quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

tem coisa mais na contra mão do que isso? rs


Religião, ideologia e escola
Considerações sobre o ensino religioso, o acordo firmado entre o governo brasileiro e a Santa Sé e algumas implicações para a cidadania e a educação no Brasil
 
Roseli Fishmann


Temas complexos, escola, religião e ideologia, quando entrelaçados, podem gerar misturas explosivas, como a história já demonstrou. Governos totalitários e autoritários, em geral, buscaram na religião um apoio aos processos de manipulação de consciências. Melhor seria dizer que esse apoio foi buscado não exatamente nas religiões, mas nas instituições religiosas e, sobretudo, em autoridades estratégicas dessas instituições. De um lado, o mero e simples interesse humano e terreno pelo poder e suas benesses. De outro, argumentos que invocam o inefável e o intangível, como modo de arrebatar corações e mentes.

A formação de verdadeiros exércitos, prontos ao sacrifício, enquanto entregues às ordens arbitrárias do soberano, ele próprio aparentemente investido, então, de um poder transcendental, conforme atribuído por seus aliados religiosos, autorizou das torturas e matanças, na Inquisição, ao apoio às ditaduras recentes, na América Latina.

Como as instituições religiosas, independentemente de suas doutrinas, são organizações humanas complexas, surgem também, em seu interior, simultaneamente, oposições a semelhantes processos de aderência a governos totalitários e autoritários. Houve na Inquisição quem rejeitasse as práticas, e fosse igualmente sacrificado, como também se encontraram em instituições religiosas alguns dos mais significativos pilares da resistência às ditaduras e de ativa reconstrução democrática recente na América Latina.

Nesse processo, impor às escolas conteúdos religiosos liga-se a uma pergunta central: a quem interessa a imposição? Que parcela dos grupos religiosos chegará à escola? A que compactua com o autoritarismo, ou a que busca fortalecer a democracia?

Haverá quem diga que nem um, nem outro, mas que deveria ser uma abordagem religiosa "neutra". Sucede que as instituições religiosas, em sua dimensão humana, vivem os mesmos processos de disputas internas de poder que qualquer outra organização humana vive. Não são homogêneas internamente; ao contrário, há grande heterogeneidade em seu interior, configurando, mesmo, em alguns casos, um tipo de diversidade ou pluralidade no interior daquela singularidade de fé. Não à toa, há conflitos internos, tendências dominantes em diferentes momentos, em geral ligadas à relação daquela instituição religiosa com o momento político nacional e mesmo internacional. Para quem é observador externo, a perspectiva "vista de fora" é de que são todos o mesmo. Vivido de dentro, nunca é tão simples.

Ao tratar de escolas confessionais, comunitárias, o que se observa é que os pais dos estudantes, ao fazer recair sobre esta ou aquela escola a escolha de onde fazer estudar seus filhos e filhas, são em geral pessoas de vida religiosa, ativa ou desejando se fazer ativa, e muito frequentemente de vida comunitária no interior daquele dado culto. Nesse sentido, têm conhecimento desses processos internos organizacionais, e sabem que, de uma forma ou de outra, as escolas ligadas a seu grupo religioso serão influenciadas por isso. Mas é sua escolha ali colocar seus filhos, integrá-los à vida comunitária em todos os sentidos.

Isso, contudo, não tira dessa escola o dever de ensinar às crianças e adolescentes que têm sob sua responsabilidade todos os conteúdos exigidos pelas normas nacionais, como os que atualmente se apresentam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Vale aqui um esclarecimento. Não há um PCN de ensino religioso, pelo simples fato de que, sendo o Estado laico, não pode se pronunciar sobre assuntos religiosos ou que, de alguma forma, envolvam religião. Ou passaria o Estado - por intermédio do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, das Secretarias Estaduais de Educação e Conselhos Estaduais de Educação - a ditar conteúdos e interferir sobre as religiões, ferindo diversos dispositivos constitucionais e legais. Há uma publicação a que atribuíram esse nome, mas que não é oficial, não impondo qualquer tipo de obrigação a qualquer escola ou docente. Cada uma das escolas confessionais decidirá seu conteúdo religioso. Os limites são no sentido de que é vedado ministrar conteúdo que fira a legislação brasileira e os direitos de cidadania, incluindo divulgação de preconceito, apologia de qualquer tipo de discriminação, violação dos direitos das crianças e adolescentes, ou deixar de ministrar os conteúdos científicos previstos pelo MEC para cada fase da vida escolar.

