sábado, 28 de junho de 2014

Flores a Deus

Sabe, quando ouço conversas sobre relacionamento com Deus, doutrinas bíblicas, ou sobre a vontade de Deus para nós, frequentemente tenho a impressão de que buscamos nos convencer de que se fizermos a coisa certa, se crermos na doutrina correta, se tivermos o positivismo necessário e suficiente (e erroneamente achamos que isso é fé), conseguiremos de algum modo convencer a Deus de que somos merecedores do Céu,  ou que conseguiremos manipular a vontade divina a nosso favor.
Agimos como se, obedecendo o que cremos ou lemos ser a vontade dEle, seremos agraciados com bênçãos ou seremos mais felizes simplesmente porque conseguimos agradar O todo poderoso que nos recompensará devidamente.
E se, de algum modo, conseguirmos convencer a outros de que a nossa posição (ou religião) é a que Deus quer que eles abracem, aí sim ganharemos estrelinhas na coroa, e a nossa recompensa será muito maior do que a do nosso colega que ainda não conseguiu tal feito.
Geralmente estamos, de algum modo, buscando dizer alguma coisa que nos convença de que nos é mais mais vantajoso seguirmos o que ouvimos do pastor aos cultos nos fins de semana pela manhã, do que viver uma vida desvinculada de Deus, por mais divertida que ela possa parecer, afinal de contas o prêmio no final é muito melhor.
Impressionante o individualismo de nossa cultura ocidental, tão profundamente interiorizado em nossos pensamentos que não nos é possível conceber um relacionamento do qual não possamos tirar vantagens, ainda que este seja com Deus. E ainda mais é o fato de chamarmo-nos de cristãos, e de buscarmos obedecer a Deus, para legitimarmos nossa vontade de satisfazer nosso próprio interesse.
Lembro-me de uma tarde há vários anos atrás, quando fui buscar ao aeroporto de Cumbica minha irmã que vinha nos visitar. Lá, ela nos apresentou um jovem casal de namorados que vinha pela primeira vez ao Brasil passar umas férias e que precisava de uma carona à Rodoviária do Tietê para pegar um ônibus e seguir sua viagem. Eu estava com minha esposa e meus filhos, ainda pequenos (entre 4 e 6 anos provavelmente) e eles nos viram chegando em família para receber carinhosamente a tia tão esperada pelos pequenos.
No caminho ao estacionamento, carregando os carrinhos com as bagagens, o rapaz e eu avançamos com as malas pesadas, enquanto as moças com as crianças vinham a passos mais tranquilos. E durante esse trajeto, por alguma razão, percebi que o rapaz assim que pode, me dirigiu uma pergunta um tanto pessoal para um desconhecido:
Desculpa te perguntar, mas vale à pena se casar?
Confesso que fiquei meio atônito a princípio, pensando o que levou o rapaz a fazer tal questionamento a um total estranho, eu. A moça que o acompanhava era linda, de longos cabelos claros e de feições finas, muito educada e simpática. A experiência com sua convivência (a qual eu desconhecia completamente) não parecia ser motivação suficiente ao rapaz para assumir um compromisso para a vida toda com ela, e pelo tom da pergunta, nem com ela nem com ninguém.
Não me lembro exatamente da resposta que dei a ele, mas disse algo sobre a experiência da vida a dois, que não é um mar de rosas mas que se seus sentimentos por ela fossem maiores do que as dificuldades que pudessem surgir, eles seriam felizes... e que eu era feliz.
Hoje, relebrando, me envergonho em certo sentido da minha resposta, pois ela ainda remetia à visão individualista da pergunta dele: sim, você pode ser feliz, casando-se você ainda pode satisfazer os seus próprios interesses.

