Vocês já ouviram falar e/ou assistiram o Record Keeper? É uma série que foi inicialmente concebida e financiada pela Conferência Geral e no fim "abandonada" semanas antes do lançamento planejado porque os líderes teológicos e administrativos da igreja acharam que era muito problemático e muito "negativo" e "dark." Aqui está a notícia oficial em português no site da igreja.
Para aqueles que não conhecem a série, resolvi escrever um outro post no qual estou inserindo o clipe do YouTube para o primeiros episódio (os outros podem ser facilmente encontrados) e também o link para o site que disponibilizou os episódios com legendas em português (mais abaixo).
Nós já assistimos várias vezes e gostamos muito. A série foi concebida e filmada no estilo retro-futurista "Steampunk" (nossa, eu não tinha ideia que De volta pro futuro 3 é meio que considerado "steam" -- por causa do uso do trem, e quase decerto steampunk!). A narração concentra-se em dois anjos, um caído, outro que ficou ao lado de Deus e na "Guardadora dos Registros" que trabalha no céu registrando narrações objetivas de episódios chaves deste grande conflito. É fascinante!
O objetivo da conferência geral era utilizar cada episódio série como um dos elementos de uma série evangelística, acompanhados de um sermão, estudos bíblicos e coisa e tal. E inclusive algumas igrejas na região de Washington DC participaram de um plano piloto usando a série. Mas daí os líderes da igreja acharam que era polêmico demais e deixaram de lado como está explicado neste link (o lançamento estava previsto online para fevereiro do ano passado [2014]). A análise completa dos teólogos da igreja pode ser encontrada aqui (em inglês, em PDF).
No fim, a série acabou vazando e sendo partilhada no YouTube em julho do ano passado, o que foi "menos mal", pois pelo menos ela está disponível! O primeiro episódio, o piloto, foi postado pelo próprio diretor, mas os outros foram também disponibilizados por outras pessoas. Foi criado também um site para divulgar o Record Keeper com legendas em português que aparentemente podem ser baixadas. Eu não tentei portanto não sei se funciona. Clip do primeiro episódio:
Assistam tudo se puderem (vale muito à pena!!) e depois nos falem o que acharam!
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Se fosse hoje...
"Jesus foi por todo o nordeste, ensinando nas escolas, anunciando as boas notícias relacionadas com o Governo divino, e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo. Notícias sobre Ele se espalharam por todos os países vizinhos, e o povo lhe trouxe todos que estavam padecendo vários males: pessoas com câncer, mal de parkinson, alzheimers, aids, esquizofrenia, paralisia, derrame, e doenças do coração; e ele os curou a todos. Grandes multidões o seguiam vindas do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste."
Mateus
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Os Adventistas são estranhos
Esse post é longo, desculpem-me pela prolixidade! É isso que dá quando se fica anos sem escrever neste blog!
Alguns anos atrás eu de repente “me toquei” que nós adventistas somos muito estranhos como uma denominação cristã e que nem percebemos isso. Aliás, em países muçulmanos, como o Egito, onde meu cunhado Kleyton agora trabalha como missionário, a igreja adventista passou por apuros no ano passado quando os outros cristãos quase conseguiram passar uma lei que excluía os adventistas do grupo de igrejas cristãs. Felizmente a lei não foi aprovada (ainda) e a igreja está lutando para continuar sendo reconhecida pelo governo. Depois eu volto a falar da questão dos países muçulmanos, mas ela está relacionada com o que eu vou explicar abaixo.
Quero abordar este assunto porque ele está me incomodando há anos e também porque eu não tenho como discutir isso com muitas pessoas, só com uma amiga nossa, a Jenny, que é a nossa única amiga verdadeiramente “GEAna” aqui onde moramos. E vai ser ótimo ter a opinião (super informada!) de vocês. Além de uma perspectiva diferente de quem está no Brasil.
Na minha opinião, uma das razões pelas quais nós acabamos não reconhecendo/descobrindo que somos estranhos é que interagimos muito pouco com pessoas de outras denominaçõea cristãs (especialmente outras igrejas protestantes) e vivemos numa “bolha” isolada. Além disso, aí no Brasil há certas campanhas evangelísticas que exploram facetas de um país católico e que acabam mascarando um pouco a nossa “estranheza”, mas já volto a falar mais sobre isso.
O dia em que fiz esta descoberta de maneira mais intensa foi uma sexta-feira à noite em que estávamos ensaiando o nosso pequeno coral na igreja de Fairview Village na região da Filadélfia (Pensilvânia). Depois de 4 tumultuados anos frequentando uma pequena igreja brasileira, nós finalmente tínhamos decidido mudar para a igreja americana que ficava há 10 minutos de casa.
A igreja também era pequena (em número de membros), mas havia algumas novas famílias vindo, incluindo uma senhora boliviana que tinha recentemente se casado com um senhor americano que tinha sido pastor luterano, nosso amigo Bob. O Bob tinha muitos talentos musicais (tinha sido inclusive organista além de pastor) e então o chamamos para juntar-se ao nosso pequeno coral. Planejamos com o pastor um programa de páscoa para o sábado à tarde que antecedia o domingo de páscoa e nosso coralzinho ia cantar duas músicas, então, obviamente, marcamos um ensaio pra sexta à noite.
(Vou abrir um parênteses aqui pra contar que por muitos anos eu li o blog e me tornei muito amiga de uma [agora ex] blogueira que fez um PhD em teologia e que é episcopal/anglicana. Minha amiga Annie sempre escrevia muito sobre a sua igreja e sobre as diferentes celebrações que eles tinham, especialmente como os filhos pequenos dela se envolviam na celebração da páscoa: lava-pés na igreja na quinta à noite, como na sexta eles removiam os enfeites da igreja e a cruz (eu acho) e sábado à noite ficavam todos de vigília, tristes na igreja e a tinham uma vibrante celebração da ressurreição de Cristo ao nascer do sol de domingo, tudo muito interessante. Ela também sempre falava da quaresma e de vários outros eventos no calendário eclesiástico cristão – que no Brasil achamos que é apenas católico, mas que na verdade também é usado e respeitado por muitos protestantes. Fim do parênteses.)
Naquela sexta à noite, quando acabou o ensaio do coral, eu olhei pro meu amigo Bob e de repente tive um “estalo.” Eu falei que devia ser muito estranho pra ele estar ali naquela noite, Sexta-feira da Paixão, na qual ele provavelmente estaria na igreja, num culto, pois é uma data tão importante para as outras denominações cristãs mas que nós adventistas não “celebramos.” Depois disso tive algumas conversas com ele e, no mesmo ano, tivemos um judeu messiânico que veio à nossa igreja para celebrarmos um Seder (Páscoa Judaica) com simbolismo cristão que foi fascinante!
