terça-feira, 1 de julho de 2008

A Igreja ao Gosto do Freguês

Lindões, o texto abaixo me chegou através da boa e velha mailinglist do GEA (Grupo de Estudantes Adventistas). Trata-se de um artigo publicado na revista evangélica Chamada da Meia-Noite, que aborda profecias bíblicas sob um ponto de vista dispensacionalista, de março de 2005. O link para a matéria é
http://www.chamada. com.br/mensagens /igreja_ao_ gosto.html

Reproduzo a matéria aqui na esperança de que ele possa fomentar alguma discussão. O que acham??


A Igreja ao Gosto do Fregues

O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing. Tipicamente, ele começa pesquisando os não-crentes (que um dos seus líderes chama de "desigrejados" ou "João e Maria desigrejados" ). A pesquisa questiona os que não freqüentam
quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os "desigrejados" , mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas. Praticamente falando, dá certo!

Duas igrejas são consideradas modelos desse movimento: Willow Creek Community Church (perto de Chicago), pastoreada por Bill Hybels, e Saddleback Valley Church (ao sul de Los Angeles) pastoreada por Rick Warren. Sua influência é inacreditável. Willow Creek formou sua própria associação de igrejas, com 9.500 igrejas-membros. Em 2003, 100.000 líderes de igrejas assistiram no mínimo a uma conferência para líderes realizada por Willow Creek. Acima de 250.000 pastores e líderes de mais de 125 países participaram do seminário de Rick Warren ("Uma Igreja com Propósitos"). Mais de 60 mil pastores recebem seu boletim semanal.

Visitamos Willow Creek há algum tempo. Pareceu-nos que essa igreja não poupa despesas em sua missão de atrair as massas. Depois de passar por cisnes deslizando sobre um lago cristalino, vê-se o que poderia ser confundido com a sede de uma corporação ou um shopping center de alto
padrão. Ao lado do templo existe uma grande livraria e uma enorme área de alimentação completa, que oferece cinco cardápios diferentes. Uma tela panorâmica permite aos que não conseguiram lugar no santuário ou que estão na praça de alimentação assistirem aos cultos. O templo é espaçoso e moderno, equipado com três grandes telões e os mais modernos sistemas de som e iluminação para a apresentação de peças de teatro e musicais.

Sem dúvida, Willow Creek é imponente, mas não é a única megaigreja que tem como alvo alcançar os perdidos através dos mais variados métodos. Megaigrejas através dos EUA adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, espaços para guardar equipamentos, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds, tudo para o progresso do Evangelho. Pelo menos é o que dizem. Ainda que algumas igrejas estejam lotadas, sua freqüência não é o único elemento que avaliamos ao analisar essa última moda de "fazer igreja".

O alvo declarado dessas igrejas é alcançar os perdidos, o que é bíblico e digno de louvor. Mas o mesmo não pode ser dito quanto aos métodos usados para alcançar esse alvo. Vamos começar pelo marketing como uma tática para alcançar os perdidos. Fundamentalmente, marketing traça o perfil dos consumidores, descobre suas necessidades e projeta o produto (ou imagem a ser vendida) de tal forma que venha ao encontro dos desejos do consumidor. O resultado esperado é que o consumidor compre o produto. George Barna, a quem a revista Christianity Today
(Cristianismo Hoje) chama de "o guru do crescimento da igreja", diz que tais métodos são essenciais para a igreja de nossa sociedade consumista. Líderes evangélicos do movimento de crescimento da igreja reforçam a idéia de que o método de marketing pode ser aplicado - e
eles o têm aplicado - sem comprometer o Evangelho. Será?

Em primeiro lugar o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância. A Escritura nos diz claramente que a mensagem da cruz é "loucura para os que se perdem" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha de ofensa" (1 Co 1.18 e 1 Pe 2.8).

Megaigrejas adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds.

Algumas igrejas voltadas ao consumidor procuram evitar esse aspecto negativo do Evangelho de Cristo enfatizando os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do consumidor como seu principal ponto de interesse. Mesmo que essa abordagem apele para a nossa geração
acostumada à gratificação imediata, ela não é o Evangelho verdadeiro nem o alvo de vida do crente em Cristo.

Em segundo lugar, se você quiser atrair os perdidos oferecendo o que possa interessá-los, na maior parte do tempo estará apelando para seu lado carnal. Querendo ou não, esse parece ser o modus operandi dessas igrejas. Elas copiam o que é popular em nossa cultura - músicas das
paradas de sucesso, produções teatrais, apresentações estimulantes de multimídia e mensagens positivas que não ultrapassam os trinta minutos. Essas mensagens freqüentemente são tópicas, terapêuticas, com ênfase na realização pessoal, salientando o que o Senhor pode oferecer, o que a
pessoa necessita - e ajudando-a na solução de seus problemas.