Em vídeo de Rob Bell, encontrei uma alegoria que usei recentemente ao falar a congregações sobre a lei de Deus. Por favor, permitam-me compartilhá-la.
Imaginem um casal, cujo marido comprou lindas flores a esposa, de rosas das grandes, arranjadas num bouquet de fazer inveja, e ela surpresa e radiante pelo agrado recebido, pergunta ao amado:
-Nossa, querido! O que te levou a comprar essas flores tão lindas pra mim?
-Ora, eu sou o seu marido. Se pressupõe que eu deva fazer essas coisas...
Ou então, ele poderia ter dito:
-No caminho para cá, eu encontrei uma promoção e estavam tão baratinhas...
Mulheres, antes que vocês me crucifiquem, vou tentar novamente:
-Bem, é que eu achei que você estava precisando delas...
Calma...calma... eu sei que tem algo de muito errado nestas respostas. Tudo o que a esposa esperava do seu marido era o seu coração, numa demonstração de seu amor por ela. Mas estas respostas não indicaram isso. E as flores para ela, por mais lindas que fossem, perderam seu encanto e seu valor... já não serviam para mais nada.

Não fazemos muitas vezes o mesmo com Deus? Quantas vezes tentamos convencer a outros e a nós mesmos de que, ao levarmos "flores" a Deus, estamos fazendo o que supostamente devemos fazer? Afinal somos cristãos, não somos? Assim Ele ficará satisfeito e ouvirá nossas petições, no ledo engano de uma visão distorcida de relacionamento...
Então, Ele recebe nossas "obediências" vazias que, sem valor, já não alegram o Seu coração. E o que Deus esperava de nós... o nosso coração... bem, isso é outra coisa...
E se você pensou algo do tipo: "Mas ainda assim vale à pena, tem vantagem pra você! Você será mais feliz fazendo assim!", estes argumentos continuam sendo tão individualistas (para não dizer egoístas) que duvido que consigamos acreditar sinceramente neles como legítimos para estabelecer um relacionamento com Deus.
Tenho a impressão de que muito pouco aprendemos até aqui sobre amar a Deus, e não é à toa que o mandamento diz "de todo o teu coração,  de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento" (Mar 12:30), bem... talvez eu deva falar somente de mim mesmo.

Será que alguém pode me ajudar a aprender como amar mais a Deus? Eu realmente quero que minhas "flores" tenham valor para Ele... o meu coração.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Está tudo bem se não está tudo bem

No Brasil, o direito constitucionalmente garantido à livre manifestação do pensamento é tratado na prática como um direito de segunda classe. Um dos mais eloquentes exemplos disso é a proibição judicial que algumas celebridades alcançam para a publicação de biografias não autorizadas a seu respeito. O caso mais famoso é o do cantor Roberto Carlos, que conseguiu impedir a distribuição de uma biografia que, supõe-se, contaria como perdeu uma perna. Há algumas semanas ele ganhou o reforço para essa causa de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan, que, depois, voltaram atrás com a repercussão negativa da iniciativa.

Os argumentos contra as biografias não autorizadas me soam pífios. Fala-se que não é justo o outro ganhar dinheiro com sua vida ou que o país não está desenvolvido o suficiente para assimilar esse tipo de obra. A verdade é que há uma casta de intocáveis no Brasil, pessoas de quem só se pode falar bem. Pessoas cuja genialidade deve sempre ser exaltada, mas que não admitem ser apresentadas em toda sua falível humanidade. Eles tentam vender uma imagem impoluta que está longe da realidade.

E nesse ponto os cristãos em geral são celebridades. Eles também querem vender uma imagem distante da realidade, especialmente aos olhos dos não cristãos. Na pesquisa divulgada por David Kinnaman, que citei na semana passada, 85% dos não cristãos os vêem como hipócritas, ao passo que 47% dos cristãos, um percentual já bastante expressivo, também têm essa percepção.

Podemos relativizar as origens dela, podemos tentar deslegitimar o público pesquisado, mas dificilmente fugiremos da constatação de que alguma razão nós damos para sermos vistos como aquilo que nosso Mestre mais odiava: hipócritas. De alguma forma temos tentado vender uma imagem que, se olhada de perto, vai se revelar pura maquiagem. Afinal, o cristão precisa sempre se parecer um vencedor, alguém em paz, alguém sem grandes conflitos, sem grandes dúvidas, uma pessoa feliz e transbordante de simpatia e amor.

