sábado, 11 de dezembro de 2010

Liberdade

Muitos anos atrás tive um professor de inglês que era Marxista. Além de ser Marxista, ele era Adventista, o que na época me parecia um inexplicável paradoxo. Isto me fascinava e me atraía a gastar horas conversando com ele sobre suas idéias completamente bizarras que iam desde as razões porque a União Soviética era o melhor país do mundo para se viver (!?), até porque Deus na verdade não deu ao ser humano autêntico livre arbítrio. A questão do livre arbítio em particular causou-me uma profunda impressão e estendeu significativamente os meus horizontes sobre o complexo tema da soberania e onisciência de Deus e sua intervenção na vida humana. Professor Luis argumentava que de acordo com Gênesis, havia uma terceira via para o primeiro casal: viver eternamente em pecado. Mas como o acesso a árvore da vida fora bloqueado, Adão e Eva não tiveram o direito de escolher esta opção. Ainda não resolví o mérito do argumento, mas desde então seguiram-se outros encontros marcantes com o tema.

Um deles ocorreu numa pregação do Dr. Orlando Ritter na qual ele deu uma boa explicação para a aparente demora do breve retorno de Jesus. Segundo ele, o problema do pecado é complexo pois envolve a liberdade de escolha. Como Deus está sujeito aos limites da liberdade dos seres humanos, a solução definitiva exige um progresso lento. Certamente podemos identificar a cosmovisão adventista no raciocínio do Dr. Ritter, que estabelece o livre arbítrio como a raiz e a solução do pecado.

Anos atrás li um conto de ficção científica escrito por Robert A. Heinlein entitulado "By His Bootsraps". O excelente conto trata de um personagem que faz sucessivas viagens no tempo e ao reencontrar o seu antigo eu tenta persuadi-lo a mudar uma decisão chave que interromperia uma indesejável cadeia de eventos. Para a sua surpresa a tentativa de interferir no evento é o que em última instância causa a fatídica decisão. Fatalismo ou livre arbítrio?

Em certo sentido arrependo-me de ter assistido o filme O Advogado do Diabo pela atmosfera pesada e degradante. Porém não posso esconder minha surpresa com o desfecho quando o Diabo em pessoa falha em persuadir o seu "filho", um refinado e ambicioso advogado, a perpetuar a diabólica espécie. O thriller encerra-se quando inesperadamente o jovem decide fazer uso do seu livre direito de escolha. A famosa trilogia de George Lucas tem um desfecho similar.

Na mesma semana que este blog nasceu, este artigo sobre livre arbítrio publicado no New York Times me chamou a atenção. Nele o articulista expõe o corrente questionamento no meio científico sobre se a capacidade de escolha e decisão não se tratar meramente de uma ilusão da mente consciente. Evidências apontam para o fato de que o que chamamos de vontade é na verdade um reflexo da consciência sobre um processo que já está em andamento. Em outras palavras, a "escolha" foi tomada no subconsciente. Sendo assim, seriam nossas escolhas, em um nível primitivo, frutos do acaso, determinísticas, ou genuino exercício da vontade?

Mais recentemente a leitura de Philip Yancey expandiu minhas reflexões sobre o assunto da liberdade de escolha. No capítulo sobre a tentação de Jesus em seu livro, The Jesus I Never New, Yancey argumenta que, no deserto, Jesus e Satanás encenaram uma batalha sobre que estratégia usar para ganhar o coração do homem. Nesta ocasião o inimigo ofereceu a Jesus a oportunidade de um atalho, que envolvia uma majestosa demonstração de milagre, mistério e poder que fosse suficiente para causar o temor e admiração dos potenciais seguidores. Poderia Jesus ser verdadeiramente humano? Seria Ele mesmo Deus conosco? Porém, nesta ocasião a divindade manifestada na arquejante humanidade escolheu tomar o caminho mais longo com um único propósito de "permitir que os seres humanos pudessem escolher livremente o que fazer com ele." Em uma passagem memorável, Yancey escreve:
"A terrivel insistência de Deus na liberdade humana é tão absoluta que ele nos outorgou o poder de viver como se ele não existisse, cuspir em sua face e crucificá-lo. Tudo isso Jesus devia saber quando ele enfrentou o tentador no deserto, focalizando seu magnífico poder na energia de se reprimir."
Após ler o capítulo meditei nas implicações do deserto. Lá Deus restringiu sua liberdade de ser Deus, para dar-nos a liberdade de O escolhermos como Deus. Yancey ainda reflete que Jesus mostrou um incrível respeito pela liberdade humana oferecendo o convite menos manipulador jamais enviado: toma a tua cruz e segue-me. Aqui os métodos de Deus completamente se contrastam com os nossos. É por isso que muitas vezes ele insiste no silêncio quando nossos pedidos por intervenções miraculosas ecoam as palavras do deserto. É também nesta demonstração de "divina timidez" que a verdadeira natureza da faculdade de escolha humana se revela. Não faria sentido sua estratégia de resistência se não fôssemos livres para escolher amá-lo.

