sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Parábola da Mulher Ciumenta

Há algumas semanas atrás comecei a indagar o porquê de tantas dificuldades que eu, assim como outros diversos amigos neste exato instante, temos passado. Muitas vezes a sensação que fica é a de questionar a Deus:
O que estou fazendo de errado?
E quando parece que as dificuldades vão passar, aparece outra acompanhada de mais duas logo em seguida... "perdi" muitas horas de sono nestas últimas semanas, não porque não conseguia dormir, mas simplesmente porque de repente, lá pelas 4:30 da matina, eu simplesmente acordava e já não conseguia mais voltar à Terra do Nunca. No princípio foi frustrante, viajando a trabalho, longe da família, tentando de todos os modos encontrar saídas para os problemas da empresa, além dos meus próprios.
Então, decidido a aproveitar mais esse tempo, resgatei um livro que comprei por simples impulso (vocês vão entender o porquê) quando passava pelos corredores de um Sam's Club em Campinas, depois de uma tarde de reuniões e visitas a clientes. E durante a leitura, algumas reflexões foram sendo motivadas e que me levaram a escrever este post.
Uma das coisas mais frustrantes que sempre achei na vida cristã é identificar as respostas divinas. Parece que sempre estamos esperando por algum sinal, alguma luz que desça do céu por entre as nuvens e venha iluminar a minha cabeça ou outra coisa que me indique o que fazer. Em tempos de bonança, isto parece irrelevante, mas quando a situação é de desespero, a ansiedade tende a ser forte demais para ignorá-la. Obviamente, esta situação trouxe à tona minhas próprias questões sobre fé. Afinal, sobre o que baseio aquilo que chamo de fé? A dificuldade aqui é diferenciar fé de presunção, como se pelo meu simples positivismo, eu pudesse manipular a Deus a fazer aquilo que eu quero que Ele faça. Aliás, falando em manipulação, nada mais comum que barganhar com Deus (nas ofertas, nas atividades da igreja, etc.) na expectativa de que Ele responda àquela oração com a resposta desejada... realmente, com Deus não funciona assim.
Durante essa leitura nas madrugadas, encontrei-me com uma parábola contemporânea:
"A Parábola da Mulher Ciumenta" - na versão gabrielana.
Imagine o marido saíndo naturalmente tarde do trabalho, como de costume, mas a infelicidade naquele triste dia lhe bateu à porta quando estava no meio do caminho para casa, sob aquele trânsito infernal, ao perceber que dois dos seus pneus haviam furado. Obviamente esta situação demandaria mais do que somente um macaco e um estepe, portanto decidiu ligar para casa para avisar a esposa que estaria aguardando por ele, quando se apercebeu que o celular estava sem bateria. Sem mais o que fazer de imediato, foi tomar as providências necessárias para voltar a rodar com o carro , o que levou-o a chegar mais de duas horas atrasado do horário de costume, sem falar no suor que lhe corria o rosto pelo cansaço que o estorvo lhe exigira.
Quando chegou em casa, o marido, na expectativa de encontrar um pouco de conforto e compreensão, somente encontrou uma cara feia e uma série de questões tais como onde ele esteve, por que chegou tão tarde, por que não avisou, com quem estava, etc. e etc. Como se percebe, as explicações não foram capazes de suscitar a compreensão, compaixão e a confiança por este pobre cidadão, casado com uma mulher ciumenta.


Nestas situações, eu me pergunto: casou pra quê? Não ao marido, mas à mulher, pois se a sua insegurança e desconfiança é tão grande a ponto de fazer esse papelão, como é que ela consegue ter prazer em viver uma relação nestas bases?
Bem, é igualmente impressionante pra mim o fato de como tenho feito este mesmo papel na minha relação com Deus, o da mulher ciumenta. Vocês percebem? Se Deus não me atende ou não me responde em tempo, ou do modo que eu espero, fico cobrando insistentemente uma atitude ou resposta divina, sem me aperceber de que todo este questionamento e insistência é fruto da falta de confiança em Deus, ou em outras palavras, falta de fé.


"Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos." - Phillip Yancey
Por que é tão difícil conseguirmos interiorizar e aceitar estas palavras como uma realidade plena e não somente intelectual? Talvez porque crescemos e convivemos com diversos sistemas de recompensa em nosso cotidiano, no trabalho, escola, em casa, e somos induzidos a levarmos este mesmo comportamento para nossa relação com Deus... mas de novo, com Deus não funciona assim.
Na verdade, o que estou tentando experimentar é essa sensação de que não importa o que eu faça, certo ou errado pois mais uma vez não estamos falando de um sistema de recompensa, Deus vai continuar me amando do mesmo jeito, apesar de mim mesmo. Sabe aquela liberdade que se sente num relacionamento baseado em confiança? Se você ama, você tem liberdade para fazer tudo o que quiser, pois nada do que você quiser fazer vai machucar ou abalar essa relação. É dessa liberdade de que estou falando, da sensação de que o que eu faço não vai mudar em nada essa realidade, então para quê ficar correndo atrás do vento, como se isso fosse fazer com que Deus me desse mais atenção, fosse olhar para mim... como se já não estivesse olhando... me cuidando... Paizinho, eu preciso parar de perguntar por que, e experimentar a liberdade que Você me preparou... com Deus funciona assim. Não acham?

E as encrencas de que falei? Bem... essa é outra história... outra parábola...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Boas Novas e a Pessoa X

"...o evangelho são boas notícias, especialmente para aqueles que não acreditam nele.

Imagine uma rua comum numa cidade comum num país comum, se é que há um lugar assim. Vamos imaginar que a Pessoa X mora numa casa dessa rua. Na casa ao lado há um hindu, e do outro lado há um muçulmano. Do outro lado da rua há um ateu, ao lado dele mora um agnóstico e na porta do outro lado, alguém de Ohio.

Imagine que a Pessoa X se torne uma cristã. Talvez ela tenha lido algo ou teve amigos que a inspiraram a aprender mais, ou talvez ela teve um vício e através da recuperação ela rendeu sua vida a Deus. De qualquer forma, ela se tornou uma seguidora de Jesus. Digamos que ela comece a viver segundo os ensinamentos de Jesus, de fato levando-o tão a sério que ela se torne uma convincente força para o bem no mundo. Ela está se tornando mais generosa, mais compassiva, mais perdoadora, mais amorosa. Ela está se tornando uma vizinha melhor ou pior? Se fossemos seus vizinhos, estariamos estarrecidos a respeito de sua nova fé. Nos sentiríamos cada vez mais gratos por termos uma vizinha como essa. Desejaríamos que houvesse mais pessoas assim.

Vamos observar algumas coisas sobre essa rua. As boas notícias de Jesus são boas notícias para a Pessoa X. São boas notícias para os vizinhos da Pessoa X. São boas notícias para toda a rua. São boas notícias para as pessoas que não acreditam em Jesus. Temos que ser bem claros a respeito disso. As boas notícias para a Pessoa X são boas notícias para toda a rua. E se são boas notícias para toda a rua, então são boas notícias para todo o mundo.

Se o evangelho não são boas notícias para todo mundo, então não são boas notícias para ninguém."

A tradução livre fui eu que fiz, tirada do Velvet Elvis, o livro do Rob Bell.

Algo que sempre me intrigou foi: se o evangelho são as "boas novas" por que é de tão difícil aceitação? (sentido mercadológico mesmo) Onde está o problema (se é que há um)?

Gostaria de saber as impressões de vocês sobre o texto - principalmente sobre a última afirmação - e sobre esse assunto.

Saudações reptilianas!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A castração do adventismo

Ontem almocei com amigos, adventistas de quem sou cliente. Superado o blábláblá das coisas de trabalho, fiquei surpreso com a primeira pergunta que eles me dispararam: como anda sua fé? Muito bem, obrigado, foi minha resposta. Eles não ficaram decpecionados com ela, mas deu para ver que eles não se surpreenderiam se a resposta fosse outra.

No desenvolvimento da conversa entendi as razões da pergunta: disseram ter informações de fontes fidedignas dando conta que a IASD no Brasil está diminuindo de tamanho. Requentaram a velha problemática da demora da volta de Jesus, de estarmos fazendo a mesma pregação há 160 anos; no fim a dúvida é: não deveríamos falar de outras coisas? Mudar o enfoque? Parar com essa paranóia pré-advento?

Sugeri que eles lessem "A visão apocalíptica e a castração do adventismo", de George Knight, que já temos em português, uma sugestão (para não dizer ordem) de leitura dos compadres Lilian e Klebert.

