perdoadora, mais amorosa. Ela está se tornando uma vizinha melhor ou pior? Se fossemos seus vizinhos, estariamos estarrecidos a respeito de sua nova fé. Nos sentiríamos cada vez mais gratos por termos uma vizinha como essa. Desejaríamos que houvesse mais pessoas assim.

Vamos observar algumas coisas sobre essa rua. As boas notícias de Jesus são boas notícias para a Pessoa X. São boas notícias para os vizinhos da Pessoa X. São boas notícias para toda a rua. São boas notícias para as pessoas que não acreditam em Jesus. Temos que ser bem claros a respeito disso. As boas notícias para a Pessoa X são boas notícias para toda a rua. E se são boas notícias para toda a rua, então são boas notícias para todo o mundo.

Se o evangelho não são boas notícias para todo mundo, então não são boas notícias para ninguém."

A tradução livre fui eu que fiz, tirada do Velvet Elvis, o livro do Rob Bell.

Algo que sempre me intrigou foi: se o evangelho são as "boas novas" por que é de tão difícil aceitação? (sentido mercadológico mesmo) Onde está o problema (se é que há um)?

Gostaria de saber as impressões de vocês sobre o texto - principalmente sobre a última afirmação - e sobre esse assunto.

Saudações reptilianas!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A castração do adventismo

Ontem almocei com amigos, adventistas de quem sou cliente. Superado o blábláblá das coisas de trabalho, fiquei surpreso com a primeira pergunta que eles me dispararam: como anda sua fé? Muito bem, obrigado, foi minha resposta. Eles não ficaram decpecionados com ela, mas deu para ver que eles não se surpreenderiam se a resposta fosse outra.

No desenvolvimento da conversa entendi as razões da pergunta: disseram ter informações de fontes fidedignas dando conta que a IASD no Brasil está diminuindo de tamanho. Requentaram a velha problemática da demora da volta de Jesus, de estarmos fazendo a mesma pregação há 160 anos; no fim a dúvida é: não deveríamos falar de outras coisas? Mudar o enfoque? Parar com essa paranóia pré-advento?

Sugeri que eles lessem "A visão apocalíptica e a castração do adventismo", de George Knight, que já temos em português, uma sugestão (para não dizer ordem) de leitura dos compadres Lilian e Klebert.

Podemos até discutir essa mudança de discurso coletivamente. Eu concordo com o Knight de que isso seria tornar a igreja adventista irrelevante, mas ok, podemos discutir. Só que na esfera individual não consigo deixar de ser (logo depois de cristão e um pouco antes de ser do sétimo dia e tantas outras coisas)um adventista. Não quero começar a espancar os conservos, como faz aquele servo da parábola que diz em seu coração "meu Senhor tarda em vir". A quantidade de advertências a viver como se na iminência da volta de Jesus que encontro nos evangelhos não me deixa colocar a questão senão na primeira fila.

E vocês?

domingo, 25 de abril de 2010

A sétima geração

Alguém ai que começou o ano bíblico já chegou em Gênesis 4? Se sim você deve ter se familiarizado com um tal de Lameque, pai de uns meninos prodígios na área de música, ferramentas e pecuária. Pois bem, eu estava lendo esta exótica e obscura passagem da biblia me perguntando por que o tal do Lameque é apresentado com mais detalhes que os demais filhos de Caim.

Anos atrás escrevi e preguei um sermão entitulado Os Dois Enoques no qual comparo os destinos tão diversos dos filhos de Caim e Jarede e como eles caracterizam a distinta separação existente entre os filhos de Deus e filhos dos homens. A distinção chega ao climax por ocasião do dilúvio quando Noé era o único justo em meio a uma geração perversa marcada pela corrupção do matrimônio (Gen 6:2, Mat 24:38) e violência (Gen. 6:11).

Pensando neste antigo sermão, fiz uma descoberta interessante: Lameque, o sétimo depois de Adão pela linhagem de Caim, além de vingativo e zombeteiro dos decretos divinos (Gen. 4:15, 23 e 24), é o primeiro polígamo mencionado na Bíblia. Em outras palavra, mais que ninguém, Lameque representa a geração que entristeceu a Deus e se perdeu no dilúvio. Advinha quem é o sétimo depois de Adão pela linhagem de Sete*, e qual foi o seu destino?

Ah, e para os numerólogos de plantão alguém ai já ouviu falar do número da perfeição?


*A linhagem que invocava o nome do Senhor, como está escrito no fim do capítulo 4 de Gênesis

De volta a ser criança...