A saída para mudar essa percepção não é proibir biografias não autorizadas. Ou que as pessoas ao nosso redor nos julguem. A saída passa pela honestidade com nosss próprias fraquezas, pela humildade, pela tolerância e por estarmos mais dispostos a agir amorosamente do que a discursar sobre o amor (no que somos ótimos). Algumas igrejas norteamericanas já adotaram o slogan It is ok not to be ok para fomentar essa mudança.

Se ela não acontecer, que grande vantagem temos sobre os fariseus?


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Quem ama sua vida... - Parte II

Há algumas semanas estive em São Paulo a trabalho, visitando clientes e prospectando outros. Claro que também não pude perder a oportunidade de visitar alguns amigos, que sempre me acolhem quando viajo. Um destes amigos é um senhor francês, que de vez em quando vem ao Brasil, e sempre que podemos nos encontramos, pois fizemos alguns negócios juntos os quais nos permitiram desenvolver fortes laços de confiança.
Em uma lanchonete na Av. Paulista, ele foi me contando como estava sua vida, de uns percalços e outros. Depois de alguns minutos, sua companheira veio ao nosso encontro, como quem já esperasse que a conversa estivesse por terminar. Bem, na verdade ele também, mas eu me atrasei ao encontro e claro que tivemos que atrasar o assunto. Quando ela chegou, nos apresentamos e eu estava por perguntar o que eles estavam fazendo de novo, então ele deixou que ela me contasse.
Ela fotografa gente marginalizada da sociedade, gente a quem muitas vezes não queremos dar atenção, em seus habitats originais, nas ruas, nos barracos. O hobby dele desde que o conheci foi fotografar arte de rua pelo mundo (http://urbanhearts.typepad.com), grafitti ou outras técnicas, que por serem efêmeras, fotografando-as ele as eterniza em seus arquivos e eventualmente em livros de fotografia. Este hobby tem lhe dado a oportunidade de conhecer muitos, muitos artistas que há alguns anos têm mandado a ele peças em papel pelo correio para que ele as cole em paredes nas cidades pelos países que visita: Bélgica, Coréia, China, Japão, Alemanha, Brasil entre outros, e ele tem devolvido o favor com suas fotos aos artistas.
Juntos, agora porém, eles tem levado "bolhas de felicidade" aos que jamais teriam a oportunidade de apreciar arte (http://theartfabric.com), dentros de suas "casas", nas paredes da rua onde moram, nas latas de lixo ao lado de onde dormem.
Esta experiência os fez pensar até que se decidiram por uma vida bem diferente do que eles tinham levado até então, abrindo mão de confortos e conveniências pessoais para buscar mudar a vida de algumas pessoas pelo mundo, conforme foram me contando. Eu não pude deixar de me emocionar e dizer a eles: "Eu tenho inveja de vocês! Vocês perceberam e abraçaram uma missão por amor que, para eu entendê-la, levou anos e muito sofrimento, e vocês a alcançaram de um modo tão singelo...". "Eu tenho um péssima notícia pra vocês..." eu lhes disse, "vocês são mais cristãos do que imaginam!".
Eu não mencionei mas ambos são ateus, e ver lágrimas nos seus olhos ao me contarem as suas sensações ao passarem horas com pessoas em necessidade, colecionando suas histórias e buscando nos poucos recursos disponíveis como trazer pequenas bolhas de felicidade a estes seres tão humanos quanto qualquer um de nós, fez-me pensar o quanto temos falhado como cristãos, olhando para nós mesmos, buscando defender nosso "prêmio", nosso próprio interesse.

