terça-feira, 13 de abril de 2010

Na contra mão: próximas paradas...

Bem amiguinhos, também estou voltando a blogar, impulsionado pelo post to Gabi. No bom e velho estilo do GEA, aqui vão alguns dos assuntos que espero blogar em breve. A lista serve para me manter motivado e prover inspiração aos demais.

1) Progressistas? Fundamentalistas? uma terceira via? Elucubrações sobre o tema roto, porém ainda atual, de conservadores vs. liberais. Pretendo abordar este assunto usando nossa experiência contemporânea de membros de uma igreja conservadora, com um pastor ovelha-conservardora em pele de lobo-liberal e uns poucos amigos metidos a liberais.

2) Fuga para Deus. O que me cativou na história do Jim Hohnberger e como fiquei perdido mesmo antes de começar a "fugir para Deus". Neste tema pretendo apresentar o que para mim é o melhor mapa da fuga que descobri com um tal de Richard Foster e comparsa de conspiração Dallas Willard.

3) Adventismo: a hora da estrela. Talvez a referência bibliográfica não seja a ideal, mas transmite o que desejo abordar neste tema: nunca na história do adventismo vivemos uma época tão favorável para a divulgação da cosmovisão adventista. Precisamos de uns ajustes, verdade, mas este é o momento. E não me refiro ao clímax escatológico em particular, mas à confluência de valores por ora abraçados no mundo religioso e secular.

Bem turma, tem mais, mas acho que vou parando por aqui, afinal este é apenas um post re-introdutório. Termino com uma antiga idéia que encontrei em um dos livros do Brian McLaren:

Um dos esportes preferidos dos cristãos é chamar os não-cristãos de perdidos. Em Coríntios, Paulo diz que somos a carta de Cristo para os que perecem. Se uma carta não chega ao destinatário, quem está perdido? a carta ou aquele para quem a carta foi endereçada?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

De volta às origens tradicionais

Creio que não tive a oportunidade de contar a todos, mas me mudei de São Paulo para a cidade de Londrina-PR já faz 2 meses.E nesta mudança, outras mudanças também aconteceram, e uma delas foi a de voltar a freqüentar uma igreja tradicional.
É interessante você perceber como rapidamente sua presença é notada, mesmo que pouquíssimos venham falar com você, ainda que a igreja tenha uns 600 membros. Confesso que ri muito, pensando no episódio, quando em um sábado pela manhã eu estava no fundo da igreja, em pé pois havia cedido o meu lugar a uma senhora com bebê, e um pastor (eu sei que era departamental pois o vi fazendo um anúncio na classe da ES) passou por mim, parou, olhou para mim (claro que a visão da minha lustrosa pessoa hoje já não é mais o estereótipo adv) e me perguntou se eu era adventista... eu quase perguntei a ele a mesma coisa mas confesso que me contive rsrs... Ele não perguntou meu nome, não perguntou de onde vim, me perguntou novamente se eu era batizado, e quando disse que sim, bateu no meu ombro e seguiu...
Conheci recentemente o regente do coral, um cara muito legal, empolgado com música, 20 e tantos anos, se esforçando para conduzir um grupo de uns 80 coralistas, na sua maioria mais jovens que ele próprio, buscando louvar e inovar através deste ministério. Claro que no coral não está somente ele na condução, há também um diretor do coral, um diretor de jovens, um pastor de jovens e outros líderes envolvidos. O grande desafio deles que eu percebi nesta noite, ao participar do ensaio, foi a de motivar os coralistas a participarem seriamente da proposta. Antes do ensaio propriamente dito, ouvi uns 15 minutos de "admoestações" sobre o que se espera de um coralista comprometido, do sistema biométrico de controle de presença que será implantado, do sorteio de um "brinde especial" para os assíduos aos ensaios, e dos descontos nas "programações pagas" a que estes assíduos terão direito. Fiquei triste ao perceber porque um outro amigo, que veio de Sampa também (o conheci na NS), se desmotivou a participar do coral... ali hoje, o mesmo estava acontecendo comigo.
No fim do ensaio, peguei uma carona pra casa com o regente e conversamos, durante os parcos 7 minutos que levam da igreja até minha casa, sobre a frustração dele e minha sobre a apresentação do coral que ocorreu no sábado passado. Cantamos no sábado pela manhã esta canção, numa versão em português, com o coral cheio e igreja lotada. A frustração do regente foi o fato de que a apresentação durou somente uma música, e de como é difícil fazer as pessoas participarem, da igreja se envolver, e de que na apresentação do domingo ele "assassinou" a música devido a uma entrada mau indicada... aí eu contei a ele a minha frustração: de que o louvor tenha sido feito somente pelo coral, pois minha filha, na hora do coro, simplesmente abriu boca com toda a vontade a ponto de fazer meia igreja se voltar a ela, e quando ela percebeu se escondeu debaixo do banco. Contei a ele minha frustração por perceber que as motivações por participar do coral me parecem tão distorcidas, e que a expectativa da "audiência" da igreja desvia ainda mais do que eu entendo que deveria ser o foco... Então ele comentou "mas ela já conhecia a música..." e eu disse "o ponto não é se ela já conhecia a música, mas que ela tentou expressar seu louvor a Deus como tinha o costume e se retraiu!"...
Bem, eu conto isto a vocês não porque quero dizer que está tudo errado, e eu é que estou certo. Conto isto a vocês a esperança de que vocês me ajudem a resgatar o sentimento e o envolvimento que um dia tivemos (ou pelo menos eu tive) quando convivíamos e louvávamos juntos em um galpão frio de uma noite de sexta-feira, num sítio próximo a cidade de Juquitiba-SP, por exemplo... não consigo ver saída para esta situação sem criar um sentimento de rompimento, sem chocar as pessoas ou senão me afastar e continuar pedido ao Papai do Céu que me use para o que for da Sua vontade...
Por que é tão difícil transmitir às pessoas uma visão de serviço por amor somente? Cuja motivação não seja o entretenimento emocional ou intelectual mas a satisfação de perceber que Deus nos está usando para fazer milagres a pessoas que jamais imaginariam que um dia seriam tocadas simplesmente por um exemplo de amor, compaixão e serviço?
O que estamos fazendo de errado? O que eu estou fazendo de errado?...