Eu gostaria muito de encontrar-me com o professor Luis e conversar sobre todas estas novas nuances sobre o livre arbítrio. A escolha divina de se ocultar e nos deixar viver como se Ele não existisse tornou-se para mim uma das mais sublimes revelações do método de Deus. Nesta semana fui tomado de um profundo senso dos métodos divinos quando senti o suave e quase imperceptível convite de Deus para voltar a passar mais tempo com Ele. E tive a sensação de que Ele não estava irritado com minha recente falta de tempo para Ele, apenas saudoso, como é do seu feitio.

Deus é assim. Sua soberania e onipotência não suplantam a vastidão de sua sabedoria e gentileza. Por isso ele está à porta. E bate. Sempre será minha a escolha de abrir.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Teste de Fé

Olá Moçada, td bem?

Resolvi colocar aqui algo que vem me incomodando há um tempo e acho que aqui podemos falar e conversar sobre isso.
O conceito de fé é interessante... A certeza daquilo que não vemos, que abrange desde os tempos anteriores à Criação, inclusive do universo até o infinito futuro, de como as coisas serão.
Mas me surgiu uma dúvida sobre o conceito de teste de fé.
Acho que muitos já ouviram isso, quando alguém passa um perrengue qualquer e a galera fala: -Meu irmão... fortaleça sua fé, Deus está lhe testando a sua fé.
Algumas perguntas que me faço então:

1) Fé precisa ser testada?

2) Fé precisa aumentar? - Eu sempre imaginei que a fé era na base do tudo ou nada, tem, não tem, senão como a fézinha iria passar adiante a montanha?

3) Deus faz reuniões diárias no final do expediente para ficar sabendo como estão as fés das pessoas e então determina no dia seguinte quem vai passar o perrengue para melhorar a fé, e assim, melhorar a contabilidade celestial?

4) E se é assim, o que acontece se a pessoa que passa o aperto resolve chutar o pau da barraca e e começa a achar que Deus nem existe mais? Prejuízo certo e reto para Deus? Ou Deus aí passou da conta?

5) O que ganha a pessoa que aumenta em fé?

6) Uma pessoa pode sair de uma situações ruim com menos fé, mas sem perdê-la totalmente?

7) Como Deus aumenta a fé?


Que tal essas perguntas para um bom início de dezembro onde as pessoas tem a fé que no ano que vem as coisas serão diferentes?

Abraços a todos,

Osmar


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Antigas ideias, palavras modernas...

Se Lucas tivesse escrito 2000 anos depois, talvez saisse assim:

"Aquele que almeja meu estilo de vida deve abandonar a fascinação do carro novo, casa grande, viagens caras e dinheiro, sentar-se diariamente na cadeira elétrica e seguir-me no twitter."

Encorajo o exercício.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pra espantar essa poeira

O blog está empoeirado. Tomei um antialérgico e resolvi espanar a poeira. O subterfúgio foi esse texto, postado outro dia pelo Yancey em seu site (confiram!):
http://www.philipyancey.com/archives/1841

(Desisti de ativar o hiperlink. Sorry. Copiem a URL e tasquem no browser, please!)

sábado, 21 de agosto de 2010

O Homem de Sucesso: superando dificuldades

Imagine que surgiu na minha vida um problema bem complicado. Os que se identificarem, talvez nem precisem imaginar. Como cristão, minha estratégia para resolver o problema será radicalmente diferente de um não-cristão, certo? E qual seria essa estratégia? Em ordem de importância: (1) apresento a situação a Deus, (2) aguardo as impressões do Seu Espírito sobre o que fazer e (3) sigo em paz confiando que no tempo dEle tudo vai se resolver, e quando falo paz aqui quero dizer que sigo sem nenhum tipo de ansiedade quanto ao presente ou ao futuro. Seria bom que isso fosse sempre verdade, mas a realidade é que a menos que o problema seja absolutamente catastrófico e completamente além do meu controle minha tendência é deixar o Onipotente de espectador. Alguém se identifica?