Quem ama a sua vida, perdê-la-á... (João 12:25)

A conversa com estes amigos ditos ateus - não porque sejam contra Deus mas simplesmente porque não O conhecem e porque o que ouviram falar dEle até aqui não fez o menor sentido para a vida deles - trouxe-me uma perspectiva da minha própria experiência com Deus que me envergonhou. É como se eu estivesse procurando uma resposta mas fazendo as perguntas erradas.
O que Deus quer comigo? Soa bonito perguntar isso. Eu diria que resposta é mais básica do que possamos pensar: simplesmente viver junto, pertinho, não só comigo mas com todos nós! Pode parecer ingênuo mas Ex. 25:8 e Ap. 21:3 não deixam dúvidas! A questão agora é: e eu? Quero viver junto dEle? De verdade? Ou é na promessa de vida mansa que está meu real interesse?
Por fim, nossa conversa terminou três horas depois, depois de várias histórias inusitadas de doação e senso de missão, de cristianismo e fé, de lágrimas e esperança, numa descoberta mútua do que realmente importa, do que é e sente Deus por nós, e espera de nós.
Precisamos abrir os olhos e perceber que, parafraseando Brian McLaren, talvez eles estejam mais preparados do que imaginamos, talvez mais do que nós mesmos, ditos cristãos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Minha pesquisa de mercado

Minha pesquisa de mercado sobre o que as pessoas pensam de minha igreja não teve método científico nem uma mostra estatisticamente relevante. Mesmo assim, eu a tenho em alta conta. 

Começou quando eu era ainda adolescente, no clube que frequentava com minha família (no tempo em que as pessoas frequentavam clubes). Uma amiga de minha mãe vira pra ela e pergunta: "Glícia? Você é adventista? Mas como?! Você é legal!" Depois dessa introdução bombástica, ela explicou que morava numa região com alta concentração de adventistas. Resumindo sua visão deles, afirmou que eram pessoas que não se misturavam, prepotentes e cuja grande preocupação na vida parecia ser comprar roupas maravilhosas para usar aos sábados.

Anos mais tarde assisti a uma entrevista de Mano Brown, líder dos Racionais MCs, que estudou em uma de nossas escolas um breve período de tempo. Em rede nacional ele descreveu sua impressão dos adventistas. Embora tenha usado outras palavras, ela incluía prepotência e roupas lindas.

Passam-se alguns anos mais e leio uma coluna do escritor Ferrez na revista Caros Amigos em que ele, como morador do Capão Redondo, dá sua visão dos adventistas e adivinhe?

João 13:35 afirma que o mundo conheceria os discípulos pelo amor que tivessem uns pelos outros. Roupas lindas decerto não era um elemento distintivo. No entanto, aquela amiga de minha mãe relatou uma diferença de comportamento curiosa entre adventistas e não adventistas: em frente à casa dela aconteciam muitos acidentes, ocasião em que todos saíam para ajudar, menos você sabe quem. Estes se limitavam a afastar a cortina para dar uma olhadinha.



Narrei essa "pesquisa de mercado" em uma classe de escola sabatina certa vez e fui praticamente crucificado. As roupas lindas foram defendidas com unhas e dentes. Uma das coisas que ouvi foi: "quem é Mano Brown para dizer como devemos viver?" Bem, posso responder a essa pergunta hoje: Mano Brown é parte do oceano de pessoas que temos a missão solene de alcançar. É uma parte singular desse oceano porque o tivemos nas mãos e perdemos. Você só despreza a visão dos outros sobre si próprio quando não tem como missão de vida amar essa pessoa. E este não deveria ser o nosso caso. Não se trata de conhecer a visão deles para nos tornarmos aquilo que eles querem que nós sejamos, mas para ser aquilo que nosso Mestre nos comissionou a ser. Pessoas que se importam. Pessoas que vão atrás. Pessoas que amam. Amam algo mais que suas roupas lindas.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Quem ama a sua vida... - Parte I

Nesta semana, com a família saímos de carro a uma viagem do tipo bate-e-volta no mesmo dia, 400km o trecho. Claro que, para minimizar o tédio das crianças durante a viagem, saímos bem de madrugada e com os dois pequenos (já não tão pequenos) dormindo com um Dramin cada um no banco de trás. E foi assim que, durante as quase 5 horas de viagem enquanto eu dirigia, pude meditar sobre um verso que há muito me faz pensar nas possibilidades de sentidos que Jesus quis comunicar.

Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. João 12:25
Quem ama "a sua vida"... seja "esta vida" a terrena ou a futura, amá-la significa inexoravelmente perdê-la.
Eu tenho me perguntado por quê tem sido mais importante pra nós o que fazemos no templo (construção onde se reúnem os membros da igreja, palavra comumente confundida com este edifício) do que fazemos fora dele. Explico-me, por que nos preocupamos tanto com as liturgias, as formas, a frequência de presença aos cultos, com a qualidade dos programas ali desenvolvidos, ou mais ironicamente com a gravata dos que vão à frente do salão? O que realmente estamos buscando com estas práticas? O que queremos alcançar através destes mecanismos? Por mais que esta reflexão nos doa na alma, descobrir nossas motivações revelam-nos muito sobre nós mesmos.
Uma noite, durante uma reunião de amigos a quem amo muito, um destes me abordou com uma pergunta que parecia intrigá-lo há muito tempo: "Gabriel, por que você não vai aos cultos de domingo nem de quarta-feira?". Confesso que me assustei com as possibilidades de onde esta pergunta poderia nos conduzir na conversa, considerando a diversidade de pessoas ali presentes, ao ponto de perguntar-lhe de volta: "Você tem certeza de que quer entrar neste assunto?". Esta questão é tão delicada, pois pode nos expor ao ponto de sermos incapazes de reconhecer-nos ou de aceitar nossas motivações. Por isso eu estava assustado, preocupado com as consequências dessa conversa.
Por que temos que associar o nível de espiritualidade, ou proximidade de relacionamento com Deus, com a assiduidade aos programas promovidos institucionalmente no templo? Não quero de modo algum condenar os cultos nos templos, nada de errado com eles, pois acredito que não são eles o cerne do problema IMHO, mas sim nós mesmos.
A começar pelos pressupostos da pergunta: "Por que você não vai aos cultos"... Falamos dos cultos como se fossem eventos promocionais, ocasiões preparadas para o consumo em massa de entretenimento religioso. Música, luzes, eloquência, emoção, choro, alegria, reflexão. Intuitivamente esperamos que o que ocorra ali seja de algum modo uma experiência que nos impressione, que fique um bom tempo em nossa mente como um excelente filme de sábado à noite, emocionante, imprevisível e que nos faça sentir bem.
Por favor, não quero eu julgar você, mas se os seus argumentos à pergunta do meu amigo têm algo do tipo: "Eu vou porque lá eu me alimento espiritualmente, recarrego minhas baterias, recupero minhas forças para a semana...", o culto provavelmente não parece muito diferente de um bom programa de televisão. Você foi ao culto, como se este fosse um lugar, em busca de algo para si, para receber em seu benefício, no exercício pleno do individualismo desta nossa geração.
Porém, não seria o culto algo que se presta, algo que se oferece, que se rende a Alguém? Não deveríamos ir ao templo (e não ao culto) com a expectativa mais de doarmos do que de recebermos? De nos entregarmos mais que de saciar-nos? Não estaríamos invertendo completamente o sentido das palavras para atender às nossas motivações inconscientes?
Ainda que tudo isto tenha uma nobre razão: nossa vida eterna. Não seria esta forma de pensar um reflexo do amor que temos pela nossa própria vida, ainda que seja a eterna?
Quem ama a sua vida, perdê-la-á...
O que é que não estamos enxergando? O que deixamos de ver ou perceber na nossa relação com Deus, a qual nos parece muitas vezes tão insuficiente e inconstante?
E se mudássemos intencionalmente nossas palavras? Será que este seria o início de uma mudança em nossas motivações? Esta mudança nos aproximaria mais de Deus?

