segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Pra quê eu quero igreja... revisitando

Tendo definido que igreja no contexto que tratamos aqui não é a instituição que a palavra igreja normalmente representa, mas uma comunidade de crentes que partilham uma mesma fé, adiciono mais esta idéia que não é nova, mas não é menos fundamental, e que reencontrei lendo a velha carta do Paulo aos seus colegas de fé em Roma. A passagem na carta diz:

"Anseio vê-los, a fim de compartilhar com vocês algum dom espiritual, para fortalecê-los, isto é, para que eu e vocês sejamos mutuamente encorajados pela fé."

Paulo mal pode esperar a oportunidade de encontrar os companheiros de fé na expectativa de não só encorajá-los, mas também ser encorajado por eles na troca de experiências de natureza espiritual. Imaginem ele relatando aos crentes de Roma os eventos que ocorreram durante sua tumultuada viagem até lá. Como os crentes não devem ter ficado impressionados ao ouvirem como Deus salvou a Paulo e seus companheiros de viagem do naufrágio, como Paulo se safou das mãos dos seus opositores em Jerusalém e com foi miraculosamente salvo da morte em sua chegada a Malta. Que lição de cristianismo prático não aprenderam ao descobrirem como Paulo, o prisioneiro, se relacionou com os responsáveis por sua guarda mesmo em face da oportunidade de escapar durante o naufrágio. Não tenho dúvida de que a expectativa de Paulo foi cumprida.

Pois bem, uma comunidade de crentes organizada provê um espaço natural para que estas experiências sejam trocadas, e a fé dos participantes seja fortalecida mutuamente. Todavia, pesa-me reconhecer que este objetivo fundamental da igreja tem sido suplantado por outros que promovem resultados muito menos importantes. É por essa razão que estamos debatendo por quê fazemos parte de uma igreja.

9 comentários:

Lilian disse...

E é por isso que estamos aqui partilhando nossas experiências no que poderia, em última instância, ser definido como uma "igreja virtual".

(Também testando o recebimento por email deste comentário)

Gabriel Henríquez disse...

Resultados menos importantes... seria apropriado perguntar por um exemplo do que seria isso?

Marco Aurelio Brasil disse...

Apontar uma "missão da igreja" não é tarefa tão fácil, mas tenho a impressão de que ela se resume a dois aspectos: esse, da troca de experiências, serve ao primeiro deles, que é a criação de um ambiente de graça e irmandade aonde as pessoa se sintam motivadas a desenvolver seus dons espirituais. O segundo seria a pregação do evangelho, a comunicação dele a toda língua, tribo e povo, de preferência de forma articulada e organizada. Cada um desses aspectos deveria servir para alimentar ao outro. O que acontece, contudo, é que as igrejas são capengas, cuidando geralmente só de um dos aspectos ou, pior, como você disse, tratando de coisas menores, como a manutenção de hierarquias, de liturgias vazias e ritos ocos. O negócio é ir lá e fazer diferente!

Gabriel Henríquez disse...

Gostei da síntese do Marcão. "Pregação do evangelho"... acredito que possamos traduzir isto por "evangelismo". O que é, então, Evangelismo? Seria fazer com que outros compartilhem das crenças que possuímos, através de uma argumentação consistente? Ou talvez seria promover uma mudança no estilo de vida das pessoas de modo a que elas adquirissem um comportamento mais próximo do que consideramos ser o padrão bíblico do cristão? Essa pergunta fez Richard Rice, no seu primeiro livro "Believing, Behaving, Belonging"...

Klebert disse...

Sabe que essa conversa está tomando um rumo bem interessante.

Comentando o comentário do Marco, vejam se vocês concordam: para a primeira função da igreja, prover um ambiente de graça, não há a necessidade de uma instituição formal. Aliás a instituição pode até inibir em alguns aspectos o exercício pleno da troca de experiências tão essencial ao crescimento espiritual. Já para o segundo aspecto, a pregação sistemática da mensagem, uma organização é fundamental. Não é um paradoxo?

Agora no ponto levantado pelo Gabi: evangelizar literalmente é contar às outras pessoas o furo de reportagem ("boas novas" no nosso igrejez) que é a salvação. Traçando um paralelo para o meu contexto de USA, seria o equivalente a disseminar a informação para os imigrantes ilegais (recomendo o post "O Castigo que nos traz a paz") que o governo estaria oferecendo cidadania a quem quisesse, sem discriminação. Isso considero que seja evagelismo e ponto final. Se os imigrantes vão tirar a cidadania e mudar de vida não faz parte do evangelismo, mas é sim um resultado do mesmo e depende de cada um.

Gabriel Henríquez disse...

Meu amigo Klebert...
Confesso que discordo de sua posição sobre o que é evangelismo ("e ponto final." rsrsrs). O paradoxo ao qual você se refere, e muito bem identificou, entre a necessidade ou não da instituicionalização advém justamente da definição de evangelismo que estamos adotando. Se visitarmos Atos 2:42-47, não vemos nenhuma instituição organizada voltada à pregação.. . mas ainda assim "acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.".

Marco Aurelio Brasil disse...

Klebertius, não vejo paradoxo. Haveria se você tivesse dito que a igreja formal e o ambiente de graça são auto-excludentes, mas você disse outra coisa: que geralmente as igrejas falham em criar esse ambiente. Tentar fazer diferente dentro de um corpo que, no caso de boa parte de nós, se não todos, tem quase 200 anos de idade e está petrificado em uma dinâmica de simples manuntenção de instituições e de apego a certas crenças, práticas e costumes que talvez já não façam nenhum sentido é um grande desafio. E frustrante, no mais das vezes. Quanto a o que seria evangelismo, gosto mais da atitude de Filipe para Natanael (dizendo singelamente "Vem e vê", João 1:46) do que a postura apologética que muitas vezes é tratada como sinônimo de evangelismo... O que me faz pensar: como, raios, estou falando "vem e vê" pro povo aqui ao meu redor?

Anônimo disse...

Não vi qualquer citação nestes comentários a um propósito de todo crente: adoração. Este propósito não apenas é fundamental (Apocalipse 14:7), mas tem conseqüências diretas para o conceito de "igreja".

Se acreditarmos que o propósito primário da igreja é "prover um ambiente de graça", então não há espaço para a adoração coletiva, uma vez que esta igreeja pode muito bem ser virtual, ou chegar a um grau de informalidade que a adoração solene é impossibilitada.

Também não vi o paradoxo indicado pelo Klebert, uma vez que o evengelismo bíblico é, eminentemente, individual ("vem e vê", como disse o Marco).

Gabriel Henríquez disse...

Olá Levi,
Ninguém está excluindo a adoração do contexto da igreja (se bem que esta passagem se refere a "toda nação, língua..."), porém esta não é a questão tratada.
Também não está claro porque a adoração solene(não sei exatamente o que isso quer dizer, e acredito não ser alvo desta dicussão) é impedida pela informalidade das relações numa igreja. Aliás, também ainda não é claro o conceito de igreja utilizado aqui (acredito que esta seja uma das questões ainda em aberto).
Sobre o evangelismo individual, recomendo a leitura do post
"Para quê eu quero igreja? Parte II"
. Finalmente, Atos 2:42-47 e as diversas comunidades do Novo Testamento não teriam sentido em existir se o que chamamos de evangelismo(vide quarto comentário deste post) for eminentemente individual.
Abraços!