Essas questões podem não importar a um número cada vez maior de pastores evangélicos, mas, ironicamente, estão se tornando evidentes para alguns observadores seculares. Em seu livro The Little Church Went to Market (A Igrejinha foi ao Mercado), o pastor Gary Gilley observa
que o periódico de marketing American Demographics reconhece que as pessoas estão: ...procurando espiritualidade, não a religião. Por trás dessa mudança está a procura por uma fé experimental, uma religião do coração, não da cabeça. É uma expressão de religiosidade que não dá valor à doutrina, ao dogma, e faz experiências diretamente com a divindade, seja esta
chamada "Espírito Santo" ou "Consciência Cósmica" ou o "Verdadeiro Eu". É pragmática e individual, mais centrada em redução de stress do que em salvação, mais terapêutica do que teológica. Fala sobre sentir-se bem, não sobre ser bom. É centrada no corpo e na alma e não no espírito. Alguns gurus do marketing começaram a chamar esse movimento de "indústria da experiência" (pp. 20-21).

Existe outro item que muitos pastores parecem estar deixando de considerar em seu entusiasmo de promover o crescimento da igreja atraindo os não-salvos. Mesmo que os números pareçam falar mais alto nessas "igrejas ao gosto do freguês" (um número surpreendente de igrejas nos EUA (841) alcançaram a categoria de megaigreja, com 2.000 a 25.000 pessoas presentes nos finais de semana), poucos perceberam que o aumento no número de membros não se deve a um grande número de "desigrejados" juntando-se à igreja.

Durante os últimos 70 anos, a percentagem da população dos EUA que vai à igreja tem sido relativamente constante (mais ou menos 43%). Houve um crescimento, chegando a 49% em 1991 (no tempo do surgimento dessa nova modalidade de igreja), mas tal crescimento diminuiu gradualmente, retornando a 42% em 2002 (www.barna.org) . De onde, então, essas megaigrejas, que têm se esforçado para acomodar pessoas que nunca se interessaram pelo Evangelho, conseguem seus membros? Na maior parte, de igrejas menores que não estão interessadas ou não têm condições financeiras de propiciar tais atrações mundanas. O que dizer das
multidões de "desigrejados" que supostamente se chegaram a essas igrejas? Essas pessoas constituem uma parcela muito pequena das congregações. G.A. Pritchard estudou Willow Creek por um ano e escreveu um livro intitulado Willow Creek Seeker Services (Baker Book House,
1996). Nesse livro ele estima que os "desigrejados" , que seriam o público-alvo, constituem somente 10 ou 15% dos 16.000 membros que freqüentam os cultos de Willow Creek.

O Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos.

Se essa percentagem é típica entre igrejas "ao gosto do freguês", o que provavelmente é o caso, então a situação é bastante perturbadora. Milhares de igrejas nos EUA e em outros países se reestruturaram completamente, transformando- se em centros de atração para "desigrejados" . Isso, aliás, não é bíblico. A igreja é para a maturidade e crescimento dos santos, que saem pelo mundo para alcançar os perdidos. Contudo, essas igrejas voltaram-se para o entretenimento e
a conveniência na tentativa de atrair "João e Maria", fazendo-os sentirem-se confortáveis no ambiente da igreja. Para que eles continuem freqüentando a "igreja ao gosto do freguês", evita-se o ensino profundo das Escrituras em favor de mensagens positivas, destinadas a fazer as
pessoas sentirem-se bem consigo mesmas. À medida que "João e Maria" continuarem freqüentando a igreja, irão assimilar apenas uma vaga alusão ao ensino bíblico que poderá trazer convicção de pecado e verdadeiro arrependimento. O que é ainda pior, os novos membros recebem uma visão psicologizada de si mesmos que deprecia essas verdades. Contudo, por pior que seja a situação, o problema não termina por aí.

A maior parte dos que freqüentam as "igrejas ao gosto do freguês" professam ser cristãos. No entanto, eles foram atraídos a essas igrejas pelas mesmas coisas que atraíram os não-crentes, e continuam sendo alimentados pela mesma dieta biblicamente anêmica, inicialmente
elaborada para não-cristãos. Na melhor das hipóteses, eles recebem leite aguado; na pior das hipóteses, "alimento" contaminado com "falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam" (2 Tm 6.20). Certamente uma igreja pode crescer numericamente seguindo esses moldes, mas não espiritualmente.