Onde está o problema?

Se você se lembra bem da história de Daniel na cova dos leões, o rei desejava fazer de Daniel o chefe dos presidentes pela sua competência e caráter, o que atraiu a inveja não só dos outros 2 presidentes mas também da centena de sátrapas (eles eram uma praga no reino). O fato é que a única arapuca que poderiam armar contra Daniel envolvia a restrição da liberdade religiosa. Como a punição envolvia uma temporada no Simba Safari Spa and Resort, este problema facilmente se classificaria na minha lista de catastrófico. Mas mesmo assim me pergunto até que ponto implementaria a estratégia delineada no parágrafo acima incluindo o passo número 3?

É fácil entender porque as coisas acontecem conosco da forma que acontecem depois que tudo terminou, mas imagine você fazendo de tudo para tentar resolver o problema incluido contando com a ajuda do rei e seus advogados e no final seguir para o inevitável com a agustiosa convicção de que Deus não lhe ouve. Acho que falhamos miseravelmente como professos segidores de Deus no aspecto de que pedimos a Deus para nos ajudar a controlar a situação quando deveríamos pedir para ele tomar conta da situação enquanto descansamos no seu esconderijo. Nossa irremediável tendência para a auto-ajuda é que nos leva a obtermos exatamente o resultado oposto da pessoa de sucesso aos olhos de Deus. Além disso quando pedimos a ajuda dEle normalmente lhe oferecemos algumas sugestões de como resolver o problema. E, claro, ficamos angustiados quando Ele não escolhe algumas da opções que lhe oferecemos.

Lendo a história de Daniel me convenci de que minha vida de sucesso requer uma internalização das palavras do Salmo 91:

"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio."

Ele me livrará ao Seu tempo e ao Seu modo, enquanto eu descanso na sua sombra.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Salmo preferido...

Na minha primeira série, a professora nos ensinou e encorajou a decorar o que deve ser de longe o Salmo mais conhecido, o Salmo do Pastor. Desde então jamais fugiram-me da memória as conhecidas palavras
"O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará. Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome..."
Foi com uma certa surpresa e desconforto que trombei estes dias com a as palavras de Oséias 4:16 na Nova Versao Internacional :
"Os israelitas são rebeldes como bezerra indomável. Como pode o Senhor apascentá-los como cordeiros na campina?"
E matutei: Como posso declamar as palavras do Salmo do Pastor se não permito ser guiado pelo Pastor? Como ele poderá me levar a pastos verdejantes (sua Palavra) se decido eu mesmo o meu mundano sustento diário? Como posso beber nas águas tranquilas, se insisto em saciar minha sede nas águas turbulentas e barrentas do meu consumo diário na mídia? Como pode Ele refrigerar uma alma que insiste em manter controle da situação, presume ter sabedoria suficiente para tomar decisões e se angustia quando tudo dá errado? Finalmente como posso ser guiado na vereda da justiça se não tenho um mínimo apego ao Seu Nome e muito menos o amor e admiração necessários para se deixar guiar?

E como permitir que a docilidade e submissão da ovelha suplante os traços de rebeldia e teimosia que impedem que o Salmo preferido seja também vivido? Este é assunto para um próximo post.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Keep walking

Em menos de um mês completo 37 aninhos. Analisando o fato desapaixonadamente e considerando a expectativa média de vida em meu país, isso indicaria que eu já passei da metade de meu percurso nessa Terra ou estou bem perto dela. Como quer que seja, fato é que eu já sou grandinho, mas “ser grandinho” é radicalmente diferente da forma como eu imaginava que seria quando eu ainda não era.

Dizem que há uma crise na aproximação dos 40. É o período em que geralmente os cabelos brancos se multiplicam, a calvície se impõe sobre qualquer forma de penteado que você tente, você já está exercendo sua profissão há algum tempo e já está casado com a mesma mulher também há algum tempo. Possivelmente por isso seja normal eu me espantar em me ver, aos 37, de forma tão diversa da que eu imaginava há quinze anos. É que eu imaginava que a essa altura do campeonato eu teria alcançado a glória profissional, estaria completamente estável e viveria num tranquilo navegar, sem grandes dúvidas, sem grandes encruzilhadas.

