sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sistema de consumo

Olá amigos,
Este sábado tive a feliz experiência de acompanhar nosso amigo Marcão em sua classe da ES. Como foi bacana ver em alguns que ali estavam a expressão, nas palavras compartilhadas, de uma busca por uma religião mais genuína e relevante à nossa vida.

Pensando mais sobre este assunto, lembrei-me de um post que encontrei há meses atrás num blog, cujo autor chamado Paulo Brabo eu desconheço completamente, e cujas palavras me fizeram refletir mais recentemente sobre a minha relação com a igreja institucionalizada, e também agregam um pouco mais de pimenta às discussões que temos tido aqui.
Tomo a liberdade de transcrever abaixo um trecho que me pareceu central à sua ácida discussão, cuja leitura completa eu mais do que recomendo. Aliás, creio que uma análise crítica sobre o post aqui citado pode por uma boa dose de reflexões e discussão neste nosso contexto.
Bem, aí vai o trecho e o post está nos links dos parágrafos acima:
"As pessoas que consomem igreja não têm em geral qualquer consciência de que estão se dobrando a um sistema de consumo, mas as evidências estão ali para quem quiser ver. A igreja não é um lugar a que se vai ou um grupo de pessoas que se abraça, mas uma marca que se veste, um produto que se consome continuamente. Tudo de bom que costumamos dizer sobre a igreja reflete, secretamente, essa nossa obsessão com o consumo – “o louvor foi uma benção”, “o sermão foi profundo”, “o coro cantou com perfeição”, “a palavra atingiu os corações”, “Deus falou comigo”. Em outra palavras, tudo que temos a dizer sobre a experiência da igreja são slogans. Na qualidade de consumidores, o que fazemos é retroalimentar nossa dependência, promovendo continuamente nosso produto na esperança de angariar mais consumidores e portanto mais legitimação." Paulo Brabo
O que acharam de suas idéias?

9 comentários:

Gabriel Henríquez disse...

Usando o artifício que a Lily sugeriu anteriormente...
Pessoal, tem post novo no pedaço!!
Abração a todos!!

Marco Aurelio Brasil disse...

A ver se entendi: pelo fato de a descrição do impacto que cada porção de um culto tradicional ser meio que padronizada em clichês, o autor conclui que a relação das pessoas com a igreja é uma típica relação de consumo?
Bem, só se ele fundamentar muito bem isso no resto do post, que eu infelizmente não consegui ler.
Quanto à questão da legitimação, o autor parte do pressuposto de que a igreja é uma construção cultural completamente à revelia de Deus. Mas se Deus é o pai dela, não faz sentido buscar mais pessoas para legitimar meu "consumismo", como se o fato de ver mais gente chegando me deixasse tranquilo quanto a estar no barco certo. Buenas, vi mais ácido que conteúdo, aí.

Gabriel Henríquez disse...

Oi Marcão,
Boa análise... vale, qdo vc tiver um tempo, ler o post todo pra conferir.

Talvez, retirar um ponto central do post não tenha sido a melhor estratégia para suscitar a curiosidade sobre todo o artigo...

Quanto a legitimação, a construção cultural a que você se refere é a "instituição igreja", a qual o autor critica, certo?

cibele disse...

Eu li o post citado inteiro, e realmente é interessante, diria até "inegável".
Mas eu continuo não conseguindo negar que Deus se manifesta também nessas instituições tão defeituosas, em toda parte, não importa a "embalagem" que tenham. Circulo por várias delas, e sempre aprendo alguma coisa.
Como igrejeira de carteirinha desde criança, acho um progresso que ultimamente eu esteja realmente me preocupando mais com viver de verdade tudo aquilo que dizemos, cantamos e estudamos na igreja do que em fazer aquela "empresa" funcionar.
Mas até isso eu aprendi ali...
Enfim, sim, estamos vulneráveis a esse "consumismo vazio", mas eu pelo menos tento ter um "consumismo consciente"...

Gabriel Henríquez disse...

Não fosse esse instrumento, provavelmente nenhum de nós estaria aqui hoje... não que isso dê completa legitimidade à prática religiosa deste atual instrumento, mas Deus continua escrevendo, e conduzindo-nos em Sua vontade, apesar de nossas linhas tortas...
Sobre o consumismo, creio que ele se manifesta não pela prática religiosa da instituição eclesiástica, mas sim em nossa atitude perante o que ela produz (ex: programas), como se não tivéssemos nenhuma responsabilidade ou ação sobre o processo. Talvez nossa maneira de encarar a própria prática religiosa tenha reforçado esta atitude consumista em nós mesmos.