Além do mais, não há oportunidades para os crentes crescerem na fé e tornarem-se maduros em tal ambiente. Tentando defender a "igreja ao gosto do freguês", alguns têm argumentado que os cultos durante a semana são separados para discipulado e para o estudo profundo das Escrituras. Se esse é o caso, trata-se de uma rara exceção e não da regra!

Como já notamos, a maioria dessas igrejas, no uso do seu tempo, energia e finanças tem como alvo acomodar os "desigrejados" . Conseqüentemente, semana após semana, o total da congregação recebe uma mensagem diluída e requentada. Então, na quarta-feira, quando a congregação usualmente se reduz a um quarto ou a um terço do tamanho normal, será que esse
pequeno grupo recebe alimentação sólida da Palavra de Deus, ensino expositivo e uma ênfase na sã doutrina? Dificilmente. Nunca encontramos uma "igreja ao gosto do freguês" onde isso acontecesse. As "refeições espirituais" oferecidas nos cultos durante a semana geralmente são
reuniões de grupos e aulas visando o discernimento dos dons espirituais, ou o estudo de um "best-seller" psico-cristão, ao invés do estudo da Bíblia.

Talvez o aspecto mais negativo dessas igrejas seja sua tentativa de impressionar os "desigrejados" ao mencionar especialistas considerados autoridades em resolver todos os problemas mentais, emocionais e comportamentais das pessoas: psicólogos e psicanalistas. Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão. Seus milhares de conceitos e centenas de metodologias não-comprovados são contraditórios e não científicos, totalmente não-bíblicos, como já documentamos em nossos livros e artigos anteriores. Pritchard observa: ...em Willow Creek, Hybels não somente ensina princípios psicológicos, mas freqüentemente usa esses mesmos princípios como guias interpretativos para sua exegese das Escrituras - o rei Davi teve uma crise de identidade, o apóstolo Paulo encorajou Timóteo a fazer análise e Pedro teve problemas em estabelecer seus limites. O ponto crítico é que princípios psicológicos são constantemente adicionados ao ensino de Hybels" (p. 156).

Durante minha visita a Willow Creek, o pastor Hybels trouxe uma mensagem que começou com as Escrituras e se referia aos problemas que surgem quando as pessoas mentem. Contudo, ele se apoiou no psiquiatra M. Scott Peck, o autor de The Road Less Travelled (Simon & Schuster, 1978) quanto às conseqüências desastrosas da mentira. Nesse livro, M. Scott Peck declara (pp. 269-70): "Deus quer que nos tornemos como Ele mesmo (ou Ela mesma)"!

Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão.

A Saddleback Community Church está igualmente envolvida com a psicoterapia. Apesar de se dizer cristocêntrica e não centrada na psicologia, essa igreja tem um dos maiores números de centros dos Alcoólicos Anônimos e patrocina mais de uma dúzia de grupos de ajuda
como "Filho s Adultos Co-Dependentes de Viciados em Drogas", "Mulheres Co-Viciadas Casadas com Homens Compulsivos Sexuais ou com Desordens de Alimentação" e daí por diante. Cada grupo é normalmente liderado por alguém "em recuperação" e os autores dos livros usados incluem psicólogos e psiquiatras (www.celebraterecov ery.com). Apesar de negar o uso de psicologia popular, muito dela permeia o trabalho de Rick Warren, incluindo seu best-seller The Purpose Driven Life (A Vida Com Propósito), que já rendeu sete milhões de dólares. Em sua maior parte, o livro fala de satisfação pessoal, promove a celebração da recuperação e está cheio de psicoreferências tais como "Sansão era dependente".

A mensagem principal vinda das igrejas psicologicamente motivadas de Willow Creek e Saddleback é a de que a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo são insuficientes para livrar uma pessoa de um pecado habitual e para transformá-la em alguém cuja vida seja cheia de fruto e agradável a Deus. Entretanto, o que essas igrejas dizem e fazem tem sido exportado para centenas de milhares de igrejas ao redor do mundo.

Grande parte da igreja evangélica desenvolveu uma mentalidade de viagem de recreio em um cruzeiro cheio de atrações, mas isso vai resultar num "Titanic espiritual". Os pastores de "igrejas ao gosto do freguês" (e aqueles que estão desejando viajar ao lado deles) precisam cair de
joelhos e ler as palavras de Jesus aos membros da igreja de Laodicéia (Ap 3.14-21). Eles eram "ricos e abastados" e, no entanto, deixaram de reconhecer que aos olhos de Deus eram "infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus". Jesus, fora da porta dessas igrejas, onde O colocaram
desapercebidamente, oferece Seu conselho, a verdade da Sua Palavra, o único meio que pode fazer com que suas vidas sejam vividas conforme Sua vontade. Não pode existir nada melhor aqui na terra e na Eternidade!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

A igreja ideal


Ola' amigos, bom dia. Faz tempo que quero escrever mas... (sempre tem um "mas")

1) Me sinto absolutamente evergonhada com o meu portugues. Faz tempo que nao falo, escrevo, ou ouco a nossa lingua, aproximadamente 7 anos. Ja' peco desculpas a quaisquer erros que vcs encontrem nos meus futuros posts.