Podemos até discutir essa mudança de discurso coletivamente. Eu concordo com o Knight de que isso seria tornar a igreja adventista irrelevante, mas ok, podemos discutir. Só que na esfera individual não consigo deixar de ser (logo depois de cristão e um pouco antes de ser do sétimo dia e tantas outras coisas)um adventista. Não quero começar a espancar os conservos, como faz aquele servo da parábola que diz em seu coração "meu Senhor tarda em vir". A quantidade de advertências a viver como se na iminência da volta de Jesus que encontro nos evangelhos não me deixa colocar a questão senão na primeira fila.

E vocês?

domingo, 25 de abril de 2010

A sétima geração

Alguém ai que começou o ano bíblico já chegou em Gênesis 4? Se sim você deve ter se familiarizado com um tal de Lameque, pai de uns meninos prodígios na área de música, ferramentas e pecuária. Pois bem, eu estava lendo esta exótica e obscura passagem da biblia me perguntando por que o tal do Lameque é apresentado com mais detalhes que os demais filhos de Caim.

Anos atrás escrevi e preguei um sermão entitulado Os Dois Enoques no qual comparo os destinos tão diversos dos filhos de Caim e Jarede e como eles caracterizam a distinta separação existente entre os filhos de Deus e filhos dos homens. A distinção chega ao climax por ocasião do dilúvio quando Noé era o único justo em meio a uma geração perversa marcada pela corrupção do matrimônio (Gen 6:2, Mat 24:38) e violência (Gen. 6:11).

Pensando neste antigo sermão, fiz uma descoberta interessante: Lameque, o sétimo depois de Adão pela linhagem de Caim, além de vingativo e zombeteiro dos decretos divinos (Gen. 4:15, 23 e 24), é o primeiro polígamo mencionado na Bíblia. Em outras palavra, mais que ninguém, Lameque representa a geração que entristeceu a Deus e se perdeu no dilúvio. Advinha quem é o sétimo depois de Adão pela linhagem de Sete*, e qual foi o seu destino?

Ah, e para os numerólogos de plantão alguém ai já ouviu falar do número da perfeição?


*A linhagem que invocava o nome do Senhor, como está escrito no fim do capítulo 4 de Gênesis

De volta a ser criança...

Uns dias atrás ganhei um presente do Fred que me fez voltar a ser criança. O presente foi este livro. Se você não clicou no link, informo que não se trata da última versão ilustrada dos tres porquinhos ou da chapeuzinho vermelho, mas do livro que quanto mais eu leio o considero a encarnação (ou deverida dizer encadernação) de tudo que o GEA causou de bom na minha vida, e quando falo vida, refiro-me da vida lá do alto.

Mas antes que alguém objete que eu já não era mais criança quando o GEA foi parte da minha vida no período pre-cambriano, argumento que eu era apenas um bebê nascido lá do alto neste tempo.

E qual é o ponto? O ponto é que o Rob Bell tem um jeito bem GEAno de tratar dos assuntos que ele trata. Por exemplo, ele começa com perguntas; mil perguntas; perguntas ingênuas, atrevidas, sublimes, ousadas. Depois conecta umas idéias simples, mas lindas, profundas, sutis, bem no estilo de nossas antigas discussões no GEA. Estes momentos de arrebatamento, e maravilha só são possíveis quando dois ou mais estão reunidos para livremente descobrir o significado e o mistério da Palavra. Foram estes momentos mágicos na pré-história do GEA que me fizeram nascer... de novo. E produziram aqueles sentimentos de deslumbramento com o mundo que só uma criança pode ter.

Hoje, dinossauro feito, tinha me esquecido dos mesmos deslumbramentos. Refletindo sobre os mesmos após uma passagem particularmente genial do Rob Bell, dei-me conta de que preciso resgatar a mágica de ser criança de novo. Bem como disse Jesus, só assim para ver o reino.

Valeu Fred, por ser instrumental em resgatar o menino adormecido no coração do dino.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Adventismo: a hora da estrela - Longevidade

Anos atrás Dr. Lee, o médico coreano arauto da alimentação saudável, que gostava de cantar aquela musiquinha "smile", dizia que a mensagem de saúde era a "mão mirrada" do Adventismo. É interessante ver que o Adventismo hoje encontra-se na posição mais favorável em mais de um século e meio de existência para dar ênfase ao estilo de vida saudável como parte integrante da cosmovisão Adventista. O mais interessante é que o momento chegou através da prestigiosa revista National Geographic (para aqueles que ainda não viram o link clique aqui).