Lilian disse...

Achei interessante o ensaio do tal Paulo Brabo. A parte que me chamou mais a atenção é a seguinte: "De minha parte, vejo a igreja institucional como um refúgio construído por mãos humanas para nos proteger das terríveis liberdades e responsalidades dadas por Deus a cada mortal e que Jesus desempenhou de modo tão espetacular. Por outro lado, talvez esse refúgio seja ele mesmo o inferno."

Interessantíssima esta visão da igreja como um refúgio da necessidade de sofrer todas as consequências do livre-arbítrio dado pelo criador. Achei interessante quando ele falou também do "bom-mocismo" dos frequentadores de igreja. Este parágrafo que citei é perfeitamente exemplificado na atitude de várias pessoas na nossa igreja atual -- apavoradas com as influências do mundo e buscando à todo custo bani-las de dentro da igreja (nem que se precise banir pessoas "perniciosas" da mesma).

Quanto à visão global de Bravo, eu não concordo muito não. É uma maneira bem restrita de analisar a igreja, por apenas uma lente, e há muitas outras "lentes" e jeitos de desconstruir as instituições religiosas. Tachar tudo de consumismo me parece muito simplista, mesmo porque há muitas pessoas que estão ainda na igreja por causa da convivência com pessoas que tem a mesma busca e desejo de interagir com Deus e umas com as outras. Enfim... interessante, mas não "compro" assim a idéia tão facilmente. :-)

Klebert disse...

Sem dúvida o Brabo tem alguns passagens bem lúcidas em sua confissão. Algumas das reflexões não são novidade, como por exemplo que ir a igreja não garante salvação a ninguém. Eu me indentifiquei com a passagem onde ele contrasta o bom mocismo do cotidiano da igreja com o desarranjo das vidas vividas fora dela. A contastação apenas reforça alguns aspectos da vida social na igreja: é mais fácil 'converter' e consequentemente conviver com aqueles que são parecidos conosco...

O problema da igreja porém é mais complexo do que a simples leitura feita através do prisma do marketing. Questiono inclusive se a igreja foi a primeira a promover com sucesso as idéias de consumo, como o autor do post alega. Ao meu ver, a igreja normalmente se molda aos costumes correntes. Se fosse o contrário, terímos mais sucesso em influenciar a sociedade com a ética cristã.

Em suma, o questionamento é mais institucional do que fundamental. Assim pergunto: se a fé não é o problema, o que faremos com a instituição? Imagino que a instituição foi criada com um propósito. Qual seria este? Vale a pena reformar a instituição? Como substituí-la sem anular o propósito para o qual ela foi criada?

Anônimo disse...

Sinceramente li o post todo e achei qu eo auutor tem mágoa de miguxo enrustida.

É óbvio que a instituição da igreja tem defeitos, assim como qualquer instituição ou organização religiosa ou não.

A desinstituicionalização é totalmente utópica. Impossível. Como manter o foco em uma missão, em pessoas, ou em uma mensagem sem ela? A instituicionalização da igreja aconteceu justamente porque antes disso, o foco estava se perdendo e a mensagem estava ficando cheia de heresias.

Osmar disse...

Bom, gostei muito do post do cara aí que escreveu isso. Externou uma angústia que eu acho que muitos de nós temos.
Tem dias que eu penso que essa angústia só apareceu quando decidimos escolher a pílula vermelha (Matrix, pros desavisados).
Penso também que há espaço para os que voluntariamente ou não escolheram a pílula azul. Muitas vezes queremos colocar uma fórmula religiosa para todas as pessoas, como se realmente fôssemos uma grande massa. Para a massa igrejeira isso até pode funcionar, mas há pessoas que isso não funciona e se tornam por isso incompreendidas. Vejo que a cura religiosa da Maria (a do perfume) foi muito diferente que a do Simão, e Jesus lidou de forma diferente na mesma situação, para a mesma salvação, mas com estratégias diferentes, formas diferentes.
Bom, devaneei um pouco, mas sabemos que a vida real, com seus pecados e perdões ocorre muito mais na vida por aí, fora dos muros das igrejas.

Abraços