Eu entendo que o calendário cristão/católico tem muitas celebrações (senão quase todas) baseadas em festivais pagãos e esta é uma forte razão para nossa igreja não segui-lo, mas não é estranho que não vemos mal nenhum em celebrar o natal, mas não se celebra a páscoa? (Só porque é num domingo? só porque a data é relacionada com o paganistmo? O natal também é!) No Brasil às vezes se esquece que a igreja adventista oficialmente não celebra a páscoa porque a igreja adventista, super oportunista em termos de evangelismo (o que não é uma coisa ruim, só estou sendo chata), estabeleceu os “Calvários” – reuniões durante a Semana Santa que aproveitam a “onda” da semana mais celebrada da religião cristã e católica.
Aqui nos Estados Unidos obviamente não há isso, mesmo porque as igrejas protestantes principais (batista, metodista, etc), celebram mesmo só o domingo de páscoa, não tem nada na quinta-feira, sexta e sábado (são só católicos, episcopais e os luteranos que tem cultos/cerimônias nestes dias, pra celebrar a última ceia, a morte de cristo e a ressurreição ao nascer do sol de domingo). Vocês sabiam que existe lava-pés nestas denominações, mas só uma vez por ano na quinta feira que antecede a Sexta-feira Santa? (Nós, por outro lado, temos lava-pés nas "Santas-Ceias" que ocorrem em épocas aleatórias durante o ano, sendo que muitas outras denominações cristãs e os católicos, fazem a "comunhão" com o pão e vinho/suco em TODOS os cultos, qual é a razão das datas aleatórias da Santa Ceia?).
À partir desta experiência com meu amigo Bob, eu comecei prestar mais atenção e a perceber a “estranheza” do adventismo em outros aspectos também. Guardamos o sábado, que foi estabelecido na criação, mas todas as outras festas judaicas foram “abolidas” porque já tiveram seu cumprimento em Jesus, é isso? Eu imagino que a posição oficial da igreja é que se alguém quiser celebrar as festas judaicas (páscoa judaica, dia da expiação, tabernáculos – esqueci os nomes judaicos) não há problema, mas que esta prática não tem nada a ver com a salvação. (como? Se as festas apontavam para Cristo sim, mas em vários lugares da Bíblia fala-se que deveriam ser celebradas em perpetuidade-- OK, pelo povo de Israel).
Tem uma outra coisa que me irrita ainda mais profundamente (e que é um ponto de contenção importante nos países muçulmanos). Como é que dizemos seguir os conselhos alimentares de Levíticos 11, mas não advogamos seguir uma dieta Kosher ou não comemos somente carne abatida da maneira própria (Kosher ou Hallal – deixando o sangue escorrer como as escrituras falam para fazer)? Aqui nos Estados Unidos a maioria dos Adventistas são ovo-lacto vegetarianos, mas ao redor do mundo não, e se come qualquer carne "limpa" de qualquer proveniência (exceto porco e frutos do mar). E tem outro problema! Os judeus que seguem a dieta Kosher, NUNCA misturam queijo com carne, já que a Bíblia fala para não comer o filhote da vaca com o leite da mãe. Inclusive eu conheci alguns judeus israelenses-americanos (não praticantes da religião, mas sim dos costumes) que eram ovo-lacto vegetarianos porque é muito mais fácil seguir a dieta Kosher sem comer carne. Eu não estou querendo ser uma chata legalista, só estou querendo questionar as nossas práticas que parecem ser bem "seletivas" -- seguimos a Bíblia literalmente em alguns lugares, e em outros não. (e eu NÃO SEI qual seria a solução para estes problemas, obviamente).
Não estou querendo argumentar que a alimentação "estilo Kosher" seria um ponto super-sério “de salvação,” mas como explicar não comer carne de porco e frutos do mar e não seguir outras partes do capítulo 11 de Levíticus (comer carne abatida de qualquer jeito, com o sangue, e carne de vaca com queijo?).
Claro que mesmo o cumprimento parcial das leis alimentares é BOM, e é precisamente o que causa problemas nos países islâmicos. Uma das razões para os adventistas serem SUPER estranhos em países muçulmanos e às vezes NÃO considerados cristãos é que adventistas não comem porco e carnes imundas! Para os muçulmanos num país como o Egito, todos os cristãos adoram os santos e imagens (algo que é contrário aos princípios dos muçulmanos -- e que a igreja protestante na verdade procurou restaurar, retirando o culto às imagens) e são "sujos" -- isto é, comem carnes imundas. Então eles ficam super confusos com os adventistas, obviamente. Além de que nós também guardamos os sábado, então somos meio judeus (os "inimigos" do Islam), o que complica ainda mais as coisas.
Bom, onde é que eu estou querendo chegar com tudo isso? Estou apenas querendo saber a sincera opinião de vocês sobre estes assuntos, pode ser?
Um último comentário é que uma das coisas que me incomoda no fato de nós termos deixado de lado todos estes "rituais" do cristianismo/catolicismo é que rituais são coisas naturais ao ser humano e fazem com que crenças abstratas tornem-se mais significativas, especialmente para crianças -- daí a beleza da Santa Ceia como simbolismo, por exemplo. Acho que pode haver muita beleza simbólica e profunda nos rituais tradicionais do cristianismo e talvez isso seja algo que nos falta.
OK, terminei. Será que alguém conseguiu chegar até o fim? :-)
Alguns anos atrás eu de repente “me toquei” que nós adventistas somos muito estranhos como uma denominação cristã e que nem percebemos isso. Aliás, em países muçulmanos, como o Egito, onde meu cunhado Kleyton agora trabalha como missionário, a igreja adventista passou por apuros no ano passado quando os outros cristãos quase conseguiram passar uma lei que excluía os adventistas do grupo de igrejas cristãs. Felizmente a lei não foi aprovada (ainda) e a igreja está lutando para continuar sendo reconhecida pelo governo. Depois eu volto a falar da questão dos países muçulmanos, mas ela está relacionada com o que eu vou explicar abaixo.
Quero abordar este assunto porque ele está me incomodando há anos e também porque eu não tenho como discutir isso com muitas pessoas, só com uma amiga nossa, a Jenny, que é a nossa única amiga verdadeiramente “GEAna” aqui onde moramos. E vai ser ótimo ter a opinião (super informada!) de vocês. Além de uma perspectiva diferente de quem está no Brasil.
