domingo, 13 de janeiro de 2008

Por que eu quero o Céu?

Bem, inaugurando minha participação neste blog (aliás, este é minha primeira participação em um blog), ao qual fui gentilmente convidado por estes amados amigos, gostaria de compartilhar alguns temas que de alguma forma têm sido estimulantes pra mim, motivados por discussões nas quais às vezes tenho a chance de participar.
O tema deste post pode parecer irônico, mas ele remete às motivações que me mantém ou me conduzem em minha trajetória religiosa. Um amigo me perguntou, e fiquei pensando comigo mesmo: "Por que eu quero o Céu?".
Num domingo à tarde, em um almoço marcado com uns amigos para comemorarmos um reencontro que há vários anos não ocorria, ficamos conversando sobre este assunto: se não houvesse a promessa de um Céu, salvação, vida eterna, Paraíso... será que eu ainda estaria com Deus? Imaginemos que Deus tenha nos criado, e que na Bíblia ele tivesse nos deixado a seguinte mensagem: "Querido, eu te criei para que você cresça, se desenvolva, desfrute e compartilhe com outros este amor que eu tenho por você, e quando você se for... eu vou ficar com saudades.". Se isto fosse real, o que é que me motivaria a estabelecer e manter um relacionamento com Deus? Qual é a razão raíz pela qual hoje eu quero "ir para o Céu"? Ops, pergunta capciosa...
Esta questão me incomoda pelo seguinte: se a salvação é de graça (Ef. 2:8), não há nada que eu possa ou deva fazer para ser salvo. É de graça, grátis, não pago nada por isso, é única e exclusivamente uma dádiva divina, e não adianta ficar tentando "ser bonzinho" pois isso também não garante que vou receber esse presente (cara, como é difícil entender isto, pois fui educado desde a infância que "é dando que se recebe", "faça isso e receberá recompensa", "ação e reação", "aqui se faz e aqui se paga", etc ... ). Isto significa que, em última instância, o que eu faço em nada contribui para me aproximar de merecer o Céu, pois "todos pecaram ..." (Rom 3:23), logo eu também não mereço mesmo.
Certo sábado, eu estava assistindo a um pregador falando da estrutura literária do Apocalipse. No final da mensagem, ele buscou encerrar o interessante assunto colocando resumidamente que "se guardarmos os mandamentos, alcançaremos o Céu". Então me veio este pensamento novamente... "Por que eu quero o Céu?". Se eu estivesse ali buscando achar uma razão para me relacionar com esta "entidade" chamada Deus, então bastaria eu seguir uma série de regras (nada muito diferente do que qualquer cidadão decente, íntegro e bem-educado não faria, além da questão do sábado) e assim, sendo perseverante (Ap 14:12), um dia eu alcançaria esta benção. Ficou me parecendo um "toma lá, dá cá", um "rola que eu te dou um biscoito"... é como seu eu estivesse barganhando com Deus, estabelecendo uma troca. Juro que saí frustrado e, claro, fui falar com o pregador que, ao apresentar meu argumento, não foi capaz de tratar do assunto com imparcialidade. Então preferi encerrar a conversa ali mesmo, para não prolongar o desconforto que eu estava causando a ele com minha pergunta.
Num outro dia pensando na questão novamente, me lembrei de uma passagem bíblica: "Se me amais..." (Jo 14:15)... Ah! Agora sim a coisa toda começou a mostrar uma luzinha no fim do túnel. O que achei interessante neste verso é que Jesus começa a frase com uma condicional, uma premissa que precisa ser verdadeira para que a conseqüência se estabeleça. Bem, dando continuidade a cadeia causa-conseqüência, preciso guardar os mandamentos para "ter direito à árvore da vida" (Ap 22:14). Então, primeiro eu preciso amar... e com isso guardarei os mandamentos, e então terei direito à árvore. Portanto, se a premissa não é verdadeira, se eu não amo, não interessa e não tem o menor valor eu querer forçar o restante da cadeia. Isso também quer dizer que não adianta eu querer começar pelo meio da cadeia pra chegar no fim, no resultado final, porque não haverá resultado se a premissa não for verdadeira. Então eu entendi assim: primeiramente ame a Deus e o resto é conseqüência, problema exclusivo dEle.
Bem, confesso que isto tudo começa a me soar meio óbvio, mas explicitando esta perspectiva muita coisa começa a mudar no meu modo de encarar a minha relação com Deus...