Já ao passar à realidade da escola pública, muda todo o cenário. Porque os cuidados são específicos, no âmbito de uma escola que é ela própria parte integrante do Estado, voltada como ele ao cumprimento dos princípios, fundamentos e objetivos estabelecidos pela Constituição Federal, que se dirige a todos e todas, como um ou uma da cidadania, não pela escolha religiosa, pelo gênero, pela origem social ou pelo que seja. Todas e todos livres e iguais em dignidade e direitos, aprendendo a partir da escola pública a exercer sua autonomia, com todas as responsabilidades daí decorrentes.
Caminho para a injustiça
Nesse sentido, se coloca de forma crucial o tema da liberdade de consciência, de crença e de culto, protegida pela Constituição Brasileira em seu Artigo 5º, que estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (...)", como também no seu Artigo 19. Porque a escola pública não pode permitir ou praticar qualquer tipo de discriminação em seu interior, que fira o Artigo 5º e que também leve à violação do princípio da isonomia entre os cidadãos e cidadãs, como estabelecido no Artigo 19, "III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Fazer qualquer escolha de tipo religioso na escola pública é estabelecer condições para o desenvolvimento do preconceito e da discriminação, pelas diferenças religiosas que, enquanto operam na sociedade, ali encontram seu equacionamento. Se o Estado interfere, entretanto, implanta-se a injustiça. Uma escolha religiosa pela escola pública, seus dirigentes ou docentes estabelece também as bases do solapamento da autoestima de grupos inteiros de estudantes, que, ao se sentirem preteridos frente à sinalização do Estado de que um grupo religioso é mais estimado do que os demais, constrangidos e humilhados poderão se retirar da cena pública, ao invés de aprender a lidar com ela, como na escola devem aprender. Ao mesmo tempo, se a escola faz uma escolha em termos de símbolos religiosos que expõe em seu recinto, pelas paredes e nichos, redobram-se esses problemas, sendo um tipo de violência simbólica, de consequências imprevisíveis.

A implantação da República trouxe a laicidade do Estado e, de forma consequente, de todos os estabelecimentos de ensino público. A retomada do ensino religioso nas escolas públicas, sintomaticamente, se fez por Getúlio Vargas, para ganhar o apoio da Igreja Católica para sua ditadura. Mas a laicidade, em si, veio depois de quase 400 anos de presença católica como religião oficial de Estado, durante a Colônia e o Império. Nesse sentido, convém lembrar que a conquista do Brasil se fez sob a bandeira da Contra-Reforma, ou seja, da reação católica ao surgimento das então novas igrejas protestantes, sendo os jesuítas os responsáveis pelas escolas públicas no Brasil, como em Portugal, Espanha e colônias, em um processo de aliança política e econômica entre o rei e o Vaticano. Frequentemente esse passado, no qual se praticou genocídio contra os povos indígenas que aqui viviam e que se apoiou na escravização de africanos, é mencionado com orgulho, como a justificar a presente busca de privilégios pela religião hegemônica.

Seria fortuito o fato de o constituinte haver posicionado, como diferentes parágrafos de um mesmo o artigo, tanto o dispositivo que define, de forma ambígua, o tema do ensino religioso em escolas públicas (Artigo 210, § 1º - "O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental."), quanto a inovadora, embora tardia, proteção presente no Artigo 210 § 2º, que assegura às comunidades indígenas "a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem"?

Para onde vamos, caberia ainda perguntar? O fato é que a cidadania assistiu, pasma, à aprovação, pelo Congresso Nacional, de um acordo assinado com a Santa Sé, pelo governo federal em novembro de 2008, no Vaticano. Foi aprovado com algum debate na Câmara dos Deputados, e em prazo recorde no Senado. Apresentado como acordo bilateral, internacional, que contornaria, na interpretação de seus defensores, a proibição da Constituição Federal, no já mencionado Artigo 19. Não apenas não contorna, como é inconstitucional e demonstra um tipo de aliança entre o Executivo e setores do Legislativo e uma determinada denominação religiosa que indica um perigoso retrocesso no Brasil. Portugal e Espanha, por exemplo, vêm travando histórico processo para se desfazer de concordatas (o nome técnico desse tipo de acordo) assinadas por Salazar e Franco. Como a Alemanha tem a marca de uma concordata assinada por Hitler, e a Itália, por Mussolini.

