sábado, 23 de agosto de 2008
Buscando um novo começo...
Começamos a conversar, além das amenidades iniciais costumeiras, sobre o que fazer a respeito destas ansiedades sobre as quais temos conversado neste blog.
O que mais me chamou a atenção é a dificuldade que temos, ou pelo menos eu tenho, de imaginar o que seria uma nova comunidade pra experimentarmos, um novo modelo daquilo que chamamos de igreja. Não me refiro somente ao fato de não saber exatamente o que seria um novo modelo (talvez façamos uma idéia...), mas sim ao fato de que fazer algo diferente, ou um tanto quanto "independente", parece estar traindo certas raízes sobre as quais desenvolvemos nossas primeiras experiências religiosas. É como se fosse algo proibido ou, no mínimo, errado.
Outro aspecto que preocupa é a questão das crianças. O que fazer para dar a atenção e preparação adequada para as crianças? Como oferecer-lhes uma herança religiosa que os conduza no caminho de Deus em um modelo que nunca antes experimentamos? Como ter certeza que isto também funcionará com eles assim como funcionou conosco?
Bem, há duas semanas fizemos uma reunião em casa, no sábado à tarde. Uma tentativa não explícita do que poderia ser um sábado diferente. Foi mais uma reunião na qual buscamos ter um sábado à tarde agradável com amigos... mas confesso que eu ansiava por algo mais. Porém, mais uma vez, o receio de ser julgado não me permitiu abrir esta questão publicamente. Eu não tinha certeza de que todos os que estavam presentes estariam na mesma busca que eu... De qualquer forma, foi uma excelente tarde de sábado! Apreciamos muito os momentos que passamos juntos.
Sábado passado tivemos um momento bastante especial... fizemos um experimento de sábado diferente. Aproveitando a viagem de nossos amigos Adriana e Osmar a São Paulo, reunimos mais um casal e formos ao Jardim Botânico para ali fazermos a nossa igreja naquele dia.
Claro que planejamos nos encontrarmos cedo, porém a "noitada de papo" da sexta madrugada a dentro não deixou que a gente levantasse cedo no dia seguinte. Mas tudo bem... aproveitamos o dia frio e nublado, e fomos. Chegando lá, não tinha quase ninguém (por motivo óbvio: o clima), e fomos conversando e caminhando até um gramado próximo, já no meio das árvores e do ambiente. Fizemos ali uma oração e seguimos caminhando pelos caminhos jardim. Muita foto (câmera fotográfica era o que não faltava) e paisagens de mata atlântica... até que nos sentamos no meio do parque, numa escadaria pequena que dá acesso a umas trilhas na mata, e começamos a conversar.
Claro que, num ambiente como este, o grupo estava bem à vontade, e pudemos trazer a questão de o que seria organizar uma nova comunidade à tona. A coisa rolou meio assim como rolava no GEA, ainda que um pouco acanhado (após algum tempo nos reunindo, eu me lembro que não custava nada para termos uma conversa frutífera e empolgante, mas no princípio não foi assim...), mesmo assim foi muito bom. O interessante foi ver que para alguns não foi fácil conceber a idéia de um grupo ou comunidade informal e desvinculada, mas ainda assim o conceito teve fortes atrativos, mesmo porque estes são de uma geração que tem sentido de perto os problemas de uma igreja institucionalizada. (Osmar, me ajuda aí a lembrar de mais detalhes, dos questionamentos, etc ...)
Bem, após uma boa conversa continuamos caminhando, e pra nossa sorte encontramos alguns tucanos e um bando de macacos, todos livres, se alimentando entre os galhos das árvores no meio do parque. Bem, isto já era o fim da tarde, e nada foi melhor que voltar pra casa e almoçarmos, quero dizer, jantarmos todos aconchegados no quentinho de casa.
Realmente eu curti o sábado como há tempo não curtia...
Claro que ficou faltando a presença de outros que aqui estejam visualizando estas palavras, e tenham a certeza de que vocês fizeram falta...
Quero muito repetir isso, não de vez em quando, mas rotineiramente, talvez em diferentes lugares, também com gente nova e curiosa em participar, e assim termos a chance de desenvolver um ambiente diferente, despretensioso, franco e saudável, onde possamos deixar nossas impressões pessoais sem medo de sermos julgados ou medidos... mas motivados pelo fato de sentirmos prazer em estarmos uns com os outros, ora sendo objeto, ora sendo instrumentos do amor de Deus.
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Então pessoal, que tal começarmos a contribuir em como fazer isto acontecer de verdade?
terça-feira, 29 de julho de 2008
Uma proposta nada convencional...