Mais do que estufar o peito com aquele orgulhosinho enrustido, acho que esta descoberta sobre os princípios de saúde do adventismo e seu resultado direto na longevidade deve servir de encorajamento para darmos mais atenção aos tais princípios, apoiemos iniciativas governamentais e não-governamentais pró-saúde e usemos os mesmos princípios para nos conectar com pessoas seculares que partilhem os mesmo valores. Especialmente no último caso, precisamos ser sérios no exercício dos princípios que julgamos valorizar sob o risco de parecermos incoerentes.

Está na hora da mão mirrada ser curada.

Na contra mão: próximas paradas...

Bem amiguinhos, também estou voltando a blogar, impulsionado pelo post to Gabi. No bom e velho estilo do GEA, aqui vão alguns dos assuntos que espero blogar em breve. A lista serve para me manter motivado e prover inspiração aos demais.

1) Progressistas? Fundamentalistas? uma terceira via? Elucubrações sobre o tema roto, porém ainda atual, de conservadores vs. liberais. Pretendo abordar este assunto usando nossa experiência contemporânea de membros de uma igreja conservadora, com um pastor ovelha-conservardora em pele de lobo-liberal e uns poucos amigos metidos a liberais.

2) Fuga para Deus. O que me cativou na história do Jim Hohnberger e como fiquei perdido mesmo antes de começar a "fugir para Deus". Neste tema pretendo apresentar o que para mim é o melhor mapa da fuga que descobri com um tal de Richard Foster e comparsa de conspiração Dallas Willard.

3) Adventismo: a hora da estrela. Talvez a referência bibliográfica não seja a ideal, mas transmite o que desejo abordar neste tema: nunca na história do adventismo vivemos uma época tão favorável para a divulgação da cosmovisão adventista. Precisamos de uns ajustes, verdade, mas este é o momento. E não me refiro ao clímax escatológico em particular, mas à confluência de valores por ora abraçados no mundo religioso e secular.

Bem turma, tem mais, mas acho que vou parando por aqui, afinal este é apenas um post re-introdutório. Termino com uma antiga idéia que encontrei em um dos livros do Brian McLaren:

Um dos esportes preferidos dos cristãos é chamar os não-cristãos de perdidos. Em Coríntios, Paulo diz que somos a carta de Cristo para os que perecem. Se uma carta não chega ao destinatário, quem está perdido? a carta ou aquele para quem a carta foi endereçada?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

