segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um pouco de sonho...

O comentário do meu amigo Marcão, por semanas, me fez pensar se seria um escapismo esta busca por algo muito diferente do que tradicionalmente temos chamado de igreja. Então, tentando responder à pergunta do Klebert em alguns posts atrás, vou apresentar uma visão particular do sonho que ando sonhando (perdão aos lingüistas) motivado por estas discussões.

Comunidade
Este vocábulo do nosso vernáculo (será que eu agüento até o fim do post?) tem um conceito ainda tão ambíguo (favela, igreja, clube, membros de blogs, grupo de programadores de sistemas open source, etc.) quanto "igreja" tinha para Martinho Lutero na sua tradução da Bíblia ao alemão, a ponto de ele substituí-la por "congregação" - para evitar confusões, segundo Emil Brunner.
Sonhei com um grupo de pessoas, unidas pelo interesse mútuo... mais do que comum, mútuo. Algo como uma grande reunião anual familiar, com comida, música... onde todos os parentes (agora fiquei na dúvida se esta analogia vai ser eficaz...) se encontravam em um lugar aprazível para que, ao menos uma vez ao ano, tivessem a oportunidade de se verem, reforçarem seus laços de relacionamento, saberem uns dos outros, compartilharem experiências, apreciarem seus filhos brincando juntos, celebrarem as conquistas, dividirem as cargas, trocarem idéias e colocarem alguns planos pra andar. Provavelmente alguns de nós já tivemos e ainda tenhamos a oportunidade de participar de algo parecido de vez em quando. Agora sonhemos juntos... e se pudéssemos ter isso toda a semana?

Evangelismo
Eis outra palavrinha cujo sentido já foi tão torcido em nosso entendimento, que a mesma assumiu o sentido de proselitismo e ainda achamos que isso é a coisa mais natural do mundo, como se nossa errônea atitude fosse corroborada por Deus por estarmos fazendo Sua obra: evangelismo.
Sonhei que nessa grande reunião de família convidávamos amigos, que se sentavam junto à mesa assim como nós e foram apresentados a outros membros da família, e também puderam compartilhar das mesmas experiências citadas acima. E, após algumas visitas, estes amigos se sentiram tão bem em nosso meio, e nós com eles, a ponto de todos já os considerarem parte da família... ao ponto de eles também se sentirem parte da família! Não interessavam suas crenças ou origens religiosas, o que interessava era que eles estivessem junto, contribuindo para este ambiente. Às vezes o interesse deles se manifestava, impressionados pela forma de como um ambiente assim se desenvolveu, cresceu e se multiplicou. Para outros, não aparecia interesse nenhum, e tudo continuava tão bem quanto antes, pois como dissemos: o que importava era que eles estivessem junto!

Estrutura organizacional
Qual é o benefício provido por uma estrutura formal organizada para uma comunidade? A resposta parece óbvia no ponto de vista sociológico, mas para um grupo essencialmente relacional, muitos de nós a estivemos combatendo com unhas e dentes desde que nos conhecemos, quando iniciamos o GEA, pois percebemos que uma estrutura formal fatalmente nos desviaria de nossos propósitos originais.

Sonhei que os planos que alguns membros desta família eventualmente desenvolveram no tempo, foram se estruturando, tomando forma, até que se tornaram ações reais pela atitude destes e de outros membros que abraçaram as iniciativas apresentadas em pról de propósitos adotados para o bem comum. Claro que estes projetos foram se multiplicando, e diversas idéias se tornaram realidade para esta família e para aqueles que a ela se juntaram, todos motivados pelo interesse mútuo. E a estrutura? Bem, não havia a necessidade de uma estrutura formal para auxiliá-los nos seus propósitos, pois as lideranças surgiam naturalmente motivadas pelo senso de serviço.

Infelizmente, olhando um pouco para experiências recentes que tive nestes dois últimos anos, começo entender um pouco mais do que o Marcão quis dizer em seu comentário, e começo também a crer que o maior inimigo deste sonho somos nós mesmos. Parafraseando Belchior, na saudosa interpretação de Elis Regina:
"...
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
..."
Bem, quero acreditar que existem diversas possíveis soluções para esta questão, porém já estou o suficientemente cansado neste instante para continuar discorrendo sobre o assunto... desculpa turma, fica pra um próximo post.

4 comentários:

Lilian disse...

Excelente post, obviamente. Aplaudo de pé, particularmente pela escolha de referência musical na conclusão. Espero voltar e escrever mais depois.

Marco Aurelio Brasil disse...

Gabi, coisas boas assim é bom que fiquem gestando um tempo, sem ninguém correr a postar por cima. Porque só hoje consegui ler o que você tinha escrito. E retomo o fio da meada de uma conversa que mantive com o Klebert numa dessas madrugadas. Qual a razão porque Deus não Se revolta contra o sistema formal igrejeiro que conhecemos como nós mesmos nos revoltamos? É óbvio que eu não tenho base para falar se Ele Se revolta ou não, mas a verdade é que não surgiram grandes reformadores nos últimos tempos, a ponto de criar uma igreja orgânica como deveria ter sido. Será que Ele está preparando o terreno e colocando o germe da insatisfação nosso peito pra florescer na hora certa? Ou será que Ele gosta da igreja torta e mequetrefe que está aí, porque é ela que consegue reunir gente tão heterogênea ou por outra razão qualquer que eu não alcanço? Qualquer que seja a resposta, não é ruim sonhar o teu sonho. Especialmente porque também eu ando nostálgico da igreja que nós (geanos e agregados) fomos.

Gabriel Henríquez disse...

Marcão,
A coisa mais gratificante em relembrar a experiência que tivemos juntos e você a trouxe à tona é a percepção que hoje temos de que esta mesma experiência era a nossa igreja, nossa comunidade, nosso núcleo onde tínhamos a oportunidade de exercermos o Grande Mandamento em toda sua plenitude... "e dia a dia o Senhor acrescentava os que iam sendo salvos."
Eu também estou com saudades... e quero viver isto novamente... intensamente.
Então me vem a pergunta: o que precisamos para fazermos disso uma realidade?

Anônimo disse...

Visitei o blog de vocês e o termo contra mão tem sido utilizado muito... ...principalmente entre aqueles que descordam de viver da maneira que a sociedade impoem...

Por tanto se for interresante pra vcs...

www.vertikalproject.com

Vale a divulgação!

Brigadinha!