Não é a primeira vez, aliás para mim tem sido relativamente freqüente, que tenho esta experiência, onde pessoas completamente desconhecidas, por alguma razão inexplicável, dão espaço e demonstram interesse em estabelecer contatos, ainda que superficiais a princípio, como quem procura fazer amigos. Agora mesmo me lembrei que isso aconteceu novamente 2 semanas atrás, quando estive em Curitiba... claro que a pessoa não era curitibana, era carioca... hehehehe
Tenho procurado, na medida do possível, dar continuidade a estas experiências, no sentido de tentar estreitar o contato, ainda que somente pela curiosidade de saber até onde estes relacionamentos podem se desenvolver.
Claro que, numa cidade como São Paulo, muitos de nós quase que imediatamente pensamos quais seriam os perigos possíveis em situações como esta. Procuramos nos preservar, não revelando detalhes pessoais, ou mesmo não abrindo maiores informações além daquelas que já consideramos públicas e que não trariam risco a nossa privacidade ou segurança pessoal.
É impressionante!! Como estas questões nos levam a ficarmos isolados uns dos outros! E ainda que tentemos estabelecer um certo contato, ficamos medindo tudo: as perguntas, as respostas, as possíveis pistas sobre os prováveis interesses do outro em estabelecer ou dar continuidade àquela conversação. Quanto stress só pra uma conversa de corredor de locadora!!!
Confesso que, apesar de minhas tentativas em dar continuidade a estes contatos, eu raramente tenho tido sucesso em mantê-las. Não porque não queira, mas imagine: o que você diria - ou numa situação mais fácil - escreveria num e-mail para um completo desconhecido que com quem você por acaso, sem maiores razões aparentes, estabeleceu um contato? Isso sem parecer interesseiro, intrometido, carente, entre outras tantas suspeitas mútuas que uma situação como esta motiva. É algo completamente awkward, estranho...
Ok. Então vamos experimentar um caminho mais fácil... que tal tentar estreitar relacionamentos com pessoas que já conhecemos? Não falo de pessoas próximas, mas daquelas que de vez em quando você encontra, vocês se reconhecem mutuamente, mas nunca houve nenhum motivo suficientemente forte que os aproximasse por um tempo mais significativo além daqueles 45 segundos de encontro casual, onde cumprimentos impessoais são trocados, demonstrando a boa educação que as respectivas mães lhes deram quando criança. Ainda assim, se você tentar prolongar, ainda que seja por mais 1 minuto somente, um contato como este, eu duvido que as mesmas questões citadas no fim do parágrafo anterior não venham à tona novamente. Então, como vencer este isolamento que nos afasta uns dos outros?... ou talvez a pergunta seja:
"Por que precisamos nos aproximar de outros? Eu estou tão bem comigo mesmo!"O livro "The Search to Belong", de Joseph R. Mayers, descreve um conceito chamado de "espaços de relacionamentos", o qual define 4 categorias - público, social, pessoal e íntimo - de como as pessoas se sentem ligadas a determinados grupos ou situações, conforme seu interesse, tempo, sentimento, experiências anteriores, etc.
Este modelo parece explicar muitos dos comportamentos que vemos nos mesmos indivíduos em diferentes grupos associativos, desde igrejas, festas, jogos de futebol, até clubes sociais. Ainda assim, em maior ou menor grau, a pergunta anterior continua persistindo...
Há alguns anos atrás, devido a uma indicação que eu até hoje não consegui identificar, um senhor francês me contatou por e-mail na empresa onde então eu trabalhava, para nos oferecer um sistema que ele representava. Interessado pelo produto, eu dei continuidade às conversações que se estabeleceram, porém nunca ocorreu um negócio concreto entre as empresas. Ainda assim, toda vez que ele vinha ao Brasil nos encontrávamos pra conversar, falar das novidades locais, das conquistas pessoais, dos hobbies, da família, entre outras amenidades de interesse mútuo, situação que ainda se repete pelo menos uma vez ao ano nos últimos 7 anos.
Há 3 anos atrás, ele me contatou indignado: ele tinha planejado passar uma férias em diversas cidades do nordeste do Brasil com a esposa e o filho, porém ele não conseguia comprar passagens aéreas locais aos preços divulgados pelos sites das companhias porque ele não tinha uma coisa chamada CPF, e por telefone queriam cobrar mais do dobro do valor anunciado. Foi então que decidi dar um passo além: ofereci a ele comprar todas as passagens que ele precisasse no meu cartão de crédito (não preciso dizer que arrebentei meu limite) e quando ele chegasse, ele me pagaria. Graças a Deus deu tudo certo: comprei as passagens, ele viajou feliz com a família, e depois ainda me levou pra jantar no Figueiras - um restaurante bacana nos Jardins de São Paulo - sem deixar de quitar a dívida...