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O retorno de Deus e as mudanças da sociedade contemporânea.

Entrevista especial com John Micklethwait


Pensar como o renascimento global da fé está alterando e transformando a sociedade contemporânea. Esta é a proposta da obra “God is back: How the Global Revival of Faith Is Changing the World”, dos jornalistas ingleses John Micklethwait e Adrian Wooldridge. Apontando, estatisticamente, o aumento mundial do número de fiéis, os autores refletem sobre os fenômenos sociais ligados ao “retorno” de Deus e a religião como fator político.

Em entrevista por e-mail à IHU On-Line, John Micklethwait trata dos aspectos mais relevantes do livro, como a relação entre religião e modernidade, secularismo e as novas formas de fé. A respeito da proeminência do novo ateísmo e a opinião de autores como Christopher Hitchens, que defendem a morte de Deus, Micklethwait afirma: “Nós não discordamos do ateísmo. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo”.

John Micklethwait é jornalista e editor-chefe da revista britânica “The Economist”.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em sua opinião, quais são os fenômenos sociais que mais manifestam o retorno de Deus atualmente? E que Deus é esse?

John Micklethwait - Se você olhar para o mundo, verá que a religião está indo bastante bem na maioria dos lugares fora da Europa ocidental. Começamos nosso livro com a descrição de uma igreja doméstica na China, onde atualmente há mais cristãos do que membros do Partido Comunista. A religião também voltou à política – para o bem ou para o mal – praticamente em toda parte, inclusive na Europa.

IHU On-Line - Alguns autores de recensões disseram que você fez um estudo geopolítico da fé. Como você analisa a relação entre religião e modernidade dentro do cenário sociopolítico contemporâneo?

John Micklethwait - Durante anos, pensamos que a modernidade significava secularização. Isto estava errado. A religião tem ido muito bem em todos os lugares modernos (e em processo de modernização) fora da Europa ocidental. A verdadeira relação é aquela entre a modernidade e o pluralismo – a capacidade de escolher sua fé (ou de não ter nenhuma fé). Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom.

"Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom"


IHU On-Line - Em oposição a suas ideias, autores como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris defendem mais uma vez a morte de Deus. Como você analisa esse novo ateísmo?

John Micklethwait - Nós não discordamos do ateísmo – meu co-autor é ateísta. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo. E não aceitamos o argumento de Hitchens de que a religião é praticamente sempre má.

IHU On-Line - No início de seu livro, você apresenta dois caminhos alternativos para a modernidade: o europeu e o americano. De que consistem eles?

John Micklethwait - O caminho americano se baseia no pluralismno – numa multiplicidade de crenças que competem umas com as outras –, e a religião está indo bem. O caminho europeu tem tido igrejas estatais – e está se desintegrando.

IHU On-Line - Atualmente, após a crise financeira e suas consequências, como você vê a relação entre a religião e o capitalismo?

John Micklethwait - Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo. Fazendo uma generalização horrenda, parece haver efetivamente uma relação entre certas religiões evangélicas empreendedoras e o capitalismo. Alguns chineses querem copiar a religiosidade americana para ficar mais ricos. Se você for a uma igreja pentecostal no Brasil, como eu fiz, verá que há uma ênfase bastante forte em se dar bem.

"Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo"

IHU On-Line - Em seu livro, você diz que “as próprias coisas que supostamente destruiriam a religião – a democracia e os mercados, a tecnologia e a razão – estão se combinando para torná-la mais forte”. Em sua opinião, como e por que isso ocorre?

John Micklethwait - Porque as forças da globalização levam as pessoas à fé. Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade (partes do sul conservador dos Estados Unidos, por exemplo, ou a Arábia muçulmana). Mas muitas classes médias em ascensão (os subúrbios americanos, a burguesia hinduísta na Índia, o partido AK na Turquia) a veem como uma forma de progredir.