Uns dias atrás ganhei um presente do Fred que me fez voltar a ser criança. O presente foi este livro. Se você não clicou no link, informo que não se trata da última versão ilustrada dos tres porquinhos ou da chapeuzinho vermelho, mas do livro que quanto mais eu leio o considero a encarnação (ou deverida dizer encadernação) de tudo que o GEA causou de bom na minha vida, e quando falo vida, refiro-me da vida lá do alto.

Mas antes que alguém objete que eu já não era mais criança quando o GEA foi parte da minha vida no período pre-cambriano, argumento que eu era apenas um bebê nascido lá do alto neste tempo.

E qual é o ponto? O ponto é que o Rob Bell tem um jeito bem GEAno de tratar dos assuntos que ele trata. Por exemplo, ele começa com perguntas; mil perguntas; perguntas ingênuas, atrevidas, sublimes, ousadas. Depois conecta umas idéias simples, mas lindas, profundas, sutis, bem no estilo de nossas antigas discussões no GEA. Estes momentos de arrebatamento, e maravilha só são possíveis quando dois ou mais estão reunidos para livremente descobrir o significado e o mistério da Palavra. Foram estes momentos mágicos na pré-história do GEA que me fizeram nascer... de novo. E produziram aqueles sentimentos de deslumbramento com o mundo que só uma criança pode ter.

Hoje, dinossauro feito, tinha me esquecido dos mesmos deslumbramentos. Refletindo sobre os mesmos após uma passagem particularmente genial do Rob Bell, dei-me conta de que preciso resgatar a mágica de ser criança de novo. Bem como disse Jesus, só assim para ver o reino.

Valeu Fred, por ser instrumental em resgatar o menino adormecido no coração do dino.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Adventismo: a hora da estrela - Longevidade

Anos atrás Dr. Lee, o médico coreano arauto da alimentação saudável, que gostava de cantar aquela musiquinha "smile", dizia que a mensagem de saúde era a "mão mirrada" do Adventismo. É interessante ver que o Adventismo hoje encontra-se na posição mais favorável em mais de um século e meio de existência para dar ênfase ao estilo de vida saudável como parte integrante da cosmovisão Adventista. O mais interessante é que o momento chegou através da prestigiosa revista National Geographic (para aqueles que ainda não viram o link clique aqui).

Mais do que estufar o peito com aquele orgulhosinho enrustido, acho que esta descoberta sobre os princípios de saúde do adventismo e seu resultado direto na longevidade deve servir de encorajamento para darmos mais atenção aos tais princípios, apoiemos iniciativas governamentais e não-governamentais pró-saúde e usemos os mesmos princípios para nos conectar com pessoas seculares que partilhem os mesmo valores. Especialmente no último caso, precisamos ser sérios no exercício dos princípios que julgamos valorizar sob o risco de parecermos incoerentes.

Está na hora da mão mirrada ser curada.

Na contra mão: próximas paradas...

Bem amiguinhos, também estou voltando a blogar, impulsionado pelo post to Gabi. No bom e velho estilo do GEA, aqui vão alguns dos assuntos que espero blogar em breve. A lista serve para me manter motivado e prover inspiração aos demais.

1) Progressistas? Fundamentalistas? uma terceira via? Elucubrações sobre o tema roto, porém ainda atual, de conservadores vs. liberais. Pretendo abordar este assunto usando nossa experiência contemporânea de membros de uma igreja conservadora, com um pastor ovelha-conservardora em pele de lobo-liberal e uns poucos amigos metidos a liberais.

2) Fuga para Deus. O que me cativou na história do Jim Hohnberger e como fiquei perdido mesmo antes de começar a "fugir para Deus". Neste tema pretendo apresentar o que para mim é o melhor mapa da fuga que descobri com um tal de Richard Foster e comparsa de conspiração Dallas Willard.

3) Adventismo: a hora da estrela. Talvez a referência bibliográfica não seja a ideal, mas transmite o que desejo abordar neste tema: nunca na história do adventismo vivemos uma época tão favorável para a divulgação da cosmovisão adventista. Precisamos de uns ajustes, verdade, mas este é o momento. E não me refiro ao clímax escatológico em particular, mas à confluência de valores por ora abraçados no mundo religioso e secular.

Bem turma, tem mais, mas acho que vou parando por aqui, afinal este é apenas um post re-introdutório. Termino com uma antiga idéia que encontrei em um dos livros do Brian McLaren:

Um dos esportes preferidos dos cristãos é chamar os não-cristãos de perdidos. Em Coríntios, Paulo diz que somos a carta de Cristo para os que perecem. Se uma carta não chega ao destinatário, quem está perdido? a carta ou aquele para quem a carta foi endereçada?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

