terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Por que ser adventista?

Esta é a primeira pergunta de um livro escrito pelo Dr. George Knight que acabei de ler. O livro, The Apocalyptic Vision and the Neutering of Adventism, foi lançado recentemente pela Review and Herald e é considerado pelo próprio autor como o mais importante de sua carreira. Sendo um admirador do estilo e conteúdo dos livros do George Knight, mal pude esperar para por as mãos no livro e começar a leitura, especialmente com a motivação de estar lendo seu mais importante livro. Não fui decepcionado.

O estilo controvertido e incisivo de George Knight pode ser notado já no título. Para quem não sabe, a palavra neutering em inglês significa castração, ou esterilização e é normalmente aplicada a animais domésticos. Ele continua neste livro com suas tiradas irônicas e debochadas do adventista conservador e rabujento alvo de duras reprimendas em publicações anteriores. Porém, volve a sua mira também para o adventista moderno e 'sofisticado', que já não mais se identifica com as raízes proféticas do movimento, e para quem o pequeno livro dirige a maioria de suas mensagens.

No primeiro capítulo, Knight contextualiza sem preâmbulos o tema, expondo a questão da relevância do adventismo no século XXI. Em sua opinião, a abordagem politicamente correta do evangelho, que evita o tema apocalíptico e a sua herança histórica, em companhia do que ele chama de "pregação bestial", ou seja, obsecada com simbolismos apocalípticos, estão "castrando" o adventismo contemporâneo tornando-o literalmente improdutivo, o que pode ser visto no baixíssimo número de novos conversos nos países desenvolvidos. Ele defende que uma pregação balanceada da mensagem do Cordeiro-Leão da tribo de Judá, o autor e figura central do Apocalipse, pode tornar o adventismo produtivo novamente.

Dentro deste contexto, Knight embarca em uma breve, mas excelente revisão histórica do adventismo e suas raízes proféticas. Sua análise indica que o principal problema do Adventismo--o fato de que Jesus ainda não voltou--trás consigo uma gama de dificuldades para quem tem pregado por quase dois séculos a breve volta de Jesus. Defendendo uma visão global do Apocalipse ao invés de uma apresentação minuciosa dos simbolos proféticos, George Knight admite que seu maior problema com o apocalipse não está na interpretação historicista, nem no princípio dia-ano, nem nos temas do grande conflito, do remanecente ou mesmo da purificação do santuário, mas no ensino Adventista tradicional do Juízo Investigativo, onde conceitos não bíblicos de pecado e perfeição tem levado a um sentimendo de medo, temor e insegurança.

Subsequente à apresentação da sua visão global, George Knight ataca o que ele chama de "pensamento linear", defendido por adventistas que advogam a impossibilidade de um término abrupto para a história humana. Baseando-se em exemplos históricos tais como 11 de setembro ou a ascenção de Hitler, ele defende que a mensagem apocalíptica da queda de babilônia em "uma hora" é mais do que plausível, é presente, e mais do que nunca relevante. Neste contexto, o Apocalipse apresenta não somente o inescapável fim de todas as coisas, mas a única solução definitiva para os problemas da humanidade.

A visão evangélica da prática da justiça social em detrimento da mensagem escatológica defendida por uma crescente parcela de adventistas contemporâneos é tratada no contexto das narrativas proféticas dos evangelhos. Em sua abordagem, Knight aponta que Jesus não fez o foco do seu ministério a "justiça social", apesar de praticá-la e não negar a importância da mesma. Porém, o tema da justiça social está conjugado aos eventos escatológicos na parábola das ovelhas e dos bodes em Mateus 25:31-46, onde a prática da religião verdadeira está associada à guarda do segundo grande mandamento. Sendo assim, alimentar os pobres e cuidar dos doentes é de fato um aspecto fundamental do panorama profético.

George Knight conclui propondo um renovação da mensagem apocalíptica para Jesus nossa única esperança, que pode restaurar a 'virilidade' da mensagem adventista e a razão de ser adventista.

Ao concluir a leitura, fiquei matutando no paralelo entre o tema final do livro e o slogan de campanha do atual presidente Obama: HOPE. Será que nós adventistas poderíamos nos tornar relevantes retornando ao Apocalipse sem cair na tentação de propagar um alarmismo vazio e barato? Talvez a resposta esteja em outro slogan da campanha: Yes, we can!

10 comentários:

Lilian disse...

(novo post, resenha de livro escrita pelo Klebert).

Mal posso esperar para ler, ainda bem que vc ja terminou!

Osmar disse...

Olá Klebert,

Gostei da resenha do livro que vc fez. Hoje eu não quero falar muito, mas apenas dizer, que mesmo aqui, me parece que teorizamos mais que fazemos. Penso que esse livro pode dar um cutucão nessa nossa lerdeza religiosa, o que acho que a forma da igreja faz conosco, nos tornando passivos em relação à religião.

Abraços

Marco Aurelio Brasil disse...

Catzo, eu quero isso! Por favor, qdo vierem por aqui, avisem pra eu comprar e mandar entregar na Robin Hood Lane, ou Linda Lane, whatever!

Fred Torres disse...