Ainda tenho mais perguntas que respostas...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um método para mudar o mundo

Are they indeed?
Você pode dar de ombros dizendo que o mundo é assim mesmo ou pode fazer parte da igreja. A igreja é uma demonstração clara de que Deus não está conformado com o jeito como as coisas são. A igreja é um agente de mudanças. Pode até ser um mau agente de mudanças, pode ser até um agente ineficaz de mudanças muitas vezes, mas, desde seu princípio, é para isso que ela existe. As perguntas que nos ocorrem na sequência são: 1) quê mudanças a igreja deve promover no mundo? e 2) como ela consegue essas mudanças?

Bem, quanto à primeira pergunta, é bom considerar que a igreja age de forma bem diferente da política e da economia. Essas ciências buscam impor a mudança de forma coletiva, massificada, ao passo que a igreja foca no indivíduo. Os sacramentos da igreja são algumas vezes tomados coletivamente, mas sempre em porções individuais e o mais importante deles, o batismo, é individual, como individual é a salvação. Bem, e qual é a mudança que a igreja faz no indivíduo? Segundo o livro “Believing, behaving, belonging”, de Richard Rice, essa mudança passa por esses três elementos: a) começar a acreditar e confiar em Deus, b) se comportar de um jeito diferente e c) pertencer a uma comunidade de crentes.

Quanto à segunda pergunta, é importante notar como Cristo fazia e como nós fazemos, porque infelizmente são duas coisas diferentes. Para fazer discípulos, Aquele a Quem chamamos de Mestre chamava as pessoas para passar tempo com Ele. “venha e veja”, o convite de Filipe a Natanael (João 1:46), é a expressão exata do método de Jesus. O embrião do que mais tarde se tornou o corpo de apóstolos, o time que chacoalhou o mundo helênico e mudou a História, foi aquele grupo de homens seguindo Jesus por onde Ele ia, comendo com Ele, vendo como Ele reagia quando uma criança aparecia, observando como Ele se comportava com os líderes religiosos de então, ouvindo a base teórica de Seus atos nos Seus sermões e nas Suas conversas casuais.

O que estou tentando dizer é que Jesus começava o processo de mudança do mundo recebendo as pessoas em uma comunidade de amor e companheirismo. Era isso o que levava a pessoa a uma relação pessoal substanciosa com Deus e só então é que vinha a mudança dos hábitos e comportamentos exteriores.

Se a igreja hoje falha em mudar o mundo é porque ela inverte completamente essa dinâmica exigindo que a pessoa de alguma forma, por milagre ou por “combustão espontânea”, passe a acreditar em Deus, então mude de comportamento para só aí ser recebida na comunidade de “santos”.

Se a igreja hoje falha em mudar o mundo é por não estar de braços abertos para quem (ainda) é diferente. Ela tem perdido um tempo precioso se esforçando para parecer diferente (nós usamos uma roupa diferente em um dia diferente, ouvimos música diferente e morremos de medo de ser contaminados pelo “mundo”). Mas não faremos discípulos se não tivermos sido discípulos antes e as pessoas serão atraídas não pela roupa que usamos, mas por reconhecer que temos nos relacionado com Alguém diferente.

Que a enorme massa de almas feridas que vaga errante por esta cidade seja abrigada em uma comunidade menos propensa a julgar e mais propensa a amar incondicionalmente, para que o restante do processo tome seu curso natural.