Na minha opinião, uma das razões pelas quais nós acabamos não reconhecendo/descobrindo que somos estranhos é que interagimos muito pouco com pessoas de outras denominaçõea cristãs (especialmente outras igrejas protestantes) e vivemos numa “bolha” isolada. Além disso, aí no Brasil há certas campanhas evangelísticas que exploram facetas de um país católico e que acabam mascarando um pouco a nossa “estranheza”, mas já volto a falar mais sobre isso.
O dia em que fiz esta descoberta de maneira mais intensa foi uma sexta-feira à noite em que estávamos ensaiando o nosso pequeno coral na igreja de Fairview Village na região da Filadélfia (Pensilvânia). Depois de 4 tumultuados anos frequentando uma pequena igreja brasileira, nós finalmente tínhamos decidido mudar para a igreja americana que ficava há 10 minutos de casa.
A igreja também era pequena (em número de membros), mas havia algumas novas famílias vindo, incluindo uma senhora boliviana que tinha recentemente se casado com um senhor americano que tinha sido pastor luterano, nosso amigo Bob. O Bob tinha muitos talentos musicais (tinha sido inclusive organista além de pastor) e então o chamamos para juntar-se ao nosso pequeno coral. Planejamos com o pastor um programa de páscoa para o sábado à tarde que antecedia o domingo de páscoa e nosso coralzinho ia cantar duas músicas, então, obviamente, marcamos um ensaio pra sexta à noite.
(Vou abrir um parênteses aqui pra contar que por muitos anos eu li o blog e me tornei muito amiga de uma [agora ex] blogueira que fez um PhD em teologia e que é episcopal/anglicana. Minha amiga Annie sempre escrevia muito sobre a sua igreja e sobre as diferentes celebrações que eles tinham, especialmente como os filhos pequenos dela se envolviam na celebração da páscoa: lava-pés na igreja na quinta à noite, como na sexta eles removiam os enfeites da igreja e a cruz (eu acho) e sábado à noite ficavam todos de vigília, tristes na igreja e a tinham uma vibrante celebração da ressurreição de Cristo ao nascer do sol de domingo, tudo muito interessante. Ela também sempre falava da quaresma e de vários outros eventos no calendário eclesiástico cristão – que no Brasil achamos que é apenas católico, mas que na verdade também é usado e respeitado por muitos protestantes. Fim do parênteses.)
Naquela sexta à noite, quando acabou o ensaio do coral, eu olhei pro meu amigo Bob e de repente tive um “estalo.” Eu falei que devia ser muito estranho pra ele estar ali naquela noite, Sexta-feira da Paixão, na qual ele provavelmente estaria na igreja, num culto, pois é uma data tão importante para as outras denominações cristãs mas que nós adventistas não “celebramos.” Depois disso tive algumas conversas com ele e, no mesmo ano, tivemos um judeu messiânico que veio à nossa igreja para celebrarmos um Seder (Páscoa Judaica) com simbolismo cristão que foi fascinante!
Eu entendo que o calendário cristão/católico tem muitas celebrações (senão quase todas) baseadas em festivais pagãos e esta é uma forte razão para nossa igreja não segui-lo, mas não é estranho que não vemos mal nenhum em celebrar o natal, mas não se celebra a páscoa? (Só porque é num domingo? só porque a data é relacionada com o paganistmo? O natal também é!) No Brasil às vezes se esquece que a igreja adventista oficialmente não celebra a páscoa porque a igreja adventista, super oportunista em termos de evangelismo (o que não é uma coisa ruim, só estou sendo chata), estabeleceu os “Calvários” – reuniões durante a Semana Santa que aproveitam a “onda” da semana mais celebrada da religião cristã e católica.
Aqui nos Estados Unidos obviamente não há isso, mesmo porque as igrejas protestantes principais (batista, metodista, etc), celebram mesmo só o domingo de páscoa, não tem nada na quinta-feira, sexta e sábado (são só católicos, episcopais e os luteranos que tem cultos/cerimônias nestes dias, pra celebrar a última ceia, a morte de cristo e a ressurreição ao nascer do sol de domingo). Vocês sabiam que existe lava-pés nestas denominações, mas só uma vez por ano na quinta feira que antecede a Sexta-feira Santa? (Nós, por outro lado, temos lava-pés nas "Santas-Ceias" que ocorrem em épocas aleatórias durante o ano, sendo que muitas outras denominações cristãs e os católicos, fazem a "comunhão" com o pão e vinho/suco em TODOS os cultos, qual é a razão das datas aleatórias da Santa Ceia?).
À partir desta experiência com meu amigo Bob, eu comecei prestar mais atenção e a perceber a “estranheza” do adventismo em outros aspectos também. Guardamos o sábado, que foi estabelecido na criação, mas todas as outras festas judaicas foram “abolidas” porque já tiveram seu cumprimento em Jesus, é isso? Eu imagino que a posição oficial da igreja é que se alguém quiser celebrar as festas judaicas (páscoa judaica, dia da expiação, tabernáculos – esqueci os nomes judaicos) não há problema, mas que esta prática não tem nada a ver com a salvação. (como? Se as festas apontavam para Cristo sim, mas em vários lugares da Bíblia fala-se que deveriam ser celebradas em perpetuidade-- OK, pelo povo de Israel).
Tem uma outra coisa que me irrita ainda mais profundamente (e que é um ponto de contenção importante nos países muçulmanos). Como é que dizemos seguir os conselhos alimentares de Levíticos 11, mas não advogamos seguir uma dieta Kosher ou não comemos somente carne abatida da maneira própria (Kosher ou Hallal – deixando o sangue escorrer como as escrituras falam para fazer)? Aqui nos Estados Unidos a maioria dos Adventistas são ovo-lacto vegetarianos, mas ao redor do mundo não, e se come qualquer carne "limpa" de qualquer proveniência (exceto porco e frutos do mar). E tem outro problema! Os judeus que seguem a dieta Kosher, NUNCA misturam queijo com carne, já que a Bíblia fala para não comer o filhote da vaca com o leite da mãe. Inclusive eu conheci alguns judeus israelenses-americanos (não praticantes da religião, mas sim dos costumes) que eram ovo-lacto vegetarianos porque é muito mais fácil seguir a dieta Kosher sem comer carne. Eu não estou querendo ser uma chata legalista, só estou querendo questionar as nossas práticas que parecem ser bem "seletivas" -- seguimos a Bíblia literalmente em alguns lugares, e em outros não. (e eu NÃO SEI qual seria a solução para estes problemas, obviamente).