De volta às origens tradicionais

Creio que não tive a oportunidade de contar a todos, mas me mudei de São Paulo para a cidade de Londrina-PR já faz 2 meses.E nesta mudança, outras mudanças também aconteceram, e uma delas foi a de voltar a freqüentar uma igreja tradicional.
É interessante você perceber como rapidamente sua presença é notada, mesmo que pouquíssimos venham falar com você, ainda que a igreja tenha uns 600 membros. Confesso que ri muito, pensando no episódio, quando em um sábado pela manhã eu estava no fundo da igreja, em pé pois havia cedido o meu lugar a uma senhora com bebê, e um pastor (eu sei que era departamental pois o vi fazendo um anúncio na classe da ES) passou por mim, parou, olhou para mim (claro que a visão da minha lustrosa pessoa hoje já não é mais o estereótipo adv) e me perguntou se eu era adventista... eu quase perguntei a ele a mesma coisa mas confesso que me contive rsrs... Ele não perguntou meu nome, não perguntou de onde vim, me perguntou novamente se eu era batizado, e quando disse que sim, bateu no meu ombro e seguiu...
Conheci recentemente o regente do coral, um cara muito legal, empolgado com música, 20 e tantos anos, se esforçando para conduzir um grupo de uns 80 coralistas, na sua maioria mais jovens que ele próprio, buscando louvar e inovar através deste ministério. Claro que no coral não está somente ele na condução, há também um diretor do coral, um diretor de jovens, um pastor de jovens e outros líderes envolvidos. O grande desafio deles que eu percebi nesta noite, ao participar do ensaio, foi a de motivar os coralistas a participarem seriamente da proposta. Antes do ensaio propriamente dito, ouvi uns 15 minutos de "admoestações" sobre o que se espera de um coralista comprometido, do sistema biométrico de controle de presença que será implantado, do sorteio de um "brinde especial" para os assíduos aos ensaios, e dos descontos nas "programações pagas" a que estes assíduos terão direito. Fiquei triste ao perceber porque um outro amigo, que veio de Sampa também (o conheci na NS), se desmotivou a participar do coral... ali hoje, o mesmo estava acontecendo comigo.
No fim do ensaio, peguei uma carona pra casa com o regente e conversamos, durante os parcos 7 minutos que levam da igreja até minha casa, sobre a frustração dele e minha sobre a apresentação do coral que ocorreu no sábado passado. Cantamos no sábado pela manhã esta canção, numa versão em português, com o coral cheio e igreja lotada. A frustração do regente foi o fato de que a apresentação durou somente uma música, e de como é difícil fazer as pessoas participarem, da igreja se envolver, e de que na apresentação do domingo ele "assassinou" a música devido a uma entrada mau indicada... aí eu contei a ele a minha frustração: de que o louvor tenha sido feito somente pelo coral, pois minha filha, na hora do coro, simplesmente abriu boca com toda a vontade a ponto de fazer meia igreja se voltar a ela, e quando ela percebeu se escondeu debaixo do banco. Contei a ele minha frustração por perceber que as motivações por participar do coral me parecem tão distorcidas, e que a expectativa da "audiência" da igreja desvia ainda mais do que eu entendo que deveria ser o foco... Então ele comentou "mas ela já conhecia a música..." e eu disse "o ponto não é se ela já conhecia a música, mas que ela tentou expressar seu louvor a Deus como tinha o costume e se retraiu!"...
Bem, eu conto isto a vocês não porque quero dizer que está tudo errado, e eu é que estou certo. Conto isto a vocês a esperança de que vocês me ajudem a resgatar o sentimento e o envolvimento que um dia tivemos (ou pelo menos eu tive) quando convivíamos e louvávamos juntos em um galpão frio de uma noite de sexta-feira, num sítio próximo a cidade de Juquitiba-SP, por exemplo... não consigo ver saída para esta situação sem criar um sentimento de rompimento, sem chocar as pessoas ou senão me afastar e continuar pedido ao Papai do Céu que me use para o que for da Sua vontade...
Por que é tão difícil transmitir às pessoas uma visão de serviço por amor somente? Cuja motivação não seja o entretenimento emocional ou intelectual mas a satisfação de perceber que Deus nos está usando para fazer milagres a pessoas que jamais imaginariam que um dia seriam tocadas simplesmente por um exemplo de amor, compaixão e serviço?
O que estamos fazendo de errado? O que eu estou fazendo de errado?...

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno."

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O retorno de Deus e as mudanças da sociedade contemporânea.

Entrevista especial com John Micklethwait


Pensar como o renascimento global da fé está alterando e transformando a sociedade contemporânea. Esta é a proposta da obra “God is back: How the Global Revival of Faith Is Changing the World”, dos jornalistas ingleses John Micklethwait e Adrian Wooldridge. Apontando, estatisticamente, o aumento mundial do número de fiéis, os autores refletem sobre os fenômenos sociais ligados ao “retorno” de Deus e a religião como fator político.

Em entrevista por e-mail à IHU On-Line, John Micklethwait trata dos aspectos mais relevantes do livro, como a relação entre religião e modernidade, secularismo e as novas formas de fé. A respeito da proeminência do novo ateísmo e a opinião de autores como Christopher Hitchens, que defendem a morte de Deus, Micklethwait afirma: “Nós não discordamos do ateísmo. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo”.

John Micklethwait é jornalista e editor-chefe da revista britânica “The Economist”.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em sua opinião, quais são os fenômenos sociais que mais manifestam o retorno de Deus atualmente? E que Deus é esse?

John Micklethwait - Se você olhar para o mundo, verá que a religião está indo bastante bem na maioria dos lugares fora da Europa ocidental. Começamos nosso livro com a descrição de uma igreja doméstica na China, onde atualmente há mais cristãos do que membros do Partido Comunista. A religião também voltou à política – para o bem ou para o mal – praticamente em toda parte, inclusive na Europa.

IHU On-Line - Alguns autores de recensões disseram que você fez um estudo geopolítico da fé. Como você analisa a relação entre religião e modernidade dentro do cenário sociopolítico contemporâneo?

John Micklethwait - Durante anos, pensamos que a modernidade significava secularização. Isto estava errado. A religião tem ido muito bem em todos os lugares modernos (e em processo de modernização) fora da Europa ocidental. A verdadeira relação é aquela entre a modernidade e o pluralismo – a capacidade de escolher sua fé (ou de não ter nenhuma fé). Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom.

"Tanto as pessoas religiosas quanto as ateístas deveriam ter condições de concordar que o pluralismo é bom"


IHU On-Line - Em oposição a suas ideias, autores como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris defendem mais uma vez a morte de Deus. Como você analisa esse novo ateísmo?

