terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Para quê eu quero igreja?

Numa tarde, em visita à casa de um amigo, ele e eu começamos a conversar sobre religião, assunto que ele há tempos queria tratar comigo, sabendo do meu envolvimento com a igreja. Ele, como um bom secular pós-moderno cidadão, me disse que acreditava em Deus e que conheceu com certa profundidade diversas religiões, das quais conseguiu extrair "o seu melhor" e fez a sua própria religião, não se limitando a uma denominação específica, mas sim obtendo algo melhor, mais amplo e inteligente, já que o resultado final, segundo ele, foi uma religião que lhe permite exercer sua espiritualidade sem sufocar sua capacidade intelectual.

Confesso que sempre admirei este amigo, pela sua inteligência em tratar de problemas e conduzir situações de negócios, muitas vezes chegando a ser um "elegante manipulador" em determinadas situações. Mas meu ponto aqui é que ele não vê valor em pertencer a uma denominação religiosa específica. Mais ainda, tem sérios preconceitos contra religiões organizadas e institucionalizadas, percebendo-as como veículos de manipulação de massas, principalmente depois dos publicamente divulgados eventos com dirigentes de algumas denominações. Então fiquei me perguntando: "Para quê eu quero igreja?"

Ainda pequeno, comecei a freqüentar regularmente uma igreja ou comunidade religiosa quanto eu tinha meus 8 anos. Incentivado (algumas vezes pela orelha) pelo meu pai, freqüentava as reuniões dos grupos infantis aos fins de semana na igreja, inclusive a "Escola Cristã de Férias" promovida perto de casa onde morávamos. Confesso que eu gostava do grupo após ambientar-me com as demais crianças, e me interessava pelas atividades promovidas e pelas mensagens bíblicas apresentadas. Exemplos de heróis bíblicos (Daniel, Elias, José, Jesus...) que, diante das adversidades e tentações que a vida lhes impunha, se mantinham firmes, sozinhos e valentes, sustentados por Deus em suas "lutas contra o mal". Estas histórias sempre me motivaram e me encorajaram a buscar fazer o que era correto.

Estes exemplos de persistência e determinação me recordam uma reportagem que vi na TV sobre um senhor italiano, que chegou imigrante ao Brasil quando jovem, e começou sua vida trabalhando como garçom em um restaurante em São Paulo, há mais de 4 ou 5 décadas. O impressionante desta história é que, mesmo tendo chegado sem nada, somente com a roupa do corpo, hoje ele mora confortavelmente numa cidade do interior do estado, com todos os benefícios e confortos que o dinheiro pode proporcionar, graças à renda que uma indústria de massas lhe proporciona, a qual ele construiu do zero. Eu admiro esse homem pelo que ele conseguiu conquistar com as próprias mãos, começando do zero...

Por isso, sempre tive a impressão que, mediante estas experiências, se meu relacionamento com Deus for suficientemente forte e próximo, nada do que pode acontecer nesta vida seria capaz de me afetar mais seriamente. É como se eu estivesse blindado, protegido emocionalmente dos problemas, pois a fé me susteria em todas as situações, a exemplo dos heróis bíblicos que citei. Então ainda fiquei me perguntando: "Para quê eu quero igreja?". Se meu relacionamento com Deus é o suficiente para me manter ao lado dEle - e isso eu posso fazer no conforto da minha casa, com acesso a diversas fontes de informação, livros e estudos dos mais variados assuntos - para quê eu vou me envolver em uma comunidade e estar sujeito a problemas de relacionamento, prerrogativas de julgamento, sermões sem conteúdo, entre outros problemas típicos de uma igreja? Eu ainda poderia demonstrar minha fé através de outros meios ou oportunidades, como por exemplo ajudando em lares de crianças carentes ou em entidades assistenciais. Ah! E por favor, não me diga que precisaria de outros na mesma fé para me "manter aquecido"... é muito fácil transferir a outros a responsabilidade pela sua própria vida religiosa. Então "Para quê eu quero igreja?".

4 comentários:

Marco Aurelio Brasil disse...

O Morris Venden tem um texto bacana sobre isso. Diz que quem deixa de ir à igreja porque não é muito alimentado lá, vê muita coisa que preferiria não ver e não vê o que gostaria de ver, está indo à igreja pela razão errada. A igreja é o lugar aonde vamos, precipuamente, para dar. Deveria ser o lugar onde ficamos atentos a quem está mal, para dar uma força, porque mais dia menos dia estaremos mal nós mesmos, e aí aquela outra pessoa é que vai te ajudar. Isso é só uma parte da resposta, porque o assunto é complexo.

Klebert disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Klebert disse...

Aqui vai o comentário deletado involuntariamente... sorry

Acho que o seu amigo intelectual tem razão em tratar a igreja como um supermercado espiritual. A culpa, em minha opinião, é da propaganda enganosa promovido pelas instituições religiosas, detalhe mais evidente a pessoas de um nível educacional mais avançado. Penso que não precisamos de fato das igrejas que temos disponíveis por ai, incluindo a minha, da qual eu mesmo faço parte e muitas vezes contribuo para o fracasso. Precisamos sim, e desesperadamente, de igrejas onde a pessoas possam ver uma forte correlação entre a propaganda e o produto, entre os reclames e a profissão. Para isso precisamos de um novo tipo de cristão, e isso depende de nós.

Gabriel Henríquez disse...

Oi Marcão! Assumindo o estereótipo pós-moderno cristão...
Parece que se eu "tenho que ir a igreja pra me doar", soa como se fosse minha obrigação ajudar a necessidade pessoal de alguém "prá dar uma força"...isso pode até ser altruista, mas acho que está longe de ser uma motivação consistente para o propósito da igreja...