IHU On-Line - Como você analisa o sucesso que a fé ao estilo americano está tendo no Brasil, com a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo?

John Micklethwait - Eu a achei extremamente interessante. Ela tem raízes americanas óbvias, mas é uma experiência muito brasileira – como o foco no exorcismo, por exemplo. Esse tipo de religião implica uma proposta de dar respeitabilidade às pessoas.

"Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade. Mas muitas classes médias em ascensão a veem como uma forma de progredir"

IHU On-Line - Sendo um país de grande liberdade religiosa, a grande guerra das religiões no Brasil se dá justamente entre a Igreja Católica e as igrejas neopentecostais. Qual é sua opinião sobre esse novo tipo de guerra das religiões dentro da mesma tradição religiosa?

John Micklethwait - Bem, o lado bom é que não se trata realmente de uma guerra (como, por exemplo, o é a batalha no Oriente Médio ou na Nigéria). É um modelo de concorrência. Havia uma Igreja Católica dominante preguiçosa; os pentecostais se apossaram de uma fatia do mercado; agora os católicos estão respondendo.

IHU On-Line - Você afirma que há “igrejas de ciclistas para ciclistas, igrejas de caubóis para caubóis, igrejas esportivas para esportistas”. Que tipo de fé é essa que se segue à volta de Deus atualmente?

John Micklethwait - O aspecto a ser destacado neste caso é que as igrejas segmentam seu público. Há algo para todos.

(deu na www.unisinos.org.br)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

tem coisa mais na contra mão do que isso? rs


Religião, ideologia e escola
Considerações sobre o ensino religioso, o acordo firmado entre o governo brasileiro e a Santa Sé e algumas implicações para a cidadania e a educação no Brasil
 
Roseli Fishmann


Temas complexos, escola, religião e ideologia, quando entrelaçados, podem gerar misturas explosivas, como a história já demonstrou. Governos totalitários e autoritários, em geral, buscaram na religião um apoio aos processos de manipulação de consciências. Melhor seria dizer que esse apoio foi buscado não exatamente nas religiões, mas nas instituições religiosas e, sobretudo, em autoridades estratégicas dessas instituições. De um lado, o mero e simples interesse humano e terreno pelo poder e suas benesses. De outro, argumentos que invocam o inefável e o intangível, como modo de arrebatar corações e mentes.

A formação de verdadeiros exércitos, prontos ao sacrifício, enquanto entregues às ordens arbitrárias do soberano, ele próprio aparentemente investido, então, de um poder transcendental, conforme atribuído por seus aliados religiosos, autorizou das torturas e matanças, na Inquisição, ao apoio às ditaduras recentes, na América Latina.

Como as instituições religiosas, independentemente de suas doutrinas, são organizações humanas complexas, surgem também, em seu interior, simultaneamente, oposições a semelhantes processos de aderência a governos totalitários e autoritários. Houve na Inquisição quem rejeitasse as práticas, e fosse igualmente sacrificado, como também se encontraram em instituições religiosas alguns dos mais significativos pilares da resistência às ditaduras e de ativa reconstrução democrática recente na América Latina.

Nesse processo, impor às escolas conteúdos religiosos liga-se a uma pergunta central: a quem interessa a imposição? Que parcela dos grupos religiosos chegará à escola? A que compactua com o autoritarismo, ou a que busca fortalecer a democracia?

Haverá quem diga que nem um, nem outro, mas que deveria ser uma abordagem religiosa "neutra". Sucede que as instituições religiosas, em sua dimensão humana, vivem os mesmos processos de disputas internas de poder que qualquer outra organização humana vive. Não são homogêneas internamente; ao contrário, há grande heterogeneidade em seu interior, configurando, mesmo, em alguns casos, um tipo de diversidade ou pluralidade no interior daquela singularidade de fé. Não à toa, há conflitos internos, tendências dominantes em diferentes momentos, em geral ligadas à relação daquela instituição religiosa com o momento político nacional e mesmo internacional. Para quem é observador externo, a perspectiva "vista de fora" é de que são todos o mesmo. Vivido de dentro, nunca é tão simples.

Ao tratar de escolas confessionais, comunitárias, o que se observa é que os pais dos estudantes, ao fazer recair sobre esta ou aquela escola a escolha de onde fazer estudar seus filhos e filhas, são em geral pessoas de vida religiosa, ativa ou desejando se fazer ativa, e muito frequentemente de vida comunitária no interior daquele dado culto. Nesse sentido, têm conhecimento desses processos internos organizacionais, e sabem que, de uma forma ou de outra, as escolas ligadas a seu grupo religioso serão influenciadas por isso. Mas é sua escolha ali colocar seus filhos, integrá-los à vida comunitária em todos os sentidos.