sábado, 26 de novembro de 2011

O mistério que se torna presente

Em fevereiro deste ano escrevi um post sobre fé, e como ela estava sendo uma tremenda lição pra mim naquele momento difícil.
Quase 10 meses depois, posso escrever sobre o mistério que se tornou presente. Neste período tive a oportunidade de perceber a mão de Deus em muitas, muitas ocasiões nas quais eu achava que já não haveria mais saída... mas ele sempre manda Seu recado... nem que seja pra te puxar a orelha e te dizer
"Hei! Você não está me vendo aqui?!"
Nesta semana que passou tive que ir a São Paulo, como costumeiramente tem ocorrido 2 a 3 vezes no mês. No caminho de volta, durante o procedimento de descida do avião em Londrina, pude ver pela janela aquele céu azul azul, as casas e edifícios que compõem a cidade, entremeados de árvores e vales gramados. E os lagos refletindo o sol amarelinho de fim de tarde, mostravam a paz que se aproximava de mim dizendo-me
"Relaxa, você já está em casa de novo..."
Fazia muito tempo que eu não tinha essa sensação, a de estar voltando pra onde se pertence. Mesmo que não tenha sido o lugar onde nasci ou onde tenha vivido a maior parte da minha vida, ainda assim me senti  como quem volta ao seu pedaço. Confesso que foi estranho perceber que tal sensação tomou conta de mim, mas ainda assim a alegria de sentí-la era maior do que a falta de senso que aquela situação poderia ter para uma mente racional.
Olhando para trás, algo como uns 5 ou 6 anos, me lembro de pedir a Deus que me desse a oportunidade de viver uma vida mais tranquila, que me tirasse de São Paulo se fosse preciso, para que em família pudéssemos apreciar mais a vida. Também me lembro de questionar a Deus pelas dificuldades financeiras, e pela vontade que eu tinha de novamente ter meu negócio próprio (sim, já tive um bom negócio de 1998 a 2002), fazer e me conduzir pelo meu próprio caminho, afinal eu já tinha investido muito tempo e dinheiro me preparando para isso após alguns fracassos, mas não via como isso poderia se realizar a curto prazo.
Posso dizer que Deus reservou alguns mistérios para que agora eu os conhecesse, e perceber que Ele os estava preparando. Claro que eu digo alguns, pois tenho certeza de que ainda há muitas surpresas e tropeços pela frente, e que nada é plenamente definitivo nesta vida, a qual Deus usa para nos ensinar Suas lições.
Bem, depois do fatídico evento de fevereiro/11, em março eu recebi uma ligação de uma empresa para a qual eu já tinha prospectado vender os serviços da empresa onde eu trabalhava antes. Claro que agora a situação era diferente, mas ainda assim poderia ser uma oportunidade. Assim, fui a São Paulo (capital) pra conversar com um dos sócios da empresa. Na cobertura, no 12o andar de um edifício próximo à Av. Paulista, sentado ao lado de uma parede de vidro com vista à Av. Paulista, o sócio ouviu minhas explicações, e lhe sugeri que poderíamos estruturar uma operação em Londrina-PR para atender às necessidades da empresa, começando modestamente e crescendo conforme o ritmo do projeto. Ele se convenceu, porém ainda havia os demais sócios e diretores que precisavam ser persuadidos, e no dia seguinte conseguimos o feito. Naqueles mesmos dias em São Paulo, liguei para um velho amigo de universidade, para ver se conseguiríamos nos ver, pois fazia muito tempo desde o nosso último encontro. Logo no início da conversa ele me perguntou o que eu estava fazendo, e comentei com ele da minha empreitada que estava começando. Foi quando eu ouvi:
 "Gabriel, é exatamente disso de que estou precisando. Vem falar comigo amanhã!"
Encurtando a história, em meados de abril/11 começamos com 4 pessoas trabalhando para atender estes dois clientes. Claro que houve dificuldades nos primeiros meses, e ainda as há, mas já somos em 7 na equipe, e só não crescemos mais porque ainda não deu tempo de encontrar mais das pessoas certas para o serviço.
Mas as respostas de Deus não pararam por aí. Um amigo que trabalha numa companhia aérea me ligou em março pra saber de nós, e me ofereceu participar do programa de passagens para funcionários que ele dispõe. Isso sem contar os inúmeros convites de pernoite na casa de amigos que me evitam custos enormes com hotel na cidade mais cara do mundo.
Com tudo isso, hoje posso dizer que Deus encontrou um meio de responder minhas orações, ainda que tenha sido de uma forma tão turbulenta e assustadora, mas certamente isto me incentivou (por bem ou por mal) a aproximar-me mais dEle.
Claro que ainda nem tudo está resolvido, muito pelo contrário. Ainda tenho dívidas com o banco e com amigos pra saldar, ainda tenho que fortalecer a operação tão pequena e de tão pouco tempo que iniciamos, ainda tenho o desafio de estruturar um local físico adequado, ainda tenho muito, muito pelo que agradecer.
Contando assim, esta história parece muito cor de rosa, porém seria muito enfadonho detalhar as lágrimas que não tenho conseguido conter durante todo este processo, as horas de madrugada ajoelhado e questionando, as tantas obturações e dentes que quebrei de tanto range-los durante à noite (e pra isso Deus nos concedeu ter uma vizinha dentista muito querida), as incertezas que ainda são tão presentes em um negócio que não tem nem 1 ano de existência, o cansaço e desânimo que constantemente passam na minha frente.
Hoje vejo um pouquinho mais dos mistérios que se tornaram presentes, e percebo que ainda há muitos outros se configurando e outros por serem revelados. A princípio me parece assustador pensar:
 "E o que mais tem por vir ainda?"
Mas talvez, a beleza deste processo seja justamente o fato de que nem tudo nos é revelado para que efetivamente exerçamos nossa confiança, nossa fé em Deus, apesar de nossa cegueira dimensional parcial, onde somente enxergamos o passado e não conseguimos ver o futuro, que um dia se tornará presente, uma dádiva divina a nós, objetos de Seu amor.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Manifesto

