domingo, 18 de maio de 2008

Um pouco de partilha...

Estou lendo um livro o qual me foi recomendado por alguns amigos que aqui nos acompanham, cuja resenha na internet me motivou a comprar 3 exemplares: "Pagan Christianity?" de Frank Viola e George Barna, caso mais alguém por aqui se interesse (o Fred foi um deles).
Até onde tenho lido (basicamente a primeira parte dele), o mesmo tem apresentado uma visão histórica interessante da origem de algumas práticas que temos nas igrejas cristãs em geral, seja no formato dos programas, na estrutura organizacional, nos costumes, ou mesmo na arquitetura de seus edifícios. Nesta parte do livro há um especial destaque à influência de Constantino, imperador romano no início do século IV, e à cultura Greco-romana da época.
Comentando sobre este livro com alguns mais chegados, recebi um questionamento que me fez pensar:
"O que você está buscando ao ler este tipo de livro? Não estará trazendo mais sarna pra se coçar?"
 ... a pertinência desta pergunta me fez refletir sobre a minha motivação ao buscar este tipo de informação, e questionar alguns paradigmas que naturalmente vim assimilando durante a minha vida religiosa.
Recentemente tenho observado (e até sido parte de) alguns problemas de relacionamento pessoal dentro da comunidade que freqüento. Incrível, mas sabidamente isto é coisa comum dentro de comunidades, e acredito que - sem razões muito claras - ainda mais na denominação a que pertenço. Fiquei me perguntando o porquê desta triste realidade... eu poderia até elencar algumas razões para isto, sem acreditar que todas estejam certas... mas acho que não vale a pena entrarmos nesta seara... mas ainda assim: o que poderíamos fazer em nossas comunidades para mudarmos esta realidade? O que deixamos de aprender ou a que nunca demos a devida atenção e conseqüentemente tem nos feito cair em situações tão reprováveis? Alguns poderiam dizer:
"Isto é a nossa preparação para o céu! Suportai-vos uns aos outros!"
Confesso que tenho dificuldade de acreditar nisso, pois esta afirmação parece implicar em que nada podemos fazer a respeito destas questões relacionais, e que somos obrigados a conviver passivamente com elas, como se elas "viessem no pacote".

Fiquei me perguntando quando em minha vida tive uma experiência que nos permitiu trabalhar para Deus, e conseguimos conviver minimamente com este tipo de situação... uma das poucas para mim, e talvez a única consistente, tenha sido a que vários de vocês também compartilharam conosco nos dias de universidade... mas então, qual é a diferença ou as diferenças em relação às comunidades que freqüentamos hoje? Nossa vida menos responsável da época? Nossa imaturidade coletiva no desenvolvimento do trabalho para Deus? Uma expectativa descompromissada?
Relembrando estes tempos, acredito que perdemos uma grande oportunidade em não termos criado nossa própria comunidade durante aqueles anos... claro que a nossa então imaturidade não nos permitiu desenvolvermos mais essa idéia, que já vinha sendo acalentada por alguns de uma geração anterior. Mas quais teriam sido os resultados? Será que fatalmente cairíamos nos mesmos erros e teríamos os mesmos problemas relacionais com os quais atualmente convivemos tão naturalmente em nossas comunidades? Talvez outras experiências semelhantes a esta imaginada poderiam nos mostrar que existe a possibilidade de uma realidade diferente para nossa experiência religiosa (Klebert e Lilian, vocês não gostariam de compartilhar um pouco disto conosco?).