Não estou querendo argumentar que a alimentação "estilo Kosher" seria um ponto super-sério “de salvação,” mas como explicar não comer carne de porco e frutos do mar e não seguir outras partes do capítulo 11 de Levíticus (comer carne abatida de qualquer jeito, com o sangue, e carne de vaca com queijo?).
Claro que mesmo o cumprimento parcial das leis alimentares é BOM, e é precisamente o que causa problemas nos países islâmicos. Uma das razões para os adventistas serem SUPER estranhos em países muçulmanos e às vezes NÃO considerados cristãos é que adventistas não comem porco e carnes imundas! Para os muçulmanos num país como o Egito, todos os cristãos adoram os santos e imagens (algo que é contrário aos princípios dos muçulmanos -- e que a igreja protestante na verdade procurou restaurar, retirando o culto às imagens) e são "sujos" -- isto é, comem carnes imundas. Então eles ficam super confusos com os adventistas, obviamente. Além de que nós também guardamos os sábado, então somos meio judeus (os "inimigos" do Islam), o que complica ainda mais as coisas.
Bom, onde é que eu estou querendo chegar com tudo isso? Estou apenas querendo saber a sincera opinião de vocês sobre estes assuntos, pode ser?
Um último comentário é que uma das coisas que me incomoda no fato de nós termos deixado de lado todos estes "rituais" do cristianismo/catolicismo é que rituais são coisas naturais ao ser humano e fazem com que crenças abstratas tornem-se mais significativas, especialmente para crianças -- daí a beleza da Santa Ceia como simbolismo, por exemplo. Acho que pode haver muita beleza simbólica e profunda nos rituais tradicionais do cristianismo e talvez isso seja algo que nos falta.
OK, terminei. Será que alguém conseguiu chegar até o fim? :-)
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Lei e disciplina I
Quando formulamos os princípios do GEA USP segunda geração, ficou decidido entre outras coisas que nunca iríamos colocar na agenda tópicos para discussão tais quais: qual é o correto comprimento da saia da irmã, ou é certo ou errado ir ao cinema, ou qual é o tipo de música apropriada para cristãos ouvirem, ou jovens adventistas podem ou não usar jóias, jogar baralho, ler romances, comer carne, etc, ... enfim, todos estes assuntos que envolvem formas, geram debates infindáveis e dificilmente levam a algum lugar.
A igreja todavia não é o GEA, e a tendência é promover tais discussões, afinal jovens precisam de direção e não se pode esquecer o que é distintamente ser um adventista. É possível também que estejamos entrando numa fase na qual qualquer discussão dessa natureza é taxada como "salvação pelas obras", e é consequentemente um tabu.
A pergunta é como devemos lidar com esse assunto das formas na experiência religiosa? Se o assunto nunca for abordado será que alguém vai jamais saber o que é certo ou errado? Por outro lado, como evitar a guerra de facções e "achismos"?
Em futuras postagens gostaria de falar um pouco desse assunto em um contexto que raramente é usado dentro da igreja.
Tentando "ressucitar" o blog & Links
Eu (Lilian) e o Klebert tínhamos perdido o acesso às contas de email que criamos para postar neste blog, então estou mexendo um pouco no blog e testando deletar e acrescentar autores para podemos escrever novamente, OK?
O único "link" que tínhamos no blog é para um site que não existe mais (Progressive Adventist), então eu acrescentei um link pra um website HILÁRIO que foi criado no ano passado, Barely Adventist, que contém sátiras hilárias (todas fictícias, obviamente) a variados assuntos relacionados à vida adventista (aqui nos EUA).
Também acrescentei dois sites bem "opostos", o super-tradicional, baseando o neurótico às vezes, Advindicate e a instituição antiga e progressiva, a revista Spectrum.
Por favor, enviem mais sugestões de links! Eu gosto muito do site do Joêzer, mas, desculpem, não sou muito fã dos outros jornalistas adventistas que tem blogs. Na verdade só os li algumas vezes, mas não achei as discussões muito balanceadas.
Bom, vou parando por aqui, mas estou escrevendo um ou mais posts hoje. Está nevando forte aqui em New Market, VA, portanto não podemos ir à igreja e estamos tentando reativar o blog! Obrigada ao Gabriel e o Marco que nunca desistiram dele e continuaram postando esporádicamente.
(abraço, Lilian)
O único "link" que tínhamos no blog é para um site que não existe mais (Progressive Adventist), então eu acrescentei um link pra um website HILÁRIO que foi criado no ano passado, Barely Adventist, que contém sátiras hilárias (todas fictícias, obviamente) a variados assuntos relacionados à vida adventista (aqui nos EUA).
Também acrescentei dois sites bem "opostos", o super-tradicional, baseando o neurótico às vezes, Advindicate e a instituição antiga e progressiva, a revista Spectrum.
Por favor, enviem mais sugestões de links! Eu gosto muito do site do Joêzer, mas, desculpem, não sou muito fã dos outros jornalistas adventistas que tem blogs. Na verdade só os li algumas vezes, mas não achei as discussões muito balanceadas.
Bom, vou parando por aqui, mas estou escrevendo um ou mais posts hoje. Está nevando forte aqui em New Market, VA, portanto não podemos ir à igreja e estamos tentando reativar o blog! Obrigada ao Gabriel e o Marco que nunca desistiram dele e continuaram postando esporádicamente.
(abraço, Lilian)
sábado, 28 de junho de 2014
Flores a Deus
Sabe, quando ouço conversas sobre relacionamento com Deus, doutrinas bíblicas, ou sobre a vontade de Deus para nós, frequentemente tenho a impressão de que buscamos nos convencer de que se fizermos a coisa certa, se crermos na doutrina correta, se tivermos o positivismo necessário e suficiente (e erroneamente achamos que isso é fé), conseguiremos de algum modo convencer a Deus de que somos merecedores do Céu, ou que conseguiremos manipular a vontade divina a nosso favor.
Agimos como se, obedecendo o que cremos ou lemos ser a vontade dEle, seremos agraciados com bênçãos ou seremos mais felizes simplesmente porque conseguimos agradar O todo poderoso que nos recompensará devidamente.
E se, de algum modo, conseguirmos convencer a outros de que a nossa posição (ou religião) é a que Deus quer que eles abracem, aí sim ganharemos estrelinhas na coroa, e a nossa recompensa será muito maior do que a do nosso colega que ainda não conseguiu tal feito.