10 comentários:

Anônimo disse...

Valeu Gabi sua contribuição. Interessante sua análise. Mas se não houvesse céu de fato, nada de seguir essa religião mesmo? Vou bancar o chato: que tal se o céu não for um lugar que a gente vai, mas um estado que a humanidade vai alcancar aqui neste planeta moribundo quando todo mundo ser tranformado pela graça e viver em paz? Valeria a pena?

Anônimo disse...

oops, muitos anos no exílio me fazem trucidar o português... Please, leiam "...quando todo mundo for transformado pela graça e viver em paz?" no comentário anterior.

Gabriel Henríquez disse...

Acredito que outros poderão discordar, mas se não houvesse Céu de fato, acho que nada mudaria... Ou eu amo a Deus independente de haver Céu ou não, ou eu ainda continuaria tentando comparar a recompensa ao meu esforço.

Anônimo disse...

Gabi, seu post me fez lembrar o que pensei ontem quando fui ao shopping e encontrei opções vegetarianas no cardápio, depois fui ao supermerado e encontrei tantas opções de leite de soja pra comprar... estou tão feliz que o resto do mundo está começando a aderir um modo de alimentaçao natural, porque sempre me senti tão na contramão tentando comer o que é certo...
Mas lembrei naquele instante que estamos num tempo em que as pessoas "pensantes" já aprenderam quase tudo sobre ter uma vida boa, honesta, saudável, etc... e estão mesmo optando por estas coisas.
Lembrei dos "métodos evangelísticos" que enfatizavam a abordagem pelo aspecto da saúde... e vi que para esse grupo de pessoas os princípios de saúde não são novidade, bem como muitos outros aspectos que acompanham o motivo principal da religião.
É por isso que o que a diferença é mesmo - e cada vez mais - "unicamente" ter um relacionamento com Deus, pelo prazer de ter a mente e o coração preenchidos pela Sua presença e pelo Seu amor de uma forma inexplicável, mas que traz resultados práticos para nossa vida diariamente. Acho que até a esperança do céu fica "menorzinha" diante disso...

cibele disse...

Ops, eu não queria aparecer como anônima! Sou eu, Cibele, tá pessoal! rsrs...

Marco Aurelio Brasil disse...

Gabi's, participei do almoço mencionado por você, que já me desperta a nostalgia... Quanto à pergunta do Klebertius, sim, claro que valeria a pena. Mas isso não está prometido em canto algum. E, no fim das contas, o que dá o lastro a uma esperança é o grau de confiabilidade em quem a desperta, ou seja, quem a promete. A esperança só não é mero otimismo se está baseada numa promessa de alguém confiável. E não conheço ninguém confiável que haja prometido algo assim. Gabi, eu quero estar junto das pessoas que eu amo. Realmente, isso faz todo sentido do mundo.

Gabriel Henríquez disse...

Grande Marcão! Eu tenho certeza que Deus sente a mesma coisa que você, Ele quer estar junto das pessoas a quem Ele ama. E por causa disso o plano da salvação resulta em uma vida eterna para os amados por Ele. Mas a vida eterna, por si só, eu não a vejo com o objetivo mór, assim como muitas vezes ouvimos em algumas pregações, fazendo isso parecer uma recompensa. "Faça isso e você receberá aquilo", em minha opinião, está longe de ser o Cristianismo apresentado por Jesus. "Amarás ao Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... e a teu próximo como a ti mesmo..." (Mar 12:30,31), o resto, sim todo o resto: as minhas ações, pensamentos, obediência aos mandamentos, meu comportamento... tudo o mais vira mera, mera conseqüência... inclusive o Céu. E então por que ficamos insistindo nas meras conseqüências? Por que eu quero o Céu? Bem... acho que agora eu sei o que quero.

Gabriel Henríquez disse...

Ciba, tou contigo!

Anônimo disse...

Bom texto.

Penso que Jesus era bem subjetivo em seus discursos e não se preocupava em categorizar cada elemento de que tratava. Por isso não acho que devemos seguir o raciocínio:

Amor -> Mandamentos -> Céu.

Jesus disse: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos!"

Mas o maior mandamento de Jesus foi que "amássemos a Deus sobre todas as coisas". Então amar é um mandamento.

Gabriel Henríquez disse...

Oi Felipe,
Você poderia explica melhor? Pois não entendi o ponto do teu comentário.
Abraços!