sexta-feira, 18 de abril de 2008

O que é igreja afinal?

Andamos por um bom tempo falando sobre "Para que serve igreja", "Para que serve pastor da igreja", "Porque eu ainda gosto tanto de igreja", etc. Quem sabe chegou a hora de discutirmos o que é igreja afinal?

Que tal começar pelo que não é igreja?

Igreja não é o edifício, apesar de costumeiramente levantarmos sábado (ou domingo) de manhã para ir à igreja.

Igreja também não é a instituição, ou corporação, apesar de termos, quase todos, nossos nomes no rol de membros da igreja adventista etc, etc, igreja cristã etc, etc, igreja católica etc, etc, igreja de Jesus Cristo etc, etc, etc.

Melhor é que a igreja não seja também uma denominação, uma palavra chata que pode ser usada para indicar espécie monetária, uma associação talvez adequada considerando a oferta de denominações religiosas na praça. (Alguém pode achar uma denominação perfeitamente ajustada para o seu gosto, concordam?).

Lendo Paulo, o apóstolo, vejo que ele tem uma fixação. Ele insiste em chamar a igreja de o corpo de Cristo. Esta analogia é usada por ele com tanta frequência, que começou a me chamar a atenção. (Não sei quanto a vocês, mas as vezes lendo a Biblia passo pelos mesmos versos tão familiares e surrados que nem reparo no que está sendo dito de fato). A insistência de Paulo na analogia do corpo, me cativou porque ele a usa muitas vezes para muitos propósitos: defesa da igualdade entre irmãos, unidade no convívio e propósito do grupo de crentes, submissão à direção de Cristo, etc.

Mais recentemente fiquei intrigado com o que ele escreveu aos crentes em Éfeso:

"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstãncia. "

Note, a igreja, ou seja, o corpo, é aqui chamado por Paulo de "o complemento", ou a "plenitude" de Cristo. Sem a existência da igreja, Cristo está aleijado na presença de todos; sua presença não é plena. Até arriscaria dizer que sua própria existência não é plena ou completa na realidade deste mundo. Essa comunidade de crentes que é chamada de igreja, que desejamos (ou não) fazer parte, deve ser isso ai: a extensão de Cristo, quase que literalmente, neste planeta.

Essa visão parece verdadeiramente ausente na arena religiosa de hoje. Apesar do discurso no palanque, dificilmente os olhos crentes ou ateus miram um grupo de cristãos esperando ver os braços do Cristo, ou seus ouvidos, ou lábios. Ainda bem, pois quase certamente veriam um Cristo anêmico, epilético, e aleijado.

5 comentários:

Gabriel Henríquez disse...

Ampliando um pouco mais os possíveis contra-exemplos que você apresentou, poderíamos ser tentado a dizer que "os cristãos" são "a igreja". Porém, o que me incomoda neste caso, é que a definição "cristãos" é tão ampla que parece até uma classificação involuntária, do tipo "associação dos ex-alunos", uma vez formado, seu nome está já na lista, mesmo sem você saber ou querer. Quais seriam as outras opções que poderiam vir a definir o "corpo de Cristo"?

cibele disse...

É, Gabi, depois que eu li o livro "A assinatura de Jesus" de Brennan Menning (recomendo) percebi o quanto estava ajudando a desvirtuar o título de "cristão".

Porque ser cristão não é apenas um conjunto dessas coisas confortáveis e socialmente agradáveis que fazemos, nem aquele bando de coisas chatas que alguns de nós não nos dispomos mais a fazer num local chamado igreja...

Ser cristão, ser como Cristo, por mais óbvio que pareça, quer dizer só pra começar: amar as pessoas, respeitá-las e querer a salvação de cada uma delas tanto quanto queremos a nossa mesma (ou mais?), sem distinção... é fazer onde estivermos, o mesmo que Jesus fazia: viver para esse propósito, ser totalmente motivado por ele, pura e simplesmente - e TODAS as outras coisas (o prédio, a comunidade, os rituais) seriam apenas formas de expressar esse propósito... totalmente secundários...

Klebert disse...

Gabi, que tal definirmos o corpo de Cristo na terra como sendo composto por aqueles que fazem as ações que Cristo faria se estivesse no lugar deles. Será que isso quer dizer que o corpo de Cristo é um conjunto de elementos indeterminado, a tal da igreja invisível? Mesmo que a resposta seja afirmativa, o meu ponto é: Paulo dirige sua mensagem para os crentes, ou ouvintes da palavra. Sendo assim, somos chamados a fazer parte do corpo e desempenhar a função de ser a própria extensão de Cristo na terra, o seu corpo.

Marco Aurelio Brasil disse...

"If we are the body..."

Gabriel Henríquez disse...

Estou lendo o início do "Pagan Chistianity?", de Frank Viola. São impressionantes algumas das afirmações que ele faz, apesar de algumas colocações eu ainda não as ter checado completamente na Bíblia, a afirmação de que "ekklesia" são as pessoas, e não a construção ou o imóvel ao qual hoje chamamos de "igreja", muda a compreensão de várias passagens...
Isto nos torna mais responsáveis sobre aquilo que chamamos de igreja, ou seja, nós mesmos... uns para com os outros.