De volta às origens tradicionais

Creio que não tive a oportunidade de contar a todos, mas me mudei de São Paulo para a cidade de Londrina-PR já faz 2 meses.E nesta mudança, outras mudanças também aconteceram, e uma delas foi a de voltar a freqüentar uma igreja tradicional.
É interessante você perceber como rapidamente sua presença é notada, mesmo que pouquíssimos venham falar com você, ainda que a igreja tenha uns 600 membros. Confesso que ri muito, pensando no episódio, quando em um sábado pela manhã eu estava no fundo da igreja, em pé pois havia cedido o meu lugar a uma senhora com bebê, e um pastor (eu sei que era departamental pois o vi fazendo um anúncio na classe da ES) passou por mim, parou, olhou para mim (claro que a visão da minha lustrosa pessoa hoje já não é mais o estereótipo adv) e me perguntou se eu era adventista... eu quase perguntei a ele a mesma coisa mas confesso que me contive rsrs... Ele não perguntou meu nome, não perguntou de onde vim, me perguntou novamente se eu era batizado, e quando disse que sim, bateu no meu ombro e seguiu...
Conheci recentemente o regente do coral, um cara muito legal, empolgado com música, 20 e tantos anos, se esforçando para conduzir um grupo de uns 80 coralistas, na sua maioria mais jovens que ele próprio, buscando louvar e inovar através deste ministério. Claro que no coral não está somente ele na condução, há também um diretor do coral, um diretor de jovens, um pastor de jovens e outros líderes envolvidos. O grande desafio deles que eu percebi nesta noite, ao participar do ensaio, foi a de motivar os coralistas a participarem seriamente da proposta. Antes do ensaio propriamente dito, ouvi uns 15 minutos de "admoestações" sobre o que se espera de um coralista comprometido, do sistema biométrico de controle de presença que será implantado, do sorteio de um "brinde especial" para os assíduos aos ensaios, e dos descontos nas "programações pagas" a que estes assíduos terão direito. Fiquei triste ao perceber porque um outro amigo, que veio de Sampa também (o conheci na NS), se desmotivou a participar do coral... ali hoje, o mesmo estava acontecendo comigo.
No fim do ensaio, peguei uma carona pra casa com o regente e conversamos, durante os parcos 7 minutos que levam da igreja até minha casa, sobre a frustração dele e minha sobre a apresentação do coral que ocorreu no sábado passado. Cantamos no sábado pela manhã esta canção, numa versão em português, com o coral cheio e igreja lotada. A frustração do regente foi o fato de que a apresentação durou somente uma música, e de como é difícil fazer as pessoas participarem, da igreja se envolver, e de que na apresentação do domingo ele "assassinou" a música devido a uma entrada mau indicada... aí eu contei a ele a minha frustração: de que o louvor tenha sido feito somente pelo coral, pois minha filha, na hora do coro, simplesmente abriu boca com toda a vontade a ponto de fazer meia igreja se voltar a ela, e quando ela percebeu se escondeu debaixo do banco. Contei a ele minha frustração por perceber que as motivações por participar do coral me parecem tão distorcidas, e que a expectativa da "audiência" da igreja desvia ainda mais do que eu entendo que deveria ser o foco... Então ele comentou "mas ela já conhecia a música..." e eu disse "o ponto não é se ela já conhecia a música, mas que ela tentou expressar seu louvor a Deus como tinha o costume e se retraiu!"...
Bem, eu conto isto a vocês não porque quero dizer que está tudo errado, e eu é que estou certo. Conto isto a vocês a esperança de que vocês me ajudem a resgatar o sentimento e o envolvimento que um dia tivemos (ou pelo menos eu tive) quando convivíamos e louvávamos juntos em um galpão frio de uma noite de sexta-feira, num sítio próximo a cidade de Juquitiba-SP, por exemplo... não consigo ver saída para esta situação sem criar um sentimento de rompimento, sem chocar as pessoas ou senão me afastar e continuar pedido ao Papai do Céu que me use para o que for da Sua vontade...
Por que é tão difícil transmitir às pessoas uma visão de serviço por amor somente? Cuja motivação não seja o entretenimento emocional ou intelectual mas a satisfação de perceber que Deus nos está usando para fazer milagres a pessoas que jamais imaginariam que um dia seriam tocadas simplesmente por um exemplo de amor, compaixão e serviço?
O que estamos fazendo de errado? O que eu estou fazendo de errado?...

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O retorno de Deus e as mudanças da sociedade contemporânea.

Entrevista especial com John Micklethwait


Pensar como o renascimento global da fé está alterando e transformando a sociedade contemporânea. Esta é a proposta da obra “God is back: How the Global Revival of Faith Is Changing the World”, dos jornalistas ingleses John Micklethwait e Adrian Wooldridge. Apontando, estatisticamente, o aumento mundial do número de fiéis, os autores refletem sobre os fenômenos sociais ligados ao “retorno” de Deus e a religião como fator político.