Há quinze anos ou mais eu ainda tinha que escolher que profissão exercer e com quem casar, e me angustiava com as muitas opções perguntando a Deus por que razão Ele não me revelava logo como seria meu futuro para eu poder me preparar adequadamente para ele e para não ter que escolher às cegas, como parecia que eu estava fazendo. Eu olhava, então, para os quase quarenta como uma fase da vida sem esse monte de dúvidas e angústias, eu olhava com inveja para os anos que agora vivo.

Mas a realidade é que continuo cheio de dúvidas. Não existe um só santo dia em que eu não me questione se estou empregando meus esforços e meu tempo em algo que realmente seja digno disso. A possibilidade de mudar radicalmente de profissão ainda existe. Meu irmão mais velho, por exemplo, num salto de fé e coragem que eu admiro, acaba de reduzir seus atendimentos no consultório odontológico para estudar medicina. Enfim, a vida ainda me reserva encruzilhadas, decisões a tomar, o tempo todo.

Quando mais jovem e petulante, eu desconfiava seriamente dos que diziam que há certas coisas que só aprendemos com a idade. Bem, a humildade é outra dádiva dos meus quase quarenta. Só agora eu reconheço que Jesus não está preocupado com essas decisões “para a vida toda”. Ele não nos aponta um caminho quilométrico, apenas diz: “vem, segue-me”. Ou seja, Ele apenas aponta o lugar onde devemos colocar o pé no próximo passo. Não existe um momento em que podemos colocar nosso carro no ponto morto e dormir. “Levantai-vos, e ide-vos, pois este não é lugar de descanso” (Miqueias 2:10). Ainda não chegamos no lugar onde podemos simplesmente relaxar. Teremos decisões a tomar a cada dia, a cada hora.

Angustiante? Não, não, longe disso. Ser confrontado com tantas decisões não me angustia mais. Primeiro, porque tenho um caminhão de gratidão pela forma como Ele até aqui me guiou. Em segundo, porque não há angústia quando temos um Guia confiável a Quem seguir. Tudo o que temos a fazer é não perdê-lO de vista. Aos quarenta, como aos 10 ou aos 20 ou aos 80, tudo o que precisamos fazer é aprender a confiar. E continuar andando.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A noite escura da alma

Abriram uma igreja nova na cidade. Ela tem liturgia e formato diferentes. As pessoas se vestem diferente, as pregações têm recursos audiovisuais, a música é mais moderna e o ambiente não se parece com uma igreja. Mais que tudo, o conteúdo das mensagens é profundo e fala das ansiedades típicas da classe média dos grandes centros urbanos do século XXI. Uma multidão deixou as igrejas tradicionais para começar a congregar na nova igreja, embora a ideia primordial dela fosse alcançar pessoas que ainda não eram cristãs.

Mas a primeira onda passou e muitos dos que acorreram à nova igreja acabaram se desencantando por alguma razão. Com o tempo o pastor passou a apresentar defeitos, houve cotoveladas, problemas de relacionamento... Aparentemente, a igreja nova que abriu na cidade não era a solução para o seu problema, como a princípio haviam acreditado.

Bem, e que problema seria esse? Não há uma resposta única, claro. Entre eles havia os que estavam atrás de um lugar mais descolado, sem tanta formalidade; havia também os que tinham padrões morais mais relaxados e que achavam que lá poderiam ter os aspectos positivos da igreja sem precisar arcar com os negativos: o julgamento, a ênfase nos aspectos mais sacrificados da religião como a lei de Deus, etc. ; havia também os que só queriam ver gente bonita e bem vestida para armar uma boa balada na sequência, claro, mas eu estou me referindo àquele grupo específico de pessoas que estava desanimado nas suas igrejas tradicionais, sem ver mais sentido em uma porção de rituais, sem achar graça nos sermões e demais conteúdos. Estou me referindo a um grupo de cristãos sinceros, que continuava buscando a Deus mas para quem parecia que sua vida espiritual entrara em um marasmo irreversível. Parecia natural para eles mudar de igreja atrás de um pastor que lhes acendesse a chama outra vez. Bem, depois de tudo, a decepção que experimentaram poderia ser fatal em sua fé (e de fato foi e tem sido na vida de alguns, porque não estou falando metaforicamente, essas coisas realmente tem acontecido).