Isso, contudo, não tira dessa escola o dever de ensinar às crianças e adolescentes que têm sob sua responsabilidade todos os conteúdos exigidos pelas normas nacionais, como os que atualmente se apresentam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Vale aqui um esclarecimento. Não há um PCN de ensino religioso, pelo simples fato de que, sendo o Estado laico, não pode se pronunciar sobre assuntos religiosos ou que, de alguma forma, envolvam religião. Ou passaria o Estado - por intermédio do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, das Secretarias Estaduais de Educação e Conselhos Estaduais de Educação - a ditar conteúdos e interferir sobre as religiões, ferindo diversos dispositivos constitucionais e legais. Há uma publicação a que atribuíram esse nome, mas que não é oficial, não impondo qualquer tipo de obrigação a qualquer escola ou docente. Cada uma das escolas confessionais decidirá seu conteúdo religioso. Os limites são no sentido de que é vedado ministrar conteúdo que fira a legislação brasileira e os direitos de cidadania, incluindo divulgação de preconceito, apologia de qualquer tipo de discriminação, violação dos direitos das crianças e adolescentes, ou deixar de ministrar os conteúdos científicos previstos pelo MEC para cada fase da vida escolar.

Já ao passar à realidade da escola pública, muda todo o cenário. Porque os cuidados são específicos, no âmbito de uma escola que é ela própria parte integrante do Estado, voltada como ele ao cumprimento dos princípios, fundamentos e objetivos estabelecidos pela Constituição Federal, que se dirige a todos e todas, como um ou uma da cidadania, não pela escolha religiosa, pelo gênero, pela origem social ou pelo que seja. Todas e todos livres e iguais em dignidade e direitos, aprendendo a partir da escola pública a exercer sua autonomia, com todas as responsabilidades daí decorrentes.
Caminho para a injustiça
Nesse sentido, se coloca de forma crucial o tema da liberdade de consciência, de crença e de culto, protegida pela Constituição Brasileira em seu Artigo 5º, que estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (...)", como também no seu Artigo 19. Porque a escola pública não pode permitir ou praticar qualquer tipo de discriminação em seu interior, que fira o Artigo 5º e que também leve à violação do princípio da isonomia entre os cidadãos e cidadãs, como estabelecido no Artigo 19, "III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Fazer qualquer escolha de tipo religioso na escola pública é estabelecer condições para o desenvolvimento do preconceito e da discriminação, pelas diferenças religiosas que, enquanto operam na sociedade, ali encontram seu equacionamento. Se o Estado interfere, entretanto, implanta-se a injustiça. Uma escolha religiosa pela escola pública, seus dirigentes ou docentes estabelece também as bases do solapamento da autoestima de grupos inteiros de estudantes, que, ao se sentirem preteridos frente à sinalização do Estado de que um grupo religioso é mais estimado do que os demais, constrangidos e humilhados poderão se retirar da cena pública, ao invés de aprender a lidar com ela, como na escola devem aprender. Ao mesmo tempo, se a escola faz uma escolha em termos de símbolos religiosos que expõe em seu recinto, pelas paredes e nichos, redobram-se esses problemas, sendo um tipo de violência simbólica, de consequências imprevisíveis.

A implantação da República trouxe a laicidade do Estado e, de forma consequente, de todos os estabelecimentos de ensino público. A retomada do ensino religioso nas escolas públicas, sintomaticamente, se fez por Getúlio Vargas, para ganhar o apoio da Igreja Católica para sua ditadura. Mas a laicidade, em si, veio depois de quase 400 anos de presença católica como religião oficial de Estado, durante a Colônia e o Império. Nesse sentido, convém lembrar que a conquista do Brasil se fez sob a bandeira da Contra-Reforma, ou seja, da reação católica ao surgimento das então novas igrejas protestantes, sendo os jesuítas os responsáveis pelas escolas públicas no Brasil, como em Portugal, Espanha e colônias, em um processo de aliança política e econômica entre o rei e o Vaticano. Frequentemente esse passado, no qual se praticou genocídio contra os povos indígenas que aqui viviam e que se apoiou na escravização de africanos, é mencionado com orgulho, como a justificar a presente busca de privilégios pela religião hegemônica.

Seria fortuito o fato de o constituinte haver posicionado, como diferentes parágrafos de um mesmo o artigo, tanto o dispositivo que define, de forma ambígua, o tema do ensino religioso em escolas públicas (Artigo 210, § 1º - "O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental."), quanto a inovadora, embora tardia, proteção presente no Artigo 210 § 2º, que assegura às comunidades indígenas "a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem"?

Para onde vamos, caberia ainda perguntar? O fato é que a cidadania assistiu, pasma, à aprovação, pelo Congresso Nacional, de um acordo assinado com a Santa Sé, pelo governo federal em novembro de 2008, no Vaticano. Foi aprovado com algum debate na Câmara dos Deputados, e em prazo recorde no Senado. Apresentado como acordo bilateral, internacional, que contornaria, na interpretação de seus defensores, a proibição da Constituição Federal, no já mencionado Artigo 19. Não apenas não contorna, como é inconstitucional e demonstra um tipo de aliança entre o Executivo e setores do Legislativo e uma determinada denominação religiosa que indica um perigoso retrocesso no Brasil. Portugal e Espanha, por exemplo, vêm travando histórico processo para se desfazer de concordatas (o nome técnico desse tipo de acordo) assinadas por Salazar e Franco. Como a Alemanha tem a marca de uma concordata assinada por Hitler, e a Itália, por Mussolini.

