sexta-feira, 6 de março de 2015

Lei e disciplina III

Anos atrás morávamos perto de Lancaster, Pensilvânia, um reduto de pessoas Amish. Eles não usam energia elétrica em casa ou na fazenda, andam de carroças e vestem-se como cidadãos do século dezenove. Vivemos agora em uma região dos Estados Unidos onde existe uma grande concentração de Menonitas. Não é difícil reconhecê-los andando pela cidade. As famílias estão sempre juntas e as mulheres estão sempre usando um lenço rendado na cabeça, cabelos em coque e vestidos compridos de modelo antiquados. Já tivemos vizinhos Mórmons. Semelhante aos Adventistas, eles não tomam bebidas com cafeína, nem bebida alcoólica, não vão em baladas, e pregam uma vida casta até o casamento. De onde vem estas práticas, e o que elas representam? Seriam elas doutrinas, disciplinas ou dogmas? A minha perspectiva é de que a vasta maioria das práticas distintivas que compõe as formas definidas no post anterior, são disciplinas que se incorporaram à doutrina e com o tempo tornaram-se dogma. Eis o processo no caso do adventismo.

Ao longo da formação da igreja, inúmeras práticas introduzidas pelos fundadores tornaram-se a essência do que é ser um adventista. Podemos listar entre elas a adoção de um dieta vegetariana, a abstinência ao consumo de bebida alcoólica, café, e chá preto, a abstinência ao uso de jóias, à visitas ao teatro, cassinos e salões de dança, etc. Tais práticas foram introduzidas com nobres propósitos e tiveram  ampla adoção pelos novos crentes. Estes entusiasticamente as incorporaram aos ensinos da igreja, ou doutrina. Com o passar do tempo as práticas ganharam um status de lei num processo temporal de "canonização." Aqui reside o problema a qual eu me referi anteriormente. Disciplinas jamais deveriam tornar-se leis! Quando isso acontece, elas não somente perdem a eficácia, como também dão uma falsa segurança espiritual. Para piorar a situação, muitos casos, senão todos, a canonização da prática é acompanhada de amnésia quanto à motivação original.

Como é que sabemos quando uma prática virou dogma, ou a disciplina virou lei? Pela maneira como é julgado o membro não conformista com a prática específica, vide o exemplo do cafezinho no post anterior.

Quando uso aqui a palavra disciplina tenho uma definição muito específica em mente. Trata-se das disciplinas espirituais que quando aplicadas devidamente cooperam com a transformação do caráter. Como é possível que nem todos estejam familiarizados com o conceito das disciplinas, no próximo post pretendo abordá-lo brevemente.

2 comentários:

Lilian disse...

Eu acho que esse seu "insight" é bom, Klebert, pelo menos, é um passo na direção certa! E, mais do que ninguém, eu sei que demorou literalmente anos para você desenvolver este "novo" conceito. E é muito possível que ele continue a evoluir (kkkkk) e mude, já que a experiência espiritual é uma jornada na qual mudamos conforme vamos prosseguindo.

Já que isto é apenas um comentário, que fica "enterrado" embaixo dos posts eu vou partilhar experiência pessoal q ilustra o ponto do post. Hoje mesmo experimentei algo q é um dogma pros meus pais, mas não pra mim. Há uma semana pela primeira vez na vida, resolvi pintar as unhas da mão de uma cor escura (marrom) [as dos pés comecei 6 meses atrás ;-)]. Quando meus pais viram no skype ficaram super incomodados! E indignados que eu fiquei questionando o porquê disso ser tão errado. :-) Para eles, só pintar as unhas de maneira natural é uma prática meio que "canonizada" e é muito difícil aceitarem algo diferente. Ai ai... Bom, leiam o post do xuxu e vamos continuar esta discussão!

Gabriel Henríquez disse...

Boa Klebert... agora fica mais claro o caminho que você que percorrer na discussão. E a definição do que é "disciplina" neste contexto cairia bem para que possamos contribuir melhor com a conversa.
Disciplina->(tempo)->Lei.
Tenho visto comportamentos semelhantes neste sentido inclusive quando se trata de nos relacionarmos com não-advs. "Se não for para converter, então a amizade não tem razão de ser"... que vontade me deu de me levantar, dizer o que não devo, e ir embora nesse dia...Deus tem tido muita misericórdia de mim.