Nas escolas, o mais grave, embora indicado como ressalva, pelo Relator da Comissão de Educação, em um primeiro parecer, do qual recuou, após pressão em plenário, o artigo 11 desse acordo é inconstitucional e contra o que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei  9.394/96), pois torna obrigatório o "ensino religioso católico" em todas as escolas. Ou seja, independentemente do caráter facultativo para o aluno, as escolas passam a ter de oferecer esse ensino católico, e que o acordo complementa "e de outras confissões religiosas", passando por cima da Constituição e da LDB, que em seu Artigo 33 estabelece a proibição do proselitismo ao regulamentar o parágrafo 1º do artigo 210 (antes citado), e define que "os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso".

Assim, é difícil a resposta à pergunta "para onde vamos". Porque a situação atual, se o presidente Lula homologar esse acordo inconstitucional, imporá ao país uma convivência com um documento bilateral, internacional, sobrepondo-se à lei complementar à Constituição, que é a LDB, e à própria Constituição.

Roseli Fischmann é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da USP e da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo. Perita da Coalizão Internacional Unesco de Cidades contra o Racismo e a Discriminação

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Minhas impressões sobre o Pagan Christianity

Olá!
Fazendo jus ao voto de confiança dos moderadores, já estava na hora de eu postar alguma coisa aqui, né? Haha

Para começar, gostaria de compartilhar um post que escrevi no meu blog no clássico sistema ctrl+C, ctrl+V rs:

(...)
Bem, vamos ao que interessa: a coisa terrivelmente importante que aconteceu dessa vez [para entender o contexto, visite meu blog] foi a leitura de um livro, por indicação do Gabriel, um veterano geano, chamado Pagan Christianity, escrito por Frank Viola e George Barna. Pra vocês terem uma noção do drama, o cara me trouxe o livro dos Estados Unidos (hoje, o livro está disponível em português) e eu demorei 6 meses para lê-lo. Há algumas semanas atrás um rapaz que já havia lido o livro me viu com ele e me disse em tom de brincadeira: “Cuidado com esse livro! É perigoso! Quando você terminar de lê-lo você vai sair da igreja”. Eu repliquei: “Perigoso nada, até que é levinho”. Até então eu tinha lido 1/3 do livro. Os outros 2/3 eu li nas ultimas duas semanas. Eu mal sabia o quanto eu estava enganado.

Ok, sensacionalismos à parte, o Frank Viola é um dos caras mais influentes no movimento das “house churches”, tendo nos últimos 20 anos se reunido com várias delas nos EUA. Ele é nacionalmente reconhecido como uma das grandes vozes quando se trata de novas tendências para a igreja e realiza conferências sobre aprofundamento na vida cristã. Escreveu vários livros revolucionários sobre uma restauração radical da igreja. O George Barna é o presidente da Good News Holdings, uma empresa de multimídia em LA, produzindo filmes e programas para a TV. Ele é também fundador e diretor do Barna Group que é uma empresa de pesquisa voltada aos cristãos, para fins estatísticos e de direcionamento de mercado.

A idéia central do livro é a seguinte: os cristãos em geral costumam estufar o peito e dizer que fazem tudo de acordo com a Bíblia, tintim por tintim. Contudo, essas práticas atuais diferem muito das práticas da igreja primitiva. E qual não é a surpresa ao descobrir que o prédio da igreja, a ordem do culto de adoração (liturgia), o sermão, o pastor, as roupas "de ir no culto", os ministros de música, o dízimo e o salário pastoral, as formas atuais do batismo e da santa ceia e a educação cristã tem todos raízes pagãs, sem nenhuma relação com o modelo neotestamentário! Isso vai totalmente contra aquela idéia de que fazemos tudo “de acordo com a Bíblia”. Segundo os autores, é esse o motivo de grande parte dos problemas básicos que enfrentamos como igreja na nossa experiência religiosa (haha esse termo é bem útil, Gabriel) atual, independente da denominação cristã a que se pertença. Ainda mais, essas práticas entram EM CONFLITO com a receita original da igreja.

Só por aí já dá pra você prever porque o rapaz lá em cima me falou que esse livro é perigoso, rs. Bem, se tudo fosse conjectura isso não seria problema. Acontece que a idéia dos caras não foi logo de início refutar o sistema atual, mas procurar as raízes das práticas atuais. E qual não foi a surpresa ao constatar a controversa origem de cada um desses itens que eu citei. Eles fizeram uma extensa pesquisa bibliográfica para analisar cada um desses pontos (no mínimo uns 30% em área do livro é nota de rodapé. Em fonte tamanho 8. Vocês imaginem o quanto de referências o livro tem.).