Nas escolas, o mais grave, embora indicado como ressalva, pelo Relator da Comissão de Educação, em um primeiro parecer, do qual recuou, após pressão em plenário, o artigo 11 desse acordo é inconstitucional e contra o que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei  9.394/96), pois torna obrigatório o "ensino religioso católico" em todas as escolas. Ou seja, independentemente do caráter facultativo para o aluno, as escolas passam a ter de oferecer esse ensino católico, e que o acordo complementa "e de outras confissões religiosas", passando por cima da Constituição e da LDB, que em seu Artigo 33 estabelece a proibição do proselitismo ao regulamentar o parágrafo 1º do artigo 210 (antes citado), e define que "os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso".

Assim, é difícil a resposta à pergunta "para onde vamos". Porque a situação atual, se o presidente Lula homologar esse acordo inconstitucional, imporá ao país uma convivência com um documento bilateral, internacional, sobrepondo-se à lei complementar à Constituição, que é a LDB, e à própria Constituição.

Roseli Fischmann é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da USP e da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo. Perita da Coalizão Internacional Unesco de Cidades contra o Racismo e a Discriminação

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Minhas impressões sobre o Pagan Christianity

Olá!
Fazendo jus ao voto de confiança dos moderadores, já estava na hora de eu postar alguma coisa aqui, né? Haha

Para começar, gostaria de compartilhar um post que escrevi no meu blog no clássico sistema ctrl+C, ctrl+V rs:

(...)
Bem, vamos ao que interessa: a coisa terrivelmente importante que aconteceu dessa vez [para entender o contexto, visite meu blog] foi a leitura de um livro, por indicação do Gabriel, um veterano geano, chamado Pagan Christianity, escrito por Frank Viola e George Barna. Pra vocês terem uma noção do drama, o cara me trouxe o livro dos Estados Unidos (hoje, o livro está disponível em português) e eu demorei 6 meses para lê-lo. Há algumas semanas atrás um rapaz que já havia lido o livro me viu com ele e me disse em tom de brincadeira: “Cuidado com esse livro! É perigoso! Quando você terminar de lê-lo você vai sair da igreja”. Eu repliquei: “Perigoso nada, até que é levinho”. Até então eu tinha lido 1/3 do livro. Os outros 2/3 eu li nas ultimas duas semanas. Eu mal sabia o quanto eu estava enganado.

Ok, sensacionalismos à parte, o Frank Viola é um dos caras mais influentes no movimento das “house churches”, tendo nos últimos 20 anos se reunido com várias delas nos EUA. Ele é nacionalmente reconhecido como uma das grandes vozes quando se trata de novas tendências para a igreja e realiza conferências sobre aprofundamento na vida cristã. Escreveu vários livros revolucionários sobre uma restauração radical da igreja. O George Barna é o presidente da Good News Holdings, uma empresa de multimídia em LA, produzindo filmes e programas para a TV. Ele é também fundador e diretor do Barna Group que é uma empresa de pesquisa voltada aos cristãos, para fins estatísticos e de direcionamento de mercado.

A idéia central do livro é a seguinte: os cristãos em geral costumam estufar o peito e dizer que fazem tudo de acordo com a Bíblia, tintim por tintim. Contudo, essas práticas atuais diferem muito das práticas da igreja primitiva. E qual não é a surpresa ao descobrir que o prédio da igreja, a ordem do culto de adoração (liturgia), o sermão, o pastor, as roupas "de ir no culto", os ministros de música, o dízimo e o salário pastoral, as formas atuais do batismo e da santa ceia e a educação cristã tem todos raízes pagãs, sem nenhuma relação com o modelo neotestamentário! Isso vai totalmente contra aquela idéia de que fazemos tudo “de acordo com a Bíblia”. Segundo os autores, é esse o motivo de grande parte dos problemas básicos que enfrentamos como igreja na nossa experiência religiosa (haha esse termo é bem útil, Gabriel) atual, independente da denominação cristã a que se pertença. Ainda mais, essas práticas entram EM CONFLITO com a receita original da igreja.

Só por aí já dá pra você prever porque o rapaz lá em cima me falou que esse livro é perigoso, rs. Bem, se tudo fosse conjectura isso não seria problema. Acontece que a idéia dos caras não foi logo de início refutar o sistema atual, mas procurar as raízes das práticas atuais. E qual não foi a surpresa ao constatar a controversa origem de cada um desses itens que eu citei. Eles fizeram uma extensa pesquisa bibliográfica para analisar cada um desses pontos (no mínimo uns 30% em área do livro é nota de rodapé. Em fonte tamanho 8. Vocês imaginem o quanto de referências o livro tem.).

Eu fiz um resumo do livro (bem meia boca) se você for preguiçoso/a e não quiser lê-lo. Apenas para você ter uma noção geral. O livro referencia todas as afirmações que faz, dando a base histórica e sua fonte. Vocês podem conferir o resumo no post anterior. Eu os encorajo a ler o livro inteiro. Será um tempo investido em algo valioso.