“Portanto, meus irmãos, o que é que deve ser feito? Quando vocês se reúnem na igreja, um irmão tem um hino para cantar; outro, alguma coisa para ensinar; outro, uma revelação de Deus; outro, uma mensagem em línguas estranhas; e ainda outro, a interpretação dessa mensagem. Que tudo seja feito para o crescimento espiritual da igreja” (I Coríntios14:26, NVLH).

Procura-se uma igreja em quem não se assistam cultos, mas onde cultos a Deus sejam prestados.

Procura-se uma igreja em quem cada um de seus membros se sinta à vontade para falar, cantar, ler algo que o tocou, onde a adoração seja orgânica e coletiva e aconteça em espírito e em verdade. Uma igreja em quem o louvor seja espontâneo, orgânico, natural como respirar e onde todos tenham a oportunidade de participar, não apenas uns poucos iniciados na arte.

Procura-se uma igreja em quem seus membros tenham tanta ou mais atenção nas necessidades de seus irmãos do que na retórica do que é dito.

Procura-se uma igreja em quem qualquer pessoa seja acolhida com calor, independentemente de estar vestido conforme o padrão cultural momentâneo.

Procura-se uma igreja em quem intuitivamente se odeia a zona de conforto, a estagnação espiritual, a mesmice e o automatismo, em quem nada é feito só porque deve ser feito ou só porque está escrito em algum lugar que deve ser feito.

Procura-se uma igreja em quem a necessidade de haver ordem não seja desculpa para inibir a espontaneidade.

Procura-se uma igreja capaz de respeitar o nível de maturidade espiritual de cada membro.

Procura-se uma igreja que primeiro envolva as pessoas, para só então pontuar a centralidade do amor a Deus e só depois disso, exclusivamente depois disso, aponte para reformas comportamentais.

E, enquanto eu não encontrar uma igreja assim, serei a igreja assim.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

É pela Tua graça...

Quando ninguém me vê na intimidade,
Onde não posso falar mais que a verdade,
Onde não há aparências, onde exposto fica o meu coração.
Ali sou sincero, ali minha aparência de piedade desaparece.
Ali tua graça é o que conta, teu perdão é o que sustenta para me manter em pé.
E eu não poderia aparecer se não fosse porque sou revestido pela graça e pela justiça do Senhor
Se me vissem tal qual eu sou perceberiam que é Jesus, o que viram refletido em mim foi tão somente Sua luz.

E é pela Tua graça e Teu perdão que podemos ser chamados instrumentos do Teu amor.
E é pela Tua graça e Teu perdão,
minha justiça passa longe da Tua perfeição.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

GEA 4a Geração na TV Novo Tempo

Para quem ainda não viu... espero que vocês gostem!!

Abraços!!