Essas pessoas estão atravessando o que o frade carmelita São João da Cruz (que viveu no século XIV) chamou de “a noite escura da alma”. Apesar do nome sombrio, essa noite escura não deveria ser algo da qual fugir, mas algo que deveríamos ansiar. Esse estado em que, nas palavras de Richard Foster (em tradução livre), “o pregador é um chato. O hino que estão cantando é tão fraco. O serviço de cânticos é monótono”. Você se sente solitário, perdido, seco. Parece que você entrou num estado de torpor, de anestesia. Anestesia sim, porque está a ponto de passar por uma cirurgia.

A primeira coisa que você precisa saber é que é possível temer a Deus, obedecê-lO, procurá-lO e ainda assim estar em trevas. Aconteceu com muita gente boa antes de você. Isaías 50:10 o endossa: “Quem há entre vós que tema ao Senhor? ouça ele a voz do seu servo. Aquele que anda em trevas, e não tem luz, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus.”

A segunda coisa que você precisa saber é que Deus quer, de tempos em tempos, chacoalhar seus valores, tirar você da zona de conforto, subverter seu orgulho espiritual. Ao chegar a noite escura, é hora de confiar em Deus, firmar-se nEle, deixar que Ele opere em você e esperar para ver no que Ele está por transformá-lo. É hora de procurar tempos de solidão e silêncio, de esvaziar a mente e de buscar não novos e mais empolgantes estímulos, mas estímulo nenhum, porque essa é a avenida pela qual Deus caminha para efetuar a sutil revolução que Ele quer efetuar em você.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Parábola da Mulher Ciumenta

Há algumas semanas atrás comecei a indagar o porquê de tantas dificuldades que eu, assim como outros diversos amigos neste exato instante, temos passado. Muitas vezes a sensação que fica é a de questionar a Deus:
O que estou fazendo de errado?
E quando parece que as dificuldades vão passar, aparece outra acompanhada de mais duas logo em seguida... "perdi" muitas horas de sono nestas últimas semanas, não porque não conseguia dormir, mas simplesmente porque de repente, lá pelas 4:30 da matina, eu simplesmente acordava e já não conseguia mais voltar à Terra do Nunca. No princípio foi frustrante, viajando a trabalho, longe da família, tentando de todos os modos encontrar saídas para os problemas da empresa, além dos meus próprios.
Então, decidido a aproveitar mais esse tempo, resgatei um livro que comprei por simples impulso (vocês vão entender o porquê) quando passava pelos corredores de um Sam's Club em Campinas, depois de uma tarde de reuniões e visitas a clientes. E durante a leitura, algumas reflexões foram sendo motivadas e que me levaram a escrever este post.
Uma das coisas mais frustrantes que sempre achei na vida cristã é identificar as respostas divinas. Parece que sempre estamos esperando por algum sinal, alguma luz que desça do céu por entre as nuvens e venha iluminar a minha cabeça ou outra coisa que me indique o que fazer. Em tempos de bonança, isto parece irrelevante, mas quando a situação é de desespero, a ansiedade tende a ser forte demais para ignorá-la. Obviamente, esta situação trouxe à tona minhas próprias questões sobre fé. Afinal, sobre o que baseio aquilo que chamo de fé? A dificuldade aqui é diferenciar fé de presunção, como se pelo meu simples positivismo, eu pudesse manipular a Deus a fazer aquilo que eu quero que Ele faça. Aliás, falando em manipulação, nada mais comum que barganhar com Deus (nas ofertas, nas atividades da igreja, etc.) na expectativa de que Ele responda àquela oração com a resposta desejada... realmente, com Deus não funciona assim.
Durante essa leitura nas madrugadas, encontrei-me com uma parábola contemporânea:
"A Parábola da Mulher Ciumenta" - na versão gabrielana.
Imagine o marido saíndo naturalmente tarde do trabalho, como de costume, mas a infelicidade naquele triste dia lhe bateu à porta quando estava no meio do caminho para casa, sob aquele trânsito infernal, ao perceber que dois dos seus pneus haviam furado. Obviamente esta situação demandaria mais do que somente um macaco e um estepe, portanto decidiu ligar para casa para avisar a esposa que estaria aguardando por ele, quando se apercebeu que o celular estava sem bateria. Sem mais o que fazer de imediato, foi tomar as providências necessárias para voltar a rodar com o carro , o que levou-o a chegar mais de duas horas atrasado do horário de costume, sem falar no suor que lhe corria o rosto pelo cansaço que o estorvo lhe exigira.
Quando chegou em casa, o marido, na expectativa de encontrar um pouco de conforto e compreensão, somente encontrou uma cara feia e uma série de questões tais como onde ele esteve, por que chegou tão tarde, por que não avisou, com quem estava, etc. e etc. Como se percebe, as explicações não foram capazes de suscitar a compreensão, compaixão e a confiança por este pobre cidadão, casado com uma mulher ciumenta.