Eu fiz um resumo do livro (bem meia boca) se você for preguiçoso/a e não quiser lê-lo. Apenas para você ter uma noção geral. O livro referencia todas as afirmações que faz, dando a base histórica e sua fonte. Vocês podem conferir o resumo no post anterior. Eu os encorajo a ler o livro inteiro. Será um tempo investido em algo valioso.

A minha primeira conclusão lógica foi a seguinte: ora, nesse contexto todo você tem duas opções. Ou eu parto do pressuposto de que a origem de uma prática determina sua natureza (Fulano não pode ser bom, olha de onde ele veio; bateria na igreja não é bom porque sua origem vem dos cafundós dos macumbeiros etc), ou eu avalio a natureza dessa prática por outros parâmetros (vejo os "frutos" do Fulano; vejo a atual função da bateria e suas implicações, etc): ou eu falo que uma prática é ruim por ser pagã ou eu avalio se ela é ruim por outros parâmetros. Eu achava que o livro iria atacar as práticas e justificar o ataque a elas pela sua origem pagã. Mas, de fato, eles demonstraram como essas práticas são danosas simplesmente por serem conflituosas com a forma como a igreja original funcionava (invenção de Deus).

Meu, estufa-se o peito para falar que a Reforma de Saúde é urgente e necessária pois afinal, Deus conhece o nosso maquinário, e sabe a melhor forma dele funcionar (e ainda assim há controvérsias). Raios, porque não há tanta preocupação assim em relação a como o Corpo de Cristo deveria funcionar? Até quando irá se transgredir o mandamento de Deus em função da tradição?

Bem, isso não quer dizer que Deus não trabalhe nas instituições, apesar do status quo. Apesar disso, esses estudos não deixam de me causar um certo amargor. Como ir às reuniões da igreja sabendo disso sem sentir desaprovação, e pensar que tudo poderia ser diferente, melhor? Mais triste ainda é notar que vários problemas que são enfrentados na igreja hoje seriam totalmente ausentes caso não ocorressem várias dessas práticas desnecessárias. Quanto esforço é gastado nesses problemas "criados", energia que poderia ser usada em relacionamentos, ajuda a outros, amor genuíno! Quanto desperdício!

É claro, há aí também uma oportunidade de desenvolver algo totalmente novo. Mas como é difícil mudar!
Eu acredito que Deus não permita que certas informações cheguem a nós por caso, e nenhum sentimento surja sem propósito (mesmo que seja o de mostrar que todo tempo estávamos errados, por vezes).

O livro me ofereceu um senso de libertação. Muito tempo antes de ler seu livro eu já sentia que a minha experiência religiosa, nos moldes em que sempre aconteceram, limitaram a minha visão de como Deus pode atuar. Deus não é apenas um conceito, uma filosofia, uma idéia que a gente coloca dentro da cabeça e pronto. Deus está vivo! E como está vivo, não está parado. Que grande erro é pensar que não há muito mais a se estudar, a se conhecer, a se experimentar! (Pode parecer bobagem, mas é algo muito importante, principalmente quando se nasce e cresce no meio institucional, no qual todos "deduzem" que aquilo já é "natural" pra você).

No momento sou forçado a refletir, como naquela música do Leonardo Gonçalves: "Agora é o momento em que tenho que decidir/Se ao Deus verdadeiro ou à imagem que dEle criei quero servir". Não faz sentido que aquilo a que chamamos "experiência com Deus" seja algo estático, apenas um conjunto de doutrinas como costumeiramente é tratada. E, querendo ou não, quando se fala que se "tem a verdade" (postura muito comum, principalmente entre os adv), é fácil cair no típico conformismo laodiceano. O capítulo sobre Educação Cristã foi muito útil em elucidar as origens do ensino formal e estático das escrituras de hoje. Não é de se admirar que conforme o tempo passe, teias de aranha se instalem nos estudos bíblicos que passam a sofrer de anacronismo. Me parece claro que esse problema não ocorreria se a transmissão de conhecimento se desse de forma dinâmica e experimental. O essencial seria propagado e posto em prática. Não daria para negar sua eficácia. As coisas não seriam pensadas em termos de "refutável" e "não refutável". E seriam altamente relevantes. Como Jesus já disse: "Com isto todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês amarem uns aos outros" João 13:35. Quer necessidade maior do que essa?