Geralmente estamos, de algum modo, buscando dizer alguma coisa que nos convença de que nos é mais mais vantajoso seguirmos o que ouvimos do pastor aos cultos nos fins de semana pela manhã, do que viver uma vida desvinculada de Deus, por mais divertida que ela possa parecer, afinal de contas o prêmio no final é muito melhor.
Impressionante o individualismo de nossa cultura ocidental, tão profundamente interiorizado em nossos pensamentos que não nos é possível conceber um relacionamento do qual não possamos tirar vantagens, ainda que este seja com Deus. E ainda mais é o fato de chamarmo-nos de cristãos, e de buscarmos obedecer a Deus, para legitimarmos nossa vontade de satisfazer nosso próprio interesse.
Lembro-me de uma tarde há vários anos atrás, quando fui buscar ao aeroporto de Cumbica minha irmã que vinha nos visitar. Lá, ela nos apresentou um jovem casal de namorados que vinha pela primeira vez ao Brasil passar umas férias e que precisava de uma carona à Rodoviária do Tietê para pegar um ônibus e seguir sua viagem. Eu estava com minha esposa e meus filhos, ainda pequenos (entre 4 e 6 anos provavelmente) e eles nos viram chegando em família para receber carinhosamente a tia tão esperada pelos pequenos.
No caminho ao estacionamento, carregando os carrinhos com as bagagens, o rapaz e eu avançamos com as malas pesadas, enquanto as moças com as crianças vinham a passos mais tranquilos. E durante esse trajeto, por alguma razão, percebi que o rapaz assim que pode, me dirigiu uma pergunta um tanto pessoal para um desconhecido:
Não me lembro exatamente da resposta que dei a ele, mas disse algo sobre a experiência da vida a dois, que não é um mar de rosas mas que se seus sentimentos por ela fossem maiores do que as dificuldades que pudessem surgir, eles seriam felizes... e que eu era feliz.
Hoje, relebrando, me envergonho em certo sentido da minha resposta, pois ela ainda remetia à visão individualista da pergunta dele: sim, você pode ser feliz, casando-se você ainda pode satisfazer os seus próprios interesses.
Em vídeo de Rob Bell, encontrei uma alegoria que usei recentemente ao falar a congregações sobre a lei de Deus. Por favor, permitam-me compartilhá-la.
Imaginem um casal, cujo marido comprou lindas flores a esposa, de rosas das grandes, arranjadas num bouquet de fazer inveja, e ela surpresa e radiante pelo agrado recebido, pergunta ao amado:
Não fazemos muitas vezes o mesmo com Deus? Quantas vezes tentamos convencer a outros e a nós mesmos de que, ao levarmos "flores" a Deus, estamos fazendo o que supostamente devemos fazer? Afinal somos cristãos, não somos? Assim Ele ficará satisfeito e ouvirá nossas petições, no ledo engano de uma visão distorcida de relacionamento...
Então, Ele recebe nossas "obediências" vazias que, sem valor, já não alegram o Seu coração. E o que Deus esperava de nós... o nosso coração... bem, isso é outra coisa...
E se você pensou algo do tipo: "Mas ainda assim vale à pena, tem vantagem pra você! Você será mais feliz fazendo assim!", estes argumentos continuam sendo tão individualistas (para não dizer egoístas) que duvido que consigamos acreditar sinceramente neles como legítimos para estabelecer um relacionamento com Deus.
Tenho a impressão de que muito pouco aprendemos até aqui sobre amar a Deus, e não é à toa que o mandamento diz "de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento" (Mar 12:30), bem... talvez eu deva falar somente de mim mesmo.
Será que alguém pode me ajudar a aprender como amar mais a Deus? Eu realmente quero que minhas "flores" tenham valor para Ele... o meu coração.
Agimos como se, obedecendo o que cremos ou lemos ser a vontade dEle, seremos agraciados com bênçãos ou seremos mais felizes simplesmente porque conseguimos agradar O todo poderoso que nos recompensará devidamente.
E se, de algum modo, conseguirmos convencer a outros de que a nossa posição (ou religião) é a que Deus quer que eles abracem, aí sim ganharemos estrelinhas na coroa, e a nossa recompensa será muito maior do que a do nosso colega que ainda não conseguiu tal feito.
Geralmente estamos, de algum modo, buscando dizer alguma coisa que nos convença de que nos é mais mais vantajoso seguirmos o que ouvimos do pastor aos cultos nos fins de semana pela manhã, do que viver uma vida desvinculada de Deus, por mais divertida que ela possa parecer, afinal de contas o prêmio no final é muito melhor.
Impressionante o individualismo de nossa cultura ocidental, tão profundamente interiorizado em nossos pensamentos que não nos é possível conceber um relacionamento do qual não possamos tirar vantagens, ainda que este seja com Deus. E ainda mais é o fato de chamarmo-nos de cristãos, e de buscarmos obedecer a Deus, para legitimarmos nossa vontade de satisfazer nosso próprio interesse.
Lembro-me de uma tarde há vários anos atrás, quando fui buscar ao aeroporto de Cumbica minha irmã que vinha nos visitar. Lá, ela nos apresentou um jovem casal de namorados que vinha pela primeira vez ao Brasil passar umas férias e que precisava de uma carona à Rodoviária do Tietê para pegar um ônibus e seguir sua viagem. Eu estava com minha esposa e meus filhos, ainda pequenos (entre 4 e 6 anos provavelmente) e eles nos viram chegando em família para receber carinhosamente a tia tão esperada pelos pequenos.
No caminho ao estacionamento, carregando os carrinhos com as bagagens, o rapaz e eu avançamos com as malas pesadas, enquanto as moças com as crianças vinham a passos mais tranquilos. E durante esse trajeto, por alguma razão, percebi que o rapaz assim que pode, me dirigiu uma pergunta um tanto pessoal para um desconhecido:
Desculpa te perguntar, mas vale à pena se casar?Confesso que fiquei meio atônito a princípio, pensando o que levou o rapaz a fazer tal questionamento a um total estranho, eu. A moça que o acompanhava era linda, de longos cabelos claros e de feições finas, muito educada e simpática. A experiência com sua convivência (a qual eu desconhecia completamente) não parecia ser motivação suficiente ao rapaz para assumir um compromisso para a vida toda com ela, e pelo tom da pergunta, nem com ela nem com ninguém.
Não me lembro exatamente da resposta que dei a ele, mas disse algo sobre a experiência da vida a dois, que não é um mar de rosas mas que se seus sentimentos por ela fossem maiores do que as dificuldades que pudessem surgir, eles seriam felizes... e que eu era feliz.