Nestas situações, eu me pergunto: casou pra quê? Não ao marido, mas à mulher, pois se a sua insegurança e desconfiança é tão grande a ponto de fazer esse papelão, como é que ela consegue ter prazer em viver uma relação nestas bases?
Bem, é igualmente impressionante pra mim o fato de como tenho feito este mesmo papel na minha relação com Deus, o da mulher ciumenta. Vocês percebem? Se Deus não me atende ou não me responde em tempo, ou do modo que eu espero, fico cobrando insistentemente uma atitude ou resposta divina, sem me aperceber de que todo este questionamento e insistência é fruto da falta de confiança em Deus, ou em outras palavras, falta de fé.


"Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos." - Phillip Yancey
Por que é tão difícil conseguirmos interiorizar e aceitar estas palavras como uma realidade plena e não somente intelectual? Talvez porque crescemos e convivemos com diversos sistemas de recompensa em nosso cotidiano, no trabalho, escola, em casa, e somos induzidos a levarmos este mesmo comportamento para nossa relação com Deus... mas de novo, com Deus não funciona assim.
Na verdade, o que estou tentando experimentar é essa sensação de que não importa o que eu faça, certo ou errado pois mais uma vez não estamos falando de um sistema de recompensa, Deus vai continuar me amando do mesmo jeito, apesar de mim mesmo. Sabe aquela liberdade que se sente num relacionamento baseado em confiança? Se você ama, você tem liberdade para fazer tudo o que quiser, pois nada do que você quiser fazer vai machucar ou abalar essa relação. É dessa liberdade de que estou falando, da sensação de que o que eu faço não vai mudar em nada essa realidade, então para quê ficar correndo atrás do vento, como se isso fosse fazer com que Deus me desse mais atenção, fosse olhar para mim... como se já não estivesse olhando... me cuidando... Paizinho, eu preciso parar de perguntar por que, e experimentar a liberdade que Você me preparou... com Deus funciona assim. Não acham?

E as encrencas de que falei? Bem... essa é outra história... outra parábola...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Boas Novas e a Pessoa X

"...o evangelho são boas notícias, especialmente para aqueles que não acreditam nele.

Imagine uma rua comum numa cidade comum num país comum, se é que há um lugar assim. Vamos imaginar que a Pessoa X mora numa casa dessa rua. Na casa ao lado há um hindu, e do outro lado há um muçulmano. Do outro lado da rua há um ateu, ao lado dele mora um agnóstico e na porta do outro lado, alguém de Ohio.

Imagine que a Pessoa X se torne uma cristã. Talvez ela tenha lido algo ou teve amigos que a inspiraram a aprender mais, ou talvez ela teve um vício e através da recuperação ela rendeu sua vida a Deus. De qualquer forma, ela se tornou uma seguidora de Jesus. Digamos que ela comece a viver segundo os ensinamentos de Jesus, de fato levando-o tão a sério que ela se torne uma convincente força para o bem no mundo. Ela está se tornando mais generosa, mais compassiva, mais perdoadora, mais amorosa. Ela está se tornando uma vizinha melhor ou pior? Se fossemos seus vizinhos, estariamos estarrecidos a respeito de sua nova fé. Nos sentiríamos cada vez mais gratos por termos uma vizinha como essa. Desejaríamos que houvesse mais pessoas assim.

Vamos observar algumas coisas sobre essa rua. As boas notícias de Jesus são boas notícias para a Pessoa X. São boas notícias para os vizinhos da Pessoa X. São boas notícias para toda a rua. São boas notícias para as pessoas que não acreditam em Jesus. Temos que ser bem claros a respeito disso. As boas notícias para a Pessoa X são boas notícias para toda a rua. E se são boas notícias para toda a rua, então são boas notícias para todo o mundo.

Se o evangelho não são boas notícias para todo mundo, então não são boas notícias para ninguém."

A tradução livre fui eu que fiz, tirada do Velvet Elvis, o livro do Rob Bell.

Algo que sempre me intrigou foi: se o evangelho são as "boas novas" por que é de tão difícil aceitação? (sentido mercadológico mesmo) Onde está o problema (se é que há um)?

Gostaria de saber as impressões de vocês sobre o texto - principalmente sobre a última afirmação - e sobre esse assunto.

Saudações reptilianas!