Será que uma home church é a solução? Não sei. Muitas home churches dão errado também, assim como muitas igrejas primitivas deram errado.
Será que sair da igreja institucionalizada é uma solução? Também não vejo como isso pode ser construtivo. (Afinal, uma analogia que meu pai usa muito é a de que "a igreja é um hospital". Logo, se enxergamos problemas, no mínimo é nosso dever solucioná-los. É uma ótima e válida motivação. É aí que se precisa ser um idealista...)

Por enquanto, sou obrigado a me colocar nas mãos de Deus e apostar na sinceridade das pessoas, do mesmo jeito que Ele faz.

Deus não nos fez apenas para sermos resgatados, mas para viver uma vida junto dEle com o máximo com o que ela tem a oferecer! (vulgo abundância)

No momento estou cansado. Cansado das mesmas coisas, cansado de ruminar uma velha esperança. Cansado de apoiar convicções de vida sobre uma cartilha.

Contudo, ao pensarmos que, com Deus, já estamos vivendo a Eternidade, tudo ganha outra perspectiva.

Pois é, mais do que nunca, "é preciso saber viver..."

domingo, 2 de agosto de 2009

Explorando evangelismo

Lendo recentemente o novo livro do Dallas Willard, Knowing Christ Today --- why we can trust spiritual knowledge (espero fazer uma resenha dele um dia desses), deparei-me com uma interessante discussão sobre o conhecimento de Cristo, e o pluralismo e a exclusividade. A pergunta central da análise é algo do tipo:

É arrogante e destituido de amor pensar que você está correto e outros estão errados sobre as questões mais fundamentais da existência humana?

Matutando sobre esta questão percebí que ela se coloca no cruzamento central da gerras geradas por motivos religiosos, da multidão de denominações na religião cristã, e mesmo dos cismas dentro da própria igreja adventista. O que me preocupa mais ainda é que evangelismo necessariamente implica exclusivimo. Nesse contexto gostaria de propor, no velho estilo do GEA-USP, uma troca de idéias sobre o que é, e o que deve ser de fato evangelismo.

Não sei como vocês se sentem, mas sinto que esta seja uma palavra carregada, que evocam reações conflitantes no íntimo de muitos, tal qual a expressão "reforma de saúde", por exemplo. Arriscaria dizer que as reações variam e provavelmente distinguem os quentes (primeiro amor) dos mornos (laodiceanos) e frios (cínicos) dentro da igreja. Porém, queira ou não, este é um tema central para a experiência religiosa, para justificar a existência de organizações e denominações, e, claro, para explicar a igreja, o que quer que este nome represente. O que vocês conseguem ver sobre o tema do seu lado da rua?

sábado, 25 de julho de 2009

Smile

Eu que inventei esse blog, abandonei a criança no meio da rua lá por meados de Dezembro. Estou voltando para reclamar a paternidade e dar umas vitaminas para o rebento. Neste interim, umas boas voltas na montanha russa (que é minha vida) me trouxeram de volta para a contra mão. Com o carro estancado no contra fluxo me pergunto: qual é a última?

Michael Jackson morreu. O Rei do Pop. Quanto tempo vai levar para desconfiados de plantão detectarem a fraude? Não estaria ele agora em Barhein, consciente e vivo desfrutanto docemente do influxo de caixa promovido pelo golpe e finalmente livre de ter seus passos perseguidos por fãns, familia e inescrupulosos ou qualquer combinação dos tres?

Interessante que a morte do Rei dos Judeus também foi suspeita de fraude. Só que no caso dele, ao contrário de Elvis e outros ídolos, ninguém negou sua morte. Com tal convulsão em Jerusalém naquele longínquo ano 30, seria impossível negá-la. Não surpreende o fato de que os discípulos a caminho de Emaús estavam estuperfatos de que seu companheiro de jornada parecia ignorante aos últimos acontecimentos. Nem mesmo seus mais ardentes inimigos seriam capazes de negá-la---a morte de Jesus é um fato histórico. Assim, trataram de articular e espalhar a teoria do corpo roubado. Uma das fortes evidências de que o corpo de fato não fora roubado foi o cuidado que tiveram em garantir a segurança da tumba do Cristo morto (Mat.27:62-66). Eles não calcularam que seu proceder astuto acabaria por dar muito mais credibilidade à teoria do Cristo vivo, ressurreto.