Hoje, relebrando, me envergonho em certo sentido da minha resposta, pois ela ainda remetia à visão individualista da pergunta dele: sim, você pode ser feliz, casando-se você ainda pode satisfazer os seus próprios interesses.
Em vídeo de Rob Bell, encontrei uma alegoria que usei recentemente ao falar a congregações sobre a lei de Deus. Por favor, permitam-me compartilhá-la.
Imaginem um casal, cujo marido comprou lindas flores a esposa, de rosas das grandes, arranjadas num bouquet de fazer inveja, e ela surpresa e radiante pelo agrado recebido, pergunta ao amado:
-Nossa, querido! O que te levou a comprar essas flores tão lindas pra mim?
-Ora, eu sou o seu marido. Se pressupõe que eu deva fazer essas coisas...Ou então, ele poderia ter dito:
-No caminho para cá, eu encontrei uma promoção e estavam tão baratinhas...Mulheres, antes que vocês me crucifiquem, vou tentar novamente:
-Bem, é que eu achei que você estava precisando delas...Calma...calma... eu sei que tem algo de muito errado nestas respostas. Tudo o que a esposa esperava do seu marido era o seu coração, numa demonstração de seu amor por ela. Mas estas respostas não indicaram isso. E as flores para ela, por mais lindas que fossem, perderam seu encanto e seu valor... já não serviam para mais nada.
Não fazemos muitas vezes o mesmo com Deus? Quantas vezes tentamos convencer a outros e a nós mesmos de que, ao levarmos "flores" a Deus, estamos fazendo o que supostamente devemos fazer? Afinal somos cristãos, não somos? Assim Ele ficará satisfeito e ouvirá nossas petições, no ledo engano de uma visão distorcida de relacionamento...
Então, Ele recebe nossas "obediências" vazias que, sem valor, já não alegram o Seu coração. E o que Deus esperava de nós... o nosso coração... bem, isso é outra coisa...
E se você pensou algo do tipo: "Mas ainda assim vale à pena, tem vantagem pra você! Você será mais feliz fazendo assim!", estes argumentos continuam sendo tão individualistas (para não dizer egoístas) que duvido que consigamos acreditar sinceramente neles como legítimos para estabelecer um relacionamento com Deus.
Tenho a impressão de que muito pouco aprendemos até aqui sobre amar a Deus, e não é à toa que o mandamento diz "de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento" (Mar 12:30), bem... talvez eu deva falar somente de mim mesmo.
Será que alguém pode me ajudar a aprender como amar mais a Deus? Eu realmente quero que minhas "flores" tenham valor para Ele... o meu coração.
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Está tudo bem se não está tudo bem
No Brasil, o direito constitucionalmente garantido à livre manifestação do pensamento é tratado na prática como um direito de segunda classe. Um dos mais eloquentes exemplos disso é a proibição judicial que algumas celebridades alcançam para a publicação de biografias não autorizadas a seu respeito. O caso mais famoso é o do cantor Roberto Carlos, que conseguiu impedir a distribuição de uma biografia que, supõe-se, contaria como perdeu uma perna. Há algumas semanas ele ganhou o reforço para essa causa de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan, que, depois, voltaram atrás com a repercussão negativa da iniciativa.
Os argumentos contra as biografias não autorizadas me soam pífios. Fala-se que não é justo o outro ganhar dinheiro com sua vida ou que o país não está desenvolvido o suficiente para assimilar esse tipo de obra. A verdade é que há uma casta de intocáveis no Brasil, pessoas de quem só se pode falar bem. Pessoas cuja genialidade deve sempre ser exaltada, mas que não admitem ser apresentadas em toda sua falível humanidade. Eles tentam vender uma imagem impoluta que está longe da realidade.
E nesse ponto os cristãos em geral são celebridades. Eles também querem vender uma imagem distante da realidade, especialmente aos olhos dos não cristãos. Na pesquisa divulgada por David Kinnaman, que citei na semana passada, 85% dos não cristãos os vêem como hipócritas, ao passo que 47% dos cristãos, um percentual já bastante expressivo, também têm essa percepção.
Podemos relativizar as origens dela, podemos tentar deslegitimar o público pesquisado, mas dificilmente fugiremos da constatação de que alguma razão nós damos para sermos vistos como aquilo que nosso Mestre mais odiava: hipócritas. De alguma forma temos tentado vender uma imagem que, se olhada de perto, vai se revelar pura maquiagem. Afinal, o cristão precisa sempre se parecer um vencedor, alguém em paz, alguém sem grandes conflitos, sem grandes dúvidas, uma pessoa feliz e transbordante de simpatia e amor.
A saída para mudar essa percepção não é proibir biografias não autorizadas. Ou que as pessoas ao nosso redor nos julguem. A saída passa pela honestidade com nosss próprias fraquezas, pela humildade, pela tolerância e por estarmos mais dispostos a agir amorosamente do que a discursar sobre o amor (no que somos ótimos). Algumas igrejas norteamericanas já adotaram o slogan It is ok not to be ok para fomentar essa mudança.
Se ela não acontecer, que grande vantagem temos sobre os fariseus?
sexta-feira, 3 de janeiro de 2014
Quem ama sua vida... - Parte II
Há algumas semanas estive em São Paulo a trabalho, visitando clientes e prospectando outros. Claro que também não pude perder a oportunidade de visitar alguns amigos, que sempre me acolhem quando viajo. Um destes amigos é um senhor francês, que de vez em quando vem ao Brasil, e sempre que podemos nos encontramos, pois fizemos alguns negócios juntos os quais nos permitiram desenvolver fortes laços de confiança.
Em uma lanchonete na Av. Paulista, ele foi me contando como estava sua vida, de uns percalços e outros. Depois de alguns minutos, sua companheira veio ao nosso encontro, como quem já esperasse que a conversa estivesse por terminar. Bem, na verdade ele também, mas eu me atrasei ao encontro e claro que tivemos que atrasar o assunto. Quando ela chegou, nos apresentamos e eu estava por perguntar o que eles estavam fazendo de novo, então ele deixou que ela me contasse.