2) Estou ocupadissima tentando terminar minha tese, a Lilian ja' obteu a vitoria, mas a minha ainda esta' a caminho. Mais umas 3 semanas? our 4? ou 5? Nao sei mesmo.

Entao, com esses pensamentos vou deixar um video curtinho.
A versao "youtubica" nao esta' funcionando hoje, mas e':
Traduzi esse video para o ingles ontem. Acho que pra discutir a igreja ideal... e' so' olhar.
Na igreja ideal o amor pela pregacao do evangelho abunda, o trabalho e' natural, inocente, voluntario... foi Jesus que disse, devemos ser como criancas.

Um abraco!

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um pouco de sonho...

O comentário do meu amigo Marcão, por semanas, me fez pensar se seria um escapismo esta busca por algo muito diferente do que tradicionalmente temos chamado de igreja. Então, tentando responder à pergunta do Klebert em alguns posts atrás, vou apresentar uma visão particular do sonho que ando sonhando (perdão aos lingüistas) motivado por estas discussões.

Comunidade
Este vocábulo do nosso vernáculo (será que eu agüento até o fim do post?) tem um conceito ainda tão ambíguo (favela, igreja, clube, membros de blogs, grupo de programadores de sistemas open source, etc.) quanto "igreja" tinha para Martinho Lutero na sua tradução da Bíblia ao alemão, a ponto de ele substituí-la por "congregação" - para evitar confusões, segundo Emil Brunner.
Sonhei com um grupo de pessoas, unidas pelo interesse mútuo... mais do que comum, mútuo. Algo como uma grande reunião anual familiar, com comida, música... onde todos os parentes (agora fiquei na dúvida se esta analogia vai ser eficaz...) se encontravam em um lugar aprazível para que, ao menos uma vez ao ano, tivessem a oportunidade de se verem, reforçarem seus laços de relacionamento, saberem uns dos outros, compartilharem experiências, apreciarem seus filhos brincando juntos, celebrarem as conquistas, dividirem as cargas, trocarem idéias e colocarem alguns planos pra andar. Provavelmente alguns de nós já tivemos e ainda tenhamos a oportunidade de participar de algo parecido de vez em quando. Agora sonhemos juntos... e se pudéssemos ter isso toda a semana?

Evangelismo
Eis outra palavrinha cujo sentido já foi tão torcido em nosso entendimento, que a mesma assumiu o sentido de proselitismo e ainda achamos que isso é a coisa mais natural do mundo, como se nossa errônea atitude fosse corroborada por Deus por estarmos fazendo Sua obra: evangelismo.
Sonhei que nessa grande reunião de família convidávamos amigos, que se sentavam junto à mesa assim como nós e foram apresentados a outros membros da família, e também puderam compartilhar das mesmas experiências citadas acima. E, após algumas visitas, estes amigos se sentiram tão bem em nosso meio, e nós com eles, a ponto de todos já os considerarem parte da família... ao ponto de eles também se sentirem parte da família! Não interessavam suas crenças ou origens religiosas, o que interessava era que eles estivessem junto, contribuindo para este ambiente. Às vezes o interesse deles se manifestava, impressionados pela forma de como um ambiente assim se desenvolveu, cresceu e se multiplicou. Para outros, não aparecia interesse nenhum, e tudo continuava tão bem quanto antes, pois como dissemos: o que importava era que eles estivessem junto!

Estrutura organizacional
Qual é o benefício provido por uma estrutura formal organizada para uma comunidade? A resposta parece óbvia no ponto de vista sociológico, mas para um grupo essencialmente relacional, muitos de nós a estivemos combatendo com unhas e dentes desde que nos conhecemos, quando iniciamos o GEA, pois percebemos que uma estrutura formal fatalmente nos desviaria de nossos propósitos originais.

Sonhei que os planos que alguns membros desta família eventualmente desenvolveram no tempo, foram se estruturando, tomando forma, até que se tornaram ações reais pela atitude destes e de outros membros que abraçaram as iniciativas apresentadas em pról de propósitos adotados para o bem comum. Claro que estes projetos foram se multiplicando, e diversas idéias se tornaram realidade para esta família e para aqueles que a ela se juntaram, todos motivados pelo interesse mútuo. E a estrutura? Bem, não havia a necessidade de uma estrutura formal para auxiliá-los nos seus propósitos, pois as lideranças surgiam naturalmente motivadas pelo senso de serviço.