Desde então, posso dizer que nos tornamos amigos, talvez não tão chegados quanto outros (como ser amigo de um francês? Deve haver um livro pra isso...), mas o suficientemente próximos para estabelecermos fortes bases de confiança, inclusive para os negócios que temos recentemente feito juntos aqui no Brasil.
Com certeza, vejo que um fator decisivo para que este contato, com origem meramente comercial, se desenvolvesse em uma amizade foi o de ambos termos dado um passo além daqueles que mantivemos durante os primeiros anos de contato. E hoje, ele tem me ajudado inclusive quando passei por dificuldades financeiras...
Então eu retorno à pergunta:
"Por que precisamos nos aproximar uns dos outros?"Há 2 semanas atrás, nosso amigo Osmar esteve por estas bandas, e conseguiu me fazer uma visita (coisa rara!!). Ambos tivemos a oportunidade de reencontrar alguns velhos amigos que não víamos há anos, e como foi importante poder reviver aqueles momentos que, em outros tempos, eram tão comuns e corriqueiros, e hoje parecem tão escassos e ao mesmo tempo tão valiosos...
Em um determinado momento, após colocarmos pra fora diversos assuntos que estavam pendentes, o Osmar me perguntou algo como:
"Gabriel, para onde você pretende levar toda esta leitura, discussão e busca que você está fazendo a respeito de comunidade e igreja?"Confesso que eu ainda não tinha parado pra pensar no assunto tão explicitamente quanto a resposta requerida pela pergunta exigia, e ainda não cheguei a uma conclusão completa a respeito da mesma, porém acho que me arrisco a dizer:
Estou tentando encontrar um grupo de pessoas que esteja em uma busca semelhante, a de estabelecer o Reino de Deus aqui e agora entre nós, de modo a recriarmos aquilo que chamamos de igreja em um modelo não baseado em estruturas organizacionais, mas no interesse mútuo de estarmos preocupados com o objeto do amor de Deus: pessoas, gente... pelo simples prazer de perceber que nos fizemos, sem querer, discípulos dEle...Hey!!... HEY!!!
Ainda tem alguém por aí?... por aí?... por aí?... por aí?...
terça-feira, 1 de julho de 2008
A Igreja ao Gosto do Freguês
http://www.chamada. com.br/mensagens /igreja_ao_ gosto.html
Reproduzo a matéria aqui na esperança de que ele possa fomentar alguma discussão. O que acham??
A Igreja ao Gosto do Fregues
O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da aplicação das últimas técnicas de marketing. Tipicamente, ele começa pesquisando os não-crentes (que um dos seus líderes chama de "desigrejados" ou "João e Maria desigrejados" ). A pesquisa questiona os que não freqüentam
quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os "desigrejados" , mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas. Praticamente falando, dá certo!
Duas igrejas são consideradas modelos desse movimento: Willow Creek Community Church (perto de Chicago), pastoreada por Bill Hybels, e Saddleback Valley Church (ao sul de Los Angeles) pastoreada por Rick Warren. Sua influência é inacreditável. Willow Creek formou sua própria associação de igrejas, com 9.500 igrejas-membros. Em 2003, 100.000 líderes de igrejas assistiram no mínimo a uma conferência para líderes realizada por Willow Creek. Acima de 250.000 pastores e líderes de mais de 125 países participaram do seminário de Rick Warren ("Uma Igreja com Propósitos"). Mais de 60 mil pastores recebem seu boletim semanal.
Visitamos Willow Creek há algum tempo. Pareceu-nos que essa igreja não poupa despesas em sua missão de atrair as massas. Depois de passar por cisnes deslizando sobre um lago cristalino, vê-se o que poderia ser confundido com a sede de uma corporação ou um shopping center de alto
padrão. Ao lado do templo existe uma grande livraria e uma enorme área de alimentação completa, que oferece cinco cardápios diferentes. Uma tela panorâmica permite aos que não conseguiram lugar no santuário ou que estão na praça de alimentação assistirem aos cultos. O templo é espaçoso e moderno, equipado com três grandes telões e os mais modernos sistemas de som e iluminação para a apresentação de peças de teatro e musicais.
