sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Keep walking

Em menos de um mês completo 37 aninhos. Analisando o fato desapaixonadamente e considerando a expectativa média de vida em meu país, isso indicaria que eu já passei da metade de meu percurso nessa Terra ou estou bem perto dela. Como quer que seja, fato é que eu já sou grandinho, mas “ser grandinho” é radicalmente diferente da forma como eu imaginava que seria quando eu ainda não era.

Dizem que há uma crise na aproximação dos 40. É o período em que geralmente os cabelos brancos se multiplicam, a calvície se impõe sobre qualquer forma de penteado que você tente, você já está exercendo sua profissão há algum tempo e já está casado com a mesma mulher também há algum tempo. Possivelmente por isso seja normal eu me espantar em me ver, aos 37, de forma tão diversa da que eu imaginava há quinze anos. É que eu imaginava que a essa altura do campeonato eu teria alcançado a glória profissional, estaria completamente estável e viveria num tranquilo navegar, sem grandes dúvidas, sem grandes encruzilhadas.

Há quinze anos ou mais eu ainda tinha que escolher que profissão exercer e com quem casar, e me angustiava com as muitas opções perguntando a Deus por que razão Ele não me revelava logo como seria meu futuro para eu poder me preparar adequadamente para ele e para não ter que escolher às cegas, como parecia que eu estava fazendo. Eu olhava, então, para os quase quarenta como uma fase da vida sem esse monte de dúvidas e angústias, eu olhava com inveja para os anos que agora vivo.

Mas a realidade é que continuo cheio de dúvidas. Não existe um só santo dia em que eu não me questione se estou empregando meus esforços e meu tempo em algo que realmente seja digno disso. A possibilidade de mudar radicalmente de profissão ainda existe. Meu irmão mais velho, por exemplo, num salto de fé e coragem que eu admiro, acaba de reduzir seus atendimentos no consultório odontológico para estudar medicina. Enfim, a vida ainda me reserva encruzilhadas, decisões a tomar, o tempo todo.

Quando mais jovem e petulante, eu desconfiava seriamente dos que diziam que há certas coisas que só aprendemos com a idade. Bem, a humildade é outra dádiva dos meus quase quarenta. Só agora eu reconheço que Jesus não está preocupado com essas decisões “para a vida toda”. Ele não nos aponta um caminho quilométrico, apenas diz: “vem, segue-me”. Ou seja, Ele apenas aponta o lugar onde devemos colocar o pé no próximo passo. Não existe um momento em que podemos colocar nosso carro no ponto morto e dormir. “Levantai-vos, e ide-vos, pois este não é lugar de descanso” (Miqueias 2:10). Ainda não chegamos no lugar onde podemos simplesmente relaxar. Teremos decisões a tomar a cada dia, a cada hora.

Angustiante? Não, não, longe disso. Ser confrontado com tantas decisões não me angustia mais. Primeiro, porque tenho um caminhão de gratidão pela forma como Ele até aqui me guiou. Em segundo, porque não há angústia quando temos um Guia confiável a Quem seguir. Tudo o que temos a fazer é não perdê-lO de vista. Aos quarenta, como aos 10 ou aos 20 ou aos 80, tudo o que precisamos fazer é aprender a confiar. E continuar andando.

5 comentários:

Marco Aurelio Brasil disse...

Gabi, provavelmente você não vai reconhecer, mas escrevi esse texto agora, dez minutos depois de terminar de ler o "Por que você não quer ir mais à igreja".

Anônimo disse...

Um texto num momento bem oportuno para mim. Tenho 21 anos e no olho do furacão das principais decisões da vida.

Kierkegaard desenvolveu o tema da angústia na vida cristã, mas só se entende do que ele fala passando pela experiência.

Eliana de Castro disse...

Indicaram-me este texto. Estava falando disso com uma amiga. Linda mensagem. Linda mesmo.

Gabriel Henríquez disse...

Como não vou lembrar daquela conversa à noite em sampa?! Como não vou me lembrar de como esta angústia está sendo comum a vários de nós... inclusive constatamos isto naquela noite! Espero que você tenha gostado do livro...
Um grande abraço a você, e aos que nos acompanham por aqui: Paulo e Eliana, por enquanto.

L disse...

Ah meu amigo, tão mais "novo" do que eu (apenas 2 anos)... Sinto as mesmas coisas, principalmente porque no nosso caso, estamos praticamente começando as nossas carreiras profissionais só agora. Uau, corajoso mesmo o seu irmão!