Infelizmente, olhando um pouco para experiências recentes que tive nestes dois últimos anos, começo entender um pouco mais do que o Marcão quis dizer em seu comentário, e começo também a crer que o maior inimigo deste sonho somos nós mesmos. Parafraseando Belchior, na saudosa interpretação de Elis Regina:
"...
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
..."
Bem, quero acreditar que existem diversas possíveis soluções para esta questão, porém já estou o suficientemente cansado neste instante para continuar discorrendo sobre o assunto... desculpa turma, fica pra um próximo post.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Também quero partilhar

Às vezes tenho vontade de pegar um bloquinho de notas e andar com meu filho de 5 anos um dia inteiro, anotando quantas vezes ele diz aquele “ah!” engolindo o ar, típico de quem está profundamente surpreso. Pode ser um comercial de televisão, uma coisa que o caçula de 1 ano fez, um grafite que viu na rua, um bicho que viu em algum lugar, tudo parece ser razão para ele expressar sua surpresa com essa interjeição escandalosa. A minha predileta é quando ouço seu “ah!” assim que abro a porta de casa, no final do dia.


Embora o fato me chamasse muito a atenção e me divertisse muito também, eu ainda não o havia enxergado como uma virtude invejável do Dudu. Foi a leitura deste parágrafo de Brennan Manning que me fez notar: “tornar-se uma criancinha novamente (conforme Jesus ordenou que deveria acontecer) é recuperar um sentimento de surpresa, deslumbramento e vasto deleite com toda a realidade” (in Convite à loucura, p. 26).


Claro que Jesus apontou às crianças como modelos tendo mais do que esse fato específico em mente (inocência, credulidade, dependência, capacidade de perdoar, humildade e outras características também vêm no pacote), mas essa predisposição ao espanto era uma que me havia escapado. E é curioso que eu o haja percebido exatamente na semana em que atendi ao convite do Fred para visitar sua reunião do GEA na Usp.

Bem, a reunião foi ótima, ao menos para mim. Estávamos em 11 pessoas, sentadas no saguão do prédio da Faculdade de Educação. No começo, achei estranho se reunir assim, num lugar aberto e público, onde o movimento pode ocasionar alguma dispersão. Acabei gostando muito do modelo. O Fred disse que já houve ocasiões em que curiosos pararam e ouviram durante algum tempo. E não, não houve dispersão nenhuma. Me enxerguei no olhar daqueles caras, respirei um pouco daquele velho e bom ar, que me fez muito bem. E, contando pra eles minha experiência com o GEA, me dei conta de que ela aconteceu há já 15 anos.

Eu não saberia citar ipsis literis de cabeça o que Morris Venden disse, mas vou tentar: “Conquanto não possamos determinar o dia exato ou o momento em que isso aconteceu, todos podemos dizer se experimentamos a conversão ou não”. Bem, eu posso não saber o dia e a hora, mas sei que foi naquele ano de 1993. E o que acontece a alguém que se entrega sem reservas nas mãos de Cristo e experimenta essa metamorfose radical que se chama conversão, quinze anos depois?

Bem, a chama da fé continua bem acesa, mas é possível notar rugas e alguns efeitos colaterais indesejáveis, dentre os quais o triste espaçamento entre meus “ah!s” de deslumbramento. Se antes eles brotavam em qualquer sermão, em qualquer meio versículo da Bíblia, em qualquer céu azul lavado de chuva, agora eles são mais raros.

Mas Deus continua falando pelos sermões, pelos céus azuis e pela Sua palavra. E eu gostaria de recuperar a capacidade de dar um enorme e escandaloso "Ah!" mesmo ouvindo algo batido e clichê como "Jesus salva”.

Penso que igreja não é só aquele prédio lá, aonde vamos aos sábados, mas tudo o que orbita ao redor dela. O GEA, por exemplo. Que, associado a uma leitura meio sacolejante durante minhas viagens no trem metropolitano, me fez lembrar que eu continuo precisando me tornar como uma criança.

domingo, 18 de maio de 2008

Um pouco de partilha...