Um Cristo vivo vale mais do que um ídolo morto. Guardada as devidas proporções, imagino que a morte de Jesus deve ter trazido uma comoção tal qual a manifestada globalmente pela morte do Rei do Pop. A semelhança, porém, durou somente até o terceiro dia.

"Smile... You'll see the sun come shining through." If you belive him, just smile!

A igreja é....

Simples, lúdico, porém mais do que verdade...



Que Deus abençoe a todos!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Necessidade presente

Numa segunda-feira recente estive participando de uma reunião do GEA, sentado ao sereno de uma fria noite paulistana, na Praça do Relógio na Cidade Universitária da USP. Estávamos ali umas 12 pessoas, em roda no chão, conversando sobre um assunto exposto por 2 dos geanos presentes. Confesso que revivi um passado que me dá muita saudade...

No fim deste papo, surgiu um assunto cuja motivação já vem há algum tempo cutucando os geanos atuais: criar a igreja do GEA. Há muitos anos eu ouço falar nisto, mas esta foi a primeira vez onde eu vi (talvez tenha acontecido antes, com outros grupos, e eu não estive presente) este assunto sendo levantado seriamente.
Interessante foi perceber que a motivação para uma igreja geana, apesar de parecer óbvia, não estava muito clara ou coesa no grupo. Alguns diziam que faltava uma igreja na região da Cidade Universitária, outros que precisavam evangelizar os universitários da USP, outros queriam um lugar mais fixo ou confortável para se reunirem (tava frio pra caramba nessa noite) ...
Uma das grandes questões apresentadas nesta discussão foi: como é que se forma uma igreja? O Francisco (pai de um dos geanos presente) nos contou como, em 2 experiências anteriores vividas por ele, foi o processo de organizar o grupo fundador, encontrar um local, levantar fundos para construção, enfrentar situações complicadas com a comunidade local, etc., até que enfim a igreja estava construída e as pessoas freqüentando. Foi interessante perceber que estas experiências estavam fortemente focadas em atender às necessidades das comunidades locais. Uma luta muito difícil, sem dúvida.

Então fiquei me perguntando:
"Para que queremos, como geanos, estabelecer uma igreja?"
Até o próprio conceito "igreja" estava meio confuso na cabeça da moçada: igreja prédio, igreja comunidade, igreja organização... e por aí vai. Tinha de tudo na discussão, e claro que, como estes conceitos não são naturalmente explícitos, estava difícil chegar num consenso que conduzisse a uma convergência nos interesses e ações propostas.

Isso me lembrou uma sessão de Discipulado V que tivemos na Nova Semente há pouco mais de um ano atrás. Estávamos discutindo comunidade e igreja com um grupo de umas 20 pessoas, e eu pedi a todos que respondessem uma pergunta, que escreverei a seguir, porém que guardassem a primeira resposta que viesse a cabeça, sem muitos esclarecimentos, sem pensar muito, mas só a primeira resposta, para no fim discutirmos a respeito. Eis a pergunta:
"Preciso ser membro de uma igreja para ser salvo?"
Depois da pergunta, cada um guardou para si a sua resposta intuitiva, e continuamos com a discussão planejada para aquela manhã. No fim da discussão eu retomei a questão, perguntando quais foram as respostas obtidas daquela questão no início da nossa sessão de Discipulado V. O interessante desta questão não é a resposta em si, mas as premissas intuitivamente assumidas para chegar a uma ou a outra resposta. Me explico: obviamente - e provavelmente semelhante à sua resposta, meu leitor - a grande maioria optou pela resposta negativa, e foi apresentada uma série de razões para isso:
  • "Minha salvação não depende de um livro de membros de uma igreja."
  • "Quem concede a salvação é Deus, e não uma religião."
  • "Esta é uma questão que só depende de Deus e de mim, e não de uma instituição humana."
  • ... entre outras tantas...
Para minha surpresa, e dos demais presentes, um amigo que há poucos meses havia se decidido por Deus publicamente, e já servia com amor exemplar à comunidade, disse em alto e bom tom:
"A minha resposta é SIM!"
Sem demora, todos quase que gritando ficaram perguntando que como isso era possível, e como ele poderia dizer tal coisa, e por aí vai... claro que pediram a ele que se explicasse para que pudéssemos, por mais louco que parecesse, entender as razões dele para tal afirmação. Foi nesse momento que ouvi a lição para a qual eu não estava preparado, para a qual eu não tinha mais nada a dizer... Ele disse:
"Claro que é sim... Turma, se não fosse por vocês, eu não estaria aqui!!"
Foi aí que caiu a ficha, e que todos tivemos a oportunidade de perceber que o nosso conceito intuitivo de igreja estava mais do que torcido... que o seu conceito original já não mais estava vivo entre nós, presente como uma chama viva que aquece só em lembrar dela. Para este amigo, a resposta era diferente somente porque seu conceito de igreja era diferente, e claro que ele não estaria ali conosco se não o tivéssemos acolhido, abraçado, amado antes de qualquer coisa. Será que conseguiremos resgatar esta visão de igreja?