John Micklethwait - Nós não discordamos do ateísmo – meu co-autor é ateísta. Mas discordamos efetivamente da ideia de que a religião esteja desaparecendo. E não aceitamos o argumento de Hitchens de que a religião é praticamente sempre má.

IHU On-Line - No início de seu livro, você apresenta dois caminhos alternativos para a modernidade: o europeu e o americano. De que consistem eles?

John Micklethwait - O caminho americano se baseia no pluralismno – numa multiplicidade de crenças que competem umas com as outras –, e a religião está indo bem. O caminho europeu tem tido igrejas estatais – e está se desintegrando.

IHU On-Line - Atualmente, após a crise financeira e suas consequências, como você vê a relação entre a religião e o capitalismo?

John Micklethwait - Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo. Fazendo uma generalização horrenda, parece haver efetivamente uma relação entre certas religiões evangélicas empreendedoras e o capitalismo. Alguns chineses querem copiar a religiosidade americana para ficar mais ricos. Se você for a uma igreja pentecostal no Brasil, como eu fiz, verá que há uma ênfase bastante forte em se dar bem.

"Não há relação entre a religião e o capitalismo. Jesus não foi especialmente gentil com os cambistas no templo"

IHU On-Line - Em seu livro, você diz que “as próprias coisas que supostamente destruiriam a religião – a democracia e os mercados, a tecnologia e a razão – estão se combinando para torná-la mais forte”. Em sua opinião, como e por que isso ocorre?

John Micklethwait - Porque as forças da globalização levam as pessoas à fé. Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade (partes do sul conservador dos Estados Unidos, por exemplo, ou a Arábia muçulmana). Mas muitas classes médias em ascensão (os subúrbios americanos, a burguesia hinduísta na Índia, o partido AK na Turquia) a veem como uma forma de progredir.

IHU On-Line - Como você analisa o sucesso que a fé ao estilo americano está tendo no Brasil, com a Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo?

John Micklethwait - Eu a achei extremamente interessante. Ela tem raízes americanas óbvias, mas é uma experiência muito brasileira – como o foco no exorcismo, por exemplo. Esse tipo de religião implica uma proposta de dar respeitabilidade às pessoas.

"Algumas pessoas usam a religião como um abrigo contra a modernidade. Mas muitas classes médias em ascensão a veem como uma forma de progredir"

IHU On-Line - Sendo um país de grande liberdade religiosa, a grande guerra das religiões no Brasil se dá justamente entre a Igreja Católica e as igrejas neopentecostais. Qual é sua opinião sobre esse novo tipo de guerra das religiões dentro da mesma tradição religiosa?

John Micklethwait - Bem, o lado bom é que não se trata realmente de uma guerra (como, por exemplo, o é a batalha no Oriente Médio ou na Nigéria). É um modelo de concorrência. Havia uma Igreja Católica dominante preguiçosa; os pentecostais se apossaram de uma fatia do mercado; agora os católicos estão respondendo.

IHU On-Line - Você afirma que há “igrejas de ciclistas para ciclistas, igrejas de caubóis para caubóis, igrejas esportivas para esportistas”. Que tipo de fé é essa que se segue à volta de Deus atualmente?

John Micklethwait - O aspecto a ser destacado neste caso é que as igrejas segmentam seu público. Há algo para todos.

(deu na www.unisinos.org.br)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

tem coisa mais na contra mão do que isso? rs


Religião, ideologia e escola
Considerações sobre o ensino religioso, o acordo firmado entre o governo brasileiro e a Santa Sé e algumas implicações para a cidadania e a educação no Brasil
 
Roseli Fishmann


Temas complexos, escola, religião e ideologia, quando entrelaçados, podem gerar misturas explosivas, como a história já demonstrou. Governos totalitários e autoritários, em geral, buscaram na religião um apoio aos processos de manipulação de consciências. Melhor seria dizer que esse apoio foi buscado não exatamente nas religiões, mas nas instituições religiosas e, sobretudo, em autoridades estratégicas dessas instituições. De um lado, o mero e simples interesse humano e terreno pelo poder e suas benesses. De outro, argumentos que invocam o inefável e o intangível, como modo de arrebatar corações e mentes.

A formação de verdadeiros exércitos, prontos ao sacrifício, enquanto entregues às ordens arbitrárias do soberano, ele próprio aparentemente investido, então, de um poder transcendental, conforme atribuído por seus aliados religiosos, autorizou das torturas e matanças, na Inquisição, ao apoio às ditaduras recentes, na América Latina.