Sem dúvida, Willow Creek é imponente, mas não é a única megaigreja que tem como alvo alcançar os perdidos através dos mais variados métodos. Megaigrejas através dos EUA adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, espaços para guardar equipamentos, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds, tudo para o progresso do Evangelho. Pelo menos é o que dizem. Ainda que algumas igrejas estejam lotadas, sua freqüência não é o único elemento que avaliamos ao analisar essa última moda de "fazer igreja".
O alvo declarado dessas igrejas é alcançar os perdidos, o que é bíblico e digno de louvor. Mas o mesmo não pode ser dito quanto aos métodos usados para alcançar esse alvo. Vamos começar pelo marketing como uma tática para alcançar os perdidos. Fundamentalmente, marketing traça o perfil dos consumidores, descobre suas necessidades e projeta o produto (ou imagem a ser vendida) de tal forma que venha ao encontro dos desejos do consumidor. O resultado esperado é que o consumidor compre o produto. George Barna, a quem a revista Christianity Today
(Cristianismo Hoje) chama de "o guru do crescimento da igreja", diz que tais métodos são essenciais para a igreja de nossa sociedade consumista. Líderes evangélicos do movimento de crescimento da igreja reforçam a idéia de que o método de marketing pode ser aplicado - e
eles o têm aplicado - sem comprometer o Evangelho. Será?
Em primeiro lugar o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância. A Escritura nos diz claramente que a mensagem da cruz é "loucura para os que se perdem" e que Cristo é uma "pedra de tropeço e rocha de ofensa" (1 Co 1.18 e 1 Pe 2.8).
Megaigrejas adicionam salas de boliche, quadras de basquete, salões de ginástica e sauna, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias do McDonalds.
Algumas igrejas voltadas ao consumidor procuram evitar esse aspecto negativo do Evangelho de Cristo enfatizando os benefícios temporais de ser cristão e colocando a pessoa do consumidor como seu principal ponto de interesse. Mesmo que essa abordagem apele para a nossa geração
acostumada à gratificação imediata, ela não é o Evangelho verdadeiro nem o alvo de vida do crente em Cristo.
Em segundo lugar, se você quiser atrair os perdidos oferecendo o que possa interessá-los, na maior parte do tempo estará apelando para seu lado carnal. Querendo ou não, esse parece ser o modus operandi dessas igrejas. Elas copiam o que é popular em nossa cultura - músicas das
paradas de sucesso, produções teatrais, apresentações estimulantes de multimídia e mensagens positivas que não ultrapassam os trinta minutos. Essas mensagens freqüentemente são tópicas, terapêuticas, com ênfase na realização pessoal, salientando o que o Senhor pode oferecer, o que a
pessoa necessita - e ajudando-a na solução de seus problemas.
Essas questões podem não importar a um número cada vez maior de pastores evangélicos, mas, ironicamente, estão se tornando evidentes para alguns observadores seculares. Em seu livro The Little Church Went to Market (A Igrejinha foi ao Mercado), o pastor Gary Gilley observa
que o periódico de marketing American Demographics reconhece que as pessoas estão: ...procurando espiritualidade, não a religião. Por trás dessa mudança está a procura por uma fé experimental, uma religião do coração, não da cabeça. É uma expressão de religiosidade que não dá valor à doutrina, ao dogma, e faz experiências diretamente com a divindade, seja esta
chamada "Espírito Santo" ou "Consciência Cósmica" ou o "Verdadeiro Eu". É pragmática e individual, mais centrada em redução de stress do que em salvação, mais terapêutica do que teológica. Fala sobre sentir-se bem, não sobre ser bom. É centrada no corpo e na alma e não no espírito. Alguns gurus do marketing começaram a chamar esse movimento de "indústria da experiência" (pp. 20-21).
Existe outro item que muitos pastores parecem estar deixando de considerar em seu entusiasmo de promover o crescimento da igreja atraindo os não-salvos. Mesmo que os números pareçam falar mais alto nessas "igrejas ao gosto do freguês" (um número surpreendente de igrejas nos EUA (841) alcançaram a categoria de megaigreja, com 2.000 a 25.000 pessoas presentes nos finais de semana), poucos perceberam que o aumento no número de membros não se deve a um grande número de "desigrejados" juntando-se à igreja.