Voltando à nossa reunião na Praça do Relógio, após contar sobre este evento do Discipulado, ficamos discutindo sobre este assunto, de como "criar uma igreja" não tem nada a ver com prédio, lugar para se reunir, estilo de adoração, doutrina ou mesmo com quem apresentará as mensagens. Igreja, meus queridos, tem a ver com gente, pessoas, almas... tem a ver com o que há de mais precioso para o coração de Deus, pois Ele entregou o próprio Filho para isso. E nós, muitas vezes, colocamos nossas forças e intelecto em tantas outras coisas, e ficamos chamando isso de igreja...

Bem, claro que esta discussão no GEA ainda tem pra dar muito pano pra manga, mas estou feliz em saber que este sentimento, esta necessidade por uma experiência mais relevante com Deus está se tornando mais real e presente, a ponto de levantar iniciativas como esta. Que Deus os abençoe, e muito.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mankind is no Island

Queridos,

Encontrei este vídeo entre as minhas navegações diárias e pensei em compartilhá-lo com vocês, caso ainda não o tenham visto.



Fiquei imaginando qual seria a influência que esta consideração voltada aos menos favorecidos faria...

Será que realmente eu aprendería a amar ao próximo conforme Mat 22:39? Ou faria isto somente para me sentir melhor em relação a mim mesmo? Isto soa um pouco cínico...

Será que eu estaria cumprindo a vontade do nosso Deus em agir assim? Ou estaria somente encontrando uma forma piedosa de parecer cumprir a vontade dEle?

Aprenderia a prestar atenção ao meu próximo (neste sentido, próximo é alguém que está por perto), ou ainda seria mais fácil abordar um desconhecido por não ter nenhum vínculo ou histórico que me denuncie ou me faça sentir desconfortável?

Paizinho, me ajuda discernir meu coração e saber qual a minha motivação em tudo isso... talvez somente assim eu consiga sentir Você de perto, pra valer...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Por que ser adventista?

Esta é a primeira pergunta de um livro escrito pelo Dr. George Knight que acabei de ler. O livro, The Apocalyptic Vision and the Neutering of Adventism, foi lançado recentemente pela Review and Herald e é considerado pelo próprio autor como o mais importante de sua carreira. Sendo um admirador do estilo e conteúdo dos livros do George Knight, mal pude esperar para por as mãos no livro e começar a leitura, especialmente com a motivação de estar lendo seu mais importante livro. Não fui decepcionado.

O estilo controvertido e incisivo de George Knight pode ser notado já no título. Para quem não sabe, a palavra neutering em inglês significa castração, ou esterilização e é normalmente aplicada a animais domésticos. Ele continua neste livro com suas tiradas irônicas e debochadas do adventista conservador e rabujento alvo de duras reprimendas em publicações anteriores. Porém, volve a sua mira também para o adventista moderno e 'sofisticado', que já não mais se identifica com as raízes proféticas do movimento, e para quem o pequeno livro dirige a maioria de suas mensagens.

No primeiro capítulo, Knight contextualiza sem preâmbulos o tema, expondo a questão da relevância do adventismo no século XXI. Em sua opinião, a abordagem politicamente correta do evangelho, que evita o tema apocalíptico e a sua herança histórica, em companhia do que ele chama de "pregação bestial", ou seja, obsecada com simbolismos apocalípticos, estão "castrando" o adventismo contemporâneo tornando-o literalmente improdutivo, o que pode ser visto no baixíssimo número de novos conversos nos países desenvolvidos. Ele defende que uma pregação balanceada da mensagem do Cordeiro-Leão da tribo de Judá, o autor e figura central do Apocalipse, pode tornar o adventismo produtivo novamente.