Estou lendo um livro o qual me foi recomendado por alguns amigos que aqui nos acompanham, cuja resenha na internet me motivou a comprar 3 exemplares: "Pagan Christianity?" de Frank Viola e George Barna, caso mais alguém por aqui se interesse (o Fred foi um deles).
Até onde tenho lido (basicamente a primeira parte dele), o mesmo tem apresentado uma visão histórica interessante da origem de algumas práticas que temos nas igrejas cristãs em geral, seja no formato dos programas, na estrutura organizacional, nos costumes, ou mesmo na arquitetura de seus edifícios. Nesta parte do livro há um especial destaque à influência de Constantino, imperador romano no início do século IV, e à cultura Greco-romana da época.
Comentando sobre este livro com alguns mais chegados, recebi um questionamento que me fez pensar:
"O que você está buscando ao ler este tipo de livro? Não estará trazendo mais sarna pra se coçar?"
 ... a pertinência desta pergunta me fez refletir sobre a minha motivação ao buscar este tipo de informação, e questionar alguns paradigmas que naturalmente vim assimilando durante a minha vida religiosa.
Recentemente tenho observado (e até sido parte de) alguns problemas de relacionamento pessoal dentro da comunidade que freqüento. Incrível, mas sabidamente isto é coisa comum dentro de comunidades, e acredito que - sem razões muito claras - ainda mais na denominação a que pertenço. Fiquei me perguntando o porquê desta triste realidade... eu poderia até elencar algumas razões para isto, sem acreditar que todas estejam certas... mas acho que não vale a pena entrarmos nesta seara... mas ainda assim: o que poderíamos fazer em nossas comunidades para mudarmos esta realidade? O que deixamos de aprender ou a que nunca demos a devida atenção e conseqüentemente tem nos feito cair em situações tão reprováveis? Alguns poderiam dizer:
"Isto é a nossa preparação para o céu! Suportai-vos uns aos outros!"
Confesso que tenho dificuldade de acreditar nisso, pois esta afirmação parece implicar em que nada podemos fazer a respeito destas questões relacionais, e que somos obrigados a conviver passivamente com elas, como se elas "viessem no pacote".

Fiquei me perguntando quando em minha vida tive uma experiência que nos permitiu trabalhar para Deus, e conseguimos conviver minimamente com este tipo de situação... uma das poucas para mim, e talvez a única consistente, tenha sido a que vários de vocês também compartilharam conosco nos dias de universidade... mas então, qual é a diferença ou as diferenças em relação às comunidades que freqüentamos hoje? Nossa vida menos responsável da época? Nossa imaturidade coletiva no desenvolvimento do trabalho para Deus? Uma expectativa descompromissada?
Relembrando estes tempos, acredito que perdemos uma grande oportunidade em não termos criado nossa própria comunidade durante aqueles anos... claro que a nossa então imaturidade não nos permitiu desenvolvermos mais essa idéia, que já vinha sendo acalentada por alguns de uma geração anterior. Mas quais teriam sido os resultados? Será que fatalmente cairíamos nos mesmos erros e teríamos os mesmos problemas relacionais com os quais atualmente convivemos tão naturalmente em nossas comunidades? Talvez outras experiências semelhantes a esta imaginada poderiam nos mostrar que existe a possibilidade de uma realidade diferente para nossa experiência religiosa (Klebert e Lilian, vocês não gostariam de compartilhar um pouco disto conosco?).

Voltando ao nosso ponto inicial, qual é a motivação para olharmos na história e entendermos o que aconteceu conosco cristãos? Talvez seja a esperança de encontrarmos alguns fatores que nos permitam modificar nossa atual realidade e transformar nossa experiência religiosa coletiva em algo mais próximo do que Deus espera de seus discípulos (Jo 13:35). É incrível como negligenciamos o Grande Mandamento (Mar 12:30-31; e não me refiro à parte a qual Deus está envolvido diretamente) em prol da segurança de nossos sentimentos, de evitarmos enfrentar nossos medos e de até protegermos nossos interesses pessoais. Isto me lembra uma citação de C. S. Lewis (sim, o mesmo autor de "Mere Christianity" e "Contos de Nárnia"):
“To love at all is to be vulnerable. Love anything, and your heart will certainly be wrung and possibly be broken. If you want to make sure of keeping it intact, you must give your heart to no one, not even to an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements; lock it up safe in the casket of coffin of your selfishness. But in that casket – safe, dark, motionless, airless – it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable… The only place outside Heaven where you can be perfectly safe from all the dangers… of love is Hell.”
Por isso, eu penso que se tivéssemos a chance de fazermos diferente as coisas em nossa experiência religiosa (e isto requer o Grande Mandamento como um todo!!), não seria mais fácil a Deus "ir acrescentando, dia a dia, os que iam sendo salvos"(At. 2:47)?
Sou capaz de dizer que eu estaria disposto a me arriscar e tentar tudo novamente, e sem alardes, tentar fazer diferente: algo menor, menos pretensioso, mais discreto... e buscar criar condições onde um ambiente mais orgânico (veja autores como Joseph Myers, Frank Viola e Brian McLaren para definições mais abrangentes) possa se desenvolver e pessoas (e eu me inclúo) possam conviver, compartilhar, trabalhar e crescer espiritualmente, muito além do que temos conseguido alcançar até hoje.