Ela fotografa gente marginalizada da sociedade, gente a quem muitas vezes não queremos dar atenção, em seus habitats originais, nas ruas, nos barracos. O hobby dele desde que o conheci foi fotografar arte de rua pelo mundo (http://urbanhearts.typepad.com), grafitti ou outras técnicas, que por serem efêmeras, fotografando-as ele as eterniza em seus arquivos e eventualmente em livros de fotografia. Este hobby tem lhe dado a oportunidade de conhecer muitos, muitos artistas que há alguns anos têm mandado a ele peças em papel pelo correio para que ele as cole em paredes nas cidades pelos países que visita: Bélgica, Coréia, China, Japão, Alemanha, Brasil entre outros, e ele tem devolvido o favor com suas fotos aos artistas.
Juntos, agora porém, eles tem levado "bolhas de felicidade" aos que jamais teriam a oportunidade de apreciar arte (http://theartfabric.com), dentros de suas "casas", nas paredes da rua onde moram, nas latas de lixo ao lado de onde dormem.
Esta experiência os fez pensar até que se decidiram por uma vida bem diferente do que eles tinham levado até então, abrindo mão de confortos e conveniências pessoais para buscar mudar a vida de algumas pessoas pelo mundo, conforme foram me contando. Eu não pude deixar de me emocionar e dizer a eles: "Eu tenho inveja de vocês! Vocês perceberam e abraçaram uma missão por amor que, para eu entendê-la, levou anos e muito sofrimento, e vocês a alcançaram de um modo tão singelo...". "Eu tenho um péssima notícia pra vocês..." eu lhes disse, "vocês são mais cristãos do que imaginam!".
Eu não mencionei mas ambos são ateus, e ver lágrimas nos seus olhos ao me contarem as suas sensações ao passarem horas com pessoas em necessidade, colecionando suas histórias e buscando nos poucos recursos disponíveis como trazer pequenas bolhas de felicidade a estes seres tão humanos quanto qualquer um de nós, fez-me pensar o quanto temos falhado como cristãos, olhando para nós mesmos, buscando defender nosso "prêmio", nosso próprio interesse.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á... (João 12:25)
A conversa com estes amigos ditos ateus - não porque sejam contra Deus mas simplesmente porque não O conhecem e porque o que ouviram falar dEle até aqui não fez o menor sentido para a vida deles - trouxe-me uma perspectiva da minha própria experiência com Deus que me envergonhou. É como se eu estivesse procurando uma resposta mas fazendo as perguntas erradas.
O que Deus quer comigo? Soa bonito perguntar isso. Eu diria que resposta é mais básica do que possamos pensar: simplesmente viver junto, pertinho, não só comigo mas com todos nós! Pode parecer ingênuo mas Ex. 25:8 e Ap. 21:3 não deixam dúvidas! A questão agora é: e eu? Quero viver junto dEle? De verdade? Ou é na promessa de vida mansa que está meu real interesse?
Por fim, nossa conversa terminou três horas depois, depois de várias histórias inusitadas de doação e senso de missão, de cristianismo e fé, de lágrimas e esperança, numa descoberta mútua do que realmente importa, do que é e sente Deus por nós, e espera de nós.
Precisamos abrir os olhos e perceber que, parafraseando Brian McLaren, talvez eles estejam mais preparados do que imaginamos, talvez mais do que nós mesmos, ditos cristãos.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Minha pesquisa de mercado
Minha pesquisa de mercado sobre o que as pessoas pensam de minha igreja não teve método científico nem uma mostra estatisticamente relevante. Mesmo assim, eu a tenho em alta conta.
Começou quando eu era ainda adolescente, no clube que frequentava com minha família (no tempo em que as pessoas frequentavam clubes). Uma amiga de minha mãe vira pra ela e pergunta: "Glícia? Você é adventista? Mas como?! Você é legal!" Depois dessa introdução bombástica, ela explicou que morava numa região com alta concentração de adventistas. Resumindo sua visão deles, afirmou que eram pessoas que não se misturavam, prepotentes e cuja grande preocupação na vida parecia ser comprar roupas maravilhosas para usar aos sábados.
Anos mais tarde assisti a uma entrevista de Mano Brown, líder dos Racionais MCs, que estudou em uma de nossas escolas um breve período de tempo. Em rede nacional ele descreveu sua impressão dos adventistas. Embora tenha usado outras palavras, ela incluía prepotência e roupas lindas.
Passam-se alguns anos mais e leio uma coluna do escritor Ferrez na revista Caros Amigos em que ele, como morador do Capão Redondo, dá sua visão dos adventistas e adivinhe?
João 13:35 afirma que o mundo conheceria os discípulos pelo amor que tivessem uns pelos outros. Roupas lindas decerto não era um elemento distintivo. No entanto, aquela amiga de minha mãe relatou uma diferença de comportamento curiosa entre adventistas e não adventistas: em frente à casa dela aconteciam muitos acidentes, ocasião em que todos saíam para ajudar, menos você sabe quem. Estes se limitavam a afastar a cortina para dar uma olhadinha.
Narrei essa "pesquisa de mercado" em uma classe de escola sabatina certa vez e fui praticamente crucificado. As roupas lindas foram defendidas com unhas e dentes. Uma das coisas que ouvi foi: "quem é Mano Brown para dizer como devemos viver?" Bem, posso responder a essa pergunta hoje: Mano Brown é parte do oceano de pessoas que temos a missão solene de alcançar. É uma parte singular desse oceano porque o tivemos nas mãos e perdemos. Você só despreza a visão dos outros sobre si próprio quando não tem como missão de vida amar essa pessoa. E este não deveria ser o nosso caso. Não se trata de conhecer a visão deles para nos tornarmos aquilo que eles querem que nós sejamos, mas para ser aquilo que nosso Mestre nos comissionou a ser. Pessoas que se importam. Pessoas que vão atrás. Pessoas que amam. Amam algo mais que suas roupas lindas.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Quem ama a sua vida... - Parte I
Nesta semana, com a família saímos de carro a uma viagem do tipo bate-e-volta no mesmo dia, 400km o trecho. Claro que, para minimizar o tédio das crianças durante a viagem, saímos bem de madrugada e com os dois pequenos (já não tão pequenos) dormindo com um Dramin cada um no banco de trás. E foi assim que, durante as quase 5 horas de viagem enquanto eu dirigia, pude meditar sobre um verso que há muito me faz pensar nas possibilidades de sentidos que Jesus quis comunicar.
Eu tenho me perguntado por quê tem sido mais importante pra nós o que fazemos no templo (construção onde se reúnem os membros da igreja, palavra comumente confundida com este edifício) do que fazemos fora dele. Explico-me, por que nos preocupamos tanto com as liturgias, as formas, a frequência de presença aos cultos, com a qualidade dos programas ali desenvolvidos, ou mais ironicamente com a gravata dos que vão à frente do salão? O que realmente estamos buscando com estas práticas? O que queremos alcançar através destes mecanismos? Por mais que esta reflexão nos doa na alma, descobrir nossas motivações revelam-nos muito sobre nós mesmos.