Durante os últimos 70 anos, a percentagem da população dos EUA que vai à igreja tem sido relativamente constante (mais ou menos 43%). Houve um crescimento, chegando a 49% em 1991 (no tempo do surgimento dessa nova modalidade de igreja), mas tal crescimento diminuiu gradualmente, retornando a 42% em 2002 (www.barna.org) . De onde, então, essas megaigrejas, que têm se esforçado para acomodar pessoas que nunca se interessaram pelo Evangelho, conseguem seus membros? Na maior parte, de igrejas menores que não estão interessadas ou não têm condições financeiras de propiciar tais atrações mundanas. O que dizer das
multidões de "desigrejados" que supostamente se chegaram a essas igrejas? Essas pessoas constituem uma parcela muito pequena das congregações. G.A. Pritchard estudou Willow Creek por um ano e escreveu um livro intitulado Willow Creek Seeker Services (Baker Book House,
1996). Nesse livro ele estima que os "desigrejados" , que seriam o público-alvo, constituem somente 10 ou 15% dos 16.000 membros que freqüentam os cultos de Willow Creek.
O Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo não cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem vendidos.
Se essa percentagem é típica entre igrejas "ao gosto do freguês", o que provavelmente é o caso, então a situação é bastante perturbadora. Milhares de igrejas nos EUA e em outros países se reestruturaram completamente, transformando- se em centros de atração para "desigrejados" . Isso, aliás, não é bíblico. A igreja é para a maturidade e crescimento dos santos, que saem pelo mundo para alcançar os perdidos. Contudo, essas igrejas voltaram-se para o entretenimento e
a conveniência na tentativa de atrair "João e Maria", fazendo-os sentirem-se confortáveis no ambiente da igreja. Para que eles continuem freqüentando a "igreja ao gosto do freguês", evita-se o ensino profundo das Escrituras em favor de mensagens positivas, destinadas a fazer as
pessoas sentirem-se bem consigo mesmas. À medida que "João e Maria" continuarem freqüentando a igreja, irão assimilar apenas uma vaga alusão ao ensino bíblico que poderá trazer convicção de pecado e verdadeiro arrependimento. O que é ainda pior, os novos membros recebem uma visão psicologizada de si mesmos que deprecia essas verdades. Contudo, por pior que seja a situação, o problema não termina por aí.
A maior parte dos que freqüentam as "igrejas ao gosto do freguês" professam ser cristãos. No entanto, eles foram atraídos a essas igrejas pelas mesmas coisas que atraíram os não-crentes, e continuam sendo alimentados pela mesma dieta biblicamente anêmica, inicialmente
elaborada para não-cristãos. Na melhor das hipóteses, eles recebem leite aguado; na pior das hipóteses, "alimento" contaminado com "falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam" (2 Tm 6.20). Certamente uma igreja pode crescer numericamente seguindo esses moldes, mas não espiritualmente.
Além do mais, não há oportunidades para os crentes crescerem na fé e tornarem-se maduros em tal ambiente. Tentando defender a "igreja ao gosto do freguês", alguns têm argumentado que os cultos durante a semana são separados para discipulado e para o estudo profundo das Escrituras. Se esse é o caso, trata-se de uma rara exceção e não da regra!
Como já notamos, a maioria dessas igrejas, no uso do seu tempo, energia e finanças tem como alvo acomodar os "desigrejados" . Conseqüentemente, semana após semana, o total da congregação recebe uma mensagem diluída e requentada. Então, na quarta-feira, quando a congregação usualmente se reduz a um quarto ou a um terço do tamanho normal, será que esse
pequeno grupo recebe alimentação sólida da Palavra de Deus, ensino expositivo e uma ênfase na sã doutrina? Dificilmente. Nunca encontramos uma "igreja ao gosto do freguês" onde isso acontecesse. As "refeições espirituais" oferecidas nos cultos durante a semana geralmente são
reuniões de grupos e aulas visando o discernimento dos dons espirituais, ou o estudo de um "best-seller" psico-cristão, ao invés do estudo da Bíblia.
Talvez o aspecto mais negativo dessas igrejas seja sua tentativa de impressionar os "desigrejados" ao mencionar especialistas considerados autoridades em resolver todos os problemas mentais, emocionais e comportamentais das pessoas: psicólogos e psicanalistas. Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão. Seus milhares de conceitos e centenas de metodologias não-comprovados são contraditórios e não científicos, totalmente não-bíblicos, como já documentamos em nossos livros e artigos anteriores. Pritchard observa: ...em Willow Creek, Hybels não somente ensina princípios psicológicos, mas freqüentemente usa esses mesmos princípios como guias interpretativos para sua exegese das Escrituras - o rei Davi teve uma crise de identidade, o apóstolo Paulo encorajou Timóteo a fazer análise e Pedro teve problemas em estabelecer seus limites. O ponto crítico é que princípios psicológicos são constantemente adicionados ao ensino de Hybels" (p. 156).