Como as instituições religiosas, independentemente de suas doutrinas, são organizações humanas complexas, surgem também, em seu interior, simultaneamente, oposições a semelhantes processos de aderência a governos totalitários e autoritários. Houve na Inquisição quem rejeitasse as práticas, e fosse igualmente sacrificado, como também se encontraram em instituições religiosas alguns dos mais significativos pilares da resistência às ditaduras e de ativa reconstrução democrática recente na América Latina.

Nesse processo, impor às escolas conteúdos religiosos liga-se a uma pergunta central: a quem interessa a imposição? Que parcela dos grupos religiosos chegará à escola? A que compactua com o autoritarismo, ou a que busca fortalecer a democracia?

Haverá quem diga que nem um, nem outro, mas que deveria ser uma abordagem religiosa "neutra". Sucede que as instituições religiosas, em sua dimensão humana, vivem os mesmos processos de disputas internas de poder que qualquer outra organização humana vive. Não são homogêneas internamente; ao contrário, há grande heterogeneidade em seu interior, configurando, mesmo, em alguns casos, um tipo de diversidade ou pluralidade no interior daquela singularidade de fé. Não à toa, há conflitos internos, tendências dominantes em diferentes momentos, em geral ligadas à relação daquela instituição religiosa com o momento político nacional e mesmo internacional. Para quem é observador externo, a perspectiva "vista de fora" é de que são todos o mesmo. Vivido de dentro, nunca é tão simples.

Ao tratar de escolas confessionais, comunitárias, o que se observa é que os pais dos estudantes, ao fazer recair sobre esta ou aquela escola a escolha de onde fazer estudar seus filhos e filhas, são em geral pessoas de vida religiosa, ativa ou desejando se fazer ativa, e muito frequentemente de vida comunitária no interior daquele dado culto. Nesse sentido, têm conhecimento desses processos internos organizacionais, e sabem que, de uma forma ou de outra, as escolas ligadas a seu grupo religioso serão influenciadas por isso. Mas é sua escolha ali colocar seus filhos, integrá-los à vida comunitária em todos os sentidos.

Isso, contudo, não tira dessa escola o dever de ensinar às crianças e adolescentes que têm sob sua responsabilidade todos os conteúdos exigidos pelas normas nacionais, como os que atualmente se apresentam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Vale aqui um esclarecimento. Não há um PCN de ensino religioso, pelo simples fato de que, sendo o Estado laico, não pode se pronunciar sobre assuntos religiosos ou que, de alguma forma, envolvam religião. Ou passaria o Estado - por intermédio do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, das Secretarias Estaduais de Educação e Conselhos Estaduais de Educação - a ditar conteúdos e interferir sobre as religiões, ferindo diversos dispositivos constitucionais e legais. Há uma publicação a que atribuíram esse nome, mas que não é oficial, não impondo qualquer tipo de obrigação a qualquer escola ou docente. Cada uma das escolas confessionais decidirá seu conteúdo religioso. Os limites são no sentido de que é vedado ministrar conteúdo que fira a legislação brasileira e os direitos de cidadania, incluindo divulgação de preconceito, apologia de qualquer tipo de discriminação, violação dos direitos das crianças e adolescentes, ou deixar de ministrar os conteúdos científicos previstos pelo MEC para cada fase da vida escolar.

Já ao passar à realidade da escola pública, muda todo o cenário. Porque os cuidados são específicos, no âmbito de uma escola que é ela própria parte integrante do Estado, voltada como ele ao cumprimento dos princípios, fundamentos e objetivos estabelecidos pela Constituição Federal, que se dirige a todos e todas, como um ou uma da cidadania, não pela escolha religiosa, pelo gênero, pela origem social ou pelo que seja. Todas e todos livres e iguais em dignidade e direitos, aprendendo a partir da escola pública a exercer sua autonomia, com todas as responsabilidades daí decorrentes.
Caminho para a injustiça
Nesse sentido, se coloca de forma crucial o tema da liberdade de consciência, de crença e de culto, protegida pela Constituição Brasileira em seu Artigo 5º, que estabelece que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (...)", como também no seu Artigo 19. Porque a escola pública não pode permitir ou praticar qualquer tipo de discriminação em seu interior, que fira o Artigo 5º e que também leve à violação do princípio da isonomia entre os cidadãos e cidadãs, como estabelecido no Artigo 19, "III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Fazer qualquer escolha de tipo religioso na escola pública é estabelecer condições para o desenvolvimento do preconceito e da discriminação, pelas diferenças religiosas que, enquanto operam na sociedade, ali encontram seu equacionamento. Se o Estado interfere, entretanto, implanta-se a injustiça. Uma escolha religiosa pela escola pública, seus dirigentes ou docentes estabelece também as bases do solapamento da autoestima de grupos inteiros de estudantes, que, ao se sentirem preteridos frente à sinalização do Estado de que um grupo religioso é mais estimado do que os demais, constrangidos e humilhados poderão se retirar da cena pública, ao invés de aprender a lidar com ela, como na escola devem aprender. Ao mesmo tempo, se a escola faz uma escolha em termos de símbolos religiosos que expõe em seu recinto, pelas paredes e nichos, redobram-se esses problemas, sendo um tipo de violência simbólica, de consequências imprevisíveis.