Será que estou sonhando demais? Por favor, me digam com toda a franqueza!
Bem, mas se existirem mais sonhadores por aí... que Deus nos abençoe a todos...

terça-feira, 13 de maio de 2008

Partilhando a vida

Estava lendo ainda a pouco a primeira carta que Paulo escreveu aos crentes de Tessalônica, e pude ter um pequeno vislumbre do que ocupava a mente dele ao viajar ensinando as pessoas a viverem uma vida diferente daquela que elas estavam acostumadas a viver. O aspecto fundamental da carta de Paulo é certamente a expressão do profundo carinho de Paulo, Silas e Timóteo pelos novos amigos que eles fizeram em Tessalônica, a quem ensinaram a viver uma vida quieta e serena cheia de alegria, amor fraternal e paz, ganhando o respeito e a confiança de todos ao viverem imitando a Jesus em seu novo estilo de vida. A saudade de Paulo, Silas e Timóteo revela-se tão intensa que Timóteo foi enviado para visitá-los e trazer notícias de como estavam os crentes (Paulo teria gostado de nossa comunicação global instantãnea via internete, não acham?). Ao saber que estava tudo bem com os Tessalonicenses a despeito da oposição que estavam sofrendo, Paulo escreve transbordando de alegria: "como podemos agradeçer a Deus o suficiente por tanta alegria que vocês nos proporcionam?"*

É evidente que Paulo tem uma relação muitíssimo mais estreita com os seus irmãos em Cristo do que nós temos com a maioria dos nossos irmãos em Cristo. Vejam só o que ele diz na carta: "Nós os amamos tanto que foi uma delícia partilhar com vocês não só as boas novas, mas também nossa própria vida, uma vez que vocês se tornaram tão queridos para nós!" Ah, quantas vezes somos encorajados a partilhar somente o evangelho e desencorajados de partilhar a vida?! Lamentavelmente isto acontece mais frequentemente do que deveria acontecer...

Será que não é para isso que serve igreja? Partilhar não somente as boas novas, mas também e principalmente a nossa própria vida? Este é também um dos objetivos deste blog. Portanto amiguinhos, não se acanhem. Partilhem conosco suas vidas :-)


* Tomei a liberdade de parafrasear o texto biblico para lhe dar uma roupagem menos formal e propositadamente omiti a referência exata para encorajar a leitura completa do texto. A carta não é longa e vale a pena ser lida.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Acordando do coma...

Este seria um título jóia para uma reflexão esperançosa sobre a igreja de Laodicéia, não acham? Mas ando indo um pouco além do tradicional esses dias. Hoje por exemplo, andei me atualizando num dos meus blogs preferidos escrito pelo Julius Nam, Progressive Adventism. Li esse post aqui que me inspirou a imaginação em direções divertidas.

Primeira: imagine que Tiago White tivesse entrado em coma e por algum milagre acordasse do coma nos dias de hoje. Como seriam suas impressões sobre a igreja adventista que ele ajudou a fundar? Se você ler os exemplos de mudança doutrinária listados pelo Julius talvez tenha uma idéia de quão perplexo ele ficaria ao avaliar o pensamento corrente adventista.

Segunda: e se você, que é adventista de carteirinha, entrasse em um coma profundo e acordasse daqui uns 10 ou 20 anos e começasse a ler os blogs adventistas e conversasse com membros de sua igreja e ouvisse os sermões dos mais novos pastores, quão perplexo você ficaria com as mudanças? O Julius faz suas previsões em questões que vão desde a origem da vida até o homossexualismo.

Moral da história: o adventismo nasceu como um movimento. Melhor seria não abandonar a caracteristica e continuar em movimento. Porém, estamos prontos como movimento para continuar absorvendo mudanças sem temer que elas estejam nos levando para o abandono dos alicerces fundamentais que tanto cultivamos e nos apegamos?

sábado, 19 de abril de 2008

Meu irmão e minha irmã...

Para refletir.

Gene Robinson, primeiro Bispo abertamente gay ordenado na igreja anglicana, recentemente concedeu uma entrevista para um programa muito ouvido nos EUA chamado Fresh Air. Na entrevista lhe foi perguntado como ele se sente sendo o centro da controvérsia em torno da aceitação do homossexualismo que esta causando um racha na igreja anglicana. Sua resposta foi mais ou menos na seguinte linha:

Nós não temos a chance de escolher nossa família. Nós temos irmãos e irmãs a quem adoramos e alguns com quem não nos damos bem; você não tem a chance de escolher quem são os seus irmãos e irmãs. Pela virtude do batismo, todos nós somos incluídos na mesma família. [Por esta razão] me parece que não podemos excluir uns aos outros, não importa quão grande sejam nossas divergências.