Durante minha visita a Willow Creek, o pastor Hybels trouxe uma mensagem que começou com as Escrituras e se referia aos problemas que surgem quando as pessoas mentem. Contudo, ele se apoiou no psiquiatra M. Scott Peck, o autor de The Road Less Travelled (Simon & Schuster, 1978) quanto às conseqüências desastrosas da mentira. Nesse livro, M. Scott Peck declara (pp. 269-70): "Deus quer que nos tornemos como Ele mesmo (ou Ela mesma)"!
Nada na história da Igreja tem diminuído tanto a verdade da suficiência da Palavra de Deus no tocante a "todas as coisas que conduzem à vida e à piedade" (2 Pe 1.3) como a introdução da pseudociência da psicoterapia no meio cristão.
A Saddleback Community Church está igualmente envolvida com a psicoterapia. Apesar de se dizer cristocêntrica e não centrada na psicologia, essa igreja tem um dos maiores números de centros dos Alcoólicos Anônimos e patrocina mais de uma dúzia de grupos de ajuda
como "Filho s Adultos Co-Dependentes de Viciados em Drogas", "Mulheres Co-Viciadas Casadas com Homens Compulsivos Sexuais ou com Desordens de Alimentação" e daí por diante. Cada grupo é normalmente liderado por alguém "em recuperação" e os autores dos livros usados incluem psicólogos e psiquiatras (www.celebraterecov ery.com). Apesar de negar o uso de psicologia popular, muito dela permeia o trabalho de Rick Warren, incluindo seu best-seller The Purpose Driven Life (A Vida Com Propósito), que já rendeu sete milhões de dólares. Em sua maior parte, o livro fala de satisfação pessoal, promove a celebração da recuperação e está cheio de psicoreferências tais como "Sansão era dependente".
A mensagem principal vinda das igrejas psicologicamente motivadas de Willow Creek e Saddleback é a de que a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo são insuficientes para livrar uma pessoa de um pecado habitual e para transformá-la em alguém cuja vida seja cheia de fruto e agradável a Deus. Entretanto, o que essas igrejas dizem e fazem tem sido exportado para centenas de milhares de igrejas ao redor do mundo.
Grande parte da igreja evangélica desenvolveu uma mentalidade de viagem de recreio em um cruzeiro cheio de atrações, mas isso vai resultar num "Titanic espiritual". Os pastores de "igrejas ao gosto do freguês" (e aqueles que estão desejando viajar ao lado deles) precisam cair de
joelhos e ler as palavras de Jesus aos membros da igreja de Laodicéia (Ap 3.14-21). Eles eram "ricos e abastados" e, no entanto, deixaram de reconhecer que aos olhos de Deus eram "infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus". Jesus, fora da porta dessas igrejas, onde O colocaram
desapercebidamente, oferece Seu conselho, a verdade da Sua Palavra, o único meio que pode fazer com que suas vidas sejam vividas conforme Sua vontade. Não pode existir nada melhor aqui na terra e na Eternidade!
quarta-feira, 18 de junho de 2008
A igreja ideal
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Um pouco de sonho...
Comunidade
Este vocábulo do nosso vernáculo (será que eu agüento até o fim do post?) tem um conceito ainda tão ambíguo (favela, igreja, clube, membros de blogs, grupo de programadores de sistemas open source, etc.) quanto "igreja" tinha para Martinho Lutero na sua tradução da Bíblia ao alemão, a ponto de ele substituí-la por "congregação" - para evitar confusões, segundo Emil Brunner.
Sonhei com um grupo de pessoas, unidas pelo interesse mútuo... mais do que comum, mútuo. Algo como uma grande reunião anual familiar, com comida, música... onde todos os parentes (agora fiquei na dúvida se esta analogia vai ser eficaz...) se encontravam em um lugar aprazível para que, ao menos uma vez ao ano, tivessem a oportunidade de se verem, reforçarem seus laços de relacionamento, saberem uns dos outros, compartilharem experiências, apreciarem seus filhos brincando juntos, celebrarem as conquistas, dividirem as cargas, trocarem idéias e colocarem alguns planos pra andar. Provavelmente alguns de nós já tivemos e ainda tenhamos a oportunidade de participar de algo parecido de vez em quando. Agora sonhemos juntos... e se pudéssemos ter isso toda a semana?
Evangelismo
Eis outra palavrinha cujo sentido já foi tão torcido em nosso entendimento, que a mesma assumiu o sentido de proselitismo e ainda achamos que isso é a coisa mais natural do mundo, como se nossa errônea atitude fosse corroborada por Deus por estarmos fazendo Sua obra: evangelismo.