Em entrevista por e-mail à IHU On-Line, John Micklethwait trata dos aspectos mais relevantes do livro, como a relação entre religião e modernidade, secularismo e as novas formas de fé. A respeito da proeminência do novo ateísmo e a opinião de autores como Christopher Hitchens, que defendem a morte de Deus, Micklethwait afirma: “Nós não discordamos do ateísmo. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo”.

John Micklethwait é jornalista e editor-chefe da revista britânica “The Economist”.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em sua opinião, quais são os fenômenos sociais que mais manifestam o retorno de Deus atualmente? E que Deus é esse?

John Micklethwait - Se você olhar para o mundo, verá que a religião está indo bastante bem na maioria dos lugares fora da Europa ocidental. Começamos nosso livro com a descrição de uma igreja doméstica na China, onde atualmente há mais cristãos do que membros do Partido Comunista. A religião também voltou à política – para o bem ou para o mal – praticamente em toda parte, inclusive na Europa.

IHU On-Line - Alguns autores de recensões disseram que você fez um estudo geopolítico da fé. Como você analisa a relação entre religião e modernidade dentro do cenário sociopolítico contemporâneo?

John Micklethwait - Durante anos, pensamos que a modernidade significava secularização. Isto estava errado. A religião tem ido muito bem em todos os lugares modernos (e em processo de modernização) fora da Europa ocidental. A verdadeira relação é aquela entre a modernidade e o pluralismo – a capacidade de escolher sua fé (ou de não ter nenhuma fé). Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom.

"Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom"


IHU On-Line - Em oposição a suas ideias, autores como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris defendem mais uma vez a morte de Deus. Como você analisa esse novo ateísmo?

John Micklethwait - Nós não discordamos do ateísmo – meu co-autor é ateísta. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo. E não aceitamos o argumento de Hitchens de que a religião é praticamente sempre má.

IHU On-Line - No início de seu livro, você apresenta dois caminhos alternativos para a modernidade: o europeu e o americano. De que consistem eles?

John Micklethwait - O caminho americano se baseia no pluralismno – numa multiplicidade de crenças que competem umas com as outras –, e a religião está indo bem. O caminho europeu tem tido igrejas estatais – e está se desintegrando.

IHU On-Line - Atualmente, após a crise financeira e suas consequências, como você vê a relação entre a religião e o capitalismo?

John Micklethwait - Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo. Fazendo uma generalização horrenda, parece haver efetivamente uma relação entre certas religiões evangélicas empreendedoras e o capitalismo. Alguns chineses querem copiar a religiosidade americana para ficar mais ricos. Se você for a uma igreja pentecostal no Brasil, como eu fiz, verá que há uma ênfase bastante forte em se dar bem.

"Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo"

IHU On-Line - Em seu livro, você diz que “as próprias coisas que supostamente destruiriam a religião – a democracia e os mercados, a tecnologia e a razão – estão se combinando para torná-la mais forte”. Em sua opinião, como e por que isso ocorre?

John Micklethwait - Porque as forças da globalização levam as pessoas à fé. Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade (partes do sul conservador dos Estados Unidos, por exemplo, ou a Arábia muçulmana). Mas muitas classes médias em ascensão (os subúrbios americanos, a burguesia hinduísta na Índia, o partido AK na Turquia) a veem como uma forma de progredir.

IHU On-Line - Como você analisa o sucesso que a fé ao estilo americano está tendo no Brasil, com a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo?

John Micklethwait - Eu a achei extremamente interessante. Ela tem raízes americanas óbvias, mas é uma experiência muito brasileira – como o foco no exorcismo, por exemplo. Esse tipo de religião implica uma proposta de dar respeitabilidade às pessoas.

"Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade. Mas muitas classes médias em ascensão a veem como uma forma de progredir"

IHU On-Line - Sendo um país de grande liberdade religiosa, a grande guerra das religiões no Brasil se dá justamente entre a Igreja Católica e as igrejas neopentecostais. Qual é sua opinião sobre esse novo tipo de guerra das religiões dentro da mesma tradição religiosa?

John Micklethwait - Bem, o lado bom é que não se trata realmente de uma guerra (como, por exemplo, o é a batalha no Oriente Médio ou na Nigéria). É um modelo de concorrência. Havia uma Igreja Católica dominante preguiçosa; os pentecostais se apossaram de uma fatia do mercado; agora os católicos estão respondendo.

IHU On-Line - Você afirma que há “igrejas de ciclistas para ciclistas, igrejas de caubóis para caubóis, igrejas esportivas para esportistas”. Que tipo de fé é essa que se segue à volta de Deus atualmente?

John Micklethwait - O aspecto a ser destacado neste caso é que as igrejas segmentam seu público. Há algo para todos.

(deu na www.unisinos.org.br)