Dentro deste contexto, Knight embarca em uma breve, mas excelente revisão histórica do adventismo e suas raízes proféticas. Sua análise indica que o principal problema do Adventismo--o fato de que Jesus ainda não voltou--trás consigo uma gama de dificuldades para quem tem pregado por quase dois séculos a breve volta de Jesus. Defendendo uma visão global do Apocalipse ao invés de uma apresentação minuciosa dos simbolos proféticos, George Knight admite que seu maior problema com o apocalipse não está na interpretação historicista, nem no princípio dia-ano, nem nos temas do grande conflito, do remanecente ou mesmo da purificação do santuário, mas no ensino Adventista tradicional do Juízo Investigativo, onde conceitos não bíblicos de pecado e perfeição tem levado a um sentimendo de medo, temor e insegurança.

Subsequente à apresentação da sua visão global, George Knight ataca o que ele chama de "pensamento linear", defendido por adventistas que advogam a impossibilidade de um término abrupto para a história humana. Baseando-se em exemplos históricos tais como 11 de setembro ou a ascenção de Hitler, ele defende que a mensagem apocalíptica da queda de babilônia em "uma hora" é mais do que plausível, é presente, e mais do que nunca relevante. Neste contexto, o Apocalipse apresenta não somente o inescapável fim de todas as coisas, mas a única solução definitiva para os problemas da humanidade.

A visão evangélica da prática da justiça social em detrimento da mensagem escatológica defendida por uma crescente parcela de adventistas contemporâneos é tratada no contexto das narrativas proféticas dos evangelhos. Em sua abordagem, Knight aponta que Jesus não fez o foco do seu ministério a "justiça social", apesar de praticá-la e não negar a importância da mesma. Porém, o tema da justiça social está conjugado aos eventos escatológicos na parábola das ovelhas e dos bodes em Mateus 25:31-46, onde a prática da religião verdadeira está associada à guarda do segundo grande mandamento. Sendo assim, alimentar os pobres e cuidar dos doentes é de fato um aspecto fundamental do panorama profético.

George Knight conclui propondo um renovação da mensagem apocalíptica para Jesus nossa única esperança, que pode restaurar a 'virilidade' da mensagem adventista e a razão de ser adventista.

Ao concluir a leitura, fiquei matutando no paralelo entre o tema final do livro e o slogan de campanha do atual presidente Obama: HOPE. Será que nós adventistas poderíamos nos tornar relevantes retornando ao Apocalipse sem cair na tentação de propagar um alarmismo vazio e barato? Talvez a resposta esteja em outro slogan da campanha: Yes, we can!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sistema de consumo

Olá amigos,
Este sábado tive a feliz experiência de acompanhar nosso amigo Marcão em sua classe da ES. Como foi bacana ver em alguns que ali estavam a expressão, nas palavras compartilhadas, de uma busca por uma religião mais genuína e relevante à nossa vida.

Pensando mais sobre este assunto, lembrei-me de um post que encontrei há meses atrás num blog, cujo autor chamado Paulo Brabo eu desconheço completamente, e cujas palavras me fizeram refletir mais recentemente sobre a minha relação com a igreja institucionalizada, e também agregam um pouco mais de pimenta às discussões que temos tido aqui.
Tomo a liberdade de transcrever abaixo um trecho que me pareceu central à sua ácida discussão, cuja leitura completa eu mais do que recomendo. Aliás, creio que uma análise crítica sobre o post aqui citado pode por uma boa dose de reflexões e discussão neste nosso contexto.
Bem, aí vai o trecho e o post está nos links dos parágrafos acima:
"As pessoas que consomem igreja não têm em geral qualquer consciência de que estão se dobrando a um sistema de consumo, mas as evidências estão ali para quem quiser ver. A igreja não é um lugar a que se vai ou um grupo de pessoas que se abraça, mas uma marca que se veste, um produto que se consome continuamente. Tudo de bom que costumamos dizer sobre a igreja reflete, secretamente, essa nossa obsessão com o consumo – “o louvor foi uma benção”, “o sermão foi profundo”, “o coro cantou com perfeição”, “a palavra atingiu os corações”, “Deus falou comigo”. Em outra palavras, tudo que temos a dizer sobre a experiência da igreja são slogans. Na qualidade de consumidores, o que fazemos é retroalimentar nossa dependência, promovendo continuamente nosso produto na esperança de angariar mais consumidores e portanto mais legitimação." Paulo Brabo
O que acharam de suas idéias?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Obama e a religião

Este excerto de um discurso de Obama sobre fundamentalismo religioso vai na linha do que discutimos brevemente há algum tempo, a pretexto da emenda sobre casamento gay na California.

Em tempo: meus aplausos à visão geral externada pelo presidente.