..me parece que teorizamos mais que fazemos [2] (já tava achando que era encasquetação minha com o mundo... se alguém mais acha, fico feliz)

Eu quero isso! [2]

Ricardo Nicotra disse...

De fato a exagerada ênfase na brevidade da volta de Cristo e nos simbolismos proféticos trouxeram grande lucro para a Igreja Adventista em termos de adesão de novos membros. Dificilmente terminavam sem batismos as séries de conferências que mostravam quem era a besta do Apocalipse, enfatizavam o decreto dominical promovido por Roma e apresentavam a perseguição sofrida pelos justos seguida da destruição total dos ímpios (tudo ilustrado com as impressionantes coleções de slides que preenchiam quase que totalmente o carrossel do projetor).

Mas este tempo já passou. As pessoas já perceberam que o conceito de brevidade é relativo. O que é breve para Deus pode não ser breve para nós. "Jesus em Breve Voltará". O que é breve? 5 anos? 50 anos? 1000 anos? Após quase 200 anos pregando que Jesus em breve voltará, parece que agora os adventistas começam a se preocupar com aspectos práticos da religião. Saber o que representam os 24 anciãos ou as 7 trombetas não é mais importante do que participar ativamente na construção de um mundo mais justo, mais solidário, onde as pessoas são mais importantes do que a doutrina da igreja (ou as interpretações proféticas da igreja).

Com o abandono desta ênfase na brevidade da volta de Cristo e da ênfase nos simbolos proféticos fico me perguntando: Qual é o diferencial da igreja adventista em relação às outras igrejas? Só a mensagem do sábado será forte o suficiente para atrair novos membros?

Amplexos...

Junior disse...

As vezes as pessoas se confundem e são levadas a pensamentos do Tipo EU ACHO, ha uma condição para Jesus voltar, o Evangelho do Reino deve ser pregado em TODO o mundo.
E ja temos 92% dele pregado para os que são realmente adventista, colocamos a prova a Biblia e logicamente todas as religiões, pois se todas as cidades tiveram adventistas, e Jesus nao voltar, terá acabado com tudo.
Darwin estaria certo, e toda a razão de existir de respeitar uns aos outros, seria abalada, poderiamos puxar o tapete sem qualqur receio de perder algo que nunca ninguem viu, mas que pela Fé, se acredita existir.
Sou Servo de Deus, e sou Adventista por ver que é a unica que segue as Leis e repeita as Ideias com base nos textos sagrados. Exatamente por ir na contra-mão onde o comodismo e "se falar de Deus pra mim está bom", que hoje impera no mundo, sei que Darwin nao está certo pois se somos evolução, se ele estivesse vivo, voltaria ao quadro negro para refazer a formula, mas na Biblia diz que o Homem será cheio de si, com o avanço da ciencia, jactancioso, amante dos prazere que o as coisas de Deus, nao que nunca tivesse, mas que isso se agravaria de tal forma a esfriar o amor do coração. 4 profecias se cumpriram, O sol escureceu 19 de maio, a lua ficou vermelha como sangue, as estrelas cairam, e as aguas avançaram, falta so o evangelho no mundo agora que ja está chegando ao fim. Nao dou mais que minha geraçaõ.

cibele disse...

Dois meses depois eu li... mas não tô com tempo de comentar...
Só digo que também quero!

Neidinha! disse...

Muito bom,to doida pra lêr, Jesus Cristo como nosso Unico salvador, essa deve ser nossa menssagem hoje!

Adailton Pirôpo disse...

Deve ter sido recomendado pela igreja adventista se não você não teria lido. Deve ser muito triste não ter opinião própria a respeito do que quer que seja, de não poder pensar por conta própria e de não poder ler o que se quer, só o que é recomendado por essa igreja. Já fiz parte dessa seita. A deixei porque estava me tornando um alienado mental como a maioria de vocês são.
"Amar a Deus e ao Próximo..."
O resto é conversa de Adventistas que se julgam donos da verdade e até donos de Deus.
Opinião própria e formada por Adailton Pirôpo - Salvador, Ba

Gabriel Henríquez disse...

Olá Adailton,
Eu lamento que você tenha sido ferido pela comunidade adventista com a qual você se relacionou. Infelizmente conheço várias pessoas que de alguma forma sofreram como você, por abuso da liderança de suas igrejas ou por atitudes de alguns "zelosos" que passaram muito do ponto. Sim, estes também erraram.
Mas por favor não julgue pela sua triste experiência a dos demais que participam neste blog. Se você tivesse a oportunidade de conhecer realmente cada um dos que aqui contribui, eu tenho certeza que você mudaria de idéia quanto aos seus comentários, e ficaria feliz em perceber de como estas pessoas são isentas e livres em suas colocações, característica que muito valorizamos neste grupo, cuja experiência espiritual em comum foi muito além de um convívio semanal institucional.
Fique à vontade, e leia os posts do ano passado, ou dos anteriores, e certamente você compreenderá do que estou falando.
No mais, agradeço tua participação, e oro para que as cicatrizes que você recebeu possam não doer mais, e que você encontre uma comunidade cristã, seja lá de que denominação for (aliás, eu prefiro as que não tem denominação), que te demonstre o amor de Deus através dela.
Forte abraço!