A implantação da República trouxe a laicidade do Estado e, de forma consequente, de todos os estabelecimentos de ensino público. A retomada do ensino religioso nas escolas públicas, sintomaticamente, se fez por Getúlio Vargas, para ganhar o apoio da Igreja Católica para sua ditadura. Mas a laicidade, em si, veio depois de quase 400 anos de presença católica como religião oficial de Estado, durante a Colônia e o Império. Nesse sentido, convém lembrar que a conquista do Brasil se fez sob a bandeira da Contra-Reforma, ou seja, da reação católica ao surgimento das então novas igrejas protestantes, sendo os jesuítas os responsáveis pelas escolas públicas no Brasil, como em Portugal, Espanha e colônias, em um processo de aliança política e econômica entre o rei e o Vaticano. Frequentemente esse passado, no qual se praticou genocídio contra os povos indígenas que aqui viviam e que se apoiou na escravização de africanos, é mencionado com orgulho, como a justificar a presente busca de privilégios pela religião hegemônica.

Seria fortuito o fato de o constituinte haver posicionado, como diferentes parágrafos de um mesmo o artigo, tanto o dispositivo que define, de forma ambígua, o tema do ensino religioso em escolas públicas (Artigo 210, § 1º - "O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental."), quanto a inovadora, embora tardia, proteção presente no Artigo 210 § 2º, que assegura às comunidades indígenas "a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem"?

Para onde vamos, caberia ainda perguntar? O fato é que a cidadania assistiu, pasma, à aprovação, pelo Congresso Nacional, de um acordo assinado com a Santa Sé, pelo governo federal em novembro de 2008, no Vaticano. Foi aprovado com algum debate na Câmara dos Deputados, e em prazo recorde no Senado. Apresentado como acordo bilateral, internacional, que contornaria, na interpretação de seus defensores, a proibição da Constituição Federal, no já mencionado Artigo 19. Não apenas não contorna, como é inconstitucional e demonstra um tipo de aliança entre o Executivo e setores do Legislativo e uma determinada denominação religiosa que indica um perigoso retrocesso no Brasil. Portugal e Espanha, por exemplo, vêm travando histórico processo para se desfazer de concordatas (o nome técnico desse tipo de acordo) assinadas por Salazar e Franco. Como a Alemanha tem a marca de uma concordata assinada por Hitler, e a Itália, por Mussolini.

Nas escolas, o mais grave, embora indicado como ressalva, pelo Relator da Comissão de Educação, em um primeiro parecer, do qual recuou, após pressão em plenário, o artigo 11 desse acordo é inconstitucional e contra o que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei  9.394/96), pois torna obrigatório o "ensino religioso católico" em todas as escolas. Ou seja, independentemente do caráter facultativo para o aluno, as escolas passam a ter de oferecer esse ensino católico, e que o acordo complementa "e de outras confissões religiosas", passando por cima da Constituição e da LDB, que em seu Artigo 33 estabelece a proibição do proselitismo ao regulamentar o parágrafo 1º do artigo 210 (antes citado), e define que "os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso".

Assim, é difícil a resposta à pergunta "para onde vamos". Porque a situação atual, se o presidente Lula homologar esse acordo inconstitucional, imporá ao país uma convivência com um documento bilateral, internacional, sobrepondo-se à lei complementar à Constituição, que é a LDB, e à própria Constituição.

Roseli Fischmann é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da USP e da Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo. Perita da Coalizão Internacional Unesco de Cidades contra o Racismo e a Discriminação