A minha primeira conclusão lógica foi a seguinte: ora, nesse contexto todo você tem duas opções. Ou eu parto do pressuposto de que a origem de uma prática determina sua natureza (Fulano não pode ser bom, olha de onde ele veio; bateria na igreja não é bom porque sua origem vem dos cafundós dos macumbeiros etc), ou eu avalio a natureza dessa prática por outros parâmetros (vejo os "frutos" do Fulano; vejo a atual função da bateria e suas implicações, etc): ou eu falo que uma prática é ruim por ser pagã ou eu avalio se ela é ruim por outros parâmetros. Eu achava que o livro iria atacar as práticas e justificar o ataque a elas pela sua origem pagã. Mas, de fato, eles demonstraram como essas práticas são danosas simplesmente por serem conflituosas com a forma como a igreja original funcionava (invenção de Deus).

Meu, estufa-se o peito para falar que a Reforma de Saúde é urgente e necessária pois afinal, Deus conhece o nosso maquinário, e sabe a melhor forma dele funcionar (e ainda assim há controvérsias). Raios, porque não há tanta preocupação assim em relação a como o Corpo de Cristo deveria funcionar? Até quando irá se transgredir o mandamento de Deus em função da tradição?

Bem, isso não quer dizer que Deus não trabalhe nas instituições, apesar do status quo. Apesar disso, esses estudos não deixam de me causar um certo amargor. Como ir às reuniões da igreja sabendo disso sem sentir desaprovação, e pensar que tudo poderia ser diferente, melhor? Mais triste ainda é notar que vários problemas que são enfrentados na igreja hoje seriam totalmente ausentes caso não ocorressem várias dessas práticas desnecessárias. Quanto esforço é gastado nesses problemas "criados", energia que poderia ser usada em relacionamentos, ajuda a outros, amor genuíno! Quanto desperdício!

É claro, há aí também uma oportunidade de desenvolver algo totalmente novo. Mas como é difícil mudar!
Eu acredito que Deus não permita que certas informações cheguem a nós por caso, e nenhum sentimento surja sem propósito (mesmo que seja o de mostrar que todo tempo estávamos errados, por vezes).

O livro me ofereceu um senso de libertação. Muito tempo antes de ler seu livro eu já sentia que a minha experiência religiosa, nos moldes em que sempre aconteceram, limitaram a minha visão de como Deus pode atuar. Deus não é apenas um conceito, uma filosofia, uma idéia que a gente coloca dentro da cabeça e pronto. Deus está vivo! E como está vivo, não está parado. Que grande erro é pensar que não há muito mais a se estudar, a se conhecer, a se experimentar! (Pode parecer bobagem, mas é algo muito importante, principalmente quando se nasce e cresce no meio institucional, no qual todos "deduzem" que aquilo já é "natural" pra você).

No momento sou forçado a refletir, como naquela música do Leonardo Gonçalves: "Agora é o momento em que tenho que decidir/Se ao Deus verdadeiro ou à imagem que dEle criei quero servir". Não faz sentido que aquilo a que chamamos "experiência com Deus" seja algo estático, apenas um conjunto de doutrinas como costumeiramente é tratada. E, querendo ou não, quando se fala que se "tem a verdade" (postura muito comum, principalmente entre os adv), é fácil cair no típico conformismo laodiceano. O capítulo sobre Educação Cristã foi muito útil em elucidar as origens do ensino formal e estático das escrituras de hoje. Não é de se admirar que conforme o tempo passe, teias de aranha se instalem nos estudos bíblicos que passam a sofrer de anacronismo. Me parece claro que esse problema não ocorreria se a transmissão de conhecimento se desse de forma dinâmica e experimental. O essencial seria propagado e posto em prática. Não daria para negar sua eficácia. As coisas não seriam pensadas em termos de "refutável" e "não refutável". E seriam altamente relevantes. Como Jesus já disse: "Com isto todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês amarem uns aos outros" João 13:35. Quer necessidade maior do que essa?

Será que uma home church é a solução? Não sei. Muitas home churches dão errado também, assim como muitas igrejas primitivas deram errado.
Será que sair da igreja institucionalizada é uma solução? Também não vejo como isso pode ser construtivo. (Afinal, uma analogia que meu pai usa muito é a de que "a igreja é um hospital". Logo, se enxergamos problemas, no mínimo é nosso dever solucioná-los. É uma ótima e válida motivação. É aí que se precisa ser um idealista...)

Por enquanto, sou obrigado a me colocar nas mãos de Deus e apostar na sinceridade das pessoas, do mesmo jeito que Ele faz.

Deus não nos fez apenas para sermos resgatados, mas para viver uma vida junto dEle com o máximo com o que ela tem a oferecer! (vulgo abundância)

No momento estou cansado. Cansado das mesmas coisas, cansado de ruminar uma velha esperança. Cansado de apoiar convicções de vida sobre uma cartilha.

Contudo, ao pensarmos que, com Deus, já estamos vivendo a Eternidade, tudo ganha outra perspectiva.