Sonhei que nessa grande reunião de família convidávamos amigos, que se sentavam junto à mesa assim como nós e foram apresentados a outros membros da família, e também puderam compartilhar das mesmas experiências citadas acima. E, após algumas visitas, estes amigos se sentiram tão bem em nosso meio, e nós com eles, a ponto de todos já os considerarem parte da família... ao ponto de eles também se sentirem parte da família! Não interessavam suas crenças ou origens religiosas, o que interessava era que eles estivessem junto, contribuindo para este ambiente. Às vezes o interesse deles se manifestava, impressionados pela forma de como um ambiente assim se desenvolveu, cresceu e se multiplicou. Para outros, não aparecia interesse nenhum, e tudo continuava tão bem quanto antes, pois como dissemos: o que importava era que eles estivessem junto!
Estrutura organizacional
Qual é o benefício provido por uma estrutura formal organizada para uma comunidade? A resposta parece óbvia no ponto de vista sociológico, mas para um grupo essencialmente relacional, muitos de nós a estivemos combatendo com unhas e dentes desde que nos conhecemos, quando iniciamos o GEA, pois percebemos que uma estrutura formal fatalmente nos desviaria de nossos propósitos originais.
Sonhei que os planos que alguns membros desta família eventualmente desenvolveram no tempo, foram se estruturando, tomando forma, até que se tornaram ações reais pela atitude destes e de outros membros que abraçaram as iniciativas apresentadas em pról de propósitos adotados para o bem comum. Claro que estes projetos foram se multiplicando, e diversas idéias se tornaram realidade para esta família e para aqueles que a ela se juntaram, todos motivados pelo interesse mútuo. E a estrutura? Bem, não havia a necessidade de uma estrutura formal para auxiliá-los nos seus propósitos, pois as lideranças surgiam naturalmente motivadas pelo senso de serviço.
Infelizmente, olhando um pouco para experiências recentes que tive nestes dois últimos anos, começo entender um pouco mais do que o Marcão quis dizer em seu comentário, e começo também a crer que o maior inimigo deste sonho somos nós mesmos. Parafraseando Belchior, na saudosa interpretação de Elis Regina:
"...Bem, quero acreditar que existem diversas possíveis soluções para esta questão, porém já estou o suficientemente cansado neste instante para continuar discorrendo sobre o assunto... desculpa turma, fica pra um próximo post.
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
..."
terça-feira, 20 de maio de 2008
Também quero partilhar
Às vezes tenho vontade de pegar um bloquinho de notas e andar com meu filho de 5 anos um dia inteiro, anotando quantas vezes ele diz aquele “ah!” engolindo o ar, típico de quem está profundamente surpreso. Pode ser um co
Embora o fato me chamasse muito a atenção e me divertisse muito também, eu ainda não o havia enxergado como uma virtude invejável do
Claro que Jesus apontou às crianças como modelos tendo mais do que esse fato específico em mente (inocência, credulidade, dependência, capacidade de perdoar, humildade e outras características também vêm no pacote), mas essa predisposição ao espanto era uma que me havia escapado. E é curioso que eu o haja percebido exatamente na semana em que atendi ao convite do Fred para visitar sua reunião do GEA na Usp.
Bem, a reunião foi ótima, ao menos para mim. Estávamos em 11 pessoas, sentadas no saguão do prédio da Faculdade de Educação. No começo, achei estranho se reunir assim, num lugar aberto e público, onde o movimento pode ocasionar alguma dispersão. Acabei gostando muito do modelo. O Fred disse que já houve ocasiões em que curiosos pararam e ouviram durante algum tempo. E não, não houve dispersão nenhuma. Me enxerguei no olhar daqueles caras, respirei um pouco daquele velho e bom ar, que me fez muito bem. E, contando pra eles minha experiência com o GEA, me dei conta de que ela aconteceu há já 15 anos.
Eu não saberia citar ipsis literis de cabeça o que Morris Venden disse, mas vou tentar: “Conquanto não possamos determinar o dia exato ou o momento em que isso aconteceu, todos podemos dizer se experimentamos a conversão ou não”. Bem, eu posso não saber o dia e a hora, mas sei que foi naquele ano de 1993. E o que acontece a alguém que se entrega sem reservas nas mãos de Cristo e experimenta essa metamorfose radical que se chama conversão, quinze anos depois?
domingo, 18 de maio de 2008
Um pouco de partilha...