Uma noite, durante uma reunião de amigos a quem amo muito, um destes me abordou com uma pergunta que parecia intrigá-lo há muito tempo: "Gabriel, por que você não vai aos cultos de domingo nem de quarta-feira?". Confesso que me assustei com as possibilidades de onde esta pergunta poderia nos conduzir na conversa, considerando a diversidade de pessoas ali presentes, ao ponto de perguntar-lhe de volta: "Você tem certeza de que quer entrar neste assunto?". Esta questão é tão delicada, pois pode nos expor ao ponto de sermos incapazes de reconhecer-nos ou de aceitar nossas motivações. Por isso eu estava assustado, preocupado com as consequências dessa conversa.
Por que temos que associar o nível de espiritualidade, ou proximidade de relacionamento com Deus, com a assiduidade aos programas promovidos institucionalmente no templo? Não quero de modo algum condenar os cultos nos templos, nada de errado com eles, pois acredito que não são eles o cerne do problema IMHO, mas sim nós mesmos.
A começar pelos pressupostos da pergunta: "Por que você não vai aos cultos"... Falamos dos cultos como se fossem eventos promocionais, ocasiões preparadas para o consumo em massa de entretenimento religioso. Música, luzes, eloquência, emoção, choro, alegria, reflexão. Intuitivamente esperamos que o que ocorra ali seja de algum modo uma experiência que nos impressione, que fique um bom tempo em nossa mente como um excelente filme de sábado à noite, emocionante, imprevisível e que nos faça sentir bem.
Por favor, não quero eu julgar você, mas se os seus argumentos à pergunta do meu amigo têm algo do tipo: "Eu vou porque lá eu me alimento espiritualmente, recarrego minhas baterias, recupero minhas forças para a semana...", o culto provavelmente não parece muito diferente de um bom programa de televisão. Você foi ao culto, como se este fosse um lugar, em busca de algo para si, para receber em seu benefício, no exercício pleno do individualismo desta nossa geração.
Porém, não seria o culto algo que se presta, algo que se oferece, que se rende a Alguém? Não deveríamos ir ao templo (e não ao culto) com a expectativa mais de doarmos do que de recebermos? De nos entregarmos mais que de saciar-nos? Não estaríamos invertendo completamente o sentido das palavras para atender às nossas motivações inconscientes?
Ainda que tudo isto tenha uma nobre razão: nossa vida eterna. Não seria esta forma de pensar um reflexo do amor que temos pela nossa própria vida, ainda que seja a eterna?
E se mudássemos intencionalmente nossas palavras? Será que este seria o início de uma mudança em nossas motivações? Esta mudança nos aproximaria mais de Deus?
Ainda tenho mais perguntas que respostas...
Quem ama "a sua vida"... seja "esta vida" a terrena ou a futura, amá-la significa inexoravelmente perdê-la.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. João 12:25
Eu tenho me perguntado por quê tem sido mais importante pra nós o que fazemos no templo (construção onde se reúnem os membros da igreja, palavra comumente confundida com este edifício) do que fazemos fora dele. Explico-me, por que nos preocupamos tanto com as liturgias, as formas, a frequência de presença aos cultos, com a qualidade dos programas ali desenvolvidos, ou mais ironicamente com a gravata dos que vão à frente do salão? O que realmente estamos buscando com estas práticas? O que queremos alcançar através destes mecanismos? Por mais que esta reflexão nos doa na alma, descobrir nossas motivações revelam-nos muito sobre nós mesmos.
Uma noite, durante uma reunião de amigos a quem amo muito, um destes me abordou com uma pergunta que parecia intrigá-lo há muito tempo: "Gabriel, por que você não vai aos cultos de domingo nem de quarta-feira?". Confesso que me assustei com as possibilidades de onde esta pergunta poderia nos conduzir na conversa, considerando a diversidade de pessoas ali presentes, ao ponto de perguntar-lhe de volta: "Você tem certeza de que quer entrar neste assunto?". Esta questão é tão delicada, pois pode nos expor ao ponto de sermos incapazes de reconhecer-nos ou de aceitar nossas motivações. Por isso eu estava assustado, preocupado com as consequências dessa conversa.
Por que temos que associar o nível de espiritualidade, ou proximidade de relacionamento com Deus, com a assiduidade aos programas promovidos institucionalmente no templo? Não quero de modo algum condenar os cultos nos templos, nada de errado com eles, pois acredito que não são eles o cerne do problema IMHO, mas sim nós mesmos.
A começar pelos pressupostos da pergunta: "Por que você não vai aos cultos"... Falamos dos cultos como se fossem eventos promocionais, ocasiões preparadas para o consumo em massa de entretenimento religioso. Música, luzes, eloquência, emoção, choro, alegria, reflexão. Intuitivamente esperamos que o que ocorra ali seja de algum modo uma experiência que nos impressione, que fique um bom tempo em nossa mente como um excelente filme de sábado à noite, emocionante, imprevisível e que nos faça sentir bem.
Por favor, não quero eu julgar você, mas se os seus argumentos à pergunta do meu amigo têm algo do tipo: "Eu vou porque lá eu me alimento espiritualmente, recarrego minhas baterias, recupero minhas forças para a semana...", o culto provavelmente não parece muito diferente de um bom programa de televisão. Você foi ao culto, como se este fosse um lugar, em busca de algo para si, para receber em seu benefício, no exercício pleno do individualismo desta nossa geração.
Porém, não seria o culto algo que se presta, algo que se oferece, que se rende a Alguém? Não deveríamos ir ao templo (e não ao culto) com a expectativa mais de doarmos do que de recebermos? De nos entregarmos mais que de saciar-nos? Não estaríamos invertendo completamente o sentido das palavras para atender às nossas motivações inconscientes?
Ainda que tudo isto tenha uma nobre razão: nossa vida eterna. Não seria esta forma de pensar um reflexo do amor que temos pela nossa própria vida, ainda que seja a eterna?
Quem ama a sua vida, perdê-la-á...O que é que não estamos enxergando? O que deixamos de ver ou perceber na nossa relação com Deus, a qual nos parece muitas vezes tão insuficiente e inconstante?
E se mudássemos intencionalmente nossas palavras? Será que este seria o início de uma mudança em nossas motivações? Esta mudança nos aproximaria mais de Deus?
Ainda tenho mais perguntas que respostas...
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