Voltando ao nosso ponto inicial, qual é a motivação para olharmos na história e entendermos o que aconteceu conosco cristãos? Talvez seja a esperança de encontrarmos alguns fatores que nos permitam modificar nossa atual realidade e transformar nossa experiência religiosa coletiva em algo mais próximo do que Deus espera de seus discípulos (Jo 13:35). É incrível como negligenciamos o Grande Mandamento (Mar 12:30-31; e não me refiro à parte a qual Deus está envolvido diretamente) em prol da segurança de nossos sentimentos, de evitarmos enfrentar nossos medos e de até protegermos nossos interesses pessoais. Isto me lembra uma citação de C. S. Lewis (sim, o mesmo autor de "Mere Christianity" e "Contos de Nárnia"):
“To love at all is to be vulnerable. Love anything, and your heart will certainly be wrung and possibly be broken. If you want to make sure of keeping it intact, you must give your heart to no one, not even to an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements; lock it up safe in the casket of coffin of your selfishness. But in that casket – safe, dark, motionless, airless – it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable… The only place outside Heaven where you can be perfectly safe from all the dangers… of love is Hell.”
Por isso, eu penso que se tivéssemos a chance de fazermos diferente as coisas em nossa experiência religiosa (e isto requer o Grande Mandamento como um todo!!), não seria mais fácil a Deus "ir acrescentando, dia a dia, os que iam sendo salvos"(At. 2:47)?
Sou capaz de dizer que eu estaria disposto a me arriscar e tentar tudo novamente, e sem alardes, tentar fazer diferente: algo menor, menos pretensioso, mais discreto... e buscar criar condições onde um ambiente mais orgânico (veja autores como Joseph Myers, Frank Viola e Brian McLaren para definições mais abrangentes) possa se desenvolver e pessoas (e eu me inclúo) possam conviver, compartilhar, trabalhar e crescer espiritualmente, muito além do que temos conseguido alcançar até hoje.

Será que estou sonhando demais? Por favor, me digam com toda a franqueza!
Bem, mas se existirem mais sonhadores por aí... que Deus nos abençoe a todos...

5 comentários:

L disse...

AMÉM!! Espero ter mais tempo para comentar com mais calma, mas por enquanto é isto que quero dizer, Amém!

cibele disse...

Gabi, preciso comentar isso com calmaaa! Mas essa "nossa" comunidade já existe, pena que é virtual! rsrs...

Marco Aurelio Brasil disse...

Gabi, meu véio, o dilema é: fazer uma comunidade do jeito certo quando encontramos problemas na velha e vergastada comunidade (nem que, no seu caso, não seja nem tão velha nem muito menos vergastada) não parece escapismo? Lendo o seu post lembrei do tempo em que eu liderei (embora à época nem me desse conta do fato) uma pequena comunidade que se reunia nas noites de sábado. Ali, nunca ninguém foi repreendido pela roupa que usava, pelos adornos que penduricava ou pelo que fazia quando a reunião terminava, embora em meu íntimo algumas dessas coisas me afligissem. Olhando assim, parece que essa comunidade tinha aquela atmosfera de graça (que às vezes é só tolerância) que uma igreja deveria ter. E, quando alguns me procuravam reclamando que deveríamos barrar algumas pessoas, porque já tinha gente demais e as reuniões estavam um pouco desfiguradas, eu me recusava, pois como vamos restringir o que queremos que o mundo inteiro viva?
Mas o fato é que aquela era uma comunidade informal, desejosa de crescer e marcar vidas. As igrejas que temos aí já cresceram e marcaram vidas (continuo)...

Marco Aurelio Brasil disse...

Agora, elas vivem para preservar o que alcançaram e só num segundo momento crescer e marcar mais vidas. Se fizermos uma nova comunidade, como tantos outros já fizeram antes de nós, não chegaríamos a um momento de ter que preservar nossa imagem perante a sociedade, nossas instituições, nossos prédios (ainda que eles não sigam o padrão inspirado por Constantino, etc)?? Essa minha pergunta revela algum conformismo? Quem matou Odete Reutman? A resposta a essas e outras perguntas eu confesso que não tenho.

Gabriel Henríquez disse...

Querido Marcão... confesso que você tem me feito consultar mais o Wikipedia do que de costume...heheheh
Eu também não tenho respostas para as perguntas que você colocou, mas talvez um brainstorm poderia nos ajudar a chegar a algumas conclusões (mas não faço a menor idéia quem matou Odete Reutman).
Concordo com você quanto ao risco de fazer uma nova comunidade: cair nos mesmos erros, preservar o que era novo e que já ficou velho, sustentar uma "imagem perante a sociedade" (seja lá o que sociedade significa neste contexto). Não seria que este risco também advém do fato de que somos as mesmas velhas pessoas - com nossos ranços, valores e costumes herdados - tentando fazer algo essencialmente novo? Provavelmente isto nos levaria a um conflito interno, a termos uma constante tendência a voltarmos aos velhos valores em vez de nos mantermos nos objetivos originais. Não seria isso o que aconteceu com aqueles que tentaram e fizeram antes de nós? Como evitaríamos esta situação?
Voltando ao teu comentário, o que você quis dizer com "segundo momento"?