Pois é, mais do que nunca, "é preciso saber viver..."

domingo, 2 de agosto de 2009

Explorando evangelismo

Lendo recentemente o novo livro do Dallas Willard, Knowing Christ Today --- why we can trust spiritual knowledge (espero fazer uma resenha dele um dia desses), deparei-me com uma interessante discussão sobre o conhecimento de Cristo, e o pluralismo e a exclusividade. A pergunta central da análise é algo do tipo:

É arrogante e destituido de amor pensar que você está correto e outros estão errados sobre as questões mais fundamentais da existência humana?

Matutando sobre esta questão percebí que ela se coloca no cruzamento central da gerras geradas por motivos religiosos, da multidão de denominações na religião cristã, e mesmo dos cismas dentro da própria igreja adventista. O que me preocupa mais ainda é que evangelismo necessariamente implica exclusivimo. Nesse contexto gostaria de propor, no velho estilo do GEA-USP, uma troca de idéias sobre o que é, e o que deve ser de fato evangelismo.

Não sei como vocês se sentem, mas sinto que esta seja uma palavra carregada, que evocam reações conflitantes no íntimo de muitos, tal qual a expressão "reforma de saúde", por exemplo. Arriscaria dizer que as reações variam e provavelmente distinguem os quentes (primeiro amor) dos mornos (laodiceanos) e frios (cínicos) dentro da igreja. Porém, queira ou não, este é um tema central para a experiência religiosa, para justificar a existência de organizações e denominações, e, claro, para explicar a igreja, o que quer que este nome represente. O que vocês conseguem ver sobre o tema do seu lado da rua?

sábado, 25 de julho de 2009

Smile

Eu que inventei esse blog, abandonei a criança no meio da rua lá por meados de Dezembro. Estou voltando para reclamar a paternidade e dar umas vitaminas para o rebento. Neste interim, umas boas voltas na montanha russa (que é minha vida) me trouxeram de volta para a contra mão. Com o carro estancado no contra fluxo me pergunto: qual é a última?

Michael Jackson morreu. O Rei do Pop. Quanto tempo vai levar para desconfiados de plantão detectarem a fraude? Não estaria ele agora em Barhein, consciente e vivo desfrutanto docemente do influxo de caixa promovido pelo golpe e finalmente livre de ter seus passos perseguidos por fãns, familia e inescrupulosos ou qualquer combinação dos tres?

Interessante que a morte do Rei dos Judeus também foi suspeita de fraude. Só que no caso dele, ao contrário de Elvis e outros ídolos, ninguém negou sua morte. Com tal convulsão em Jerusalém naquele longínquo ano 30, seria impossível negá-la. Não surpreende o fato de que os discípulos a caminho de Emaús estavam estuperfatos de que seu companheiro de jornada parecia ignorante aos últimos acontecimentos. Nem mesmo seus mais ardentes inimigos seriam capazes de negá-la---a morte de Jesus é um fato histórico. Assim, trataram de articular e espalhar a teoria do corpo roubado. Uma das fortes evidências de que o corpo de fato não fora roubado foi o cuidado que tiveram em garantir a segurança da tumba do Cristo morto (Mat.27:62-66). Eles não calcularam que seu proceder astuto acabaria por dar muito mais credibilidade à teoria do Cristo vivo, ressurreto.

Um Cristo vivo vale mais do que um ídolo morto. Guardada as devidas proporções, imagino que a morte de Jesus deve ter trazido uma comoção tal qual a manifestada globalmente pela morte do Rei do Pop. A semelhança, porém, durou somente até o terceiro dia.

"Smile... You'll see the sun come shining through." If you belive him, just smile!

A igreja é....

Simples, lúdico, porém mais do que verdade...



Que Deus abençoe a todos!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Necessidade presente

Numa segunda-feira recente estive participando de uma reunião do GEA, sentado ao sereno de uma fria noite paulistana, na Praça do Relógio na Cidade Universitária da USP. Estávamos ali umas 12 pessoas, em roda no chão, conversando sobre um assunto exposto por 2 dos geanos presentes. Confesso que revivi um passado que me dá muita saudade...

No fim deste papo, surgiu um assunto cuja motivação já vem há algum tempo cutucando os geanos atuais: criar a igreja do GEA. Há muitos anos eu ouço falar nisto, mas esta foi a primeira vez onde eu vi (talvez tenha acontecido antes, com outros grupos, e eu não estive presente) este assunto sendo levantado seriamente.
Interessante foi perceber que a motivação para uma igreja geana, apesar de parecer óbvia, não estava muito clara ou coesa no grupo. Alguns diziam que faltava uma igreja na região da Cidade Universitária, outros que precisavam evangelizar os universitários da USP, outros queriam um lugar mais fixo ou confortável para se reunirem (tava frio pra caramba nessa noite) ...
Uma das grandes questões apresentadas nesta discussão foi: como é que se forma uma igreja? O Francisco (pai de um dos geanos presente) nos contou como, em 2 experiências anteriores vividas por ele, foi o processo de organizar o grupo fundador, encontrar um local, levantar fundos para construção, enfrentar situações complicadas com a comunidade local, etc., até que enfim a igreja estava construída e as pessoas freqüentando. Foi interessante perceber que estas experiências estavam fortemente focadas em atender às necessidades das comunidades locais. Uma luta muito difícil, sem dúvida.