Há mais algumas pérolas. Aos menos preconceituosos, recomendo ouvir a entrevista. (ou deveria estar recomendando aos mais preconceituosos...?)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O que é igreja afinal?

Andamos por um bom tempo falando sobre "Para que serve igreja", "Para que serve pastor da igreja", "Porque eu ainda gosto tanto de igreja", etc. Quem sabe chegou a hora de discutirmos o que é igreja afinal?

Que tal começar pelo que não é igreja?

Igreja não é o edifício, apesar de costumeiramente levantarmos sábado (ou domingo) de manhã para ir à igreja.

Igreja também não é a instituição, ou corporação, apesar de termos, quase todos, nossos nomes no rol de membros da igreja adventista etc, etc, igreja cristã etc, etc, igreja católica etc, etc, igreja de Jesus Cristo etc, etc, etc.

Melhor é que a igreja não seja também uma denominação, uma palavra chata que pode ser usada para indicar espécie monetária, uma associação talvez adequada considerando a oferta de denominações religiosas na praça. (Alguém pode achar uma denominação perfeitamente ajustada para o seu gosto, concordam?).

Lendo Paulo, o apóstolo, vejo que ele tem uma fixação. Ele insiste em chamar a igreja de o corpo de Cristo. Esta analogia é usada por ele com tanta frequência, que começou a me chamar a atenção. (Não sei quanto a vocês, mas as vezes lendo a Biblia passo pelos mesmos versos tão familiares e surrados que nem reparo no que está sendo dito de fato). A insistência de Paulo na analogia do corpo, me cativou porque ele a usa muitas vezes para muitos propósitos: defesa da igualdade entre irmãos, unidade no convívio e propósito do grupo de crentes, submissão à direção de Cristo, etc.

Mais recentemente fiquei intrigado com o que ele escreveu aos crentes em Éfeso:

"Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstãncia. "

Note, a igreja, ou seja, o corpo, é aqui chamado por Paulo de "o complemento", ou a "plenitude" de Cristo. Sem a existência da igreja, Cristo está aleijado na presença de todos; sua presença não é plena. Até arriscaria dizer que sua própria existência não é plena ou completa na realidade deste mundo. Essa comunidade de crentes que é chamada de igreja, que desejamos (ou não) fazer parte, deve ser isso ai: a extensão de Cristo, quase que literalmente, neste planeta.

Essa visão parece verdadeiramente ausente na arena religiosa de hoje. Apesar do discurso no palanque, dificilmente os olhos crentes ou ateus miram um grupo de cristãos esperando ver os braços do Cristo, ou seus ouvidos, ou lábios. Ainda bem, pois quase certamente veriam um Cristo anêmico, epilético, e aleijado.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Não conformismo com base em que autoridade?

Pois bem, depois de um longo e tenebroso inverno aqui estou eu de volta com uma nova questão que me veio à mente. Trombei hoje com uma declaração de Paulo familiar para muitos que diz na tradução atualizada de Almeida:
"Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo."
Paulo escreveu isso para o crentes da Galácia em perplexidade e apreênsão da rapidez com a qual os crentes abandonaram os fundamentos do estilo de vida que ele lhes ensinara. Na sequência Paulo narra seu confrontamento com o status quo em defesa do princípio fundamental de seus ensinos, que ele declara ter recebido de Jesus diretamente, sem interferência humana.

O ponto é o não conformismo. A dúvida é, baseada em que autoridade? Eu gosto do não conformismo de Paulo, do ir contra a corrente, desafiando a autoridade, defendendo o princípio, a mudança de paradigma. O que eu não gosto [como bom pós-moderno que sou] é sua argumentação que recebeu a instrução diretamente de Jesus. Vale acrescentar que esta revelação não foi pessoal como no caso dos outros discípulos.

Ok, Paulo é Paulo, mas quem sou eu tentando andar na contra mão? O argumento de que recebí uma revelação direta do Senhor não cola bem, o que vocês acham? Na realidade, uma boa parte das mudanças que temos discutido e que eu gostaria de ver ocorrendo na igreja, minha comunidade de crentes ou na minha própria atitude em relação à religião é fortemente argumentada na linha do senso comum ou bom senso.

Resultado: na sociedade pós-moderna que vivo e desejo aplicar e partilhar os mesmos princípios do estilo de vida de Paulo, a autoridade é o bom senso, raramente uma fonte inspirada de revelação. Na comunidade de crentes entalada no anacronismo, a autoridade é sempre a revelação, muitas vezes ao custo do bom senso. Como conciliar?