"O que você está buscando ao ler este tipo de livro? Não estará trazendo mais sarna pra se coçar?"... a pertinência desta pergunta me fez refletir sobre a minha motivação ao buscar este tipo de informação, e questionar alguns paradigmas que naturalmente vim assimilando durante a minha vida religiosa.
"Isto é a nossa preparação para o céu! Suportai-vos uns aos outros!"Confesso que tenho dificuldade de acreditar nisso, pois esta afirmação parece implicar em que nada podemos fazer a respeito destas questões relacionais, e que somos obrigados a conviver passivamente com elas, como se elas "viessem no pacote".
“To love at all is to be vulnerable. Love anything, and your heart will certainly be wrung and possibly be broken. If you want to make sure of keeping it intact, you must give your heart to no one, not even to an animal. Wrap it carefully round with hobbies and little luxuries; avoid all entanglements; lock it up safe in the casket of coffin of your selfishness. But in that casket – safe, dark, motionless, airless – it will change. It will not be broken; it will become unbreakable, impenetrable, irredeemable… The only place outside Heaven where you can be perfectly safe from all the dangers… of love is Hell.”Por isso, eu penso que se tivéssemos a chance de fazermos diferente as coisas em nossa experiência religiosa (e isto requer o Grande Mandamento como um todo!!), não seria mais fácil a Deus "ir acrescentando, dia a dia, os que iam sendo salvos"(At. 2:47)?
terça-feira, 13 de maio de 2008
Partilhando a vida
É evidente que Paulo tem uma relação muitíssimo mais estreita com os seus irmãos em Cristo do que nós temos com a maioria dos nossos irmãos em Cristo. Vejam só o que ele diz na carta: "Nós os amamos tanto que foi uma delícia partilhar com vocês não só as boas novas, mas também nossa própria vida, uma vez que vocês se tornaram tão queridos para nós!" Ah, quantas vezes somos encorajados a partilhar somente o evangelho e desencorajados de partilhar a vida?! Lamentavelmente isto acontece mais frequentemente do que deveria acontecer...
Será que não é para isso que serve igreja? Partilhar não somente as boas novas, mas também e principalmente a nossa própria vida? Este é também um dos objetivos deste blog. Portanto amiguinhos, não se acanhem. Partilhem conosco suas vidas :-)
* Tomei a liberdade de parafrasear o texto biblico para lhe dar uma roupagem menos formal e propositadamente omiti a referência exata para encorajar a leitura completa do texto. A carta não é longa e vale a pena ser lida.
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Acordando do coma...
Primeira: imagine que Tiago White tivesse entrado em coma e por algum milagre acordasse do coma nos dias de hoje. Como seriam suas impressões sobre a igreja adventista que ele ajudou a fundar? Se você ler os exemplos de mudança doutrinária listados pelo Julius talvez tenha uma idéia de quão perplexo ele ficaria ao avaliar o pensamento corrente adventista.
Segunda: e se você, que é adventista de carteirinha, entrasse em um coma profundo e acordasse daqui uns 10 ou 20 anos e começasse a ler os blogs adventistas e conversasse com membros de sua igreja e ouvisse os sermões dos mais novos pastores, quão perplexo você ficaria com as mudanças? O Julius faz suas previsões em questões que vão desde a origem da vida até o homossexualismo.
Moral da história: o adventismo nasceu como um movimento. Melhor seria não abandonar a caracteristica e continuar em movimento. Porém, estamos prontos como movimento para continuar absorvendo mudanças sem temer que elas estejam nos levando para o abandono dos alicerces fundamentais que tanto cultivamos e nos apegamos?
sábado, 19 de abril de 2008
Meu irmão e minha irmã...
Gene Robinson, primeiro Bispo abertamente gay ordenado na igreja anglicana, recentemente concedeu uma entrevista para um programa muito ouvido nos EUA chamado Fresh Air. Na entrevista lhe foi perguntado como ele se sente sendo o centro da controvérsia em torno da aceitação do homossexualismo que esta causando um racha na igreja anglicana. Sua resposta foi mais ou menos na seguinte linha:
Nós não temos a chance de escolher nossa família. Nós temos irmãos e irmãs a quem adoramos e alguns com quem não nos damos bem; você não tem a chance de escolher quem são os seus irmãos e irmãs. Pela virtude do batismo, todos nós somos incluídos na mesma família. [Por esta razão] me parece que não podemos excluir uns aos outros, não importa quão grande sejam nossas divergências.
Há mais algumas pérolas. Aos menos preconceituosos, recomendo ouvir a entrevista. (ou deveria estar recomendando aos mais preconceituosos...?)