Então fiquei me perguntando:
"Para que queremos, como geanos, estabelecer uma igreja?"
Até o próprio conceito "igreja" estava meio confuso na cabeça da moçada: igreja prédio, igreja comunidade, igreja organização... e por aí vai. Tinha de tudo na discussão, e claro que, como estes conceitos não são naturalmente explícitos, estava difícil chegar num consenso que conduzisse a uma convergência nos interesses e ações propostas.

Isso me lembrou uma sessão de Discipulado V que tivemos na Nova Semente há pouco mais de um ano atrás. Estávamos discutindo comunidade e igreja com um grupo de umas 20 pessoas, e eu pedi a todos que respondessem uma pergunta, que escreverei a seguir, porém que guardassem a primeira resposta que viesse a cabeça, sem muitos esclarecimentos, sem pensar muito, mas só a primeira resposta, para no fim discutirmos a respeito. Eis a pergunta:
"Preciso ser membro de uma igreja para ser salvo?"
Depois da pergunta, cada um guardou para si a sua resposta intuitiva, e continuamos com a discussão planejada para aquela manhã. No fim da discussão eu retomei a questão, perguntando quais foram as respostas obtidas daquela questão no início da nossa sessão de Discipulado V. O interessante desta questão não é a resposta em si, mas as premissas intuitivamente assumidas para chegar a uma ou a outra resposta. Me explico: obviamente - e provavelmente semelhante à sua resposta, meu leitor - a grande maioria optou pela resposta negativa, e foi apresentada uma série de razões para isso:
  • "Minha salvação não depende de um livro de membros de uma igreja."
  • "Quem concede a salvação é Deus, e não uma religião."
  • "Esta é uma questão que só depende de Deus e de mim, e não de uma instituição humana."
  • ... entre outras tantas...
Para minha surpresa, e dos demais presentes, um amigo que há poucos meses havia se decidido por Deus publicamente, e já servia com amor exemplar à comunidade, disse em alto e bom tom:
"A minha resposta é SIM!"
Sem demora, todos quase que gritando ficaram perguntando que como isso era possível, e como ele poderia dizer tal coisa, e por aí vai... claro que pediram a ele que se explicasse para que pudéssemos, por mais louco que parecesse, entender as razões dele para tal afirmação. Foi nesse momento que ouvi a lição para a qual eu não estava preparado, para a qual eu não tinha mais nada a dizer... Ele disse:
"Claro que é sim... Turma, se não fosse por vocês, eu não estaria aqui!!"
Foi aí que caiu a ficha, e que todos tivemos a oportunidade de perceber que o nosso conceito intuitivo de igreja estava mais do que torcido... que o seu conceito original já não mais estava vivo entre nós, presente como uma chama viva que aquece só em lembrar dela. Para este amigo, a resposta era diferente somente porque seu conceito de igreja era diferente, e claro que ele não estaria ali conosco se não o tivéssemos acolhido, abraçado, amado antes de qualquer coisa. Será que conseguiremos resgatar esta visão de igreja?

Voltando à nossa reunião na Praça do Relógio, após contar sobre este evento do Discipulado, ficamos discutindo sobre este assunto, de como "criar uma igreja" não tem nada a ver com prédio, lugar para se reunir, estilo de adoração, doutrina ou mesmo com quem apresentará as mensagens. Igreja, meus queridos, tem a ver com gente, pessoas, almas... tem a ver com o que há de mais precioso para o coração de Deus, pois Ele entregou o próprio Filho para isso. E nós, muitas vezes, colocamos nossas forças e intelecto em tantas outras coisas, e ficamos chamando isso de igreja...

Bem, claro que esta discussão no GEA ainda tem pra dar muito pano pra manga, mas estou feliz em saber que este sentimento, esta necessidade por uma experiência mais relevante com Deus está se tornando mais real e presente, a ponto de levantar iniciativas como esta. Que Deus os abençoe, e muito.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mankind is no Island

Queridos,

Encontrei este vídeo entre as minhas navegações diárias e pensei em compartilhá-lo com vocês, caso ainda não o tenham visto.



Fiquei imaginando qual seria a influência que esta consideração voltada aos menos favorecidos faria...

Será que realmente eu aprendería a amar ao próximo conforme Mat 22:39? Ou faria isto somente para me sentir melhor em relação a mim mesmo? Isto soa um pouco cínico...

Será que eu estaria cumprindo a vontade do nosso Deus em agir assim? Ou estaria somente encontrando uma forma piedosa de parecer cumprir a vontade dEle?

Aprenderia a prestar atenção ao meu próximo (neste sentido, próximo é alguém que está por perto), ou ainda seria mais fácil abordar um desconhecido por não ter nenhum vínculo ou histórico que me denuncie ou me faça sentir desconfortável?

Paizinho, me ajuda discernir meu coração e saber qual a minha motivação em tudo isso... talvez somente assim eu consiga sentir Você de perto, pra valer...